8 de dezembro de 2013
A secretaria geral nacional do Partido dos
Trabalhadores divulgou, recentemente, três textos que servirão de base aos
debates do 5o Congresso Nacional do PT.
O primeiro destes documentos é a Convocatória do
5o Congresso, datada de 8 de dezembro de 2012. O
segundo documento é uma Resolução política do Diretório
Nacional do PT, de 29 de julho de 2013. O terceiro documento é uma Contribuição ao
debate, escrita por Marco Aurélio Garcia e Ricardo Berzoini, que corresponde no
fundamental a um texto divulgado ainda durante o PED 2013.
Curiosamente, a secretaria geral não divulgou, como um
dos subsídios ao debate congressual, a tese apresentada pela chapa que venceu o
PED. Como veremos adiante, não se trata de um lapso.
***
O V Congresso do PT foi solenemente convocado, há um
ano, em dezembro de 2012. Mas desde o debate que resultou na aprovação da Convocatória,
ficou clara a existência, na direção nacional do Partido, de pelo menos duas
posições distintas a respeito.
A ampla
maioria, senão toda a direção nacional reconhecia a necessidade de um debate
estratégico e programático de fundo. Ao mesmo tempo, reconhecia existir uma
contradição entre as necessidades da luta política imediata, por um lado, e as
diretrizes mais estratégicas e programáticas que poderiam ou deveriam emergir
do Congresso.
Num
primeiro momento, como se pode perceber na leitura da Convocatória,
prevaleceu a ideia de resolver esta contradição, elevando e
corrigindo nossa tática de acordo com as necessidades de nossa
estratégia e programa.
Num
segundo momento, como também se pode perceber na leitura da Contribuição,
prevaleceu outra ideia: a de controlar o escopo dos
debates congressuais, para que eles não prejudicassem nosso desempenho na
disputa eleitoral de 2014.
Esta
polêmica, entre duas visões acerca da relação entre tática e estratégia, entre
eleições e programa, apareceu de diversas formas.
Por
exemplo: qual deveria ser o documento base do V Congresso? A tradição manda que
seja o texto apresentado pela chapa mais votada ou, se nenhuma chapa tiver
maioria absoluta, que seja aquele texto que venha a ser aprovado pela maioria
de delegados e delegadas.
A
comissão do Congresso (coordenada por Marco Aurélio Garcia e Ricardo Berzoini)
optou por outra solução: a elaboração de um documento de Contribuição,
que deveria ser debatido pela Executiva Nacional, pelo Diretório Nacional,
depois em seminários abertos, num processo simultâneo ao PED. E, após o PED, a
Contribuição seria refeita, incorporando as contribuições das teses
apresentadas ao debate. Ou sendo incorporada pela tese vencedora.
Essa
solução adotada pela comissão do Congresso foi um compromisso entre distintas
posições, especialmente entre as que sustentavam caber à base do Partido
debater e votar o que será deliberado pelo Congresso, versus as que advogavam
que o PED não é, ao menos neste momento, espaço adequado para um debate
programático e estratégico de fundo. Posição que, se verdadeira, deveria nos
levar a um questionamento mais sério sobre o PED e sobre os mecanismos
democráticos pelos quais o PT elege suas direções e os delegados que, ao fim e
ao cabo, definem a linha partidária.
Seja
como for, os debates previstos pela comissão do Congresso nunca ocorreram. E os
debates do PED deixaram muito a desejar, ao menos do ponto de vista
programático e estratégico. E, salvo engano, o documento agora distribuído
como Contribuição ao V Congresso é basicamente o mesmo
produzido e distribuído, aos membros da comissão e da direção, antes do PED.
A chapa
“Partido que muda o Brasil”, que recebeu a maioria absoluta dos votos no PED,
abriu mão de sua tese em favor da Contribuição. De nossa
parte, é claro, perguntamos por qual motivo tal chapa não adotou oficialmente a
Contribuição desde o início do PED. Neste caso, ela poderia ter sido
apresentada e debatida pelos filiados e filiadas ao longo do PED. Cabe aos
signatários responder, mas o fato é que o V Congresso vai debater um documento
com certo déficit de legitimidade.
Este
problema seria secundário, se a Contribuição estivesse
à altura dos desafios postos frente ao PT, ao governo Dilma e a classe
trabalhadora brasileira. Infelizmente, como buscaremos demonstrar a seguir, não
é o caso. A Contribuição é um documento totalmente aquém das necessidades
táticas e estratégicas do PT. E é assim, entre outros motivos, porque a maioria
da nova direção nacional decidiu “não mexer em time que está ganhando”.
Como
diz a Contribuição: “No ano de 2014 a ação do PT estará concentrada
na reeleição da companheira Dilma Rousseff à presidência da República, na
expansão de suas bancadas no Senado Federal, na Câmara de Deputados e nas
Assembleias Legislativas. Da mesma forma, terá papel central o aumento do
número de seus governadores. Claro está que todos estes embates eleitorais
exigirão a consolidação, ampliação e qualificação de nossas alianças políticas,
essencial não só para vencer as eleições como para o exercício futuro dos
governos em nível nacional e estadual. Ainda que as questões programáticas em
jogo nas eleições de 2014 não possam ser separadas totalmente de uma política
de longo prazo do partido, é necessário evitar que esses temas, de natureza
estratégica, se sobreponham e confundam o debate eleitoral do próximo ano”.
Segundo
nossa interpretação, o trecho acima reproduzido quer dizer o seguinte:
não estamos seguros de que a tática para 2014 ajude a política de longo prazo
do Partido, mas estamos convictos de que debater agora certos temas de longo
prazo pode dificultar nosso desempenho eleitoral. Logo, melhor não misturar as
duas coisas.
Esta
opção política da maioria da direção nacional do nosso Partido – opção
totalmente legitimada pelo resultado globalmente “continuísta” do PED 2013 –
pode ter vários desdobramentos, inclusive “dar certo” (nos limites do que ela
se propõe). Ou seja: pode ser que tenhamos condições de primeiro ganhar a
eleição presidencial em 2014 e depois debater os desafios de médio e longo
prazo.
Mas há
três variantes alternativas, que nos preocupam.
Na
primeira delas, podemos perder as eleições presidenciais, entre outros motivos
porque não percebemos a necessidade de mudar a tática e a estratégia adotadas
até aqui.
Na
segunda delas, podemos ganhar as eleições presidenciais e fazermos um segundo
governo coerente com a tática adotada para ganhar as eleições 2014, mas aquém
das necessidades estratégicas, o que terá consequências profundamente negativas
até 2018 e em 2018.
Na
terceira delas, podemos ganhar as eleições. E, passadas as eleições presidenciais,
tentarmos fazer um “giro” na atuação do governo e do Partido, mas sem ter
construído, durante o processo eleitoral, algumas das bases políticas
necessárias para tal.
Para o
bem do Partido, esperamos que a maioria da direção nacional esteja certa e que seja
possível, primeiro vencer, depois debater as alterações programáticas e
estratégicas, e em seguida implementar as mudanças na política
partidária. A favor desta hipótese está o fato da história já ter
mostrado várias vezes, que “sorte” e “juízo” as vezes se combinam de forma
inusitada.
Porém,
somos de opinião que o Partido não deveria subestimar os riscos contidos na
primeira variante. O grande capital, a mídia, a direita local e internacional
estão fazendo um grande esforço para produzir uma “tempestade perfeita”. E
nosso governo tem reagido a isto de maneira cada vez mais recuada, fazendo um
grande esforço para conciliar com os interesses do grande Capital e do
rentismo. Já nosso Partido tem sido excessivamente cauteloso frente aos ataques
da direita e também frente às reclamações de parcelas de nossa base social. O
esforço da direita e as reações defensivas a ele projetam um cenário perigoso,
econômica, política e eleitoralmente falando.
Apesar
da subestimação desses riscos, o mais provável segue sendo nossa vitória na
disputa presidencial de 2014, com a reeleição da presidenta Dilma. ainda que no
segundo turno, e ainda que com dificuldades. Neste caso da provável reeleição,
cabe perguntar: ganharemos as eleições em que condições? Conseguiremos fazer um
segundo mandato Dilma que seja superior ao atual?
É claro
que há várias maneiras de criar, numa disputa eleitoral, as condições para um
governo superior. Uma delas, a preferida por nós, é transformar a eleição num
debate entre projetos políticos, como fizemos, por exemplo, no segundo turno de
2006. O que contribuiu muito para que o segundo mandato de Lula fosse melhor do
que o primeiro.
Outra
destas maneiras é ampliar nossa presença no Congresso, nos governos e
legislativos estaduais. Uma vitória petista nos estados do Rio de Janeiro, São
Paulo e/ou Minas Gerais pode mudar a correlação de forças políticas. Parece ser
esta, aliás, a opção prioritária de setores da maioria da direção nacional:
buscar uma grande vitória eleitoral, sem destacar o confronto programático.
Ocorre,
porém, que certas vitórias eleitorais podem funcionar como alavanca ou, ao
contrário, como peso morto, como algumas prefeituras conquistadas em 2012 estão
demonstrando. E, de maneira mais geral, sem uma orientação política adequada, é
difícil imaginar que a simples conquista de governos e mandatos legislativos
seja solução para os problemas estratégicos de fundo que estamos enfrentando.
Reconhecemos
que a maioria da nova direção nacional tem todo o direito, depois da vitória
obtida no PED, de insistir na manutenção da atual tática e estratégica. Dizendo
com nossas palavras, a maioria tem o direito de continuar insistindo
numa postura geral defensiva e aquém das necessidades e possibilidades da
conjuntura e do período histórico.
Da
nossa parte, respeitando o direito da maioria implementar a política vitoriosa,
exerceremos nosso direito de continuar insistindo na necessidade de
um imediato giro estratégico e tático, assim como organizativo. Achamos
que a conjuntura de 2014 será turbulenta, que a campanha eleitoral será muito
difícil, que o PT precisa de outra postura e de outra política, para vencer,
para governar e principalmente para transformar o Brasil.
Feito
este esclarecimento inicial, passemos à análise da Contribuição,
da Convocatória e da Resolução citadas,
bem como da Tese apresentado pela chapa “Partido que
muda o Brasil”.
***
A parte
inicial da Contribuição traz uma série de considerações
sobre a conjuntura histórica em que o PT surgiu, se desenvolveu e chegou a
presidência da República. O grande defeito dessas considerações é seu caráter
teleológico, como se nossa trajetória fosse um processo linear que nos conduziu
à “formulação das linhas gerais com as quais os governos Lula e Dilma começaram
a realizar a grande mudança pela qual o Brasil vem passando nos últimos anos”.
Acontece
que o governo Lula foi e o governo Dilma é uma coalizão política e social. O
que eles são ou deixam de ser não é, portanto, produto exclusivo da ação do PT,
nem da classe trabalhadora brasileira. Pelo contrário, é produto do confronto
entre grandes blocos político-sociais, sendo que o bloco capitaneado pelo PT é
extremamente diversificado, nem sempre predominando nele as posições do nosso
Partido (vide o tema da jornada de trabalho, que o PMDB fez excluir do programa
de governo que apresentamos às eleições presidenciais de 2010).
Não
perceber isto tem consequências políticas e teóricas muito graves. Colocar um
sinal de igualdade entre o acumulado historicamente pelo partido e a resultante
produzida pelo governo, é uma das muitas formas de confundir partido e governo.
No caso, rebaixando as tarefas e objetivos históricos do primeiro (o Partido)
aos limites do segundo (o governo).
De toda
forma, a Contribuição reconhece que estamos diante de
uma nova situação, produto em parte de nossa ação. Mas o texto não destaca
adequadamente as principais mudanças ocorridas neste período: por um lado, as
mudanças ocorridas na classe trabalhadora assalariada, que sofreu mutações
geracionais e sociológicas; por outro lado, a atitude do grande Capital, que
não está disposto mais a tolerar a política de “bem estar social” e de
“estatal-nacional-desenvolvimentismo” insinuadas ao longo de nossos primeiros
11 anos de governo.
É
principalmente a conjunção destas duas mudanças, num ambiente de crise
internacional, que nos leva a concluir que estamos diante de um esgotamento da
estratégia adotada pelo PT desde 1995, sendo necessário e urgente mudar de
estratégia. Obviamente, a Contribuição não compartilha
deste raciocínio.
***
Em seguida,
a Contribuição faz um resumo do que já havia sido dito
na Convocatória, a exemplo da necessidade de um balanço dos
mandatos Lula e Dilma. Acontece que a Contribuição já
enquadra este “balanço” numa interpretação pré-concebida: a de que teria ocorrido
uma “Grande Transformação econômica, social e política que mudou a cara do
Brasil em 11 anos, projetando o país, de forma inédita, na cena internacional”.
Esta
tese, da “Grande transformação” (Karl Polany??), é ótima como peça eleitoral,
mas é péssima como paradigma de interpretação. Afinal, que “Grande
transformação” foi esta, que não tocou nas estruturas mais profundas do país?
Não
adotamos a jornada de 40 horas, não conseguimos os recursos orçamentários
necessários para a Saúde, não fizemos a reforma política, não fizemos a reforma
tributária, não fizemos a democratização da comunicação, não fizemos a reforma
agrária, não fizemos a reforma urbana, não tocamos no oligopólio do capital
financeiro, não colocamos na cadeia os criminosos da ditadura militar etc.
Antes
que os governistas reclamem, queremos deixar claro que nós valorizamos
profundamente tudo o que foi feito nesses 11 anos. Mas não queremos nem podemos
perder de vista que as mudanças realmente profundas, no sentido de
estruturais, ainda estão por fazer. Aliás, porque não fizemos tais
mudanças profundas, corremos o risco de um retrocesso. Pior: já estamos
sofrendo retrocessos em algumas áreas.
O que
ocorre, talvez, é que a Contribuição padece de um
problema cada vez mais comum aos escritos e “teorizações” de um setor do
Partido: tomar como parâmetro o nível de consciência dos setores mais
empobrecidos da classe trabalhadora. Sem dúvida, para estes setores, houve uma
mudança profunda nos últimos dez anos. Mas do ponto de vista dos interesses
históricos da classe trabalhadora, percebidos pelos setores mais organizados e
conscientes da classe, é óbvio que as mudanças mais profundas ainda estão por
fazer.
A Contribuição,
repetindo a Convocatória, diz que “o PT não tem sido capaz
de construir uma narrativa de sua experiência governamental”. Mas não se
pergunta por qual motivo o PT não tem sido capaz de construir esta narrativa. E
uma das respostas poderia ser: por razões político-eleitorais, nosso Partido
fica espremido pela necessidade de proclamar os sucessos táticos e constrangido
quando se trata de apontar as deficiências estruturais, programáticas e
estratégicas.
A Contribuição (nos
pontos 14, 15 e 16) raciocina neste mesmo sentido que estamos apontando. E
chega ao ponto de reconhecer que nosso governo é “progressista”. Não
socialista. Não de esquerda. Não democrático-popular. Nem mesmo de “grandes
transformações”, mas apenas progressista.
Mas
mesmo aqui, em que aparentemente vai melhor, o texto que estamos criticando
revela um de seus defeitos fundamentais. Nos referimos ao seguinte trecho
da Contribuição: “o realismo político – que o exercício de
responsabilidades governamentais exige – não pode sufocar a utopia, ficar cego
e surdo às demandas que surgem na sociedade, mesmo quando elas aparecem como contraditórias”.
A Contribuição contrapõe,
portanto, a “utopia” das ruas ao “realismo político” do governo. Acontece que o
problema é exatamente o oposto: nosso governo tem sido tão mais “realista que o
rei”, que cai seguidas vezes numa postura completamente utópica. Acha que é
possível compatibilizar os interesses e as necessidades nacionais, democráticas
e populares da maioria do povo, com os interesses do grande Capital e da
direita.
Vemos
com alguma simpatia o esforço que a Contribuição faz
para “acomodar” as dificuldades do governo e do Partido. Mas o problema está
mal posto pela Contribuição, pois a questão não é “governo”
versus “partido”.
Quem
coloca as coisas nestes termos quer ter o governo como escudo, como proteção,
como pretexto para justificar suas posições: “não faço tal e qual coisa porque
as condições do governo não permitem”. Quando na verdade o problema está no
confronto entre duas visões estratégicas distintas, existentes dentro do
Partido, duas visões entre as quais não há nem pode haver acomodação.
Vejamos
um caso concreto: a questão da democratização da comunicação. Perguntamos se a
postura do governo frente ao tema pode ser explicada, ou desculpada, ou
compreendida, com as seguintes considerações que constam da Contribuição:
“não é fácil para um Governo, sobretudo de esquerda: (1) estabelecer equilíbrio
entre ação e reflexão e entre o urgente e o importante; (2) resolver as
dificuldades institucionais e burocráticas que se antepõe à ação governamental
e (3) entender e dar conta das novas reivindicações que surgem na sociedade”.
A
verdade é que a postura do nosso governo frente ao tema da democratização da
comunicação não se explica, nem se desculpa, nem se compreende por nenhuma
dessas considerações. A postura do governo advém de uma visão estratégica
errada, baseada na conciliação com o oligopólio da mídia. Nesta questão, aliás,
a Contribuição está aquém daquilo que o próprio PT já
deliberou a respeito. A direção nacional do PT que finda seu mandato dia 11 de
dezembro já disse claramente claro que existe, sobre este tema, uma divergência
de fundo.
O Mais
Médicos já demonstrou que a correlação de forças, inclusive dentro do governo,
permite fazer mais, quando se tem disposição estratégica e vontade política.
Mas na ausência de uma estratégia adequada, não nos admiremos que alguns
setores usem o Mais Médicos como justificativa para adiar ou não implementar o
conjunto das medidas necessárias ao SUS, que não pode ser “SUS para pobres”,
que não pode ser médico-centrado e que não pode receber um financiamento
inferior ao necessário.
***
A Contribuição faz
uma crítica acerca da versão que a oposição e o oligopólio da comunicação
difundem sobre os governos Lula e Dilma. Não é preciso dizer que concordamos
que a direita e a mídia mentem a nossa respeito. Paradoxalmente, a Contribuição deixou
de dizer algo fundamental: a tese segundo a qual os “êxitos econômicos de
Lula-Dilma foram apenas continuidade do Governo FHC” foi vitaminada
por setores do próprio PT.
Em
primeiro lugar, pelo paloccismo, que nunca se resumiu a pessoa do ex- ministro
da Fazenda. Embora seja dele, Antonio Palocci pessoa física, a primazia de, num
famoso evento em Comandatuba (BA), ter apresentado nosso governo como de
continuidade.
Em
segundo lugar, por amplos setores do PT que namoraram (será certo utilizar este
tempo verbal, perguntamos ao leitor) a ideia de uma aliança estratégica entre
PT e PSDB. E isto não é algo do passado longínquo: lembremos de Fernando
Pimental em Belo Horizonte, no ano de 2012, por exemplo.
Em
terceiro lugar, pela recusa a golpear fundo o capital financeiro, reverter as
privatizações, rever a legislação neoliberal, denunciar em tempo hábil a
herança maldita recebida etc etc.
Ao
contrário do que dá a entender a Contribuição, nossa
defensiva no debate ideológico advém não da falta de uma “narrativa”
alternativa, mas sim da falta de uma política consequente. No segundo mandato
Lula, por exemplo, a inflexão desenvolvimentista foi mais poderosa e eficaz
para nos tirar da defensiva, do que teria sido capaz qualquer narrativa. E as
medidas adotadas recentemente pelo governo Dilma, no tocante as concessões e os
juros, tornam cada vez mais difícil construir uma narrativa convincente.
***
A Contribuição aponta
que “desde 2003, sobretudo, temos enfrentado dificuldades em mudar o sistema
político brasileiro, verdadeira camisa de força que impede transformações mais
profundas e impõe um “Presidencialismo de coalizão”, que corrói o conteúdo
programático da ação governamental”.
Mas
atenção: temos “enfrentado dificuldades” em mudar este sistema, em
primeiríssimo lugar porque não tentamos mudá-lo no momento certo, com a
intensidade necessária e com a radicalidade indispensável. E optamos por tentar
governar nos marcos da institucionalidade estatal herdada.
Esta
opção não decorreu apenas de um cálculo “objetivo” de custo e benefício, mas
também porque setores do PT e da esquerda adaptaram-se complemente a esta
institucionalidade.
Isto
tem conduzido a um rebaixamento também de nossos horizontes. De Assembleia
Constituinte, passamos a falar de Constituinte exclusiva para tratar da reforma
política. De reforma política vamos deslizando para algumas reformas. E de
algumas reformas acabamos tendo que nos esforçar para evitar que eles façam
contrarreformas.
O
rebaixamento, é bom que se diga, é também “teórico”. Exemplo: a Contribuição diz
que somos prisioneiros “de um sistema eleitoral que favorece a corrupção e de
uma atividade parlamentar que dificulta a mudança, a despeito da vontade das
forças progressistas”. É claro que isto é verdade. Mas o problema do sistema
eleitoral brasileiro é anterior a este: ele distorce a vontade popular. Ou
seja: ele não é democrático.
E não
se trata apenas de falar –como a Contribuição fala acerca do Judiciário— de
instituições “permeadas” por “interesses privados”. Não se trata de “interesses
privados” genericamente falando. A democracia brasileira está estruturada para
garantir o predomínio dos interesses do grande Capital. E
tanto isto é verdade que, à medida que os trabalhadores furaram o bloqueio eleitoral,
foram crescendo as “medidas de contenção”. O preço das campanhas subiu, a
compra de votos retornou, os meios de comunicação converteram-se em partido, a
política foi judicializada, o judiciário se encastelou ainda mais etc.
Precisamos entender que é disto que se trata: de
quebrar o caráter de classe do Estado, de construir uma democracia popular. Ou
entendemos isto, ou continuaremos vivendo aquela situação que alguém resumiu
assim: enquanto a gente vai de Woodstock, eles vêm de Al Capone.
Neste sentido, as considerações da Contribuição
não são erradas, são insuficientes, são parciais: o problema central da reforma
do Estado, por exemplo, não está em “remover os obstáculos burocráticos que
criam empecilhos para o avanço mais rápida dos grandes projetos de
infra-estrutura”; e o problema central da comunicação não está em
desenvolver “instrumentos de comunicação social que pudessem contra-arrestar a
permanente ofensiva conservadora dos grandes proprietários de jornais, rádios e
televisões”.
Quanto a este último tema, é claro que compartilhamos
plenamente da ideia segundo a qual tanto o governo, quanto o Partido,
devem desenvolver seus instrumentos próprios de comunicação. Mas
o ”problema central” só será resolvido quando quebramos o oligopólio,
através de uma Lei da Midia Democrática.
E a questão, mais uma vez, é: isto não foi feito, ao
longo destes onze anos, não apenas devido à oposição da direita, mas também
devido a uma opção de setores da esquerda. Opção cujo equívoco consiste, no
fundo, em ter acreditado ser possível fazer uma “transição” econômico-social
sem realizar uma “reforma político-institucional”.
Falando de outra maneira, um pedaço da esquerda
brasileira acredita que o problema está em reformar as “instituições
políticas”, quando na verdade nosso desafio está em construir uma democracia
popular.
Abordagem que, como está claro, não é compartilhada
pela Contribuição, que finaliza suas reflexões sobre as
“instituições” falando de passagem sobre as mobilizações ocorridas em junho de
2013, assim como sobre a “atração de parte do eleitorado tradicionalmente
petista” por candidato conservadores e discursos populistas de direita.
Os dois fenômenos revelam que parte da nossa base
social está descontente, manifestando este descontentamento em dois sentidos
diferentes: “pela esquerda” e “pela direita”.
A Contribuição afirma que “sem
compreender plenamente o alcance e os limites das mudanças realizadas e o que
estão pensando e sentindo os novos atores sociais será impossível superar as
dificuldades do momento”. E conclui (ponto 35) dizendo que “não se trata de
converter o Partido e o Governo em uma academia, mas de atribuir à reflexão
política e econômica a importância decisiva que ela tem para uma ação
transformadora”.
Que a Contribuição tenha sentido a necessidade de
vestir a carapuça e proteger-se da crítica de “academicismo” é bem revelador do
ambiente pragmático, taticista, empirista, que predomina em certos meios. Mas o
essencial precisa ser repetido, com palavras mais claras: sem
compreender como se dá a luta de classes no Brasil e a luta entre Estados no
mundo, seremos derrotados. E, infelizmente, a julgar pelos textos submetidos ao
debate, nosso V Congresso não dará nenhum passo novo neste sentido.
***
A partir do item 36, a Contribuição passa a falar
de “um mundo em transição”. Não vamos nos deter neste ou naquele detalhe da
descrição necessariamente genérica e superficial que o texto faz da situação
mundial, desde 2008.
O essencial, em nossa opinião, é destacar as
principais variáveis em jogo: a crise do capitalismo, o declínio dos Estados
Unidos, o deslocamento geopolítico do centro dinâmico do mundo, a instabilidade
generalizada e, neste contexto, a integração regional como decisiva para o
sucesso da estratégia que defendemos para o Brasil.
A questão é: a política externa do governo brasileiro
e a política de relações internacionais do PT, por razões diferentes, não estão
à altura desta situação internacional.
Isto vem sendo dito, especialmente desde 2011, pela
própria secretaria de relações internacionais do PT: observando o conjunto da
obra, tanto a política externa do governo brasileiro, quanto a política de
relações internacionais do Partido dos Trabalhadores são globalmente positivas.
Porém, especialmente a partir de 2011, vem se acumulando problemas.
Alguns reputam estes problemas às diferentes posturas
do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma frente aos temas internacionais;
outros citam as mudanças ocorridas no Itamaraty; outros falam das mudanças na
conjuntura global. Certamente há um pouco de verdade nisto. Mas o essencial, na
nossa opinião, é algo mais simples: assim como ocorreu no plano interno, também
no plano internacional vem ocorrendo um esgotamento de nossa estratégia.
Isto
fica claro, por exemplo, no terreno da integração regional: sem alterar
qualitativamente o papel do Estado em nosso país, sem criar os meios que nos
permitam fazer um forte investimento público na região, sem impor um alto nível
de controle sobre as empresas privadas que possuem sede no Brasil e atuam internacionalmente,
o Brasil não criará as condições necessárias para que integração avance.
A
integração regional, combinada com a expansão dos investimentos em
infraestrutura no Brasil, assim como a ampliação do consumo interno de bens
públicos (e não apenas privados), é a chave para retomar o dinamismo e o
crescimento acelerado que o Brasil precisa.
Avançar
na integração é essencial, também, porque na conjuntura internacional em que
estamos, quem não avançar, retrocederá sob os golpes do inimigo.
E nesta
palavra – “inimigos” – talvez esteja resumido o tema “teórico” mais decisivo
para o debate sobre o mundo moderno: salvo engano de nossa parte, a Contribuição não
utiliza o termo imperialismo. Arrodeia, mas não fala. E a
questão é: sem compreender a natureza do imperialismo, não compreenderemos nada
sobre o momento internacional que vivemos.
As
ilusões no que seria Obama, por exemplo, estão relacionadas com a incompreensão
da natureza do imperialismo. O mesmo vale para a insólita afirmação acerca do
“caráter errático da posição do EUA no mundo”.
A Contribuição
não fala em imperialismo, mas lembra que “o capitalismo, quando não sofre
pressão das esquerdas, tende a mostrar sua face mais cruel”. Eis aí uma questão
que o V Congresso do PT deve responder: neste mundo em transição, qual nosso
horizonte? Fazer pressão sobre o capitalismo, para que ele seja menos cruel?
***
O
capítulo que trata dos “desafios programáticos” abre “reiterando que a
orientação programática do Quinto Congresso do PT não se confunde com o enfoque
que deve ter o Programa de nossos candidatos nas eleições de 2014”.
Como já
dissemos antes, esta maneira de colocar o problema pode resultar numa
dissociação entre tática e estratégica, entre programa eleitoral e programa
geral. No limite, converteria a resolução do V Congresso num exercício
academicista, sem nenhuma incidência prática. Afinal, somos um partido que
disputa eleições, que governa o Brasil. Nossas resoluções programáticas,
especialmente aquelas que explicitam “os principais desafios do partido, em uma
perspectiva mais duradoura”, devem sim iluminar, orientar, incidir sobre o
enfoque com que nosso Partido vai atuar, por exemplo, nas eleições 2014.
O mais
grave é que, ao ler os itens 53 a 70, não encontramos absolutamente nada que
não possa ser dito por nossas candidaturas, em 2014. Recomendamos a cada
delegado e delegada que leia atentamente e reflita se não é verdade isto, ou
seja, que o alerta de “não confundir” é, além de errado, totalmente
desnecessário.
Até
porque se excluiu, dos desafios programáticos, o tratamento do socialismo, que
foi convenientemente remetido para outro item. O que não deixa de ser curioso,
pois como o PT é um partido socialista, seu programa deve estar organizado por
esta perspectiva.
***
No
capítulo que fala da “situação e perpectivas do PT”, há novamente um conjunto
de considerações históricas, escritas naquilo que um conhecido intelectual
brasileiro brincou ser “um grande passado pela frente”, do qual sempre nos
orgulharemos, hoje ou daqui há 100 anos, mas que muitas vezes serve para
dissimular as imensas dificuldades do presente e do futuro.
De toda
forma, a Contribuição reconhece que “um certo afastamento do partido em
relação a suas bases originais e àqueles novos segmentos que foram sendo
beneficiados pelas políticas aplicadas por petistas em seus governos”; que
“governantes e parlamentares do PT, pressionados por seus afazeres
institucionais, ganharam exagerada autonomia em relação à atividade
partidária”; que “sindicalistas e dirigentes de organizações sociais nem sempre
acompanharam as mudanças por que passaram seus movimentos”; que “esses e outros
fatores contribuíram para certa burocratização do partido e consequente perda
de importância de suas direções junto aos governos”.
O que
espanta nesta descrição não são os fatos, que aqui são resumidos de maneira
asséptica. O que espanta é a “naturalização” do processo: o Sol nasce, a Lua
nasce, os dias passam e os partidos, com o passar do tempo, se burocratizam.
Esta
visão “naturalista” omite que os processos ocorridos em nosso Partido foram
produto de uma intensa luta política, dentro e fora do Partido e dos movimentos
sociais, entre diferentes correntes de opinião, no contexto de uma dura luta de
classes.
Não
temos dúvida alguma de que os autores da Contribuição sabem
disto. Mas ao omitir isto de sua análise, estimulam uma leitura incorreta do
ocorrido. Por exemplo: não é fato que os governantes tenham ganho autonomia
frente ao Partido, por estarem “pressionados por seus afazeres institucionais”.
Não se tratou, nunca, de um problema de “agenda”, de “tempo”. Há uma concepção
envolvida, segundo a qual o governo é superior, historicamente falando, ao
Partido. Sem colocar os problemas nestes termos, ele não terá solução.
Poderíamos
dar outros exemplos, mas nos foquemos no tema decisivo, que a Contribuição
resume assim: “Perdemos capacidade de análise das conjunturas e das
perspectivas de médio e longo prazos de evolução do país e do mundo. O PT
deixou de ser aquele ‘intelectual coletivo’ que se espera deva ser um partido
de esquerda. Afastou-se do socialismo, não por negá-lo, mas por ser incapaz de
pensá-lo de forma criativa”.
Não há
dúvida de que o PT afastou-se do socialismo. Mas não é verdade que o problema
tenha sido “incapacidade” de “pensá-lo de forma criativa”. O problema é que
amplos setores do PT abandonaram a ideia de construir uma sociedade socialista
e conformaram-se com administrar, com doses maiores ou menores de reforma, a
sociedade capitalista. E alguns ainda tem o desplante de chamar isto – uma
administração melhorista – do socialismo realmente possível.
Certamente
precisamos de criatividade. Mas o problema é anterior a este: para que sejamos
criativamente socialistas, é preciso ser socialistas primeiro. E uma parte do
PT precisa ser ganha para o socialismo.
Como os autores da Contribuição, confiamos que
o PT tem potencial para recuperar seus melhores atributos. Porém, não
concordamos com o excessivo otimismo contido na seguinte frase: “É um partido
democrático, capaz de conviver com as diferenças internas”. Esta frase não
condiz com o que temos visto, nos últimos anos, em que a democracia partidária
tem sido progressivamente degenerada pelo abuso do poder econômico, pela
influência de máquinas parlamentares e governamentais, por práticas que
condenamos nas eleições burguesas.
***
Quando fala do socialismo, a Contribuição aborda-o
sob título “referentes político-ideológicos: perspectivas atuais do
socialismo”.
Os parágrafos 71 a 73 resumem, de maneira mais
superficial, um raciocínio que está presente num texto escrito no início dos
anos 1990 por Marco Aurélio Garcia, segundo o qual o PT seria “pós”:
“pós-comunista”, “pós-socialdemocrata”. E, claro, pós-neoliberal.
Não vamos nos deter, aqui, em criticar este
raciocínio. Basta chamar atenção para um detalhe digamos “linguístico”: por
qual motivo colocar num mesmo “pacote” comunismo, socialdemocracia e
neoliberalismo, frente aos quais o PT seria “pós”?! Por qual motivo
não dizer que somos antineoliberais? Voltaremos a isto
noutra oportunidade, pois neste detalhe esconde-se um mundo de considerações.
A Contribuição afirma que
“acossados pelas tarefas de Governo e pelas vicissitudes da luta política, não
fomos capazes, no entanto, de inserir as transformações que realizamos em uma
estratégia de longo prazo, que pudesse apontar para uma efetiva renovação do
socialismo no século XXI”.
Como já apontamos antes, a Contribuição dissimula
o fundo do problema. É verdade e é muito importante que o texto reconheça que
não fomos capazes de inserir o que fizemos, entre 2003 e 2013, em uma
estratégia socialista.
Mas isto não ocorreu por acaso, não foi por falta de
tempo, não foi porque estávamos acossados por tarefas e pelos inimigos. A
dissociação entre nossa tática na última década e uma estratégia socialista
ocorreu porque, nestes anos todos, predominou no Partido outra estratégia, uma
estratégia que não tinha como objetivo “uma efetiva renovação do socialismo no
século XXI”.
A Contribuição deveria
falar claramente que está colocado é mudar a estratégia do PT, é voltar a assumir
uma estratégia que tenha como objetivo o socialismo. E esta necessidade está
colocada porque a realidade da luta de classes no Brasil está mostrando os
limites do melhorismo, os limites do progressismo, os limites do reformismo de
baixa intensidade, os limites da socialdemocracia num país capitalista
periférico.
Mas só
teremos êxito em enfrentar este desafio, só teremos êxito de reconstruir uma
estratégia socialista, se entendermos que o caminho socialista é uma resposta
para os problemas que estamos vivendo hoje, aqui e agora.
Na
nossa opinião, a maneira tímida com que a Contribuição trata
do assunto, quase pedindo desculpas pela impertinência em colocar este problema
(o socialismo) num momento pré-eleitoral, deve-se a incompreensão deste
“detalhe”: a solução para nossos problemas táticos passa pela adoção de
“soluções socialistas”.
***
O
último capítulo da Contribuição fala do “momento atual
e seus desafios”. Começa dizendo uma verdade incompleta: “o 5º. Congresso do PT
realizar-se-á em uma conjuntura política excepcional, marcada pelo renascimento
de manifestações sociais, como as ocorridas em junho deste ano. A nova situação
criada no país a partir dessas mobilizações e as soluções concretas que formos
capazes de apresentar e realizar terão influência sobre a estratégia mais geral
do Partido e do Governo e, de forma especial, sobre as eleições de 2014”.
Trata-se
de uma verdade incompleta, pelo seguinte: a nova situação criada no país
deveria ter influência sobre nossa estratégia e sobre nossa tática. Mas os
debates do PED, o comportamento da direção nacional do PT, de setores
importantes da nossa bancada e de nosso governo mostram outra coisa: que as
chamadas lições de junho não foram adequadamente compreendidas.
Concordamos
com a Contribuição quando diz que “parte da sociedade,
inclusive aquela beneficiária das transformações dos últimos anos, está
insatisfeita com o ritmo – que considera lento – das mudanças e não vê
alternativas para suas demandas nos políticos e nas instituições atuais”. E
concordamos, também, com outras análises feitas neste capítulo pelo texto.
Mas falta algo fundamental: em todo o texto, inclusive
neste ponto, a Contribuição não aponta que houve uma mudança
qualitativa na postura do grande Capital frente ao nosso governo e frente as
mudanças que fizemos no país.
A Contribuição não indica que
por trás da oposição e da mídia oligopolizada, está o grande Capital. A chave
de nossa vitória, não apenas da vitória eleitoral, mas da vitória na ação de
governo e na ação de transformação da realidade brasileira, está em derrotar o
grande Capital.
Na nossa opinião, isto passa hoje por isolar e golpear
a fração dominante do grande Capital, a saber, o setor financeiro. Acontece que
o governo Dilma não tem uma postura adequada a este respeito. Iniciou mal, em
2011. Depois fez uma ofensiva contra as taxas de juros e a ganância do setor
bancário-financeiro. Mas ultimamente recuou. Ao recuar, permitiu que a fração
financeira do grande Capital coesionasse o conjunto da burguesia, em torno de
seu programa, que como a Contribuição aponta, é o programa das
oposições, o programa do retrocesso. Pior: como a postura do governo é recuada,
setores da oposição fazem demagogia a respeito, aumentando a confusão política.
Este é o tema ao redor do qual giram os demais. Por
exemplo: qual o programa para 2015-2018? Qual a sustentabilidade econômica de
um programa de crescimento com mudanças sociais mais profundas? Qual o discurso
de campanha? Qual a política de alianças? (tema sobre o qual a Contribuição
mantém um praticamente silêncio para lá de constrangedor, só
equiparável ao que não é dito sobre a AP470).
***
A Contribuição conclui
propondo como “aprofundar o debate do quinto congresso”. De nossa parte, a
questão essencial a debater é a seguinte: a luta de classes no Brasil entrou em
uma nova etapa. Quem não compreender isto e não agir em conformidade, será
atropelado, não importando se antes das eleições, durante as eleições ou depois
das eleições.
Esperamos e buscaremos contribuir para que a primeira
etapa do Congresso, realizado pouco antes do aniversário de 50 anos do golpe
militar de 1964, leve isto em consideração.
***
Junto
da Contribuição, a secretaria geral nacional distribuiu a Resolução
sobre a situação política, aprovada pelo Diretório Nacional do PT no dia 29
de julho de 2013.
Esta
resolução foi produto de um confuso processo, que resultou na votação, pelo
Diretório Nacional, entre dois textos muito parecidos, mas distintos em alguns
aspectos fundamentais. Não há espaço, aqui, para explicar novamente estas
diferenças, que já detalhamos noutro momento.
O
importante é dizer que o documento afirmava que a “condução de uma nova etapa
do projeto popular exige retificações na linha política do PT e do governo, que
se reflitam na atualização do programa e na consolidação de estratégia que
expresse a radicalização da democracia”. Além disso, o documento detalhava
várias medidas programáticas, além de conter propostas como um documento para
ser distribuído no 7 de setembro e a oferta de asilo ao ex-agente da CIA Edward
Snowden. Em vários sentidos, o documento do Diretório é mais concreto e
mais avançado que a Contribuição.
***
O mesmo
pode ser disto da Convocatória do quinto Congresso,
aprovada em dezembro de 2012. O parágrafo a seguir, por exemplo, é muito superior
a Contribuição, quando fala da combinação entre tática eleitoral
e estratégia geral:
“(...) um partido comprometido
com a transformação socialista e democrática da sociedade brasileira, sem
descuidar das importantes tarefas que lhe são impostas pela conjuntura, deve
erguer o olhar, mais além do cotidiano, e ocupar-se também dos problemas de
dimensão estratégica que tem pela frente; aqueles de cujo enfrentamento depende
o futuro do país. Trinta e três anos após sua fundação e passados dez anos do
início do Governo Lula, o PT vive um desses momentos. Nosso partido tem uma
dupla e complexa tarefa: apoiar os Governos que ajudou a eleger, mantendo sobre
eles uma permanente e generosa vigilância crítica; e atuar na sociedade para
alterar a correlação de forças, para tornar possível avançar em direção aos
nossos objetivos históricos e estratégicos. O exercício dessas duas tarefas nos
impõe uma reflexão que reconstitua nossa trajetória e projete um caminho de
transformações para o futuro. É chegada, assim, a hora de convocar um novo
Congresso – o 5º. Congresso do Partido dos Trabalhadores para fevereiro de
2014, ano no qual disputaremos, uma vez mais, a Presidência da República, as
eleições para a Câmara, Senado, Governos e Assembleias estaduais. Mas, para vencer
esses pleitos, teremos de disputar também os corações e as mentes dos
brasileiros. Teremos de apontar para o futuro”.
A Convocatória também
é superior à Contribuição, quando fala das classes sociais
no Brasil:
“(...) a formação de novas
classes ou segmentos sociais não é expressão única da incorporação de novos
setores aos mercados de trabalho e, principalmente, ao de consumo. Uma classe
social não se define apenas, nem principalmente, por sua capacidade de consumir
produtos que antes lhes eram inacessíveis. As classes sociais não se encaixam
no abecedário no qual são segmentadas nas pesquisas de mercado e/ou eleitorais
– A,B,C ou D. A mobilidade social que experimentamos implica também mudanças de
valores, demandas imateriais, em exigências novas em relação àquelas do
passado, sobretudo em uma sociedade que passa por acelerada transformação como
a brasileira. Os principais beneficiários das transformações ocorridas no país
somente se identificarão com as forças políticas que as produziram a partir da
ação coletiva e da compreensão partidária deste fenômeno. Diferentemente de uma
visão economicista vulgar, a consciência de classe se constrói. Não entender
isso pode significar que os principais beneficiários das transformações
ocorridas no país não sejam capazes de reconhecer-se e identificar-se com as
forças políticas que produziram essas mudanças. Diferentemente de uma visão
economicista vulgar, a consciência de classe se constrói também – e talvez,
sobretudo – no entrechoque de culturas e de ideias e na ação coletiva. Hoje, as
ideias e a cultura dominantes expressam ainda, e predominantemente, os valores
dos que até agora controlaram o Estado, os meios de comunicação e todos os
aparelhos vinculados à produção e à reprodução da cultura. A reflexão sobre esses
temas pelo PT, mais do que um exercício intelectual necessário, é uma exigência
política inadiável.”
Outro
trecho em que a Convocatória é superior está nos trechos que
reproduzimos a seguir:
“(...) Uma das
particularidades da sociedade brasileira, apontada e criticada pelos grandes
pensadores que se dedicaram a analisar nossa formação social, é a de termos
realizado as grandes transformações econômicas, sociais e políticas de nossa
história por meio da conciliação. A Independência não foi resultado de um processo
de libertação nacional, como no resto da América Latina, mas do acordo com a
metrópole colonial. O fim da escravidão, apesar das revoltas negras e do
Abolicionismo, resultou de um ato tardio da Coroa, que deveria ter ocorrido
muitas décadas antes. O advento da República não configurou uma ruptura
significativa na sociedade. A partir de 1930, a despeito das profundas mudanças
processadas na era Vargas, foram preservados os interesses do latifúndio. O fim
da ditadura, nos anos 80, não decorreu das reclamadas eleições diretas pela
sociedade, mas de um acordo entre a maioria da oposição e segmentos que haviam
dado sustentação ao regime militar. Alguns procuraram ver, também, no período
pós-2003 a persistência desse viés conciliador. Creditaram o êxito do Governo
Lula à sua capacidade de incluir milhões de pobres e miseráveis, proteger e
expandir o emprego e a renda dos trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, de
beneficiar o capital financeiro, o agronegócio e os monopólios da mídia, além
dos grupos do capital produtivo. No plano político-institucional, como
expressão das distorções do sistema político, impôs-se a constituição de um
bloco mais amplo de partidos - de esquerda e de centro – para dar sustentação
parlamentar ao Governo. Essa percepção pode encobrir, no entanto, questões
cruciais. A expansão da renda dos trabalhadores e a inclusão de dezenas de
milhões de homens e mulheres ao mercado de bens de consumo de massas, embora
não tenham estimulado o desenvolvimento sem ameaçar o capitalismo, sofreu e sofre
uma oposição brutal de setores das classes dominantes. Oposição que
recrudesceu, sobretudo quando sobreveio a crise global. A verdade é que os
donos do poder não aceitam essa irrupção de pobres na vida social e política do
país”.
“Certamente também porque
temem as reformas estruturais, como a tributária, agrária e política. O êxito
de um nordestino, sem educação formal, como Presidente da República e sua
gravitação internacional era inaceitável para setores da sociedade que se
acostumaram a dirigi-la a partir de seus preconceitos e segundo suas normas
hierárquicas. Era plenamente “normal” que o poder fosse exercido por doutores,
banqueiros, grandes proprietários. Passou a ser “intolerável” que
sindicalistas, dirigentes de movimentos populares, intelectuais críticos
pudessem participar da condução da República, vencendo três vezes a Presidência
da República, duas com Lula e uma com Dilma, a primeira mulher a dirigir a
República no Brasil”.
“A história do século XX e dos
primeiros anos deste século mostra como as classes dominantes e seus aparelhos
reagem contra governos que vão na contramão de seus interesses particulares.
Vargas suicidou-se para deter insidiosa campanha de forças políticas, meios de
comunicação e outros agentes inconformados com sua política nacionalista e de
fortalecimento do Estado. Dez anos depois, por razões semelhantes, esses mesmos
atores se reuniriam para derrubar o Governo João Goulart e impor vinte anos de
ditadura ao país. No período que antecedeu as eleições de 2002 desencadeou-se uma
campanha de medo com o objetivo de impedir a eleição de Lula para a
Presidência. A partir de 2003, de forma intermitente, tratou-se de anular os
notórios êxitos do Governo, com campanhas que procuravam ou desconstruir as
realizações do Governo Lula (o que havia de bom era apresentado apenas como o
resultado da herança de FHC) ou tachá-lo de “incapaz” e “corrupto”. Sabe-se que
denúncias sobre corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no Brasil
para desestabilizar governos populares, como os já citados casos de Vargas e
Goulart. Grandes episódios de corrupção – a votação da emenda da reeleição de
FHC, os turvos processos de privatização nos anos 90 ou o Governo Collor, para
só citar alguns exemplos notórios – nunca mereceram uma investigação que
levasse seus responsáveis à punição pela Justiça. Essa constatação não pode, no
entanto, eludir o tema da corrupção de nossas preocupações. O repúdio ético e
moral que esse fenômeno provoca tem de incitar, porém uma reflexão mais
abrangente. A corrupção vence onde persiste um Estado vulnerável a pressões de
grupos e corporações e onde o sistema político não permite a clara expressão da
vontade popular. Onde a República é fraca. Nos últimos dez anos, as denúncias
de malfeitos no Brasil se viram beneficiadas pela absoluta liberdade de
imprensa reinante, pelo funcionamento livre e independente dos poderes da
República, em particular pela ação de organismos do Executivo como o Tribunal
de Contas da União, a Controladoria Geral da República, a Procuradoria Geral da
República e a Polícia Federal, todos eles revalorizados, funcional e
materialmente, pelos nossos governos”.
Lendo
isto tudo, que está na Convocatória mas não está
na Contribuição, cabe perguntar: por qual motivo o texto
mais recente é pior, mais fraco, do que o texto original?
Sobre o
tema do socialismo, por exemplo, o texto da Contribuição diz o seguinte:
“(...) A dissolução da União
Soviética e do chamado “campo socialista”, a deriva da Socialdemocracia, os
rumos seguidos pela República Popular da China, para só citar alguns fenômenos
maiores das últimas décadas, lançaram uma profunda incerteza sobre o ideário
socialista. Nascido nos anos em que essa crise começou a se fazer mais evidente
e herdeiro de tradições democráticas e libertárias, o PT resistiu aos
descaminhos desses projetos socialistas, não sendo constrangido pela
aparentemente irresistível ascensão do neoliberalismo ou pelo proclamado “fim
da História”. Ao contrário, fizemos a História andar em nosso país. Mas, ainda
que tenhamos dado respostas práticas e alternativas aos desafios do presente,
não fomos capazes de construir nem mesmo um esboço de um novo e abrangente
ideário de esquerda – socialista e democrático – que pudesse abrir perspectivas
àqueles que sofrem a orfandade de uma generosa utopia, sobretudo naquelas
partes do mundo onde a crise econômica e social ceifa esperanças; onde a
política é substituída por arranjos tecnocráticos, que produzem desilusão e
impotência. Dar, pelo menos, alguns passos para reinstaurar o socialismo como horizonte
político, ajudar a reconstruir uma cultura política de esquerda, aí estão
tarefas a que devemos nos dedicar em nosso Congresso”.
Isto
tudo é dito no documento aprovado no dia 8 de dezembro de 2012. Depois veio a
crise de junho, o PED, e a Contribuição resultante é aquém da Convocatória
inicial.
***
Para
concluir, faremos alguns comentários sobre a Tese apresentada
pela chapa “O Partido que muda o Brasil”, vencedora do PED 2013.
O que
mais chama nossa atenção, no início mesmo da Tese, é a visão
sobre o alcance das mudanças feitas pelos governos Lula e Dilma. Segundo a
tese, foram “mudanças estruturais” que modificaram “os padrões de acumulação do
capitalismo brasileiro na medida em que a histórica manutenção da miséria e das
condições de exploração do trabalho, funcionais a esse padrão, estão sendo
transformadas”.
Como já
tivemos a oportunidade de dizer, a não ser que banalizemos o significado do
termo “mudança estrutural”, não se pode dizer que elas tenham sido realizadas
pelos governos Lula e Dilma.
Igualmente,
salvo por incompreensão do que significa a expressão “padrões de acumulação do
capitalismo brasileiro”, é totalmente incorreto dizer que eles tenham sido
modificados ao longo destes 12 anos.
O que
ocorreu, isto sim, é que estamos lentamente tirando o “bode neoliberal” da
“sala apertada” do capitalismo brasileiro. Isto faz a sala parecer mais
arejada, mas a verdade é que estamos voltando aos parâmetros existentes nos
anos... 1980, quando criamos o PT.
Infelizmente,
no afã de qualificar as mudanças positivas feitas nos últimos 12 anos, a tese
“Partido que muda o Brasil” exagera tanto nas velas que corre o risco de por
fogo na igreja.
***
A tese
incorpora vários trechos da Resolução do Diretório nacional já citada
anteriormente. E introduz, sobre o tema da reforma política, um trecho muito
interessante, que reproduzimos a seguir:
“(...) Uma vez mais, setores
do parlamento brasileiro antepõem obstáculos à realização da reforma política.
É imprescindível colocar novamente no centro do debate a questão da soberania.
Quem deve eleger seus representantes: o povo ou o poder econômico? O custo
tenham maioria crescente das campanhas e os padrões atuais de financiamento
privado afastam, cada vez mais, das eleições as lideranças populares e permitem
que as representações dos diferentes interesses do poder econômico.
Constrangem, por outro lado, os partidos de esquerda que têm dependido desse
tipo de financiamento de maneira crescente”.
É no
mínimo curioso que esta Tese tenha sido apoiada pelo
deputado federal Candido Vaccarezza, legítima expressão dos setores que
obstaculizam a reforma política e que representam dentro do PT, a influência
perniciosa do financiamento privado empresarial.
A Tese também
traz uma reflexão interessante sobre a necessidade de “democratizar as
comunicações e ampliar a liberdade de expressão no Brasil (...)A estrutura da
comunicação hoje não reflete a pluralidade e a diversidade cultural e política
brasileiras. Isso fragiliza e serve de negativa à própria democracia, já que
estabelece dois tipos de liberdade: uma, para os que podem exercitar livremente
sua capacidade de expressão, inclusive com apoio do Estado, via concessões,
inibição à comunicação comunitária e permissão para propriedades cruzadas;
outro, a liberdade de expressão do cidadão comum, muito mais restrita e,
geralmente, de caráter passivo”.
Novamente, nos chama a atenção que esta Tese recebeu
o voto do ministro Paulo Bernardo, conhecido por suas críticas a posição do PT
na área da comunicação, críticas expostas em entrevista que Paulo Bernardo
concedeu a revista Veja.
A Tese traz ainda um conjunto
de pontos programáticos e chama o PT a enfrentar “de uma só vez os riscos de
excessiva burocratização e vinculação dos seus quadros com os aparelhos de
Estado e o descolamento da militância partidária das forças vivas de nossa
sociedade”.
De conjunto, trata-se de um texto superior ao da Contribuição,
embora evidentemente cause espécie o que a Tese não diz
sobre a política de alianças, sobre a AP 470 e sobre as debilidades do nosso
governo.
Um comentário final: no item 17 é dito que “o Processo
de Eleições Diretas (PED) no PT constitui-se, nesse momento, em uma grande
oportunidade de análise e compreensão da conjuntura”. E no item 18 é dito que o
“PED prepara o debate do 5º Congresso que tem a inadiável tarefa de apontar um
horizonte de transformações estratégicas para o país”.
Portanto, debateríamos “conjuntura” com a base e
“estratégia” no Congresso: a vida está sendo um pouco diferente deste roteiro.
Mas como a vida é viva, faremos um esforço para que o V Congresso aprove
resoluções mais avançadas do que as contidas na Contribuição,
na Tese, na Resolução e naConvocatória.
Este esforço significa dar continuidade ao que
defendemos ao longo de todo o processo de eleição direta das direções
petistas: que o PT precisa mudar de estratégia, mudar a tática para 2014 e
mudar o funcionamento partidário.
A atual estratégia do PT é baseada na ideia de mudança
através de políticas públicas. Defendemos que o PT adote uma estratégia de
mudança através de reformas estruturais.
Salvo engano, nenhum petista se opõe às reformas
estruturais. Todos parecem defender a reforma tributária, reforma política, lei
da mídia democrática, reforma agrária, reforma urbana, 40 horas,
universalização das políticas públicas etc.
Assim
parece, mas não é exatamente verdade. Alguns setores do PT se opõem a tais
reformas, como vimos por exemplo toda vez que houve chance real de aprovar a
reforma política. Outros setores defendem tais reformas, mas são contra adotar
uma estratégia de mudança baseada nelas.
Os que
pensam assim parecem acreditar que será possível continuar melhorando a vida do
povo, continuar ampliando a democracia, continuar afirmando a soberania
nacional, continuar avançando na integração regional, sem fazer reformas
estruturais.
Nós,
pelo contrário, achamos que a estratégia de melhorar a vida do povo apenas
ou principalmente através de políticas públicas entrou numa fase
de “rendimentos decrescentes”. A comparação entre o segundo governo Lula e o
primeiro governo Dilma é uma das provas disto.
Os
problemas da saúde pública, por exemplo, exigem um salto na capacidade de
financiamento. O mesmo pode ser dito de outras questões, como o transporte
público. Visto de conjunto, a “sustentabilidade” das políticas públicas
universais exige reforma tributária e uma mudança radical no serviço da dívida
pública.
Mas
como viabilizar isto, se o Congresso seguir majoritariamente composto por
representantes do grande empresariado? E como ter sucesso na batalha da reforma
política, sem derrotar o oligopólio da mídia?
E como
viabilizar estas e outras reformas estruturais, se nossas bancadas, governos,
aliados políticos e sociais não organizarmos nossa atuação em função disto? Se
não formos para as eleições de 2014 com o propósito de reeleger Dilma em
condições dela realizar um segundo mandato superior, marcado pelas reformas
estruturais? Se nosso Partido não for capaz de uma atuação militante em favor
destes objetivos?
Seja
para ganhar as eleições de 2014, seja para continuar mudando o país, seja para
construir um caminho para o socialismo, o PT precisa adotar uma estratégia
democrática e popular, por reformas estruturais.
Esta é
a principal tese que defendemos no PED e defenderemos no 5o Congresso do Partido dos Trabalhadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário