quinta-feira, 29 de maio de 2014

Polêmicas na esquerda. Informe roteirizado datado de 6 de outubro de 1999

Roteiro 
A idéia é que os textos sejam escritos com base nos textos já existentes, 
seguindo mais ou menos o seguinte esquema: 
-programa: a crise do capitalismo nos anos 70, a "solução" neoliberal e seus 
resultados, a crise atual, uma crítica à teologia do mercado, uma crítica à 
chamada terceira via, o socialismo como alternativa  à barbárie, a defesa da 
revolução socialista, a estratégia do PT (materializada num programa e na 
conquista de um governo democrático-popular, com destaque para a noção de 
acúmulo de forças) e as diretrizes fundamentais da plataforma programática 
-conjuntura: Brasil anos 80 e 90, o que está acontecendo hoje no bloco 
conservador, o que está acontecendo hoje na chamada terceira via, o que está 
acontecendo nos setores populares, a tática do PT (Fora FHC, eleições 2000, 
política de alianças, nossos governos, movimentos sociais). 
-partido: vinte anos de PT, balanço da atual gestão (o II reinado de 
Dirceu), problemas atuais e polêmicas, medidas práticas para construir um 
partido socialista, de massas, militante e democrático 
Companheiros 

As polêmicas 
Nas três reuniões realizadas até agora, para construir uma tese comum da 
esquerda petista, fizemos uma discussão sobre o conteúdo de todas as 
pré-teses. 

Programa/estratégia 
Na primeira reunião, sobre programa/estratégia, os pontos polêmicos no 
interior da esquerda foram os seguintes; 
1.Relação entre governo democrático-popular, alternativa 
democrático-popular, programa democrático-popular, socialismo, revolução. 
Cada pré-tese formula isso de um jeito diferente. Para alguns, o governo 
democrático-popular "funda" a transição socialista. Para outros, o governo 
democrático-popular inicia um processo cujo desfecho é uma revolução que 
"funda" a transição socialista. E assim vai. 
Tirante as "batalhas de fórmula", existe uma polêmica real, que está 
desenvolvida na polêmica aberta pelo Jorge Almeida e prosseguida por mim. 
Portanto, peço que os companheiros leiam aqueles dois textos. 
2.Questão nacional, projeto nacional. 
Todas as pré-teses dão importância à luta pela soberania nacional. Mas 
enquanto a pré-tese da Força Socialista organiza todo o raciocínio a partir 
desta questão, outras apresentam a "questão nacional" como uma das tarefas 
(ao lado das tarefas democráticas, socialistas etc.). E há também quem, como 
a DS, ache inadequado falar em "projeto nacional". 
3.Alternativas burguesas à crise 
Aqui a polêmica é sobre a possibilidade de um setor da burguesia, diante de 
uma brutal crise internacional, gestar um novo ciclo de desenvolvimento, à 
semelhança do que fizeram, encabeçados por Vargas, na década de 30. Esta 
polêmica têm incidência importante na estratégia: lembro que a dicotomia 
socialismo/estagnação foi um dos motivos que levou a esquerda nos anos 60 
para a luta armada. 
No terreno mais tático, há opiniões diferentes sobre qual a margem de 
manobra econômica de que dispõe o atual bloco de poder. 
4.Papel do Estado, setor público não estatal etc. 
Aqui há uma polêmica --basicamente entre a tese da DS e as demais-- sobre 
qual nossa posição frente ao Estado: "forte" ou "fraco"? é possível 
"democratizar" o Estado e como? como conbinar o projeto histórico (fim do 
Estado), o projeto estratégico (democracia das maiorias trabalhadoras) e o 
projeto tático (como será o Estado num governo democrático e popular). 
Faz parte desta polêmica a crítica que a BS fez à DS, sobre a referência que 
a pré-tese da DS faz as Câmaras Setoriais. 
5.Política de alianças 
Algumas pré-teses da esquerda defendem ruptura com PDT etc.
Outras não. Há 
um consenso de que é necessário qualificar os partidos aliados. 
6.Questão agrária 
A BS quer qualificar melhor a reforma agrária que defendemos e seu vínculos 
com a luta pelo socialismo. 
7.Governos petistas hoje 
Há uma polêmica sobre como caracterizar, avaliar e o que propor como tarefas 
dos governos petistas e de coligação. Esta polêmica surge, por exemplo, 
quando a TM fala que estes governos não são "democrático-populares" no 
sentido estratégico do termo. 
8.Temas de política internacional 
Que posição defender frente ao Mercosul? E a Attac? E as relações 
internacionais do PT. Sobre isto, O Trabalho defende ruptura com a 
Internacional Socialista. 
9.Dívida pública interna 
A Força Socialista é contra o não-pagamento da dívida interna. 
10.Reforma política 
A Força Socialista externou, oralmente, posições que não são compartilhadas 
por outras correntes (o Forum, por exemplo), acerca da fidelidade partidária 
e outros temas da chamada reforma política. 

Partido 
Na segunda reunião, sobre construção partidária, os pontos polêmicos foram 
os seguintes: 
1.Estatutos 
Há um acordo de que não podem ser o centro do Congresso. Há, também, um 
acordo sobre o sentido da "reforma estatutária" proposta pela Unidade na 
Luta, que devemos combater. A proposta é deslegitimar no mérito e no método 
o debate estatutário, de forma a criar as melhores condições para que, no II 
Congresso, possamos adotar uma tática que preserve o caráter partidário e 
democrático do PT. 
2.Embocadura 
Há um acordo de que devemos bater tanto na concepção de partido da UL/DR, 
quanto fazer um balanço muito duro da gestão (II reinado de Dirceu, na feliz 
definição do Genildo). Entretanto, há uma polêmica sobre como fazer isso. 
Concretamente: somos partidários de "abrir" o Partido, só que para as 
pessoas certas; ou devemos dizer que o problema do PT é que ele é aberto até 
em demasia? Claro que é possível uma fórmula de acordo entre estes extremos, 
mas eles revelam concepções diferentes de como tratar com a insatisfação de 
parcela da militância petista, insatisfação que a direita partidária tenta 
capitalizar com propostas demagógicas como eleição direta. 
3.Propostas concretas 
Neste item, há alguns desacordos e dúvidas, entre os quais: Sobre as fontes 
das finanças, há divergências sobre aceitar ou não contribuições do 
empresariado ou até mesmo aceitar o dinheiro do Fundo Partidário. Sobre 
proporcionalidade qualificada, há quem defenda, há quem seja contra. Sobre 
os núcleos serem a porta de entrada de todo filiado e sobre a proposta de 
que os encontros municipais sejam compostos por delegados eleitos nos 
núcleos, também não há acordo. 

Conjuntura 
Na terceira reunião, sobre conjuntura, a divergência se concentra em dois 
pontos: 
1.como combinar a luta política geral (Fora FHC) com as reinvidicações 
econômicas e as mobilizações próprias da classe trabalhadora. Há quem ache 
que a mobilização "cívica" não apenas é melhor mas também a possível. Há 
quem ache que se não houver mobilização típicamente de classe, a luta 
"cívica" perde vigor e contundência. Isso se materializa nos movimentos 
concretos que vamos fazer na chegada das marchas, a questão do paralisação 
nacional etc. 
2.como tratar o conjunto das instituições (judiciário e parlamento). A 
proposta de Assembléia Constituinte resolve o problema? 

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