(O texto abaixo está em debate na direção nacional da Articulação de Esquerda. A versão final, quando
pronta, será divulgada publicamente.)
A direção nacional da tendência petista Articulação
de Esquerda, reunida no dia 20 de junho de 2014, debateu a conjuntura, as
eleições 2014, as tarefas do Partido dos Trabalhadores e da militância da
Articulação de Esquerda.
No dia 21 de junho ocorreu a convenção que lançou
oficialmente a candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição. Durante a
Convenção, assistimos aos discursos de Rui Falcão, Lula e Dilma Rousseff, que
confirmaram aspectos importantes das conclusões a que chegamos na reunião da
direção nacional da AE.
Levando em consideração a repercussão da Convenção e
o que foi debatido dia 20 de junho, a direção nacional da Articulação de
Esquerda divulga a seguinte orientação militante:
1. A militância da AE deve jogar todos os seus
esforços, no próximo período, na
reeleição de Dilma Rousseff presidenta.
2. Cabe a cada direção estadual, coordenação
setorial, organização de base e a cada militante individual decidir como
combinar esta prioridade com nossas demais tarefas, entre as quais destacamos: a plenária estatutária da CUT (28/7 a 1/8), a jornada de formação no Ceará (28/7 a 3/8), a organização do
Plebiscito Popular (2 a 7/9) e a campanha de nossas candidaturas.
3. As eleições de 2014 ocorrem num contexto marcado
por três grandes variáveis:
a) o aprofundamento da crise internacional e, por
decorrência, maior pressão das potências imperialistas sobre a América Latina e
o Brasil;
b) o acirramento da disputa entre as duas vias de
desenvolvimento do Brasil, com o grande empresariado e parcela dos “setores
médios”, a oposição de direita e o oligopólio da mídia deixando claro sua
aversão radical a toda e qualquer medida vinculada a soberania nacional, a
integração latino-americana e caribenha, a ampliação das liberdades
democráticas, ao bem estar social e a igualdade;
c) a ampliação da parcela da população e do
eleitorado oriundo da classe trabalhadora que mantém reservas ou até mesmo
desconfiança frente ao petismo e frente ao lulismo;
4. Frente a este novo cenário, cabe ao Partido dos
Trabalhadores dar um salto na sua capacidade organizativa, política, teórica,
cultural e estratégica.
5. A base social, eleitoral e militante do Partido
reclama da direção que seja capaz disto. Mas o grupo majoritário na direção
nacional do PT não revelou, até o momento, disposição e/ou capacidade para
mudar os rumos e os métodos de atuação, mudança essencial para enfrentar a nova
situação estratégica aberta pelos realinhamentos no empresariado e na classe
trabalhadora.
6. A variável central da conjuntura é a
radicalização da direita. Um exemplo disto é a postura adotada frente à Copa do
Mundo. A oposição (tanto a de direita quanto a de esquerda) buscaram politizar
ao extremo o tema, tendo adotado em alguns casos o slogan “não vai ter Copa” e de
fato torcendo pelo fracasso do certame e da seleção brasileira em campo,
deixando ao PT e ao governo a defesa dos “interesses nacionais”.
7. Por qual motivo as oposições agiram assim? Para
além de análises e opções táticas, há uma razão estratégica de fundo: depois de
quase 12 anos de presidência petista, houve mudanças importantes no país e por
isto mesmo parcelas crescentes da população estão insatisfeitas.
8. De um lado, o grande empresariado e os “setores
médios tradicionais” (assalariados de alta renda, assim como setores da pequena
burguesia) estão insatisfeitos com as mudanças ocorridas, querem evitar seu
aprofundamento e querem recuperar o espaço perdido.
9. De outro lado, amplos setores da população
trabalhadora e parcelas dos “setores médios” estão também insatisfeitos, não
com o sentido das mudanças, mas sim com a timidez das mudanças realizadas e
querem ganhar mais e mais rápido.
10. Este desejo por mais mudanças é visível, com maior
ou menor clareza, nas jornadas de junho de 2013, nas greves de diversas
categorias e também na mobilização dos sem-teto.
11. A “oposição de esquerda” gostaria de aproveitar
este cenário. Mas a radicalização da direita, internacional e nacional, contra
o PT vem fechando os espaços para a “oposição de esquerda”, que mesmo contra
sua vontade tende a converter-se em linha auxiliar da direita, do grande
capital e do imperialismo. É preciso explicar isto pacientemente, mas com
palavras claras, para os militantes de outros partidos e organizações que
insistem neste caminho; e é preciso disputar sua base social, que inclui
setores da classe trabalhadora que na ausência de uma alternativa de esquerda
podem cair na desmoralização ou inclusive girarem à direita.
12. A oposição de direita também conhece o desejo popular
por mais mudanças e sabe que só ganhará as eleições presidenciais se conseguir
aparecer, para a maioria do eleitorado, como a portadora de mudanças. Acontece
que existe uma contradição antagônica entre a mudança desejada pelo povo e a
mudança desejada pela oposição de direita.
13. As mudanças desejadas pelo povo, nós traduzimos
em mais Estado, mais desenvolvimento, mais políticas públicas, mais emprego,
mais salário, mais democracia.
14. Já a mudança desejada pela oposição de direita
implica em desemprego, redução de salários, menos direitos, menos políticas
sociais e democracia: é uma mudança para pior.
15. Por isto, a oposição de direita não pode assumir
abertamente seu programa, não pode dizer que tipo de mudança deseja para o
país. Dizer que vão gerar desemprego, reduzir salários e investimentos sociais
seria a derrota antecipada.
16. Sem poder falar do futuro que pretendem
construir e sem poder falar do seu próprio passado -- quando implementaram no
Brasil o programa neoliberal -- o que resta para a oposição de direita é
criticar “tudo isto que está aí”, combinando a denúncia de problemas (reais ou não), a
manipulação midiática e a sabotagem ativa, para criar um ambiente de crise,
deterioração e caos.
17. Por isto o oligopólio da mídia anda tão crítico
quanto a realidade brasileira. Por isto falaram que “não vai ter Copa”, por
isto torceram abertamente para que ocorresse algum desastre que prejudicasse a
competição, por isto xingaram a presidenta no jogo de abertura, pois tudo isto
reforça o ambiente negativo do qual se nutrem as candidaturas da oposição de
direita.
18. Agora, que a Copa já está em curso, a
oposição tenta se reposicionar. Seja por razões comerciais, seja por razões
políticas, o consórcio entre os partidos de oposição e o oligopólio da mídia
não pode assumir abertamente sua torcida pela derrota do Brasil. Mas não faz
autocrítica e, tendo oportunidade, voltará a posição original, de torcer pela
derrota e pelo desastre.
19. A radicalização da direita abrange todos os
cenários e temas. A violenta reação contra o decreto acerca da participação
social, acusando o PT de “bolchevismo” e a participação de “soviética”, é de um
didatismo total: a direita brasileira considera qualquer reforma uma revolução;
e, por isso, contra qualquer reforma ela uiva por um golpe preventivo (a
“contrarrevolução”).
20. Frente a este cenário, setores importantes do
nosso Partido agem como se ainda fosse possível adotar a tática de 2002.
21.Nunca apoiamos aquela tática, mas reconhecemos
que em 2002 a tática de centro-esquerda era eleitoralmente “lucrativa”. Hoje é
diferente: as alianças com setores da direita, as expectativas na postura do
grande empresariado, a tibieza frente ao oligopólio da mídia, a moderação programática
geram rendimentos decrescentes.
22. Portanto, para além do erro estratégico contido
nas atitudes citadas no ponto anterior, há um erro tático: este caminho não é
adequado para vencer as eleições de 2014, nem nacionalmente, nem nos estados.
23. A radicalização da direita (e não apenas da
oposição de direita) e a ofensiva do grande capital não dão margem para a
reprodução da tática adotada em 2002.
24. Aliás, já em 2006 nossa tática foi distinta
daquela adotada em 2002, graças ao que obtivemos em 2006 uma vitória eleitoral,
política e ideológica. Já a tentativa de reproduzir, em 2010, a tática de 2002,
resultou numa vitória eleitoral, mas num ambiente de defensiva política e
ideológica.
25. Não se trata apenas de escolher a melhor tática
para ganhar a eleição de 2014. Se trata, também, de escolher uma tática que
tenha melhores repercussões estratégicas.
26.Lula fez um segundo mandato superior ao primeiro.
Graças a isso, não apenas o povo melhorou de vida, mas também Dilma foi eleita
em 2010. Analogamente, se a esquerda quiser continuar governando o país a
partir de 1 de janeiro de 2019, é indispensável que o segundo governo Dilma
seja superior ao primeiro.
27. Mesmo que Dilma vença as eleições presidenciais
de 2014, a oposição de direita não vai deixar de existir. Pelo contrário, vai
continuar com suas duas táticas: por um lado preparando-se para as eleições
presidenciais de 2018, por outro lado trabalhando para impor a política deles
ao segundo governo Dilma. Isto fica claro no discurso sobre a suposta inevitabilidade
de um “ajuste” em 2015, ganhe quem ganhar.
28. De nossa parte, não basta vencer as eleições
presidenciais. O segundo mandato Dilma só terá a força necessária para fazer
mudanças estruturais no país, se conseguir combinar vitória na eleição presidencial,
ampliação da presença institucional da esquerda (no parlamento nacional, nos
parlamentos e governos estaduais), aliança com os movimentos sociais e partidos
de esquerda, com democratização da comunicação social e uma reforma política
ampla, feita através de uma Constituinte Exclusiva.
29.Por isto, consideramos fundamental o engajamento
do Partido na luta pela reforma, pela constituinte e na realização do
plebiscito popular.
30. Neste sentido, reiteramos nossa defesa da
impugnação da candidatura de Candido Vaccarezza. De forma geral, o Partido deve
ser duro com personagens deste jaez, que como André Vargas e Luiz Moura,
integram a quinta coluna da direita no interior de nossas fileiras.
31. Na luta política contra o PT, a oposição de
direita usa e abusa das insuficiências e contradições do governo e do próprio
Partido. Por exemplo, a incompreensão acerca do papel do grande capital.
32. Como já dissemos várias vezes, o grande capital
não é “ingrato” nem “desinformado”, apenas sabe que certas intenções que
manifestamos, certas opções que fizemos e os êxitos que acumulamos, são
incompatíveis com o padrão de acumulação hegemônico no grande empresariado
brasileiro.
33.Dizendo de outra maneira, o atual padrão de
acumulação do grande capital necessita da perversa combinação de desemprego e
salários baixos, com preços e juros altos.
34. Desta incompreensão acerca da postura do grande
capital, decorre a incorreta insistência numa política de alianças do PT com
setores da direita política e social.
35. Em nossa opinião, para manter o eleitorado de
esquerda e disputar o eleitorado de centro, precisamos demarcar claramente com
as posições da direita, apontando o que eles fizeram, o que nós fizemos e
principalmente dizendo o que faremos no próximo mandato.
36. Outra incompreensão existente no nosso Partido
diz respeito ao papel, que reputamos positivo e indispensável, dos movimentos e
das lutas sociais, para nossas vitórias eleitorais e principalmente para o
êxito dos nossos governos.
37. Entre as incompreensões destacamos, ainda, a que leva setores do PT e do governo a não compreenderem a urgência
inadiável da reforma política e da democratização da comunicação; bem como aquela que insiste em chamar de "classe média" os setores da classe trabalhadora que, graças a nossas políticas, ampliaram sua capacidade de consumo.
38. Para ganhar as eleições de 2014, precisamos não
apenas manter conosco o “núcleo duro” do nosso eleitorado, mas conquistar os
setores populares que mantém desconfianças, dúvidas e insatisfações frente a
nós.
39. Para isto, não basta falar do presente nem do
passado. É preciso falar do futuro.
40. Em primeiro lugar, porque o atendimento das necessidades
básicas de expressivas parcelas de setores antes marginalizados fez surgir
demandas reprimidas que antes não tinham sequer a oportunidade de se
apresentar.
41. Em segundo lugar, porque o difuso desejo de
mudanças indica que a maioria da população quer novas perspectivas para si e
para o país.
43. Em terceiro lugar, porque diferentemente das
gerações anteriores, que ao comparar o passado com o presente veem um copo meio
cheio, as novas gerações, que tem toda uma vida pela frente, enxergam um copo
meio vazio e estão preocupadas em enchê-lo por completo. Tudo isso exige falar
sobre o que será feito nos próximos anos para atender estes anseios.
44. Em quarto lugar, e principalmente, porque para
ter os recursos necessários para atender as novas demandas, é preciso realizar
reformas estruturais, que só serão politicamente viáveis se tivermos força para
isto, e construir esta força inclui ganhar a eleição e o apoio do povo às
reformas estruturais.
45. Por tudo isto, insistimos mais uma vez: nesta
eleição de 2014, o Partido dos Trabalhadores tem como objetivo não apenas
vencer as eleições presidenciais, elegendo a presidenta Dilma Rousseff para um
segundo mandato presidencial, mas também vencer criando as condições para um
segundo mandato superior, melhor, mais avançado do que o atual.
46. Apesar de ter estabelecido este objetivo (vencer
criando as condições para um segundo mandato Dilma superior), o Partido dos
Trabalhadores ainda não conseguiu transformar este objetivo em diretrizes
programáticas claras. Isto fica claro da leitura das resoluções do 14º encontro
nacional do PT. Fica claro, também, tanto nas coincidências quanto nas discrepâncias dos discursos feitos por Rui Falcão, Lula e Dilma
Rousseff na Convenção de 21 de junho.
47. Em nossa opinião, o programa de governo
2015-2018 deveria partir do reconhecimento efetivo, não apenas retórico, de que
continua posta a tarefa de superar a herança maldita proveniente da ditadura,
do desenvolvimentismo conservador e da devastação neoliberal.
48. Esta herança possui três dimensões principais: o
domínio imperial norte-americano, a ditadura do capital financeiro e
monopolista sobre a economia, e a lógica do Estado mínimo.
49. Superar estas três dimensões da herança maldita
é uma tarefa simultaneamente nacional e internacional, motivo pelo qual devemos
defender e aprofundar a soberania nacional, acelerar e radicalizar a integração
latino-americana e caribenha, com uma política externa que confronte os
interesses dos Estados Unidos e seus aliados.
50. As quase três décadas perdidas (metade dos anos
1970, anos 1980 e 1990) produziram uma tragédia que começou a ser debelada, nas
duas gestões do presidente Lula e na primeira gestão da presidenta Dilma.
51. Mas para continuar democratizando o país,
ampliando o bem-estar social e trilhando um caminho democrático-popular de
desenvolvimento, será necessário combinar ampliação da democratização política
e políticas públicas universalizantes do bem estar-social, com um padrão de
desenvolvimento ancorado em reformas estruturais: a reforma tributária, a
reforma do setor financeiro, a reforma urbana, a reforma agrária, a
universalização das políticas sociais, a reforma política e a democratização da
comunicação.
52. Ou seja, precisaremos libertar a economia e a
sociedade brasileira de um padrão de desenvolvimento econômico que prevaleceu
não apenas durante o neoliberalismo, mas ao longo de muitas décadas. Se não
conseguirmos fazer isto, se não conseguirmos mudar o padrão de desenvolvimento,
sofreremos uma derrota estratégica, não importa qual seja o resultado das
eleições.
53. Os militantes da Articulação de Esquerda,
especialmente os nossos candidatos e candidatas, devem fazer uma campanha
eleitoral que combine a defesa das candidaturas petistas, com a defesa das
reformas estruturais indispensáveis a um segundo mandato superior.
54. Aos 50 anos do golpe militar, o conjunto da
esquerda brasileira deve estar consciente de que as eleições de 2014 ocorrem num ambiente
marcado pelo confronto entre a histeria da direita versus as forças políticas
que sustentam a realização das reformas de base. Este confronto – muito mais
que um jogo, uma copa ou uma olimpíada – é que decidirá o futuro do Brasil. E
que, por tabela, incidirá fortemente no futuro da América Latina e do Caribe.
Pomar: vocês já foram derrotados nesta Copa: primeiro, pelo povo nas ruas e pela classe média que insultou a biônica tecnocrata que o Campo Majoritário colocou no poder, para aumentar seu poder e suprimir os líderes --classe média que, elitizando os estádios, vcs queriam conquistar, mas que agiu com a grosseira tecnocrata da mesma forma que ela trata seus ministros, mando-a tomar. O mesmo que ela fez em SP colocando Haddad ao invés de, p. ex, Suplicy.
ResponderExcluirPrezado, qual é mesmo sua graça? Voce tem certeza de que não vives numa realidade paralela, onde o prefeito e a presidenta são biônicos? Pois deste lado de fringe, o prefeito foi eleito, a presidenta foi eleita e aliás lidera as pesquisas para 2014. Quando voce se teletransportar para este lado da realidade, me avise que seguimos conversando.
ResponderExcluirVocê sabe que o que eu digo é verdade. Foi escrito num perfil da revista Piauí que contou que Dilma chamou Gabrielli, da Petrobrás, de idiota. Igualmente, uma das esquinas da Piauí, com a depiladora de Dilma, relatou tb o costume da presidente de xingar "até a última geração" de alguns subordinados.
ResponderExcluirPrezado, ainda não sei sua graça. E desde quando por ter sido escrito numa revista (seja lá qual for) algo vira verdade? No mundo paralelo, a imprensa só fala a verdade???
ResponderExcluirPomar, vc me conhece, sou amigo do Laerte Braga. É claro que tudo isso é verdade. O xingo foi apenas um reflexo...afinal, Dilma foi imposta até nos congressos do PT, pois ela é do PDT. Att Lúcio Jr.
ResponderExcluirPrezado, pelo nome não recordo, talvez vendo uma foto. Quanto a Dilma, ela é do PT há muitos anos. E demonstrou compromisso com o PT, maior do que muitos ex-petistas que foram embora do Partido. E o fato dela ter sido do PDT, como o fato dela ter sido da luta armada, não a desabonam, pelo contrário. Sobre ela ter sido imposta, é delírio seu. O nome dela foi votado e aprovado pelo Partido. Falo por mim, que fui delegado nas duas vezes que ela virou candidata. Votei nela com muita convicção. Quanto ao xingamento ter sido "reflexo", sugiro que voce reflita melhor sobre a imensa besteira que voce está dizendo. Reflexo do quê? Gozado, voce, um cara que se pretende de esquerda, passando a mão na cabeça e desculpando a atitude de um bando de direitistas. Por fim, "tudo isso é verdade" o quê? Atenciosamente, Valter Pomar
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