Editorial
De tédio, não morreremos
Esta edição do jornal Página 13
corresponde aos meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014.
Nela, os leitores encontrarão um balanço
do processo de eleição das direções partidárias, ocorrido em novembro de 2013.
Não se trata de um balanço completo: pretendemos voltar ao assunto na edição
que circula em fevereiro de 2014. Aproveitamos, também, para apresentar a
bancada que representará a Articulação de Esquerda no Diretório Nacional do PT,
empossado dia 12 de dezembro de 2013.
Encontrarão, também, textos analisando os
desafios de 2014, em diferentes frentes: Igor Fuser aborda o cenário
internacional, sob o prisma do Irã e da Venezuela; Breno Altman fala de
pesquisas e eleições presidenciais; João de Deus trata da momentosa eleição
maranhense; Rubens Alves fala da pauta pauta legislativa do próximo ano; Max
Altman e Rodrigo César abordam, em dois textos distintos, o tema da reforma
política; Jandyra Uehara trata dos desafios da CUT, com um texto específico
dedicado aos trabalhadores da educação.
Página 13 republica, também, um texto de
Valter Pomar, sobre o significado estratégico das prisões de Genoíno, Dirceu e
Delúbio. E publica um inédito de Iole Iliada, sobre o debate de ideias no
Partido dos Trabalhadores, a luz de um importante evento realizado pela
Fundação Perseu Abramo, em novembro-dezembro de 2013.
Ricardo Menezes aborda os desafios da
saúde pública, Jonatas Moreth fala da juventude petista, Patrick Campos e
Adriele Manjabosco falam do recente congresso da União Brasileira de Estudantes
Secundaristas. E Marcos Lazaretti, coordenador geral da UEE Livre do Rio Grande
do Sul, fala da eleição do Diretório Central dos Estudantes de Santa Maria
(RS).
Além disso, Página 13 traz um texto
acerca de Marcelo Deda, militante petista, governador de Sergipe, que
recentemente nos deixou.
*
Se não houver contratempos, esta edição
de Página 13 começará a circular na abertura do V Congresso Nacional do Partido
dos Trabalhadores, entre os dias 12 e 14 de dezembro de 2013.
Este Congresso foi convocado solenemente
em dezembro de 2012. Mas desde o debate sobre a Convocatória do Quinto
Congresso, ficou clara a existência, no Partido, de pelo menos duas
posições distintas a respeito.
Todos reconheciam existir uma contradição
entre as necessidades da luta política imediata, por um lado, e as diretrizes
mais estratégicas e programáticas que deveriam emergir do Congresso, por outro
lado.
Alguns propunham resolver esta
contradição rebaixando o Congresso, transformando-o numa convenção eleitoral. Outros
propunham resolver esta contradição, elevando nossa tática às necessidades de
nossa estratégia.
A polêmica se traduziu, do ponto de vista
prático, na elaboração de um documento de subsídio ao Congresso, que deveria
ter sido debatido pela CEN, pelo DN e em encontros especiais, simultaneamente
ao PED. E que, após o PED, seria refeito, incorporando as contribuições das
teses apresentadas ao debate.
Tais debates nunca ocorreram. E o
documento apresentado como contribuição ao V Congresso, assinado por apenas
dois dos vários integrantes da comissão, é basicamente o mesmo produzido antes
do PED.
Por sua vez, a chapa “Partido que muda o
Brasil”, que disputou o PED com uma tese, abriu mão desta tese em favor do
documento assinado por Marco Aurélio e Ricardo Berzoini. Convenhamos, não teria
sido melhor que tal documento fosse apresentado e debatido pelos filiados ao
longo do PED? Ou terá prevalecido a opinião, manifestada por um dos autores do
documento, segundo o qual o PED não serve para “este tipo de debate mais de
fundo”?
A Articulação de Esquerda divulgará, numa
separata distribuída diretamente aos delegados e delegadas presentes ao V
Congresso, uma análise crítica da contribuição escrita por Marco Aurélio e
Ricardo Berzoni, cotejando com o que era dito pela tese da chapa “Partido que
muda o Brasil” e propondo emendas.
Seja como for, o fato é que o V Congresso
começa agora, mas não termina agora. O que foi convocado para o final de
dezembro é uma sessão inaugural, composta por uma mesa de posse das novas direções
(onde falarão Rui Falcão, Lula e Dilma Roussef); outra mesa dedicada a Genoíno,
Dirceu e Delúbio; uma terceira mesa, onde Marco Aurélio e Berzoini apresentarão
seu texto, seguido de opiniões dos presidentes da CUT, da coordenação do MST e
da diretoria da UNE, depois do que terão (ufa!!!) o direito de falar os
representantes das chapas que concorreram ao PED; e uma quarta mesa, dedicada a
debater os temas programáticos e estratégicos, com base na contribuição de
quatro intelectuais. Finalmente, no sábado 14 de dezembro, haverá a votação de
resoluções.
Em algum outro momento, talvez em março
de 2014, os/as delegados/as serão novamente convocados/as, para debater tática
eleitoral. E talvez em 2015 se convoque novamente o Congresso. Enfim, os mais
velhos devem se lembrar da chamada “tática-processo”; agora estamos diante do
“congresso-processo”.
O essencial é que a maioria do Partido
decidiu “não mexer em time que está ganhando”. Como diz a contribuição assinada
por Marco Aurélio e Ricardo Berzoini: “No ano de 2014 a ação do PT estará
concentrada na reeleição da companheira Dilma Rousseff à presidência da
República, na expansão de suas bancadas no Senado Federal, na Câmara de
Deputados e nas Assembléias Legislativas. Da mesma forma, terá papel central o
aumento do número de seus governadores. Claro está que todos estes embates
eleitorais exigirão a consolidação, ampliação e qualificação de nossas alianças
políticas, essencial não só para vencer as eleições como para o exercício
futuro dos governos em nível nacional e estadual. Ainda que as questões
programáticas em jogo nas eleições de 2014 não possam ser separadas totalmente de
uma política de longo prazo do partido, é necessário evitar que esses temas, de
natureza estratégica, se sobreponham e confundam o debate eleitoral do próximo
ano”.
Traduzindo: não estamos seguros de que a
tática para 2014 ajude a política de longo prazo do Partido, mas estamos
convictos de que colocar agora certos temas de longo prazo pode dificultar
nosso desempenho eleitoral, assim é melhor não misturar as duas coisas.
Esta opção pode ter vários
desdobramentos, inclusive dar certo. Mas há três variantes que nos preocupam.
Na primeira delas, perdemos as eleições
por que não percebemos a necessidade de mudar a tática e a estratégia adotadas
até aqui. Na segunda delas, ganhamos as eleições e fazemos um segundo governo a
altura da tática, mas aquém das necessidades estratégicas, o que terá
consequências até 2018 e em 2018. Na terceira delas, ganhamos as eleições e
buscamos, após as eleições, fazer um giro na atuação do governo, sem ter
construído, durante o processo eleitoral, as bases políticas necessárias para
tal.
Não subestimamos a primeira variante. A
direita está fazendo um grande esforço para produzir uma tempestade perfeita. E
nosso governo tem reagido a isto de maneira recuada, fazendo um grande esforço
para conciliar com os interesses do grande capital e do rentismo. As duas
variantes projetam um cenário perigoso, econômica, política e eleitoralmente
falando. Mas, ainda assim, ainda que no segundo turno, ainda que com
dificuldades, o mais provável é nossa vitória com a reeleição da presidenta
Dilma.
Mas, em caso da provável reeleição, a
opção tática e estratégica da maioria do Partido não terá criado as condições
para fazer um segundo mandato superior ao atual. É claro que esta nossa opinião
deve ser matizada: uma vitória petista nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo
e/ou Minas Gerais muda a correlação de forças políticas. Porém, já sabemos de
longa data que a depender da política implementada pelos novos governos
estaduais, uma vitória eleitoral pode se converter num problema político, como
algumas prefeituras conquistadas em 2012 estão demonstrando.
Coerentemente com as posições que
defendeu no PED, não esperamos da maioria da nova direção partidária uma
mudança na tática ou na estratégia. Continuarão insistindo numa postura geral
defensiva e aquém das necessidades e possibilidades da conjuntura e do período
histórico.
Da nossa parte, vamos continuar
insistindo na necessidade de um giro estratégico e tático, assim como no
funcionamento do PT. Achamos que a conjuntura de 2014 tende a ser turbulenta,
que a campanha eleitoral será muito difícil, que o PT precisa de outra postura
e de outra política, seja para vencer, seja para governar, seja para
transformar o Brasil.
Por isto, estamos seguros, nós que somos
petistas, de tédio não morreremos.
E que 2014 seja um ano marcado por
grandes lutas e grandes vitórias da classe trabalhadora brasileira.
Os editores
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