Recomendo a leitura do artigo intitulado “A decisão do PT fortalece a democracia e a luta contra Bolsonaro”.
Este artigo,
assinado por José Dirceu, é uma tentativa de justificar a tática adotada pela
bancada do PT na eleição da Presidência e da Mesa da Câmara dos Deputados (como
se verá, justificar a tática da bancada petista no Senado é assaz mais
complicado).
Dirceu abre
seu texto reconhecendo que a decisão do PT "(...) de se somar aos partidos
de oposição da direita liberal para construir uma candidatura à Presidência da
Câmara dos Deputados para fazer frente à candidatura do deputado Arthur Lira,
apoiado por Bolsonaro e pelos partidos de sua coalizão (PP, PSD, PL,
Republicanos e outros), vem recebendo duras críticas (...)”.
Na minha
opinião, Dirceu faz uma interpretação da resolução “do PT”,
melhor dizendo, da bancada na Câmara. Digo interpretação, porque a resolução da
bancada fala em construir um bloco e apresentar um nome, o que poderia eventualmente
significar o lançamento de um nome do PT (ou de outro partido da esquerda) que
disputasse o primeiro turno da eleição da presidência da Câmara, concorrendo no
primeiro turno contra Arthur Lyra e contra o candidato lançado por Maia.
Esta
possibilidade vinha sendo apresentada, até hoje 22 de dezembro, como algo que
nos permitiria “marchar separados e golpear juntos”.
Mas como era
óbvio que aconteceria, está prevalecendo a pressão para que o PT “marche junto
e golpeie junto” já no primeiro turno.
O texto de
Dirceu, em minha opinião, faz parte desta pressão e busca naturalizar a decisão
de aderir a Maia com Temer, com tudo.
Dizem alguns
parlamentares que a reunião que a bancada do PT fará, nesta quarta 23 de
dezembro, aprovará o apoio já no primeiro turno ao nome proposto por Maia. Ou,
para ser mais exato, ao nome acertado por Maia e Temer.
Dirceu reconhece
que as críticas ao bloco de Maia partem “de fatos irrefutáveis”. Mas lembra que
“também é fato que Bolsonaro é de extrema direita, autoritário e obscurantista
e que há uma oposição de direita às suas políticas (...)”.
Que uma
parte da direita não gosta de Bolsonaro e faz oposição a ele, não tenho dúvida.
Assim como não tenho dúvida de que se trata – conforme diz o próprio Dirceu -- de
“uma oposição de direita”. Ou seja: eles se opõem às políticas de Bolsonaro,
mas não do mesmo ângulo que a esquerda.
Na minha
opinião, Dirceu (e a maioria da bancada do PT) não leva este “detalhe” em
devida conta e começa a apresentar esta oposição de direita, como se de
esquerda fosse.
Basta ler a nota
dos 11 partidos, para constatar isto: nela o PT subscreve o bloco de Maia como
se ele fosse defensor da democracia e do desenvolvimento.
O próprio
Dirceu cai nesta onda, quando afirma que “não fosse o STF, o Congresso Nacional
e a oposição de esquerda, Bolsonaro já seria ditador”.
A oposição
de esquerda certamente merece este elogio.
Mas não considero
razoável estender este elogio a quem engavetou dezenas de pedidos de
impeachment, nem a quem fez vistas grossas contra os crimes cometidos na
campanha de 2018.
No seu
texto, Dirceu exagera muito nos elogios que faz ao STF e ao Congresso.
Mais perto
da verdade ele está quando diz que “a atuação articulada dos partidos de
esquerda atraiu em várias votações o apoio da direita liberal e impôs várias
derrotas ao governo”.
O motivo
pelo qual Dirceu exagera nos elogios é óbvio: trata-se de minimizar a má
impressão causada pela aliança entre a bancada do PT e uma direita lavajatista,
pró-imperialista, pró-capital financeiro, pró-Globo (para citar a definição sintética
do insuspeito Quaquá).
Dirceu considera
que “a questão principal para analisar a posição do PT (...) é se existe uma
agenda democrática no país ou não”. E depois de citar fatos ocorridos nos anos
1980 e 1990, Dirceu conclui afirmando “como no passado, não vamos perder nossa
identidade ou independência por participar das mesas e votar nas eleições
internas nas casas legislativas. Nossa oposição ao programa econômico
neoliberal e nossa disputa com a direita liberal continuarão”.
Eu adoraria
que fosse assim. Mas pergunto: se as coisas continuassem acontecendo no
presente como aconteceram no passado, por qual motivo mesmo estamos como
estamos? Por qual motivo sofremos tantas derrotas desde 2016?
Uma resposta
possível é a seguinte: 1/nem o passado foi tão linear e glorioso como pinta
Dirceu; 2/no passado há de tudo um pouco: basta lembrar que não fomos ao Colégio
Eleitoral; 3/as condições mudaram e exigem táticas adequadas a isto.
Dirceu cita
elogiosamente o manifesto dos partidos de oposição. Mas de que adianta este
manifesto, se na prática estaremos integrando, em condição minoritária e
subalterna, o bloco do Maia e apoiando a candidatura acertada por ele com
Temer?
Pergunto:
por acaso o candidato de Maia & Temer vão assumir compromissos públicos com
a pauta apresentada no manifesto da oposição? Ou as promessas serão secretas? E
aliás, na bolsa de valores, quanto mesmo valem as promessas do MDB de Temer?
Dirceu repete
em seu texto algo com que todos concordamos: que existe uma questão democrática
e que a prioridade à luta popular não exclui a luta institucional, seja
eleitoral ou parlamentar.
Mas Dirceu não
leva em consideração um detalhe ao meu ver essencial neste debate: a maneira
como desenvolvemos a luta institucional, eleitoral e parlamentar afeta a maneira
como tratamos a luta popular. Na prática, a tática de parte da esquerda vem
sendo determinada a partir das “questões do parlamento”, quando deveria ser o
contrário.
A verdade,
como aponta Dirceu, é que “não há consenso sobre a leitura do momento político
e do período histórico em que vivemos”.
Da análise
de que o governo Bolsonaro não é “um governo como outro qualquer”, decorrem várias
táticas e estratégias. Algumas buscam preservar a independência do campo
popular. Outras priorizam alianças táticas e ou estratégicas com setores da
direita.
Por exemplo:
na bancada do PT (assim como no PSB e no PDT) havia (e acho que segue havendo) quem
– com base nas mesmas premissas de acumular forças e ocupar espaços – conclui que
devíamos apoiar Arthur Lyra.
Dirceu acha que
a posição da bancada do PT unifica os partidos de esquerda. O que ele não diz é
que esta “unificação” se dá em torno da adesão do PT às posições destes partidos,
que desde muito preferem uma aliança de centro-direita.
Aliás, alguns
parlamentares destes partidos votaram com Maia e toda a direita a favor do
impeachment da presidenta Dilma.
Por estes e
outros motivos, acho ilusão achar que daí possa resultar uma “Frente Popular”
que mereça o nome.
Em suma, a
única coisa que faz sentido nesta tática da bancada do PT, de aliar-se com o bloco
de Maia, é a tentativa de “ocupar o espaço institucional” a que temos direito.
Mas os eventuais
resultados positivos derivados da eventual conquista destes cargos não compensarão,
a meu juízo, os efeitos deletérios da aliança com pessoas e partidos que foram
protagonistas do golpe de 2016, da condenação e prisão de Lula, da vitória de
Bolsonaro, do lavajatismo e das reformas neoliberais.
Os efeitos
danosos resultantes da participação no bloco de Maia poderiam ser minimizados
se, pelo menos, o PT lançasse no primeiro turno uma candidatura à presidência
da Câmara dos Deputados, que se dispusesse a demarcar com as duas direitas que
disputam o controle da Câmara: a liderada por Maia e a do Centrão hoje aliado
ao bolsonarismo.
Mas, como já
foi dito, há uma grande possibilidade de não lançarmos tal candidatura. Se isto
se consumar, a tática adotada pelo PT na eleição das Mesas – mesmo que não seja
esta a intenção de seus promotores – amplia as chances da próxima disputa presidencial
ser travada entre representantes das duas direitas.
É claro que podemos acreditar que trata-se apenas de uma disputa de espaços no parlamento; mas, como apontamos anteriormente, os argumentos públicos dos defensores do apoio ao Bloco de Maia contribuem para que um setor da direita golpista e neoliberal possa se apresentar como defensora da democracia e do desenvolvimento.
É também por isso que há tantas críticas à posição majoritária na bancada do PT: participar do bloco de Maia e apoiar sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados não contribui para o esforço que a esquerda precisa fazer, em 2021, para reconquistar o território perdido nos locais de trabalho, estudo, moradia, nas mentes e corações de dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
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Segue o
texto criticado
A decisão do
PT fortalece a democracia e a luta contra Bolsonaro, por José Dirceu
A decisão do
PT e dos partidos de esquerda, à exceção do Psol, de se somar aos partidos de
oposição da direita liberal para construir uma candidatura à Presidência da
Câmara dos Deputados para fazer frente à candidatura do deputado Arthur Lira,
apoiado por Bolsonaro e pelos partidos de sua coalizão (PP, PSD, PL,
Republicanos e outros), vem recebendo duras críticas dentro do próprio PT,
entre os jovens e muitos setores da esquerda.
Como se
aliar a Maia e seus Democratas, ao MDB e ao PSDB que forem fiadores do golpe
constitucional contra a presidente Dilma Roussef, do governo Temer e das
reformas neoliberais de Paulo Guedes? Como se aliar aos que apoiaram a Lava
Jato e a criminalização do PT que levou à prisão de Lula? Por que o PT não se
aliar ao Psol e lançar uma candidato de esquerda, já que PDT, PSB e PC do B têm
posição firmada de apoio a Maia e a seu candidato ainda não escolhido pelos
partidos?
As críticas
partem de fatos irrefutáveis. Mas também é fato que Bolsonaro é de extrema
direita, autoritário e obscurantista e que há uma oposição de direita às suas
políticas externa, ambiental, cultural, educacional e científica, sua agenda
fundamentalista e suas ameaças à democracia. Não fosse o STF, o Congresso
Nacional e a oposição de esquerda, Bolsonaro já seria ditador. Foram essas
instituições que impediram a privatização da Previdência, evitaram a
consolidação do Estado policial do pacote anti-crime de Moro, garantiram os
direitos da mulher, dos educadores, da trabalhadora rural, o BPC.
Quando
Bolsonaro quis governar por decreto lei, impor a escola sem partido, a censura,
o fim da autonomia universitária encontrou no Supremo uma barreira. No
Congresso Nacional, a atuação articulada dos partidos de esquerda atraiu em
várias votações o apoio da direita liberal e impôs várias derrotas ao governo
–a última delas, na questão do Fundef.
O PT e as
esquerdas poderiam participar, como fazem em todas as câmaras municipais e
assembleias legislativas, apenas e tão somente para ocupar o espaço
institucional a que têm direito. Não há como negar a importância de estar no
Parlamento até porque somos, as esquerdas, alternativa de governo, governamos
vários estados e centenas de municípios.
A questão
principal para analisar a posição do PT, do PSB, do PDT e do PC do B de integrar
a coalizão de partidos capitaneada por Maia é se existe uma agenda democrática
no país ou não. É fato que a coalizão de Maia rasgou o pacto constitucional de
1988 ao dar o golpe de 2016. Mas o PFL, que depois virou Democratas, tinha
apoiado a ditadura e participou, conosco, da campanha das Diretas Já. Nem por
isso, o PT foi ao Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves. Na frente
amplíssima que se formou para o impeachment de Collor, o PFL estava lá.
Concretizado o afastamento de Collor, o PT ficou na oposição ao governo Itamar.
Lembro estes
fatos da nossa história recente para dizer que, como no passado, não vamos
perder nossa identidade ou independência por participar das mesas e votar nas
eleições internas nas casas legislativas. Nossa oposição ao programa econômico
neoliberal e nossa disputa com a direita liberal continuarão. Seja no Congresso
Nacional, nas assembleias legislativas ou nas câmaras municipais. Ao assinar o
manifesto dos partidos de oposição ao governo Bolsonaro, o PT teve, como motivação,
a defesa intransigente da democracia, das instituições democráticas e da vida,
contra o autoritarismo, o obscurantismo, a negação da ciência. E deixou claro
que manterá sua pauta contra a política neoliberal, que DEM-PSDB-MDB defendem.
Em manifesto
das oposições para a eleição da mesa diretora da Câmara dos Deputados,
divulgado na 2ª feira (21.dez.2020) PT, PSB, PDT e PC do B, afirmam que têm a
responsabilidade de combater, dentro e fora do Parlamento, as políticas ,
neoliberais, antinacionais e lutar para que o povo possa ter resguardados seus
direitos à saúde, ao emprego e renda, à alimentação acessível e à educação , e
anunciam seu compromisso em torno de dez pontos. Entre eles, a viabilização de
uma política de vacinação coordenada pelo SUS, defesa das famílias e da
população desprotegida contra o desemprego e a crise econômica, medidas para
tributar a renda dos mais ricos, defesa do meio ambiente e da reforma agrária,
defesa dos direitos dos trabalhadores e da maioria da população, defesa do patrimônio
público e da soberania nacional e contra a independência do Banco Central.
Do ponto de
vista da esquerda e mais propriamente do PT, há outro debate relevante.
Trata-se crítica generalizada ao abandono das lutas sociais, dos territórios e
à submissão da estratégia do partido a luta eleitoral e institucional,
parlamentar ou de governo. Há uma avaliação de que devemos apostar na
organização popular e sindical, na formação de um forte movimento consciente
para sustentar nossos governos para além do apoio parlamentar e na sociedade.
São pontos essenciais, que, no entanto, não excluem a luta institucional, seja
eleitoral ou parlamentar.
Está claro
que nas esquerdas não há consenso sobre a leitura do momento político e do
período histórico em que vivemos. Na prática, apesar de se caracterizar o
governo Bolsonaro como até neofascista, muitos se comportam como se vivêssemos
em um governo como outro qualquer, desconsiderando seu caráter militar,
autoritário, obscurantista e negacionista, fora o forte movimento conservador e
autoritário que o sustenta com influência mesmo nos setores populares e da
classe trabalhadora. Parecem desconhecer que viemos de várias derrotas e
estamos na defensiva e num descenso das lutas sociais e populares, que há pela
frente um longo caminho que passa pela unificação das oposições de esquerda
pela base, pela construção de um programa comum, pela retomada do trabalho nos
bairros e territórios, fazer a luta ideológica e cultural, disputar os setores
das classes medias que votaram no passado nas esquerdas e nos deram quatro
vitórias para presidente.
Há que
destacar que a posição do PT unifica os partidos de esquerda –à exceção do Psol
até este momento–, cria as bases para consolidar nossa aliança no Parlamento e
abre caminho para uma Frente Popular à semelhança da Frente Ampla Uruguaia ou
da experiência portuguesa da Geringonça. Ou pelo menos este deve ser nosso
objetivo. Isso sem desconsiderar que o Manifesto assinado pelos partidos traz
um compromisso com a democracia contra o autoritarismo e com a independência do
Parlamento.
Poder 360 -
22/12 /2020
O momento político é muito crítico a esquerda brasileira não poderá de maneira nenhuma aceita um presidente da Câmara posto por BOLSONARO que estará a serviço das reformas neoliberais imposta por PAULO GUEDES, desta forma o que sobra e se abraça com Maia pra combater o pior.
ResponderExcluirPenso que o PT e os partidos de ESQUERDA devem se unir e lançar uma candidatura própria pra vencer o pleito e independente do resultado a esquerda sairá unida pra enfrentar os desafios vindouros
Aí está a questão: a esquerda tão minoritária no momento nao conseguirá vitória. Por consequência, as futuras pautas a serem votadas trarão terríveis danos à nação e aos brasileiros. É hora de articular-se um posicionamento de centro-esquerda.
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