Na sexta 2 e
no sábado 3 de dezembro de 2016 acontece em Brasília uma reunião nacional do
chamado Muda PT.
Em
discussão, a pauta do 6º Congresso do Partido dos Trabalhadores, convocado para
os dias 7 a 9 de abril de 2017.
Cada uma das
tendências que participa do Muda PT foi chamada a apresentar suas opiniões
sobre o balanço, sobre a estratégia, o programa e a organização partidária.
As opiniões
da tendência Democracia Socialista estão, ao menos parcialmente, expressas num
documento intitulado Cinco metas para mudar o PT,
assinado pelo companheiro Pepe Vargas. E também num documento intitulado A necessidade
de um congresso extraordinário, assinado pelo companheiro Raul Pont.
Os dois textos podem ser lidos aqui:
http://democraciasocialista.org.br/cinco-metas-para-mudar-o-pt-por-pepe-vargas/
http://democraciasocialista.org.br/a-necessidade-de-um-congresso-extraordinario/
As metas
propostas por Pepe Vargas buscam “corrigir problemas”. São elas: “um novo pacto
programático”; “uma nova política de alianças”; “um novo método para a escolha
das direções”; “uma narrativa sobre a ética partidária”; ”instituir mecanismos
de controle social interno sobre as finanças do partido”.
Três das
metas dizem respeito a organização interna do Partido. E as duas outras metas não
respondem a uma questão: qual deve ser a estratégia do Partido? Ou seja, como pretendemos
disputar/construir/conquistar o poder necessário para poder materializar nosso
programa?
Debater
estratégia implica em responder a algumas questões, entre as quais citamos: continuaremos
confundindo governo com poder? Como vamos articular a luta eleitoral, a luta
social, a luta ideológica? Trataremos as instituições do Estado de forma supostamente
“republicana” (= a deixar a classe dominante manter seu controle) ou vamos
buscar controlar estas instituições (=tratar as instituições de forma
efetivamente republicana)? No nosso
pensamento estratégico vamos incluir, ao lado das reformas, as rupturas e as revoluções?
E como articulamos a dimensão nacional com a dimensão regional e internacional?
As cinco
metas propostas por Pepe Vargas não incluem absolutamente nada disto. É como se
a estratégia atualmente adotada pelo PT não fosse um dos “problemas” que
precisam ser corrigidos.
Já o
primeiro dos cinco pontos do texto de Raul Pont tem como título “um programa
estratégico de luta democrática”, ou seja, que “a questão democrática deve ser
o centro de uma estratégia da luta partidária numa visão de transição ao
Socialismo”.
A “via de
construção desta estratégia” seria a “participação popular permanente e
crescente”, sem excluir tudo que diz respeito a “reforma política”.
O que Raul
Pont propõe, neste texto, é uma maneira processual, reformista e gradualista de
enfrentar o tema do poder. Da fórmula “revolução
democrática”, retirou-se a revolução e tudo que se vincula a esta palavra
quando se está debatendo estratégia.
Por exemplo:
no segundo ponto de seu texto, ao tratar da política de alianças, Raul Pont afirma
que o PT serima “herdeiro de uma esquerda que, nos anos 60 e 70, rompeu com a
concepção de aliança de classes para superar o subdesenvolvimento e a dominação
imperialista”. Mas quando chegamos ao governo, teríamos nos rendido “à lógica
da governabilidade congressual”.
A questão é:
a lógica da “governabilidade congressual” não resulta de “herdeiros”
malcriados. Ela decorreu de uma visão estratégica de conjunto, acerca da
correlação de forças do período histórico pós-crise do socialismo soviético,
acerca das possibilidades de aliança com setores da classe capitalista na luta
contra o neoliberalismo, acerca das supostas vantagens de uma estratégia de
ocupação de espaços no aparato de Estado, acerca das supostas desvantagens de
uma estratégia de ruptura e revolução etc.
O PT precisa
debater se estas e outras premissas e opções decorrentes da “estratégia”
adotada entre 1995 e 2016 contribuíram ou não para a crise atual; se elas são
ou não corretas nos dias de hoje; e, se não forem, que estratégia deve ser
colocada no seu lugar, neste momento nacional e internacional que estamos
vivendo.
O que fica
claro, da leitura dos textos de Raul e Pepe, é que a ênfase que eles dão ao
tema estratégico e/ou a resposta que propõem diferem muito da abordagem feita
por outros setores da esquerda petista, por exemplo a Articulação de Esquerda.
Não se trata, é bom dizer, apenas de divergências acerca do que propor. Trata-se de diferenças na maneira de conceber e abordar o problema. Sendo este um dos motivos que nos levam a considerar necessário, nesta fase de abertura do debate congressual, que cada integrante do Muda PT apresente, em tese própria, seu ponto de vista.
A este
respeito, recomenda-se ler:
http://www.pagina13.org.br/internacional/tempos-de-crise-e-guerra/#.WEI0dvkrLIU
http://www.pagina13.org.br/esquerda-2/o-vocabulario-da-luta/
O que dá-se a entender dos textos dos dois e da sua análise é que a discussão sobre motivos e como abordá-los não é importante e talvez mesmo desnecessária de ser abordada. A estratégia em si, do ponto de vista deles, está mais ou menos correta, porque está dentro do caminho da "revolução democrática". A forma de implementar é que contém erros que precisam ser corrigidos.Daí é suficiente rever a política de alianças e a democracia interna.E também retomar no âmbito federal experiências mais ou menos bem sucedidas de participação popular nos níveis estadual e municipal. A questão está no superfície, logo pra que perder tempo analisando as questões de fundo.
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