O Partido Comunista Brasileiro traduziu e divulgou um texto, de 27 de maio de 2014, que segundo eles contém a posição de Timoshenko, comandante das FARC, acerca do segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia.
Supondo que o texto tenha sido adequadamente traduzido e suas posições sejam oficiais, faço as seguintes observações.
Eles têm razão em desmascarar a propaganda que tenta apresentar Santos
como um "homem de paz" e em apontar o conteúdo neoliberal de seu
programa.
Ainda que cause espécie a extensão da crítica feita pelas Farc contra Santos, vis a vis as
econômicas referências diretas feitas contra Uribe e seu candidato presidencial, o tal
Zuluaga.
Segundo as Farc, "as contradições de Juan Manuel Santos e o
ex-Presidente Uribe não são da profundidade apresentada". Isto é verdade.
Segundo as Farc, "os dois guardam identidade e fidelidade absoluta
com o neoliberalismo econômico". Isto é em linhas gerais verdade.
Segundo as Farc, os dois também guardam "fidelidade absoluta"
com a "doutrina de guerra dominante, inclinam suas cabeças e servem com
devoção aos interesses econômicos e políticos da América do Norte, experimentam
igual repugnância para os processos democratizantes e renovadores que ocorrem
em vários países sul-americanos". Já isto não é verdade.
Uribe é 100% inimigo da Venezuela
e do processo de integração. Santos busca acomodar-se com a Venezuela, adotou
uma postura mais cautelosa no tema das bases militares dos EUA na Colômbia e,
como se não fosse pouco, aceitou dar início ao processo de paz.
É por isto que parte importante da esquerda latinoamericana prefere a
vitória de Santos. Pois a vitória de Zuluaga é a vitória da guerra 100%.
E qual a origem desta diferença entre Santos e Zuluaga? Ou entre Santos
e Uribe?
A diferença é que embora os dois representam "poderosos setores do capital
e da terra", eles representam setores diferentes.
Uribe expressa o "grupo
pecuarista" e os "empresários agroindustriais beneficiários da
violência". Santos representa outros setores da burguesia.
As Farc, ao mesmo tempo que falam das semelhanças ("identidade e
fidelidade absoluta"), sabem que há diferenças. Portanto, sabem que estão
exagerando, sabem que a tal "identidade e fidelidade" de ambos não é absoluta, ao
menos no caso de Santos.
Veja o que as Farc dizem sobre o que diferencia os dois candidatos:
"o que os diferencia é o enfoque com que assumem a realidade do conflito
interno colombiano, pois, enquanto o primeiro deles, hoje magistralmente
interpretado por seu candidato Oscar Iván Zuluaga, decididamente opta pela
intolerância absoluta e a solução exclusiva pela força, o segundo aposta,
primeiramente, em conseguir a rendição da insurgência na Mesa de Havana,
reservando-se paralelamente o direito de esmagá-la pela força".
Vejam: o primeiro (Zuluaga) busca vencer a guerra e não aceita negociar
a paz. O segundo (Santos) busca vencer a guerra mas aceita negociar a paz.
A questão é: esta diferença não é importante? Ou é uma diferença secundária, menor?
Claro que Santos é um conservador. Mas o tema é: em que ambiente os trabalhadores vão poder lutar melhor, com mais facilidade, por seus direitos econômicos, sociais e políticos? Num ambiente de
guerra ou num ambiente de paz?
A questão não é, portanto, saber se Santos "menospreza qualquer
reforma de amplo conteúdo democrático ou que implique na menor mudança na
desigual distribuição da terra e da riqueza no país". Pois é óbvio que ele menospreza.
A questão é: em que ambiente os trabalhadores preferem lutar por reformas de amplo conteúdo
democrático, que impliquem em mudança na desigual distribuição da terra e da
riqueza. Os trabalhadores preferem travar esta luta num contexto de guerra ou num contexto de paz?
As Farc dizem que "a paz, para os setores que (Santos) representa,
implica necessariamente que tudo continue igual". Isto é verdade.
Mas faltou dizer que para os trabalhadores a paz
representa uma oportunidade melhor para seguir lutando para que tudo mude.
Ainda segundo as FARC, "não se pode dizer que Oscar Iván Zuluaga
ganhou". Bom, na terra do grande Gabriel Garcia Marquez, há várias maneiras de abordar a realidade. Mas visto daqui, não há discurso, não há retórica, que consiga ocultar que a
ultra-direita colombiana obteve um êxito no primeiro turno das eleições.
Na análise das FARC sobre o resultado eleitoral, nos parece existir ilusão semelhante a de
alguns setores da ultra-esquerda brasileira, que confundem o abstencionismo
eleitoral com uma crítica politizada ao sistema político. Infelizmente, não é.
Infelizmente, o elevado índice de abstenção mais votos em branco nas eleições
colombianas nos parece refletir muito mais a despolitização, e a despolitização ajuda a direita, não a esquerda.
Frente a tudo isto, nos parece uma meia verdade dizer que tanto Oscar Iván
Zuluaga quanto Juan Manuel Santos "significará a guerra". Pois, como as Farc mesmo reconhecem, "com Zuluaga é evidente o assunto". Já com
Santos a divergência reside nos termos com que se negociará a paz.
Novamente perguntando: isto é
indiferente?
Como creio estar claro, eu evito fazer especulações sobre mensagens
implícitas, sobre segundas intenções. Me limito a considerar as coisas tal como são ditas na entrevista, conforme a tradução feita pelo PCB. E tal como são
ditas, estando como estamos a véspera do segundo turno, considero um erro dizer que
"a verdadeira encruzilhada tem uma natureza distinta".
Dizer isto é equivalente a dizer, no caso brasileiro, que a "verdadeira encruzilhada" é entre
a via conservadora ou a via democrática de desenvolvimento.
Isto é verdade? É.
Isto vai se resolver nas eleições de 2014? Não, não vai.
Mas daí não decorre que
seja indiferente o resultado da eleição de 2014, que a vitória de fulano ou de
beltrana nas eleições de 2014 não incidam fortemente na "verdadeira encruzilhada".
E no fundo, é isto que está dito no texto reproduzido ao final: quem quer que vença
significará "a continuidade imóvel das políticas de despojo e violência
que representam os dois candidatos".
Qual é o problema de fundo deste raciocínio?
Na minha opinião, o problema de fundo é encarar a política como um confronto entre as FARC e o Estado. Quando o certo é encarar a política na Colômbia como uma luta de classes, sendo que a classe
trabalhadora terá melhores condições de lutar se Uribe e Zuluaga forem derrotados.
A questão para mim, portanto, não está em caracterizar Santos. Santos é um conservador, é um inimigo
de classe. A questão é que a vitória de Uribe/Zuluaga criará um ambiente pior
para a classe trabalhadora lutar.
O texto das Farc conclui apontando uma "gama de opções".
A primeira delas seria "a espontânea e maciça votação em
branco", que eles acham que poderia "gerar um terremoto político no
país", embora reconheçam que teria um "caráter amorfo, desorganizado,
espontâneo e difuso".
A segunda delas seria "um urgente reagrupamento de todos os setores
insatisfeitos e de oposição", "movimentos sociais",
"esquerda política" e o apoio do "conjunto da insurgência".
Certamente, este reagrupamento é importante e deve ocorrer em qualquer
caso. Mas em que condições uma frente como esta lutaria melhor? Contra um
governo Zuluaga ou contra um governo Santos?
Claro que sob um governo Zuluaga, a guerra recomeçaria 100% e, portanto,
este "reagrupamento" teria que atuar em condições de guerra, onde as
Farc evidentemente tem mais experiência e, logo, assumiriam a hegemonia. Mas a experiência recente mostrou que não há solução militar para o conflito colombiano.
As Farc dizem, também, que o novo governo, "qualquer que
seja", "assumirá o poder em condições de debilidade política, com
sérias contradições com o grupo do candidato perdedor. Uma forte agitação
social e política poderia produzir consequências inesperadas, que fossem
suficientes para derrotá-lo. Sim, poderiam contar com condições favoráveis para
o crescimento de um verdadeiro movimento alternativo capaz, em curto ou médio
prazo, de precipitar, de um modo ou de outro, mudanças, fundamentais na vida
nacional, inclusive a paz".
Sendo verdade o que está acima, tanto faz que ganhe um ou outro?
Finalmente e surpreendentemente, o texto das FARC conclui falando de uma
terceira opção: "uma fórmula a ser considerada seria, formada essa
coalizão, pactuar com um dos candidatos, de maneira seria, um programa
progressista de mudanças. Mesmo que a ideia possa soar atraente, parece nascer
mais do desejo que de possibilidades reais. É preciso analisar o caráter
precipitado da coalizão e do próprio pacto que resultaria na parceria, além da
confiança e credibilidade que pode envolver tal aliança com inimigos declarados
do povo colombiano".
Se isto está traduzido corretamente, devemos entender que Timoshenko admite a possibilidade de uma frente de
esquerda/movimentos/insurgentes pactuar "com um dos candidatos" um
"programa progressista de mudanças". Cá entre nós, depois de tudo o
que foi dito antes, esta opção não faz sentido. Pois ela suporia admitir que as diferenças entre Santos e Zuluaga são tão grandes, que permitem não apenas votar, mas até pactuar com um deles.
Abaixo segue o texto comentado.
Colômbia: posição das FARC sobre o segundo turno
das eleições colombianas
“Não se trata de escolher entre a guerra
representada por Zuluaga e a paz encarnada por Santos. É claro que qualquer dos
dois significará a guerra”.
No domingo, dia 15 de junho, ocorrerá o segundo turno das eleições para
Presidência da República, que se definirá entre o candidato do Centro
Democrático, Oscar Iván Zuluaga, e o candidato da Unidade Nacional, o atual
Presidente Juan Manuel Santos. Diversos meios de comunicação e analistas
concordam que nesse dia os colombianos se encarregarão de escolher entre a
guerra e a paz.
Em grande medida, tal afirmação tem origem nas palavras pronunciadas
pelo Presidente Santos, ante seus seguidores, uma vez que teve conhecimento dos
resultados desfavoráveis no primeiro turno. Com um tom enérgico, anunciou que a
campanha iniciada a partir desse momento aconteceria entre aqueles que se
empenhavam em continuar a guerra e os que apostavam na paz. Desde então,
comentaristas e imprensa começaram a difusão da matriz midiática, segundo a
qual o que será definido nas urnas é, nem mais nem menos, a continuidade ou não
do processo de diálogos que ocorre atualmente em Havana.
· Falso
plebiscito
Daí a disputa eleitoral, a celebrar-se em 15 de junho, ter adquirido o
caráter de um plebiscito, que definirá se a maioria dos colombianos prefere a
continuidade do conflito armado, neste caso representado pelo candidato
Zuluaga, ou o seu breve término, por conta da reeleição de Santos. Achamos
conveniente advertir que tal escolha não corresponde à verdade. O plebiscito
mencionado não é mais que uma farsa, um cenário midiático que pretende
transferir à imensa maioria de colombianos, a responsabilidade de uma guerra da
qual os únicos responsáveis são as duas facções políticas oligárquicas e
violentas que disputam hoje o controle do Estado na Colômbia.
· A diferença entre
Santos e Zuluaga
Basta recordar que o Presidente Santos foi o principal Ministro do
segundo governo de Álvaro Uribe Vélez, que foi ele quem anunciou orgulhosamente
ao país o ataque de 8 de março de 2008, em Sucumbíos, que não pode fugir de sua
responsabilidade pelos crimes condenáveis denominados falsos positivos, que foi
ele quem, no momento de comunicar a morte do Comandante Jorge Briceño, ordenou
furioso a rendição e entrega das FARC, que foi ele quem ordenou o assassinato
do Comandante Alfonso Cano enquanto trocavam mensagens sobre um possível processo
de conversação, e que, inclusive, reconheceu ter chorado de felicidade ao
receber a notícia. Mal pode apresentar-se como o homem da paz.
Inclusive, poderíamos ir mais longe. Seu atual chefe de campanha, César
Gaviria Trujillo, o Presidente que submeteu o país às políticas neoliberais
impostas pelas entidades multilaterais de crédito, o mesmo que pôs fim ao
processo da Casa Verde com um ataque traiçoeiro, o mesmo personagem que colocou
fim às conversações de paz de Tlaxcala com o conjunto da Coordenadoria Guerrilheira
Simón Bolívar, o mandatário que decretou a guerra integral, pensando colocar
fim à existência das guerrilhas na Colômbia em um ano e meio, designou Juan
Manuel Santos como seu Ministro de Comércio Exterior, para que fosse ele quem
começasse a concretizar e implantar a chamada abertura econômica, entregando ao
capital estrangeiro grande parte do patrimônio nacional e retirando dos
trabalhadores suas conquistas de quase um século de lutas.
Também lembramos Juan Manuel Santos como Ministro da Fazenda do governo
de Andrés Pastrana, anunciando ao povo colombiano um longo período de suor e
lágrimas, no momento em que destinava bilhões de pesos do tesouro público para
salvar o setor financeiro mergulhado na crise gerada por sua própria corrupção.
Não é de agora que o país conhece Juan Manuel Santos como agente do capital
transnacional e importante funcionário de governos belicistas. Ele desempenhou
importante papel em todas as últimas administrações públicas de caráter
nacional, sejam eles conservadores, liberais ou uribistas, sempre desfrutando
das benesses do poder, servindo aos interesses das classes mais poderosas, e
desprezando e reprimindo os setores populares afetados por essas políticas.
As contradições de Juan Manuel Santos e o ex-Presidente Uribe não são da
profundidade apresentada. Os dois guardam identidade e fidelidade absoluta com
o neoliberalismo econômico e a doutrina de guerra dominante, inclinam suas
cabeças e servem com devoção aos interesses econômicos e políticos da América
do Norte, experimentam igual repugnância para os processos democratizantes e
renovadores que ocorrem em vários países sul-americanos e, sobretudo, conferem
o mesmo tratamento violento às aspirações das grandes maiorias marginalizadas
do país. Os dois representam poderosos setores do capital e da terra.
O que os diferencia é o enfoque com que assumem a realidade do conflito
interno colombiano, pois, enquanto o primeiro deles, hoje magistralmente
interpretado por seu candidato Oscar Iván Zuluaga, decididamente opta pela
intolerância absoluta e a solução exclusiva pela força, o segundo aposta,
primeiramente, em conseguir a rendição da insurgência na Mesa de Havana,
reservando-se paralelamente o direito de esmagá-la pela força. As posições do
uribismo, radicalmente sectárias na defesa dos setores econômicos e políticos
relacionados com o paramilitarismo, assim como na intangibilidade dos setores
militaristas mais cruelmente comprometidos com a violação dos direitos humanos,
o conduziram a travar uma luta acirrada com o governo de Juan Manuel Santos,
precisando enfrentar as pressões do grupo pecuarista e dos empresários
agroindustriais beneficiários da violência.
O fato de Oscar Iván Zuluaga não se importar em aparecer como defensor
da guerra, não faz de Juan Manuel Santos um homem da paz. Assim como seu rival
na disputa eleitoral, Santos menospreza qualquer reforma de amplo conteúdo
democrático ou que implique na menor mudança na desigual distribuição da terra
e da riqueza no país. Em sua recente campanha, preocupou-se em tranquilizar os
setores poderosos, esclarecendo que nenhum de seus privilégios ou interesses
estava em risco na Mesa de Havana, com a mesma ênfase com que procurou
convencer as forças armadas e setores militaristas de que nem um só peso do
orçamento militar, do gasto de guerra, das aquisições planejadas ou
compromissos adquiridos, nem sequer o contingente ou os planos de investimento
sofreriam a menor alteração na eventual assinatura final de um acordo com as
FARC em Havana. É claro que a paz, para os setores que representa, implica
necessariamente que tudo continue igual. Que não se toquem nas causas que
originaram o confronto do último meio século na Colômbia.
Enquanto o Presidente Santos corria o país tranquilizando os donos da
fortuna e as camadas beneficiárias da guerra, não escutamos uma só palavra de
seus lábios que significasse algum estímulo esperançoso ou que tivesse a
aptidão de inspirar confiança nos setores populares afetados pelas políticas de
seu governo. Se esteve em Buenaventura foi para dar prosseguimento a seus
conhecidos anúncios de mais oferta de trabalho, que garanta de modo absoluto as
operações do lucrativo setor portuário ligado ao grande comércio exterior. Nada
para as negritudes miseráveis ou os pescadores assediados pela violência atroz
que os removem das áreas da cidade, onde se projeta a ampliação das atividades
exportadoras. Com posição idêntica no resto do país, era lógico que a votação a
seu favor ficaria seriamente prejudicada.
· Ninguém
ganhou
Não se pode dizer que Oscar Iván Zuluaga ganhou. Simplemente, como
beneficiário da máquina de terror do uribismo, da decadência moral de seus
apoiadores políticos e de toda a podridão alimentada pelos oito anos contínuos
de governo de seu mentor, ocupou o primeiro lugar nas votações, como consequência
do extraordinário desprestígio do governo de Juan Manuel Santos, que não foi
isento do clientelismo, da marmelada e da corrupção própria do regime político
colombiano. O elevado índice de abstenção, ao qual cabe somar também o voto em
branco, coloca em voga a ilegitimidade, a descrença e a falta de apoio real por
parte do povo colombiano a todos os candidatos oficiais.
Nessas condições, é preciso dizer, cabe destacar e valorizar a votação
obtida pela esquerda, representada pela aliança entre o Polo Democrático e a
União Patriótica. Não cabe dúvida que as duas mulheres que postularam seu nome
à Presidência e à Vice-Presidência capitalizaram, em meio à putrefação do
regime eleitoral e do debate político, uma poderosa corrente de opinião
independente, consciente, limpa e livre. Ninguém que tenha escolhido votar
nessa opção o fez movido pela ambição pessoal ou pela esperança de regalias.
Num país insuflado diariamente pelo ódio e pela polarização promovidos pela
ultradireita, adquire um enorme valor o posicionamento dessa reserva moral e
política de corte autenticamente popular. Pode ser que sua pureza moral se
mantenha intacta ante os cantos da sereia de César Gaviria.
Marta Lucía Ramírez, candidata oficial do Partido Conservador, coloca
abertamente em evidência o caráter oportunista e negociador de sua corrente
política. Seu apoio pode ir para qualquer um dos dois candidatos finalistas, o
qual dependerá tão somente das garantias e regalias econômicas e políticas
oferecidas por cada um. É a velha tática de seu partido, corrupto e alheio a
qualquer princípio, graças a qual prosperou em todos os últimos governos. Sua
virtude está à venda pelo melhor preço e isso basta para fazê-la ainda pior que
qualquer deles. Nem sequer vale a pena falar de Peñalosa. O arquipélago que o
rodeou já começou sua dispersão.
· O
verdadeiro dilema e as opções no segundo turno
Assim que os colombianos, sim, estamos diante de um verdadeiro dilema.
Porém, não o de escolher entre a guerra representada por Oscar Iván Zuluaga e a
paz encarnada por Juan Manuel Santos. É claro que qualquer um deles dois
significará a guerra. Com Zuluaga é evidente o assunto. Para julgar Santos
basta observar sua insistência de que não pactuará nenhum cessar-fogo apesar da
existência dos diálogos em Havana e de seus avanços, sua ordem permanente de
aumentar o confronto e os ataques até conseguir a assinatura da paz na Mesa,
sua repetida negativa em pactuar qualquer reforma econômica, política, militar
ou social, sua incessante cantiga de que nada está acordado até que tudo esteja
acordado, suas mensagens tranquilizadoras aos poderes estabelecidos. A
verdadeira encruzilhada tem uma natureza distinta. Trata-se de escolher entre a
continuidade imóvel das políticas de despojo e violência que representam os
dois candidatos, e a possibilidade de imprimir mudanças urgentes e profundas na
institucionalidade e na sociedade colombianas. Para o primeiro, basta votar em
qualquer uma das candidaturas apresentadas, enquanto para o segundo, a gama de
opções é mais ampla.
A primeira delas seria a espontânea e maciça votação em branco, capaz de
deslegitimar, inclusive juridicamente, as duas opções militaristas e
neoliberais. Não existe dúvida de que uma surpreendente votação que superasse
os sufrágios de ambas as candidaturas seria capaz de gerar um terremoto
político no país. Contra ela, jogariam o curto prazo para promovê-la, da mesma
forma que o caráter amorfo, desorganizado, espontâneo e difuso de sua promoção,
que teria a dificuldade de expressar-se, conseguindo a vitória numa opção
política medianamente definida e unitária. Nesse
caso, precisamente, a tarefa consiste em trabalhá-la.
Em segundo lugar, poderia considerar-se um urgente reagrupamento de
todos os setores insatisfeitos e de oposição, ao qual se uniria, de maneira
firme, o conjunto dos movimentos sociais enfrentando o governo de Santos, numa
poderosa coalizão com a esquerda política tão bem posicionada no recente
primeiro turno, com o apoio político do conjunto da insurgência, em torno de
consignas simples como a solução política ao conflito interno, o cessar-fogo, a
assembleia nacional constituinte, o contundente repúdio a todas as formas de
politicagem tradicional e pelas reformas urgentes de caráter social, com o
propósito de enfrentar, de maneira decidida, com uma força sólida de massas o
novo governo, que será empossado em 7 de agosto.
Não há dúvida de que esse governo, qualquer que seja, por baixo de sua
cobertura institucional ou legal, assumirá o poder em condições de debilidade
política, com sérias contradições com o grupo do candidato perdedor. Uma forte
agitação social e política poderia produzir consequências inesperadas, que
fossem suficientes para derrotá-lo. Sim, poderiam contar com condições
favoráveis para o crescimento de um verdadeiro movimento alternativo capaz, em
curto ou médio prazo, de precipitar, de modo ou de outro, mudanças,
fundamentais na vida nacional, inclusive a paz.
Uma fórmula a ser considerada seria, formada essa coalizão, pactuar com
um dos candidatos, de maneira seria, um programa progressista de mudanças.
Mesmo que a ideia possa soar atraente, parece nascer mais do desejo que de
possibilidades reais. É preciso analisar o caráter precipitado da coalizão e do
próprio pacto que resultaria na parceria, além da confiança e credibilidade que
pode envolver tal aliança com inimigos declarados do povo colombiano.
· A
razão da Mesa de Diálogos
E o que dizer da Mesa? Fundamentalmente, é preciso considerar que ela
tem toda sua importância na medida em que possibilite, viabilize ou catalise um
grande movimento nacional pelas mudanças básicas. O único Acordo que, como
revolucionários, podemos aspirar em assinar nela, é aquele que conte com o
respaldo desse grande movimento popular que, por sua vez, impeça o seu
desmonte. Nos demais casos, poderíamos viver realidades intoleráveis. Um
assunto para considerar seriamente.
Montanhas da Colômbia, 27 de maio de 2014.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
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