segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Intervenção feita na reunião do Diretório Nacional do PT

Como expliquei ao iniciar este blog, meu objetivo é tornar disponível textos produzidos ao longo dos últimos anos. Nesta categoria se inclui, também, a transcrição de uma intervenção que fiz na reunião do Diretório Nacional do PT  (São Paulo, dias 20 e 21/11/2004).  Minha fala ocorreu no sábado 20.

“Boa tarde companheiros e companheiras. Se a gente for observar a trajetória do PT desde 1982, essa trajetória é ascendente. Em todas as eleições municipais a gente comemorou um crescimento em relação às anteriores. Em 2004 não foi diferente disso. Obtivemos o primeiro lugar em votos no 1º. e no 2º. turno, crescimento no número de capitais, crescimento no número de vereadores, prefeitos e vices e também reitero o fato de não termos sofrido, no segundo turno, nenhuma derrota  acachapante.

Por isso, eu entendo quando alguns companheiros falam que nós obtivemos uma vitória eleitoral.

Mas acho que não dá para negar que a gente teve uma  derrota política, considerando de conjunto os resultados.

Por quê?

Porque não atingimos o principal objetivo nosso na eleição, que era dar prosseguimento àquilo que nós conseguimos em 2000 e 2002, ou seja,  deslocar a correlação de forças do país para a esquerda. Esse era o objetivo que o partido tinha se imposto e não foi isso que aconteceu.

Num certo sentido, houve uma inflexão à direita. Houve vitórias eleitorais e políticas fundamentais da oposição de direita nessa eleição. A oposição de direita saiu dessa eleição com discurso, com tática unificada, com centro político claro, controlando aparatos importantes de poder e considerando seriamente a possibilidade de conquistar a presidência da República em 2006.

Esse é o saldo político dessa eleição. Quais suas causas?

Em primeiro lugar, este resultado tem relação com o fato de que, ao contrário de 2002, a burguesia operou unificadamente nesse processo eleitoral. Não houve grande dissensão, nem grande neutralidade, houve uma grande unidade burguesa e por unidade burguesa eu me refiro à ação articulada do poder econômico, da mídia, do aparato de justiça, dos governos estaduais, de toda a estrutura de poder secular que eles têm. 

Desmentindo quem acha, à esquerda, que nosso governo é o “governo do capital”, porque se fosse eles não teriam feito o que fizeram; e desmentindo, à direita, aqueles que não perceberam (como disse o Silvinho no debate travado na CEN) que a mesma elite que aplaude a política econômica, é a elite que operou nossa derrota eleitoral.

Em segundo lugar, houve um arrefecimento no ânimo de nossa vanguarda, da classe trabalhadora, da militância, que não mostrou o mesmo entusiasmo de 2002 e de 2000. Em alguns casos, inclusive, entrou em conflito aberto conosco em várias categorias, em vários setores --mesmo que isso não tenha se traduzido no voto em candidaturas à esquerda-- nós perdemos intensidade, perdemos força, perdemos “punch”.

E por que ocorreram esses deslocamentos, essa movimentação, tanto na burguesia como entre os trabalhadores?

Eu acho que a razão é política, incluindo aí a política econômica.

Para mim não se trata só dos efeitos da política econômica, até porque no segundo semestre a gente viveu uma conjuntura relativamente  favorável e todo o partido se apoiou nisso, inclusive aqueles que --como eu-- criticamos a política econômica.

Para mim não se trata só dos efeitos do governo federal, porque em vários locais, vista de conjunto, a presença do governo federal foi positiva.

Quando eu falo que a razão é política, no sentido amplo da palavra, refiro-me aos efeitos políticos decorrentes, principalmente na nossa base social e política, da orientação geral seguida pelo governo.

Esta orientação geral nos fez perder, primeiro o discurso ofensivo contra a herança deixada pelo PSDB e pelo tucanos, porque não dava para manter esse discurso contra a “herança maldita” com o COPOM, à véspera do 2º. turno, aumentando a taxa de juros, para citar só esse exemplo.

Segundo, tirou de nós a condição de falar ofensivamente que somos o partido da mudança, haja visto por exemplo a atitude nossa em relação ao caso, já citado aqui, do comandante do exército, atitude que eu considero vergonhosa.

Isso nos levou a não ter capacidade ofensiva, facilitou a pasteurização do discurso, possibilitou ao nosso inimigo se apresentar com a mesma plataforma que nós e deixou o terreno livre para que eles fizessem a ofensiva ideológica contra nós, atacando o “gerenciamento”, “a falta de ética”.

Enquanto nas eleições de 2000 e 2002, a ofensiva era nossa, contra o neoliberalismo, contra a política econômica, contra o PSDB, dessa vez a ofensiva foi articulada por eles.

Nesse sentido é que eu acho que precisamos reorientar a política geral do governo, em particular e principalmente a política econômica, porque sem isso a gente não recupera ofensividade política.

Eu quero dizer, ainda, que saí feliz da reunião da CEN, para ficar triste dois ou três dias depois. Triste, primeiro pelo resultado da reunião do COPOM, depois pela saída de Carlos Lessa do governo.

A impressão que eu tenho companheiros, eu quero falar isso muito claramente, é que quando a gente reúne o partido, com as diferenças que a gente têm, há a compreensão de que precisa ter uma reorientação à esquerda.

Mas quando a gente vê a ação real do governo, a gente vê outra coisa, porque o sinal público que passou --por exemplo-- a demissão de Carlos Lessa, independente das razões que possa haver, é que o governo entendeu o resultado da eleição e ao invés de ir pra onde precisa ir, começou a ir para o outro lado. É essa reflexão que eu acho que o DN deveria fazer”.



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