Na
sexta-feira 21 de fevereiro, escrevi um artigo que terminava assim: "as escolas de samba não são as únicas que
estão se preparando para desfilar”.
Pois bem: no carnaval
propriamente dito, predominou a crítica política e social contra o governo
Bolsonaro, acompanhada em muitos lugares pela brutalidade policial contra foliões
e a população em geral.
Enquanto as
escolas e blocos desfilavam, nas redes a extrema direita convocava um ato para
o dia 15 de março, de apoio a Bolsonaro, mas principalmente de ataque brutal ao
Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.
Uma das
mensagens convocando o ato de 15 de março trazia imagens de generais-ministros
e de um general-vice. O fato reacendeu a discussão sobre qual a extensão do
apoio, na caserna, à extrema direita. E estávamos nisso quando o próprio
Bolsonaro entrou na avenida, em plena terça-feira de carnaval.
Os fatos:
através de sua conta de zap, o “presidente” divulgou um vídeo que o apresenta
como salvador do povo brasileiro e uma mensagem reforçando a convocação para o
ato de 15 de março.
Mais
detalhes sobre o referido vídeo estão aqui: https://www.poder360.com.br/governo/bolsonaro-convoca-via-whatsapp-ato-contra-congresso-e-stf/
A reação ao
zap do “presidente” Bolsonaro foi a perfeita materialização da “frente ampla em
defesa da democracia”.
Um bom resumo das declarações contrárias (e da réplica
de Bolsonaro) pode ser visto aqui: https://www.poder360.com.br/governo/lula-ciro-e-doria-reagem-a-convocacao-de-bolsonaro-para-ato-contra-congresso/
A rigor,
estamos vendo um remake do remake, uma espécie de Alien 25. Pois não é de agora
que o presidente da República, o vice-presidente da República e vários de seus
ministros vem defendendo publicamente um golpe dentro do golpe. Por exemplo, através
da edição de um novo AI5.
Portanto, o “problema”
não está na convocação de um ato “contra” o Congresso e “contra
o Supremo”. Pois este é um direito democrático, assim como é um direito
democrático que um presidente apoie o direito de um setor do povo se
manifestar.
O "problema" é que Bolsonaro apoia abertamente um ato cuja pauta real é o fechamento
de
fato do Congresso e do STF. Ou seja: a consumação de um golpe dentro do
golpe.
E nesse
ponto cabe lembrar: não é a esquerda que controla o Congresso e o Supremo. Muito
antes pelo contrário. Ambas instituições já deram seguidas mostras de que lado
estão.
Sendo assim, caberia perguntar: 1) por qual motivo a disputa no
andar de cima está tão aquecida? 2) por qual motivo os que controlam o
Congresso e o Supremo se demonstram, pelo menos até agora, tão cordeiros frente as agressões do
presidente?
Uma resposta
à primeira pergunta talvez esteja no que estamos todos vendo: há uma
deterioração crescente nas condições de vida do povo, o ultraliberalismo conduz
a tratar a questão social como caso de polícia, mais cedo ou mais tarde o caldo
vai entornar... e Bolsonaro já tem o seu plano de contingência, uma
espécie de GLO nacional, na qual o Congresso e o Supremo não teriam grande
papel a desempenhar.
Uma resposta
à segunda pergunta talvez esteja no que todos sabemos: os que controlam o
Congresso e o Supremo participaram do golpe contra Dilma, aplaudiram a
condenação e prisão de Lula, apoiaram ou lavaram as mãos frente a eleição de
Bolsonaro e, principalmente, defendem o programa ultraliberal. Sua principal
diferença em relação à Bolsonaro é que consideram possível fazer tudo isto e
manter as aparências de que seguem valendo as liberdades previstas na
Constituição de 1988.
Gente com
esta ficha corrida sabe muito bem qual o preço que teriam que pagar, caso
fizessem a única coisa que cabe fazer: afastar o presidente da República. O
preço seria ter que mobilizar o povo e as esquerdas em defesa das liberdades democráticas. E como fazer isso, ao mesmo tempo em
que o Congresso aprova e o Supremo respalda um programa de corte de direitos?
Esse é o problema deles. O nosso problema é outro: impedir tanto o golpe dentro do golpe, quanto a continuidade do status quo. Por isto, ao mesmo tempo em que devemos pressionar as instituições para que reajam à altura (e só há uma reação possível, frente a agressão tão violenta: afastar o presidente, o vice e os ministros golpistas), precisamos decuplicar a aposta nas mobilizações sociais convocadas para os dias 8, 14 e 18 de março.
Pois senão a disputa será resolvida no e pelo andar de cima. Sobrando para nós as cinzas.
Reflexão muito pertinente.
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirComo dizia minha saudosa mãe: Antes tarde do que nunca!
ResponderExcluirEis o impasse central, meu amigo, agora é saber para quem e como os sinos dobram se é que vão dobrar.
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