Participei no dia 17 de abril de um debate sobre a reforma da previdência.
Neste debate, um dos participantes afirmou que a reforma da previdência seria um "tiro no pé" do capitalismo brasileiro, pois estaria nos levando para um capitalismo sem consumidores.
É uma tese sedutora, mas incorreta, sustentada na fantasia de um capitalismo harmônico, equilibrado, baseado na produção e venda de mercadorias a consumidores cujos salários provém das empresas produtoras das tais mercadorias.
Lembrei do ocorrido neste debate ao ler o texto de Rochinha, Florisvaldo e Farina, publicado no dia 18 de abril na "tribuna de debates" do Congresso do PT.
A íntegra do texto assinado pela troika pode ser lida ao final destes comentários.
Qual a relação entre uma coisa e outra?
Explico.
Os três integram uma tendência chamada "Construindo um novo Brasil".
Esta tendência é atualmente majoritária na direção nacional do PT.
Logo, deveria ser a maior interessada no sucesso do Congresso do Partido.
Sucesso que supõe enfrentar com o rigor do regimento as inúmeras denúncias de que teria havido fraudes na eleição partidária dia 9 de abril.
Especialmente na situação política que estamos atravessando, não pode pairar nenhuma dúvida sobre a legalidade e a legitimidade do processo de eleição dos delegados e delegadas, bem como das direções e presidências partidárias.
Entretanto e contraditoriamente, em muitos dos estados em que há denúncias de fraude, tem prevalecido o desprezo olímpico pelas provas e evidências (por exemplo, cidades com 100% de participação e 99% de votos numa determinada chapa), a desatenção com os procedimentos e principalmente uma atitude burocrática e desatenta às consequências políticas disto tudo.
Por exemplo, o risco de que o Congresso nacional seja contaminado pelo debate acerca das fraudes.
Frente a isto, a primeira reação é acreditar que alguns dirigentes da CNB estariam dando um tiro no pé, ou seja, estariam agindo contra seus próprios interesses.
Infelizmente, como no caso da reforma da previdência, esta é uma tese sedutora, mas errada.
A leitura do texto da troika (que, curiosamente, é escrito na primeira pessoa) mostra que o que está ocorrendo é perfeitamente compatível com a concepção que os signatários -- e, portanto, de um setor da tendência hoje majoritária -- têm acerca da política e do Partido.
Vamos aos pontos que revelam isto.
O texto comemora o "comparecimento de quase 300 mil filiados" e a realização de "encontros municipais em quase quatro mil municípios".
Na verdade, encontros não houve em lugar nenhum. Houve votação em urnas, algo bem diferente. Além disso, se é verdade que o comparecimento deve ser comemorado, também é verdade que foi o menor comparecimento relativo desde 2001.
O texto afirma, então, que "o jogo está só começando. Temos que ter a grandeza e deixar exigências pontuais de lado, pensar no Brasil que passa por um momento extremamente difícil e preservar a unidade da corrente CNB no partido, porque ela é a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT".
Repito: "preservar a unidade da CNB no partido", porque ela é "a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT".
Dito de outra maneira: o que é bom para a CNB é bom para o PT.
Eis o porquê da atitude desassombrada e sobranceira frente às fraudes.
Eis o porquê, também, da confusão entre o Partido e a tendência, explícita na seguinte frase: "Peço aos dirigentes e delegados/as da CNB que se apressem em resolver pendências políticas que ficaram dos encontros municipais, para que a Secretaria Nacional de Organização possa concluir rapidamente os seus trabalhos".
Não é genial? Um artigo escrito ou pelo menos assinado pelo secretário nacional de organização do Partido, o companheiro Florisvaldo, deixa claro que para que a Sorg (uma instância do Partido) possa "concluir rapidamente os seus trabalhos", é preciso que a CNB (uma tendência) se apresse em resolver suas "pendências políticas".
O texto fala, também, que os dirigentes e militantes da CNB foram orientados a "procurar não errar para não dar munição àqueles que historicamente em todos os PED´s tentam ganhar no tapetão, se utilizando de usinas de recursos".
Ao assinar este texto, o secretário nacional de organização destrói a legitimidade de sua atuação na Câmara de Recursos.
Pois está clara qual sua posição sobre os recursos que porventura afetem a votação de chapas vinculadas a CNB: "Tapetão" e "Usina de recursos".
Mas o grande momento do texto da troika está ao final: "o momento é grave e exige paciência, tolerância e tomada de decisões firmes. O mundo externo tenta nos eliminar".
O mundo externo tenta nos eliminar???
Não é a classe dominante, o empresariado, a direita, a mídia, os coxinhas.
É o "mundo externo". O mundo!!!
Paranoias a parte, quem acredita nisto é levado a tratar, da mesma forma, o inimigo de classe e o adversário interno.
Por isto, as fraudes não são um tiro no pé.
São consequência direta de uma orientação que trata os adversários internos como inimigos do Partido. Mesmo que o preço seja colocar em questão a legitimidade das instâncias e, no limite, rachar o Partido.
Já que a troika falou do "mundo externo", eu concluo citando Snoopy, que num quadrinho célebre afirmou: "desisti de tentar entender o mundo, agora ele que tente me entender".
Eu entendi a troika e até onde ela pretende chegar. E não gostei nada do que entendi.
Espero que o restante da CNB discorde publicamente da troika, desautorize o fracionismo e garanta a unidade partidária.
Segue o texto citado.
http://www.pt.org.br/florisvaldo-rochinha-e-farina-a-historia-ja-nos-deu-muitas-licoes/
Antes dos encontros municipais encaminhei um texto aos militantes do Partido pedindo esforço na mobilização para a realização dos mesmos.
O esforço dos dirigentes e da militância fez acontecer um PED plenamente vitorioso no comparecimento de quase 300 mil filiados ao PT para exercerem o seu voto. E diante do momento grave que nós estamos vivendo – ante as perseguições da elite e da polícia em relação aos petistas e ao partido – conseguimos realizar os encontros municipais em quase quatro mil municípios.
O resultado é a prova cabal de um partido que tem as suas raízes fincadas em um projeto histórico de ação e de luta nos movimentos social e sindical e nas comunidades.
Mas o jogo está só começando. Temos que ter a grandeza e deixar exigências pontuais de lado, pensar no Brasil que passa por um momento extremamente difícil e preservar a unidade da corrente CNB no partido, porque ela é a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT.
A prioridade é discutir política, propor ações para dar ao conjunto do partido condições de avançar, sobretudo na preparação das eleições gerais de 2018.
Quero chamar a atenção dos integrantes da CNB para que façam uma profunda reflexão e trabalhem a unidade de suas direções, delegados e filiados na escolha das direções estaduais e da direção nacional. É bom lembrar que o registro dos delegados e delegadas para participar das escolhas de direções estaduais e nacional termina no próximo dia 20 de abril.
Todo o cuidado é pouco. Peço aos dirigentes e delegados/as da CNB que se apressem em resolver pendências políticas que ficaram dos encontros municipais, para que a Secretaria Nacional de Organização possa concluir rapidamente os seus trabalhos.
A princípio, os acordos políticos internos para a formação de direções, aonde tiver mais de uma linha de pensamento, devem se dar em torno das CNB´s estaduais. Depois devemos avançar para correntes que sempre tiveram maior aproximação conosco. Isto não quer dizer que não devemos conversar e procurar acordo com as demais frentes, pelo contrário, devemos sim, desde que esses acordos estejam pautados em princípios gerais nacionais, e não em visões mesquinhas que priorizem exclusivamente os seus projetos individuais ou de grupos locais, tanto internamente quanto externamente, em disputas eleitorais e especialmente sobre troca de delegados. Para nós isto não é acordo, é acerto. Já vimos este filme e ele não deu certo.
No documento anterior, chamei a atenção dos/as dirigentes e militantes da CNB para fazer uma fiscalização firme, procurar não errar para não dar munição àqueles que historicamente em todos os PED´s tentam ganhar no tapetão, se utilizando de usinas de recursos. Lembrem-se que o momento é grave e exige paciência, tolerância e tomada de decisões firmes. O mundo externo tenta nos eliminar.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
Bons encontros, companheiros e companheiras da CNB.
Um abraço!
VIVA A LUTA!
Por Francisco Rocha da Silva, Rochinha, Coordenador Nacional da CNB; Florisvaldo Raimundo de Souza,
Secretário Nacional de Organização/PT e coordenador da CNB; João Paulo Farina, Secretário Nacional de Juventude e coordenador da CNB, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso.
Neste debate, um dos participantes afirmou que a reforma da previdência seria um "tiro no pé" do capitalismo brasileiro, pois estaria nos levando para um capitalismo sem consumidores.
É uma tese sedutora, mas incorreta, sustentada na fantasia de um capitalismo harmônico, equilibrado, baseado na produção e venda de mercadorias a consumidores cujos salários provém das empresas produtoras das tais mercadorias.
Lembrei do ocorrido neste debate ao ler o texto de Rochinha, Florisvaldo e Farina, publicado no dia 18 de abril na "tribuna de debates" do Congresso do PT.
A íntegra do texto assinado pela troika pode ser lida ao final destes comentários.
Qual a relação entre uma coisa e outra?
Explico.
Os três integram uma tendência chamada "Construindo um novo Brasil".
Esta tendência é atualmente majoritária na direção nacional do PT.
Logo, deveria ser a maior interessada no sucesso do Congresso do Partido.
Sucesso que supõe enfrentar com o rigor do regimento as inúmeras denúncias de que teria havido fraudes na eleição partidária dia 9 de abril.
Especialmente na situação política que estamos atravessando, não pode pairar nenhuma dúvida sobre a legalidade e a legitimidade do processo de eleição dos delegados e delegadas, bem como das direções e presidências partidárias.
Entretanto e contraditoriamente, em muitos dos estados em que há denúncias de fraude, tem prevalecido o desprezo olímpico pelas provas e evidências (por exemplo, cidades com 100% de participação e 99% de votos numa determinada chapa), a desatenção com os procedimentos e principalmente uma atitude burocrática e desatenta às consequências políticas disto tudo.
Por exemplo, o risco de que o Congresso nacional seja contaminado pelo debate acerca das fraudes.
Frente a isto, a primeira reação é acreditar que alguns dirigentes da CNB estariam dando um tiro no pé, ou seja, estariam agindo contra seus próprios interesses.
Infelizmente, como no caso da reforma da previdência, esta é uma tese sedutora, mas errada.
A leitura do texto da troika (que, curiosamente, é escrito na primeira pessoa) mostra que o que está ocorrendo é perfeitamente compatível com a concepção que os signatários -- e, portanto, de um setor da tendência hoje majoritária -- têm acerca da política e do Partido.
Vamos aos pontos que revelam isto.
O texto comemora o "comparecimento de quase 300 mil filiados" e a realização de "encontros municipais em quase quatro mil municípios".
Na verdade, encontros não houve em lugar nenhum. Houve votação em urnas, algo bem diferente. Além disso, se é verdade que o comparecimento deve ser comemorado, também é verdade que foi o menor comparecimento relativo desde 2001.
O texto afirma, então, que "o jogo está só começando. Temos que ter a grandeza e deixar exigências pontuais de lado, pensar no Brasil que passa por um momento extremamente difícil e preservar a unidade da corrente CNB no partido, porque ela é a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT".
Repito: "preservar a unidade da CNB no partido", porque ela é "a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT".
Dito de outra maneira: o que é bom para a CNB é bom para o PT.
Eis o porquê da atitude desassombrada e sobranceira frente às fraudes.
Eis o porquê, também, da confusão entre o Partido e a tendência, explícita na seguinte frase: "Peço aos dirigentes e delegados/as da CNB que se apressem em resolver pendências políticas que ficaram dos encontros municipais, para que a Secretaria Nacional de Organização possa concluir rapidamente os seus trabalhos".
Não é genial? Um artigo escrito ou pelo menos assinado pelo secretário nacional de organização do Partido, o companheiro Florisvaldo, deixa claro que para que a Sorg (uma instância do Partido) possa "concluir rapidamente os seus trabalhos", é preciso que a CNB (uma tendência) se apresse em resolver suas "pendências políticas".
O texto fala, também, que os dirigentes e militantes da CNB foram orientados a "procurar não errar para não dar munição àqueles que historicamente em todos os PED´s tentam ganhar no tapetão, se utilizando de usinas de recursos".
Ao assinar este texto, o secretário nacional de organização destrói a legitimidade de sua atuação na Câmara de Recursos.
Pois está clara qual sua posição sobre os recursos que porventura afetem a votação de chapas vinculadas a CNB: "Tapetão" e "Usina de recursos".
Mas o grande momento do texto da troika está ao final: "o momento é grave e exige paciência, tolerância e tomada de decisões firmes. O mundo externo tenta nos eliminar".
O mundo externo tenta nos eliminar???
Não é a classe dominante, o empresariado, a direita, a mídia, os coxinhas.
É o "mundo externo". O mundo!!!
Paranoias a parte, quem acredita nisto é levado a tratar, da mesma forma, o inimigo de classe e o adversário interno.
Por isto, as fraudes não são um tiro no pé.
São consequência direta de uma orientação que trata os adversários internos como inimigos do Partido. Mesmo que o preço seja colocar em questão a legitimidade das instâncias e, no limite, rachar o Partido.
Já que a troika falou do "mundo externo", eu concluo citando Snoopy, que num quadrinho célebre afirmou: "desisti de tentar entender o mundo, agora ele que tente me entender".
Eu entendi a troika e até onde ela pretende chegar. E não gostei nada do que entendi.
Espero que o restante da CNB discorde publicamente da troika, desautorize o fracionismo e garanta a unidade partidária.
Segue o texto citado.
http://www.pt.org.br/florisvaldo-rochinha-e-farina-a-historia-ja-nos-deu-muitas-licoes/
Antes dos encontros municipais encaminhei um texto aos militantes do Partido pedindo esforço na mobilização para a realização dos mesmos.
O esforço dos dirigentes e da militância fez acontecer um PED plenamente vitorioso no comparecimento de quase 300 mil filiados ao PT para exercerem o seu voto. E diante do momento grave que nós estamos vivendo – ante as perseguições da elite e da polícia em relação aos petistas e ao partido – conseguimos realizar os encontros municipais em quase quatro mil municípios.
O resultado é a prova cabal de um partido que tem as suas raízes fincadas em um projeto histórico de ação e de luta nos movimentos social e sindical e nas comunidades.
Mas o jogo está só começando. Temos que ter a grandeza e deixar exigências pontuais de lado, pensar no Brasil que passa por um momento extremamente difícil e preservar a unidade da corrente CNB no partido, porque ela é a principal ferramenta para a assegurar e legitimar a democracia interna do PT.
A prioridade é discutir política, propor ações para dar ao conjunto do partido condições de avançar, sobretudo na preparação das eleições gerais de 2018.
Quero chamar a atenção dos integrantes da CNB para que façam uma profunda reflexão e trabalhem a unidade de suas direções, delegados e filiados na escolha das direções estaduais e da direção nacional. É bom lembrar que o registro dos delegados e delegadas para participar das escolhas de direções estaduais e nacional termina no próximo dia 20 de abril.
Todo o cuidado é pouco. Peço aos dirigentes e delegados/as da CNB que se apressem em resolver pendências políticas que ficaram dos encontros municipais, para que a Secretaria Nacional de Organização possa concluir rapidamente os seus trabalhos.
A princípio, os acordos políticos internos para a formação de direções, aonde tiver mais de uma linha de pensamento, devem se dar em torno das CNB´s estaduais. Depois devemos avançar para correntes que sempre tiveram maior aproximação conosco. Isto não quer dizer que não devemos conversar e procurar acordo com as demais frentes, pelo contrário, devemos sim, desde que esses acordos estejam pautados em princípios gerais nacionais, e não em visões mesquinhas que priorizem exclusivamente os seus projetos individuais ou de grupos locais, tanto internamente quanto externamente, em disputas eleitorais e especialmente sobre troca de delegados. Para nós isto não é acordo, é acerto. Já vimos este filme e ele não deu certo.
No documento anterior, chamei a atenção dos/as dirigentes e militantes da CNB para fazer uma fiscalização firme, procurar não errar para não dar munição àqueles que historicamente em todos os PED´s tentam ganhar no tapetão, se utilizando de usinas de recursos. Lembrem-se que o momento é grave e exige paciência, tolerância e tomada de decisões firmes. O mundo externo tenta nos eliminar.
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
Bons encontros, companheiros e companheiras da CNB.
Um abraço!
VIVA A LUTA!
Por Francisco Rocha da Silva, Rochinha, Coordenador Nacional da CNB; Florisvaldo Raimundo de Souza,
Secretário Nacional de Organização/PT e coordenador da CNB; João Paulo Farina, Secretário Nacional de Juventude e coordenador da CNB, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso.
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