sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Que faz o PT no "bloco do Maia"?

Acabo de ler um tweet do deputado José Guimarães, anunciando que a bancada do PT acaba de decidir integrar o "bloco do Maia".

A posição não foi unânime, mas parece ter sido amplamente majoritária.

Quem se posicionou contra? 

Sei que parlamentares vinculados à tendência petista Articulação de Esquerda foram contra. Não sei de outros.

A decisão na minha opinião é um grave erro.

Erro, em primeiro lugar, porque deveria caber ao Partido e não a bancada decidir a respeito. 

Mas ao que sei, o DN remeteu o assunto para a CEN que remeteu o assunto para a bancada.

Erro, em segundo lugar, devido ao mérito. 

Na prática, participaremos de maneira subalterna no bloco de um setor do golpismo, contra outro setor do golpismo.

Como diz o tweet de Guimarães, é o PT que passa a integrar o "bloco do Maia". 

Maia é aquele que, segundo disse recente e corretamente o vice-presidente nacional do PT, Washingon Quaquá, é um dos integrantes da turma do imperialismo, do grande capital, do latifúndio, da Globo.

Havia alternativa?

Havia, sempre há. 

No caso, ter um bloco de oposição e uma candidatura de oposição.

Mas numa bancada dividida em três partes (os pró-Maia, os pró-Lira e os pró-candidatura de esquerda), prevaleceu o que me parece ser uma "síntese" capenga: participar do bloco do Maia e prometer uma candidatura presidencial do PT ou similar.

O bloco é para já. A candidatura é promessa.

Infelizmente, a nota da bancada não fala as coisas claramente.

O argumento usado para justificar a posição adotada é impedir que Bolsonaro controle a "Casa". 

Diria eu: controle ainda mais; afinal, entre outras coisas, o "bloco do Maia" sentou em mais de 50 pedidos de impeachment.

Mas é óbvio que, numa eleição em dois turnos, este objetivo de derrotar a candidatura mais bolsonarista poderia ser alcançado no segundo turno.

Portanto, a decisão de participar do "bloco do Maia" tem como motivação real e principal buscar garantir espaços na Mesa diretora da Câmara, Comissões e relatorias.

A nota da bancada não deixa isto claro e não explica por quais motivos estes espaços não poderiam ser conquistados apresentando um terceiro bloco, da oposição de esquerda.

Seja como for, é um caso clássico de subordinação da tática geral do Partido, a critérios estritamente parlamentares (e, no caso, equivocados). 

Aquilo que em época muito recente alguns petistas chamaram de "cretinismo parlamentar" e "oportunismo".

De conjunto, a tática da bancada e outras cositas mais sinalizam que 2021 e 2022 podem virar um biênio terrível para quem é de esquerda.



4 comentários:

  1. Que ginástica parlamentar para "explicar " um típico cretinismo parlamentar, como explicitava um senhor chamado Ulianov.

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  2. Cuidado com julgamento precipitado. Somos minoria, mas decidiremos a eleição na Câmara. Temos pouco mais de 20% dos votos. Se não negociarmos, ficaremos assistindo a boiada passar. Os primeiros dois anos de Bolsonaro foram péssimos, mas poderiam ser ainda piores com escola sem partido, excludente de ilicitude e proibição do aborto só pra ficar em alguns exemplos. A eleição de Eduardo Cunha já não foi suficientemente traumática?

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    1. Naquela oportunidade foi uma tática arrogante. Agora é diferente. O imediatismo do estômago parlamentar ameaça a estratégia do programa.

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  3. É impressionante como para muitos de nós a disputa de poder foi ressignificada , deixou de ser para fazer avançar um projeto de Estado do campo popular para se tornar um esforço de ajuste ,que acomode os espaços institucionais de alguns Governadores , Prefeitos e , sobretudo Parlamentares .
    Todos sabem que se essa decisão fosse levada a militância o Partido certamente teria candidatura própria ou iria compor junto a um nome que representasse a esquerda , mas decidiram aqueles únicos que a si próprios beneficiam com a incoerente decisão ; incoerente porque nos associamos aos golpistas que levaram adiante as reformas que mais retiraram direitos dos trabalhadores e, é incoerente também porque numa eleição de dois turnos nos submetemos a um discurso oportunista que retornará nas eleições de 2022 com muito mais força.
    Estaremos sendo quase que chantageados, mesmo que digam que o processo é de sensibilização a nos incorporarmos a uma única candidatura ,talvez de centro direita a partir dessa mesma lógica e com o mesmo apelo ; precisamos derrotar o Bolsonarismo.
    Lamento que opção tomada pela bancada impeça que o PT acumule forças e se diferencie de setores que buscam mesmo que simbolicamente se insinuarem do campo de esquerda .
    Ao fim e ao cabo o Partido é o grande derrotado.

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