sábado, 3 de dezembro de 2016

As cinco metas de Pepe Vargas & os cinco pontos de Raul Pont

Na sexta 2 e no sábado 3 de dezembro de 2016 acontece em Brasília uma reunião nacional do chamado Muda PT.

Em discussão, a pauta do 6º Congresso do Partido dos Trabalhadores, convocado para os dias 7 a 9 de abril de 2017.

Cada uma das tendências que participa do Muda PT foi chamada a apresentar suas opiniões sobre o balanço, sobre a estratégia, o programa e a organização partidária.

As opiniões da tendência Democracia Socialista estão, ao menos parcialmente, expressas num documento intitulado Cinco metas para mudar o PT, assinado pelo companheiro Pepe Vargas. E também num documento intitulado A necessidade de um congresso extraordinário, assinado pelo companheiro Raul Pont.

Os dois textos podem ser lidos aqui:                        
http://democraciasocialista.org.br/cinco-metas-para-mudar-o-pt-por-pepe-vargas/
http://democraciasocialista.org.br/a-necessidade-de-um-congresso-extraordinario/

As metas propostas por Pepe Vargas buscam “corrigir problemas”. São elas: “um novo pacto programático”; “uma nova política de alianças”; “um novo método para a escolha das direções”; “uma narrativa sobre a ética partidária”; ”instituir mecanismos de controle social interno sobre as finanças do partido”.

Três das metas dizem respeito a organização interna do Partido. E as duas outras metas não respondem a uma questão: qual deve ser a estratégia do Partido? Ou seja, como pretendemos disputar/construir/conquistar o poder necessário para poder materializar nosso programa?

Debater estratégia implica em responder a algumas questões, entre as quais citamos: continuaremos confundindo governo com poder? Como vamos articular a luta eleitoral, a luta social, a luta ideológica? Trataremos as instituições do Estado de forma supostamente “republicana” (= a deixar a classe dominante manter seu controle) ou vamos buscar controlar estas instituições (=tratar as instituições de forma efetivamente republicana)?  No nosso pensamento estratégico vamos incluir, ao lado das reformas, as rupturas e as revoluções? E como articulamos a dimensão nacional com a dimensão regional e internacional?

As cinco metas propostas por Pepe Vargas não incluem absolutamente nada disto. É como se a estratégia atualmente adotada pelo PT não fosse um dos “problemas” que precisam ser corrigidos.

Já o primeiro dos cinco pontos do texto de Raul Pont tem como título “um programa estratégico de luta democrática”, ou seja, que “a questão democrática deve ser o centro de uma estratégia da luta partidária numa visão de transição ao Socialismo”.

A “via de construção desta estratégia” seria a “participação popular permanente e crescente”, sem excluir tudo que diz respeito a “reforma política”.

O que Raul Pont propõe, neste texto, é uma maneira processual, reformista e gradualista de enfrentar o tema do poder.  Da fórmula “revolução democrática”, retirou-se a revolução e tudo que se vincula a esta palavra quando se está debatendo estratégia.

Por exemplo: no segundo ponto de seu texto, ao tratar da política de alianças, Raul Pont afirma que o PT serima “herdeiro de uma esquerda que, nos anos 60 e 70, rompeu com a concepção de aliança de classes para superar o subdesenvolvimento e a dominação imperialista”. Mas quando chegamos ao governo, teríamos nos rendido “à lógica da governabilidade congressual”.

A questão é: a lógica da “governabilidade congressual” não resulta de “herdeiros” malcriados. Ela decorreu de uma visão estratégica de conjunto, acerca da correlação de forças do período histórico pós-crise do socialismo soviético, acerca das possibilidades de aliança com setores da classe capitalista na luta contra o neoliberalismo, acerca das supostas vantagens de uma estratégia de ocupação de espaços no aparato de Estado, acerca das supostas desvantagens de uma estratégia de ruptura e revolução etc.

O PT precisa debater se estas e outras premissas e opções decorrentes da “estratégia” adotada entre 1995 e 2016 contribuíram ou não para a crise atual; se elas são ou não corretas nos dias de hoje; e, se não forem, que estratégia deve ser colocada no seu lugar, neste momento nacional e internacional que estamos vivendo.

O que fica claro, da leitura dos textos de Raul e Pepe, é que a ênfase que eles dão ao tema estratégico e/ou a resposta que propõem diferem muito da abordagem feita por outros setores da esquerda petista, por exemplo a Articulação de Esquerda.

Não se trata, é bom dizer, apenas de divergências acerca do que propor. Trata-se de diferenças na maneira de conceber e abordar o problema. Sendo este um dos motivos que nos levam a considerar necessário, nesta fase de abertura do debate congressual, que cada integrante do Muda PT apresente, em tese própria, seu ponto de vista.

A este respeito, recomenda-se ler:


http://www.pagina13.org.br/internacional/tempos-de-crise-e-guerra/#.WEI0dvkrLIU

http://www.pagina13.org.br/esquerda-2/o-vocabulario-da-luta/



Um comentário:

  1. O que dá-se a entender dos textos dos dois e da sua análise é que a discussão sobre motivos e como abordá-los não é importante e talvez mesmo desnecessária de ser abordada. A estratégia em si, do ponto de vista deles, está mais ou menos correta, porque está dentro do caminho da "revolução democrática". A forma de implementar é que contém erros que precisam ser corrigidos.Daí é suficiente rever a política de alianças e a democracia interna.E também retomar no âmbito federal experiências mais ou menos bem sucedidas de participação popular nos níveis estadual e municipal. A questão está no superfície, logo pra que perder tempo analisando as questões de fundo.

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