Desde 2016, o comando do país está na mão de um bloco de forças políticas e sociais que podemos chamar de “golpistas”.
Foram os golpistas
que fizeram o impeachment de Dilma; que respaldaram a condenação, prisão e
interdição eleitoral de Lula; que garantiram a fraude eleitoral que fez de
Bolsonaro presidente. Igualmente, foram os golpistas que aprovaram o teto de
gastos, a reforma trabalhista e a reforma previdenciária.
O golpismo
não é homogêneo e inclui frações que se digladiam pública e privadamente: os
partidos tradicionais de direita, o bolsonarismo, os setores médios tradicionais,
o oligopólio da mídia, as igrejas fundamentalistas, os militares, o sistema
judiciário e por aí vai.
A questão
central do balanço eleitoral é, portanto, saber se o golpismo perdeu ou ganhou as
eleições. E a resposta é: ganhou, com mais de 70% dos votos válidos. Claro,
alguns ganharam mais (o DEM, por exemplo), outros ganharam menos (os
bolsonaristas explícitos).
Estes são os
fatos. Mas há diferentes maneiras de apresentar os fatos ao distinto público. Por
exemplo: certos meios de comunicação preferem enfatizar a derrota do
bolsonarismo (e, segundo eles, a derrota do PT) e a vitória do “centro”. Claro,
o que eles chamam de “centro” é o que chamamos de “direita”. E não é preciso caraminholar muito para
descobrir por qual motivo eles colocam petistas e bolsonaristas no mesmo saco:
basta perguntar ao Ciro, que ele explica.
Mas a
pergunta é: Bolsonaro foi mesmo derrotado?
O que se pode
dizer, com certeza, é que tanto no primeiro quanto no segundo turno, as
candidaturas lançadas pelos partidos tradicionais de direita tiveram melhor
desempenho eleitoral do que aquelas explicitamente bolsonaristas.
Além disso,
as pesquisas de opinião feitas durante a campanha indicavam um crescente
desgaste de Bolsonaro e de seu governo.
Mas não
devemos superestimar a derrota do bolsonarismo.
Afinal,
parte importante do eleitorado continua se orientando pelo repertório
bolsonarista; foi neste esgoto que as campanhas de João Campos, de Melo e de
Sarto foram buscar “argumentos” contra as candidaturas de Marilia Arraes, de
Manuela Dávila e de Luizianne, respectivamente.
Sarto foi
tão eficaz em legitimar a baixaria bolsonarista, que isso quase lhe custou uma
derrota no segundo turno frente ao Capitão Wagner. Mas demonstrando que não
aprende, logo depois do segundo turno Ciro Gomes voltou a atacar brutalmente o
PT.
Aliás, apesar
dos abusos continuados de que somos vítima, ainda existem dirigentes petistas
que tratam Ciro como um aliado, como alguém que merece intimidades e
salamaleques.
Canalhice
tem limite e os partidos, como as pessoas, precisam saber se dar ao respeito.
Ciro não é de esquerda, nem é um democrata; democratas não vão para Paris,
quando o país está sob ameaça.
Mas voltando
ao tema do bolsonarismo: parte das candidaturas eleitas, mesmo que não tenham
explicitado isso durante a campanha eleitoral, apoia, apoiou e/ou pode voltar a
apoiar o próprio Bolsonaro.
Isso não é
verdade apenas no interior do país, como demonstra o ocorrido no Espírito Santo
e em São Gonçalo.
Por tudo
isso, embora seja correto dizer que Bolsonaro não saiu vencedor das eleições,
embora possa ser dito que ele saiu derrotado das eleições, não se deve concluir
daí que o resultado de 2020 decidirá o futuro de seu governo e seu potencial de
reeleição.
Até porque,
como sabemos, Bolsonaro não disputou para valer e de forma organizada as
eleições municipais.
Caso a
oposição de esquerda siga atuando, em 2021, com o mesmo “freio de mão puxado”
com que atuou em vários momentos em 2019 e 2020, é perfeitamente possível que o
cavernícola seja capaz de voltar a colher vitórias.
Além de tudo
o que foi dito anteriormente, é preciso agregar o mais importante: no governo
Bolsonaro, o bolsonarismo não é um fim, mas um dos meios para implementar a
política ultraliberal.
E os
apoiadores desta política foram amplamente vitoriosos nas urnas de 2020.
Em resumo: o
resultado de 2020 confirma, mais uma vez, que não virá principalmente da luta
eleitoral-institucional o impulso necessário para derrotar o bolsonarismo e o
ultraliberalismo.
Para alterar
a correlação de forças do país, faz-se necessário uma grande onda de lutas
sociais. Sem isso, as próximas eleições tendem a perpetuar a atual correlação
de forças, sem prejuízo de pequenas inflexões à esquerda ou à direita.
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