sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sobre a posição das FARC acerca do segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia

O Partido Comunista Brasileiro traduziu e divulgou um texto, de 27 de maio de 2014, que segundo eles contém a posição de Timoshenko, comandante das FARC, acerca do segundo turno das eleições presidenciais na Colômbia. 

Supondo que o texto tenha sido adequadamente traduzido e suas posições sejam oficiais, faço as seguintes observações.

Eles têm razão em desmascarar a propaganda que tenta apresentar Santos como um "homem de paz" e em apontar o conteúdo neoliberal de seu programa.

Ainda que cause espécie a extensão da crítica feita pelas Farc contra Santos, vis a vis as econômicas referências diretas feitas contra Uribe e seu candidato presidencial, o tal Zuluaga.

Segundo as Farc, "as contradições de Juan Manuel Santos e o ex-Presidente Uribe não são da profundidade apresentada". Isto é verdade.

Segundo as Farc, "os dois guardam identidade e fidelidade absoluta com o neoliberalismo econômico". Isto é em linhas gerais verdade.

Segundo as Farc, os dois também guardam "fidelidade absoluta" com a "doutrina de guerra dominante, inclinam suas cabeças e servem com devoção aos interesses econômicos e políticos da América do Norte, experimentam igual repugnância para os processos democratizantes e renovadores que ocorrem em vários países sul-americanos". Já isto não é verdade.

Uribe é 100% inimigo da Venezuela e do processo de integração. Santos busca acomodar-se com a Venezuela, adotou uma postura mais cautelosa no tema das bases militares dos EUA na Colômbia e, como se não fosse pouco, aceitou dar início ao processo de paz.

É por isto que parte importante da esquerda latinoamericana prefere a vitória de Santos. Pois a vitória de Zuluaga é a vitória da guerra 100%.

E qual a origem desta diferença entre Santos e Zuluaga? Ou entre Santos e Uribe?

A diferença é que embora os dois representam "poderosos setores do capital e da terra", eles representam setores diferentes. 

Uribe expressa o "grupo pecuarista" e os "empresários agroindustriais beneficiários da violência". Santos representa outros setores da burguesia.

As Farc, ao mesmo tempo que falam das semelhanças ("identidade e fidelidade absoluta"), sabem que há diferenças. Portanto, sabem que estão exagerando, sabem que a tal "identidade e fidelidade" de ambos não é absoluta, ao menos no caso de Santos.

Veja o que as Farc dizem sobre o que diferencia os dois candidatos: "o que os diferencia é o enfoque com que assumem a realidade do conflito interno colombiano, pois, enquanto o primeiro deles, hoje magistralmente interpretado por seu candidato Oscar Iván Zuluaga, decididamente opta pela intolerância absoluta e a solução exclusiva pela força, o segundo aposta, primeiramente, em conseguir a rendição da insurgência na Mesa de Havana, reservando-se paralelamente o direito de esmagá-la pela força". 

Vejam: o primeiro (Zuluaga) busca vencer a guerra e não aceita negociar a paz. O segundo (Santos) busca vencer a guerra mas aceita negociar a paz

A questão é: esta diferença não é importante? Ou é uma diferença secundária, menor?

Claro que Santos é um conservador. Mas o tema é: em que ambiente os trabalhadores vão poder lutar melhor, com mais facilidade, por seus direitos econômicos, sociais e políticos? Num ambiente de guerra ou num ambiente de paz?

A questão não é, portanto, saber se Santos "menospreza qualquer reforma de amplo conteúdo democrático ou que implique na menor mudança na desigual distribuição da terra e da riqueza no país". Pois é óbvio que ele menospreza.

A questão é: em que ambiente os trabalhadores preferem lutar por reformas de amplo conteúdo democrático, que impliquem em mudança na desigual distribuição da terra e da riqueza. Os trabalhadores preferem travar esta luta num contexto de guerra ou num contexto de paz?

As Farc dizem que "a paz, para os setores que (Santos) representa, implica necessariamente que tudo continue igual". Isto é verdade. 

Mas faltou dizer que para os trabalhadores a paz representa uma oportunidade melhor para seguir lutando para que tudo mude.

Ainda segundo as FARC, "não se pode dizer que Oscar Iván Zuluaga ganhou". Bom, na terra do grande Gabriel Garcia Marquez, há várias maneiras de abordar a realidade. Mas visto daqui, não há discurso, não há retórica, que consiga ocultar que a ultra-direita colombiana obteve um êxito no primeiro turno das eleições.

Na análise das FARC sobre o resultado eleitoral, nos parece existir ilusão semelhante a de alguns setores da ultra-esquerda brasileira, que confundem o abstencionismo eleitoral com uma crítica politizada ao sistema político. Infelizmente, não é. Infelizmente, o elevado índice de abstenção mais votos em branco nas eleições colombianas nos parece refletir muito mais a despolitização, e a despolitização ajuda a direita, não a esquerda.

Frente a tudo isto, nos parece uma meia verdade dizer que tanto Oscar Iván Zuluaga quanto Juan Manuel Santos "significará a guerra". Pois, como as Farc mesmo reconhecem, "com Zuluaga é evidente o assunto". Já com Santos a divergência reside nos termos com que se negociará a paz. 

Novamente perguntando: isto é indiferente?

Como creio estar claro, eu evito fazer especulações sobre mensagens implícitas, sobre segundas intenções. Me limito a considerar as coisas tal como são ditas na entrevista, conforme a tradução feita pelo PCB. E tal como são ditas, estando como estamos a véspera do segundo turno, considero um erro dizer que "a verdadeira encruzilhada tem uma natureza distinta". 

Dizer isto é equivalente a dizer, no caso brasileiro, que a "verdadeira encruzilhada" é entre a via conservadora ou a via democrática de desenvolvimento. 

Isto é verdade? É. 

Isto vai se resolver nas eleições de 2014? Não, não vai. 

Mas daí não decorre que seja indiferente o resultado da eleição de 2014, que a vitória de fulano ou de beltrana nas eleições de 2014 não incidam fortemente na "verdadeira encruzilhada".

E no fundo, é isto que está dito no texto reproduzido ao final: quem quer que vença significará "a continuidade imóvel das políticas de despojo e violência que representam os dois candidatos". 

Qual é o problema de fundo deste raciocínio? 

Na minha opinião, o problema de fundo é encarar a política como um confronto entre as FARC e o Estado. Quando o certo é encarar a política na Colômbia como uma luta de classes, sendo que a classe trabalhadora terá melhores condições de lutar se Uribe e Zuluaga forem derrotados.

A questão para mim, portanto, não está em caracterizar Santos. Santos é um conservador, é um inimigo de classe. A questão é que a vitória de Uribe/Zuluaga criará um ambiente pior para a classe trabalhadora lutar.

O texto das Farc conclui apontando uma "gama de opções".

A primeira delas seria "a espontânea e maciça votação em branco", que eles acham que poderia "gerar um terremoto político no país", embora reconheçam que teria um "caráter amorfo, desorganizado, espontâneo e difuso".

A segunda delas seria "um urgente reagrupamento de todos os setores insatisfeitos e de oposição", "movimentos sociais", "esquerda política" e o apoio do "conjunto da insurgência".  

Certamente, este reagrupamento é importante e deve ocorrer em qualquer caso. Mas em que condições uma frente como esta lutaria melhor? Contra um governo Zuluaga ou contra um governo Santos?

Claro que sob um governo Zuluaga, a guerra recomeçaria 100% e, portanto, este "reagrupamento" teria que atuar em condições de guerra, onde as Farc evidentemente tem mais experiência e, logo, assumiriam a hegemonia. Mas a experiência recente mostrou que não há solução militar para o conflito colombiano. 

As Farc dizem, também, que o novo governo, "qualquer que seja", "assumirá o poder em condições de debilidade política, com sérias contradições com o grupo do candidato perdedor. Uma forte agitação social e política poderia produzir consequências inesperadas, que fossem suficientes para derrotá-lo. Sim, poderiam contar com condições favoráveis para o crescimento de um verdadeiro movimento alternativo capaz, em curto ou médio prazo, de precipitar, de um modo ou de outro, mudanças, fundamentais na vida nacional, inclusive a paz".

Sendo verdade o que está acima, tanto faz que ganhe um ou outro?

Finalmente e surpreendentemente, o texto das FARC conclui falando de uma terceira opção: "uma fórmula a ser considerada seria, formada essa coalizão, pactuar com um dos candidatos, de maneira seria, um programa progressista de mudanças. Mesmo que a ideia possa soar atraente, parece nascer mais do desejo que de possibilidades reais. É preciso analisar o caráter precipitado da coalizão e do próprio pacto que resultaria na parceria, além da confiança e credibilidade que pode envolver tal aliança com inimigos declarados do povo colombiano".

Se isto está traduzido corretamente, devemos entender que Timoshenko admite a possibilidade de uma frente de esquerda/movimentos/insurgentes pactuar "com um dos candidatos" um "programa progressista de mudanças". Cá entre nós, depois de tudo o que foi dito antes, esta opção não faz sentido. Pois ela suporia admitir que as diferenças entre Santos e Zuluaga são tão grandes, que permitem não apenas votar, mas até pactuar com um deles. 

Abaixo segue o texto comentado. 



 Colômbia: posição das FARC sobre o segundo turno das eleições colombianas


Não se trata de escolher entre a guerra representada por Zuluaga e a paz encarnada por Santos. É claro que qualquer dos dois significará a guerra”.




No domingo, dia 15 de junho, ocorrerá o segundo turno das eleições para Presidência da República, que se definirá entre o candidato do Centro Democrático, Oscar Iván Zuluaga, e o candidato da Unidade Nacional, o atual Presidente Juan Manuel Santos. Diversos meios de comunicação e analistas concordam que nesse dia os colombianos se encarregarão de escolher entre a guerra e a paz.
Em grande medida, tal afirmação tem origem nas palavras pronunciadas pelo Presidente Santos, ante seus seguidores, uma vez que teve conhecimento dos resultados desfavoráveis no primeiro turno. Com um tom enérgico, anunciou que a campanha iniciada a partir desse momento aconteceria entre aqueles que se empenhavam em continuar a guerra e os que apostavam na paz. Desde então, comentaristas e imprensa começaram a difusão da matriz midiática, segundo a qual o que será definido nas urnas é, nem mais nem menos, a continuidade ou não do processo de diálogos que ocorre atualmente em Havana.

·  Falso plebiscito
Daí a disputa eleitoral, a celebrar-se em 15 de junho, ter adquirido o caráter de um plebiscito, que definirá se a maioria dos colombianos prefere a continuidade do conflito armado, neste caso representado pelo candidato Zuluaga, ou o seu breve término, por conta da reeleição de Santos. Achamos conveniente advertir que tal escolha não corresponde à verdade. O plebiscito mencionado não é mais que uma farsa, um cenário midiático que pretende transferir à imensa maioria de colombianos, a responsabilidade de uma guerra da qual os únicos responsáveis são as duas facções políticas oligárquicas e violentas que disputam hoje o controle do Estado na Colômbia.

·  A diferença entre Santos e Zuluaga
Basta recordar que o Presidente Santos foi o principal Ministro do segundo governo de Álvaro Uribe Vélez, que foi ele quem anunciou orgulhosamente ao país o ataque de 8 de março de 2008, em Sucumbíos, que não pode fugir de sua responsabilidade pelos crimes condenáveis denominados falsos positivos, que foi ele quem, no momento de comunicar a morte do Comandante Jorge Briceño, ordenou furioso a rendição e entrega das FARC, que foi ele quem ordenou o assassinato do Comandante Alfonso Cano enquanto trocavam mensagens sobre um possível processo de conversação, e que, inclusive, reconheceu ter chorado de felicidade ao receber a notícia. Mal pode apresentar-se como o homem da paz.
Inclusive, poderíamos ir mais longe. Seu atual chefe de campanha, César Gaviria Trujillo, o Presidente que submeteu o país às políticas neoliberais impostas pelas entidades multilaterais de crédito, o mesmo que pôs fim ao processo da Casa Verde com um ataque traiçoeiro, o mesmo personagem que colocou fim às conversações de paz de Tlaxcala com o conjunto da Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolívar, o mandatário que decretou a guerra integral, pensando colocar fim à existência das guerrilhas na Colômbia em um ano e meio, designou Juan Manuel Santos como seu Ministro de Comércio Exterior, para que fosse ele quem começasse a concretizar e implantar a chamada abertura econômica, entregando ao capital estrangeiro grande parte do patrimônio nacional e retirando dos trabalhadores suas conquistas de quase um século de lutas.
Também lembramos Juan Manuel Santos como Ministro da Fazenda do governo de Andrés Pastrana, anunciando ao povo colombiano um longo período de suor e lágrimas, no momento em que destinava bilhões de pesos do tesouro público para salvar o setor financeiro mergulhado na crise gerada por sua própria corrupção. Não é de agora que o país conhece Juan Manuel Santos como agente do capital transnacional e importante funcionário de governos belicistas. Ele desempenhou importante papel em todas as últimas administrações públicas de caráter nacional, sejam eles conservadores, liberais ou uribistas, sempre desfrutando das benesses do poder, servindo aos interesses das classes mais poderosas, e desprezando e reprimindo os setores populares afetados por essas políticas.
As contradições de Juan Manuel Santos e o ex-Presidente Uribe não são da profundidade apresentada. Os dois guardam identidade e fidelidade absoluta com o neoliberalismo econômico e a doutrina de guerra dominante, inclinam suas cabeças e servem com devoção aos interesses econômicos e políticos da América do Norte, experimentam igual repugnância para os processos democratizantes e renovadores que ocorrem em vários países sul-americanos e, sobretudo, conferem o mesmo tratamento violento às aspirações das grandes maiorias marginalizadas do país. Os dois representam poderosos setores do capital e da terra.
O que os diferencia é o enfoque com que assumem a realidade do conflito interno colombiano, pois, enquanto o primeiro deles, hoje magistralmente interpretado por seu candidato Oscar Iván Zuluaga, decididamente opta pela intolerância absoluta e a solução exclusiva pela força, o segundo aposta, primeiramente, em conseguir a rendição da insurgência na Mesa de Havana, reservando-se paralelamente o direito de esmagá-la pela força. As posições do uribismo, radicalmente sectárias na defesa dos setores econômicos e políticos relacionados com o paramilitarismo, assim como na intangibilidade dos setores militaristas mais cruelmente comprometidos com a violação dos direitos humanos, o conduziram a travar uma luta acirrada com o governo de Juan Manuel Santos, precisando enfrentar as pressões do grupo pecuarista e dos empresários agroindustriais beneficiários da violência.
O fato de Oscar Iván Zuluaga não se importar em aparecer como defensor da guerra, não faz de Juan Manuel Santos um homem da paz. Assim como seu rival na disputa eleitoral, Santos menospreza qualquer reforma de amplo conteúdo democrático ou que implique na menor mudança na desigual distribuição da terra e da riqueza no país. Em sua recente campanha, preocupou-se em tranquilizar os setores poderosos, esclarecendo que nenhum de seus privilégios ou interesses estava em risco na Mesa de Havana, com a mesma ênfase com que procurou convencer as forças armadas e setores militaristas de que nem um só peso do orçamento militar, do gasto de guerra, das aquisições planejadas ou compromissos adquiridos, nem sequer o contingente ou os planos de investimento sofreriam a menor alteração na eventual assinatura final de um acordo com as FARC em Havana. É claro que a paz, para os setores que representa, implica necessariamente que tudo continue igual. Que não se toquem nas causas que originaram o confronto do último meio século na Colômbia.
Enquanto o Presidente Santos corria o país tranquilizando os donos da fortuna e as camadas beneficiárias da guerra, não escutamos uma só palavra de seus lábios que significasse algum estímulo esperançoso ou que tivesse a aptidão de inspirar confiança nos setores populares afetados pelas políticas de seu governo. Se esteve em Buenaventura foi para dar prosseguimento a seus conhecidos anúncios de mais oferta de trabalho, que garanta de modo absoluto as operações do lucrativo setor portuário ligado ao grande comércio exterior. Nada para as negritudes miseráveis ou os pescadores assediados pela violência atroz que os removem das áreas da cidade, onde se projeta a ampliação das atividades exportadoras. Com posição idêntica no resto do país, era lógico que a votação a seu favor ficaria seriamente prejudicada.

·  Ninguém ganhou
Não se pode dizer que Oscar Iván Zuluaga ganhou. Simplemente, como beneficiário da máquina de terror do uribismo, da decadência moral de seus apoiadores políticos e de toda a podridão alimentada pelos oito anos contínuos de governo de seu mentor, ocupou o primeiro lugar nas votações, como consequência do extraordinário desprestígio do governo de Juan Manuel Santos, que não foi isento do clientelismo, da marmelada e da corrupção própria do regime político colombiano. O elevado índice de abstenção, ao qual cabe somar também o voto em branco, coloca em voga a ilegitimidade, a descrença e a falta de apoio real por parte do povo colombiano a todos os candidatos oficiais.
Nessas condições, é preciso dizer, cabe destacar e valorizar a votação obtida pela esquerda, representada pela aliança entre o Polo Democrático e a União Patriótica. Não cabe dúvida que as duas mulheres que postularam seu nome à Presidência e à Vice-Presidência capitalizaram, em meio à putrefação do regime eleitoral e do debate político, uma poderosa corrente de opinião independente, consciente, limpa e livre. Ninguém que tenha escolhido votar nessa opção o fez movido pela ambição pessoal ou pela esperança de regalias. Num país insuflado diariamente pelo ódio e pela polarização promovidos pela ultradireita, adquire um enorme valor o posicionamento dessa reserva moral e política de corte autenticamente popular. Pode ser que sua pureza moral se mantenha intacta ante os cantos da sereia de César Gaviria.
Marta Lucía Ramírez, candidata oficial do Partido Conservador, coloca abertamente em evidência o caráter oportunista e negociador de sua corrente política. Seu apoio pode ir para qualquer um dos dois candidatos finalistas, o qual dependerá tão somente das garantias e regalias econômicas e políticas oferecidas por cada um. É a velha tática de seu partido, corrupto e alheio a qualquer princípio, graças a qual prosperou em todos os últimos governos. Sua virtude está à venda pelo melhor preço e isso basta para fazê-la ainda pior que qualquer deles. Nem sequer vale a pena falar de Peñalosa. O arquipélago que o rodeou já começou sua dispersão.

·  O verdadeiro dilema e as opções no segundo turno
Assim que os colombianos, sim, estamos diante de um verdadeiro dilema. Porém, não o de escolher entre a guerra representada por Oscar Iván Zuluaga e a paz encarnada por Juan Manuel Santos. É claro que qualquer um deles dois significará a guerra. Com Zuluaga é evidente o assunto. Para julgar Santos basta observar sua insistência de que não pactuará nenhum cessar-fogo apesar da existência dos diálogos em Havana e de seus avanços, sua ordem permanente de aumentar o confronto e os ataques até conseguir a assinatura da paz na Mesa, sua repetida negativa em pactuar qualquer reforma econômica, política, militar ou social, sua incessante cantiga de que nada está acordado até que tudo esteja acordado, suas mensagens tranquilizadoras aos poderes estabelecidos. A verdadeira encruzilhada tem uma natureza distinta. Trata-se de escolher entre a continuidade imóvel das políticas de despojo e violência que representam os dois candidatos, e a possibilidade de imprimir mudanças urgentes e profundas na institucionalidade e na sociedade colombianas. Para o primeiro, basta votar em qualquer uma das candidaturas apresentadas, enquanto para o segundo, a gama de opções é mais ampla.
A primeira delas seria a espontânea e maciça votação em branco, capaz de deslegitimar, inclusive juridicamente, as duas opções militaristas e neoliberais. Não existe dúvida de que uma surpreendente votação que superasse os sufrágios de ambas as candidaturas seria capaz de gerar um terremoto político no país. Contra ela, jogariam o curto prazo para promovê-la, da mesma forma que o caráter amorfo, desorganizado, espontâneo e difuso de sua promoção, que teria a dificuldade de expressar-se, conseguindo a vitória numa opção política medianamente definida e unitária. Nesse caso, precisamente, a tarefa consiste em trabalhá-la.
Em segundo lugar, poderia considerar-se um urgente reagrupamento de todos os setores insatisfeitos e de oposição, ao qual se uniria, de maneira firme, o conjunto dos movimentos sociais enfrentando o governo de Santos, numa poderosa coalizão com a esquerda política tão bem posicionada no recente primeiro turno, com o apoio político do conjunto da insurgência, em torno de consignas simples como a solução política ao conflito interno, o cessar-fogo, a assembleia nacional constituinte, o contundente repúdio a todas as formas de politicagem tradicional e pelas reformas urgentes de caráter social, com o propósito de enfrentar, de maneira decidida, com uma força sólida de massas o novo governo, que será empossado em 7 de agosto.
Não há dúvida de que esse governo, qualquer que seja, por baixo de sua cobertura institucional ou legal, assumirá o poder em condições de debilidade política, com sérias contradições com o grupo do candidato perdedor. Uma forte agitação social e política poderia produzir consequências inesperadas, que fossem suficientes para derrotá-lo. Sim, poderiam contar com condições favoráveis para o crescimento de um verdadeiro movimento alternativo capaz, em curto ou médio prazo, de precipitar, de modo ou de outro, mudanças, fundamentais na vida nacional, inclusive a paz.
Uma fórmula a ser considerada seria, formada essa coalizão, pactuar com um dos candidatos, de maneira seria, um programa progressista de mudanças. Mesmo que a ideia possa soar atraente, parece nascer mais do desejo que de possibilidades reais. É preciso analisar o caráter precipitado da coalizão e do próprio pacto que resultaria na parceria, além da confiança e credibilidade que pode envolver tal aliança com inimigos declarados do povo colombiano.

·  A razão da Mesa de Diálogos
E o que dizer da Mesa? Fundamentalmente, é preciso considerar que ela tem toda sua importância na medida em que possibilite, viabilize ou catalise um grande movimento nacional pelas mudanças básicas. O único Acordo que, como revolucionários, podemos aspirar em assinar nela, é aquele que conte com o respaldo desse grande movimento popular que, por sua vez, impeça o seu desmonte. Nos demais casos, poderíamos viver realidades intoleráveis. Um assunto para considerar seriamente.
Montanhas da Colômbia, 27 de maio de 2014.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


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