Fevereiro de 2012
Dizem que a quantidade se transforma em qualidade.
Assim passou no ato comemorativo do aniversário de 32 anos do Partido dos
Trabalhadores, quando o presidente do PSD foi recebido com uma sonora
vaia.
Vaia, é bom dizer, que em boa medida saiu da boca de
gente graúda do Partido: prefeitos, deputados e lideranças nacionais. Não de
uma minoria de esquerda, não das bases, mas de dirigentes de diferentes
talantes.
Registre-se algo óbvio: a vaia era para Kassab, mas também
para os que desejam aliar-se com Kassab. As pesquisas de opinião registram:
trata-se de um prefeito mal avaliado. Muito mal avaliado. O mais importante,
contudo, é o motivo da má avaliação: seu governo piorou a vida do povo da
capital paulista.
Os defensores da aliança com Kassab desconsideram ou
minimizam programa, pesquisas e o impacto que esta aliança teria sobre a
unidade partidária. Concentram-se apenas numa aritmética: é preciso retomar São
Paulo, para isto precisamos de aliados, Kassab tem a nos oferecer de vice o
senhor Meireles (aquele, dos juros altos) etc e tal.
Mesmo desconsiderando coisas menores como ideologia e
coerência, trata-se de uma aposta de risco.
Lançar dois ex-ministros de Lula, ambos debutantes
numa eleição paulistana-nacional, desagradando de saída parte dos apoiadores e
acreditando que a aliança com Kassab coloca mais do que tira.
Em certo sentido, estamos diante de um remake
de 2003-2004, quando se tentou transformar a política de alianças do governo
federal em política de alianças do Partido. Com um agravante: a derrota de 2004
e a crise de 2005 se deram num contexto nacional e internacional ainda
favoráveis.
Hoje vivemos uma situação muito distinta. As fórmulas
políticas e econômicas que foram suficientes durante o governo Lula, estão se
demonstrando insuficientes neste início de governo Dilma. É por isto que o país
cresce, mas cresce menos; o emprego cresce, mas cresce menos; a renda cresce,
mas cresce menos; a desigualdade cai, mas cai menos.
Noutras
palavras: a situação ainda está boa, mas o horizonte de curto prazo é muito
complicado, exigindo uma nova estratégia e a adoção imediata de medidas mais
audaciosas, especialmente no terreno dos juros e do câmbio.
A
complicação tem um componente político: embora a direita partidária esteja com
dificuldades, a direita midiática está a todo vapor, cumprindo o roteiro
apontado pelo tucano-mor, a saber, disputar a “nova classe média” com o PT.
Da
nossa parte, a disputa começa por afirmar que não é média, não é classe, nem é
nova. O que está em disputa é um setor da classe trabalhadora, que graças às
políticas do governo Lula e do governo Dilma experimentaram um crescimento na
sua capacidade de consumo. A grande disputa reside exatamente em fazer este
setor compreender, pensar e agir como parte da classe trabalhadora. O que nos
leva a perguntar por que cargas d´água nossa presidenta insiste em falar de um
“país de classe média”....
Neste
contexto, a aliança com Kassab é uma dupla âncora. Para além de uma opção
eleitoralmente equivocada, revela uma opção conservadora na disputa ideológica.
Uma opção por aliados privatistas, violentos contra os pobres, ideologicamente
reacionários. Que não nos permitirão marcar a diferença e, portanto, deixarão a
porta aberta para que candidaturas da direita apelem para um voto coerente.
Um
filme que já vimos.
Fevereiro de2012
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