domingo, 25 de setembro de 2011

Ataque em dois flancos (resposta a Mauro Iasi)

No final de 2007, escrevi um artigo (“Debilóides & descerebrados”, na www.pt.org.br) criticando Clóvis Rossi. Mauro Iasi replicou meu texto. Abaixo, minha resposta a Mauro Iasi e também o texto dele.



A vida é mesmo dura, com certeza para nós petistas, que precisamos defender o flanco direito contra a oposição conservadora, a intelectualidade tucana e parte do próprio governo federal; e o flanco esquerdo, contra a guerra de guerrilhas do PSOL, do PSTU, do PCB, da Consulta Popular, bem como da intelectualidade ligada a certos movimentos sociais e partidos amigos.

A vida é tão dura, a gente torce tanto por um refresco, que às vezes acaba vendo miragens. Foi o meu caso, quando recebi o artigo do Mauro Iasi: cheguei a pensar que fosse um reforço à minha crítica ao Clóvis Rossi (“Debilóides & descerebrados”, na www.pt.org.br).

Quanta ilusão! Logo depois do primeiro parágrafo, o que Iasi faz é atacar minhas posições, pelo flanco esquerdo, of course.

Aliás, lendo com mais atenção, no primeiro parágrafo há mais piada que piedade. Segundo Iasi, cabe prestar solidariedade "com todo mundo de esquerda que tem a dificuldade em explicar as contradições de um governo como o de Lula".

Cá entre nós, eu não sinto a menor dificuldade em "explicar" as contradições do governo Lula. Quem tem "dificuldade" são aqueles que tentam qualificar este governo, a seco, como "de esquerda" ou "de direita".

Se "dificuldade" existe, está em "conviver" com estas contradições. Mas, longe deste ser um problema apenas para o PT, estas contradições constituem um problema para toda a esquerda brasileira. Se muita gente de esquerda continua petista, entre outros motivos, é porque estamos convencidos de que, agindo assim, ajudamos mais a enfrentar e superar estas contradições.

De toda forma, fico contente em ainda ser considerado de esquerda (pelo menos, por enquanto) pelo Mauro Iasi, valoroso intelectual que saiu recentemente do PT, hoje militando no PCB, tendo sido candidato a vice-governador paulista na chapa de Plínio de Arruda Sampaio. Dito isto, vamos ao combate.

A tese fundamental de Mauro Iasi é a seguinte: o PT é um “partido de centro”, que apóia um “governo de centro-direita”, que executa um programa de “direita”.

Segundo ele, “existem setores de esquerda hoje no Partido dos Trabalhadores, pessoas e correntes que resistem ao endireitamento da legenda pela sucessiva hegemonia de um núcleo dirigente que, este sim, deixou de ser de esquerda”.

Ato contínuo, Iasi começa a falar do governo Lula. Equívoco presente em 9 de cada 10 críticos do PT, que qualificam o Partido em relação direta com os feitos do governo Lula.

Para Iasi, um “governo de aliança, partidária e social, com o centro e a direita” não pode ser considerado de “centro-esquerda”. Segundo ele, podemos afirmar, “de maneira absolutamente objetiva”, que estamos diante de um “governo de centro-direita”.

As bases “absolutamente objetivas” deste raciocínio não são tão óbvias quanto faz crer Iasi.

Afinal, o fato de forças de “direita” participarem do governo não o transforma em centro-direita. Para isto é preciso que o peso das forças de direita supere, na ação concreta do governo, o peso das forças de esquerda.

Para sustentar “de maneira absolutamente objetiva” a conclusão de que o governo é de centro-direita, Iasi precisa demonstrar que o PT é de centro: “o pólo que daria contornos de esquerda ao governo, o PT (....), dirige e coesiona todo o projeto tendo por base um programa conservador e moderado, ocupando, na dura realidade dos fatos, o papel de centro e não de esquerda”.

Portanto, “se a força que deveria ser de esquerda, age como centro, o resultado é um governo de ‘centro-direita’.”

O problema desta argumentação toda é que ela parte de dois pressupostos errados. Primeiro, acreditar que o PT “dirige e coesiona todo o projeto”. Segundo, achar que o PT tem um programa conservador e moderado.

Os fatos, ditos de maneira bem simples e direta, são os seguintes: a) o PT não dirige o governo Lula; b) o programa do PT não é a “Carta aos brasileiros”.

Iasi estaria mais perto da verdade se falasse o seguinte: o PT está perdendo espaço num governo que ajudou a eleger. Esta perda de espaço se traduz tanto em distanciamento entre o programa do Partido e o programa do governo; quanto no fato do PT não ter influência na condução política do governo. Se o PT está perdendo espaço no governo, logo a esquerda está perdendo espaço no governo, logo o governo está deixando de ser de centro-esquerda e está se tornando de centro.

Curiosamente, Iasi não argumenta isto. O motivo é simples: seu alvo não é criticar o governo Lula. Seu alvo é criticar o PT. Ele não aceita que o PT seja de esquerda. Neste particular, ele está mais próximo de Clóvis Rossi do que gostaria.

Iasi chega a argumentar que, se o PT fosse de esquerda, seria possível (no sentido de aceitável) que o partido apoiasse “um governo de centro-direita, como mediação possível dentro de uma dinâmica maior da luta de classes.”

Se entendi o raciocínio, a coisa seria assim: se fosse um partido de esquerda, seria aceitável que o PT participasse de um governo de centro-direita, contrapondo-se a extrema direita (no caso, tucanos e pefelistas). Mas como o PT não é de esquerda, o raciocínio não vale!!!

Tendo em vista as relações entre o PCB e o PCdoB, o raciocínio de Mauro Iasi é bastante conveniente. Afinal, serve como justificativa para a presença dos comunistas do Brasil no governo Lula, ao mesmo tempo que liquida o papel dos petistas.

[Para sustentar esta linha de argumentação, Mauro Iasi desenvolve uma argumentação que, salvo engano meu, contém um erro de digitação. Ele diz que o PT “ocupa o papel, na formação do governo e na definição da linha geral da estratégia a ser seguida, da força menos conservadora”. Por tudo o que ele diz, antes e depois deste parágrafo, me parece que ele quis escrever “força mais conservadora”, que “ao apostar numa inflexão ao centro e depois à direita, (...) desarmou os setores sociais e os trabalhadores e circunscreveu o debate entre duas alternativas moderadas, na verdade de centro e de direita”.]

Mas o que seria um partido de... centro?

Segundo Mauro Iasi, “enquanto a política de direita é a expressão dos interesses do grande capital monopolista na manutenção das relações capitalistas de produção, o proletariado necessita superar as relações do capital na perspectiva de uma nova forma social. O centro é a expressão da pequena burguesia, que lamenta o antagonismo e luta para transformar em harmonia a relação conflituosa entre capital e trabalho”.

Esta definição contém várias verdades, mas ela é globalmente falsa, entre outros motivos porque tira dos conceitos de “esquerda”, “centro” e “direita”, seu caráter histórico, relativo e político.

A sociedade capitalista brasileira não é composta apenas de “grande capital monopolista”, “proletariado” e “pequena burguesia”. Portanto, mesmo que a definição de Mauro fosse correta em abstrato, ela não dá conta da realidade brasileira.

Segundo, uma mesma classe social possui diferentes frações, que se expressam através de políticas distintas. Existem partidos burgueses, pequeno-burgueses e proletários de direita, centro e esquerda. Existem partidos proletários reformistas e partidos proletários revolucionários. E, em muitas situações históricas, é possível ser reformista e de esquerda.

Não há equivalência direta entre posição política e classe social. Mesmo que o PT fosse um partido de centro, ele poderia expressar os interesses do proletariado realmente existente. Ele poderia ser a expressão da pequena-burguesia e ainda assim ser de esquerda. E pode ser de esquerda, mesmo que prevaleçam, no seu interior, posições de classe pequeno-burguesas.

Não é correto dizer, como diz Mauro, que só é de esquerda quem defende a “superação das relações do capital na perspectiva de uma nova forma social”. Quem luta pelo socialismo e pela revolução está, ao menos em tese, à esquerda de quem acredita na reforma do capitalismo. Mas dependendo da situação histórica, reformistas e revolucionários, socialistas e social-democratas, podem estar na esquerda.

Nos períodos não-revolucionários da luta de classes, que constituem a maior parte do tempo, o critério para definir quem pertence ou não à esquerda não pode ser a simples defesa ou não da revolução. É preciso avaliar a estratégia, o programa, as táticas, as políticas de organização e sua relação com a classe trabalhadora real (que, infelizmente, hoje anda muito longe de defender a superação “das relações do capital na perspectiva de uma nova forma social”).

A definição adotada por Mauro Iasi desconhece um fato prático: grande parte da classe trabalhadora brasileira pensa e atua nos marcos do que ele define como “centro”. Ou seja, parte do proletariado realmente existente “lamenta o antagonismo e luta para transformar em harmonia a relação conflituosa entre capital e trabalho”.

Portanto, se Mauro Iasi estiver certo, não é apenas o PT quem assume posições de “centro”, é a maior parte da classe trabalhadora brasileira. Restando, naquilo que ele chama de esquerda, apenas grupos e setores minoritários.

Eis aí, de novo, uma identidade entre Mauro Iasi e Clóvis Rossi. Para ambos, a esquerda seria algo bem pequeno. Do jeito que a direita gosta, eu acrescentaria.

O problema principal deste “modelo de análise” é que ele não ajuda a entender qual o “papel político” que o PT “acaba por desempenhar na correlação de forças da atual dinâmica da luta de classes no Brasil”. Por exemplo: se o PT é de centro e o governo de centro-direita, por qual motivo sofre tanta oposição do PSDB-PFL? Ou ainda: se o PT é de centro, porque exatamente quando o governo segue em direção ao centro, o PT perde espaço no seu interior?

O problema de Mauro Iasi é que ele tem uma tese: o PT não é de esquerda. Logo, a realidade tem que se encaixar neste modelo. Um exemplo disto é sua “análise” sobre o Congresso do PT: “avaliando por este ângulo, a luta interna ao PT, entre setores de direita que hoje são hegemônicos e os resultados da escolha de delegados para o Congresso confirma tal hegemonia, e os setores de esquerda que ainda resistem, é uma síntese ao centro. Um centro, infelizmente, moderado e pequeno burguês”.

Realmente, o Congresso do PT adotará resoluções “ao centro”. Mas ao “centro” em relação à disputa interna do PT, não “ao centro” em relação à disputa que se trava no governo ou com a oposição tucano-pefelista. Um exemplo disto é o renascimento do debate, no interior do PT, sobre o socialismo. Ou a defesa da Constituinte exclusiva. Ou a aprovação unânime, pela etapa paulista do Congresso do PT, do apoio ao Plebiscito da Vale. Ou a defesa de uma candidatura petista em 2010.

Ao final do seu artigo, Mauro Iasi diz que o fundamental é “responder a seguinte pergunta: a estratégia em curso fortalece a esquerda contra a direita? Caso a resposta seja afirmativa, Valter tem razão e a mediação possível seria apoiar o governo Lula. Infelizmente, estou convencido que não. A atual estratégia deixou de ter um horizonte ainda que vagamente socialista, e foi substituída por uma estratégia de governo que privilegia o controle da máquina e de espaços institucionais que tem por objetivo máximo a manutenção destes mesmos espaços, ainda que o preço seja ao final garantir os interesses do grande capital contra os trabalhadores”.

É novamente curioso como Mauro volta e meia se encontra com afirmações semelhantes às de Clóvis Rossi. Dizer que a estratégia do PT “privilegia o controle da máquina e de espaços institucionais que tem por objetivo máximo a manutenção destes mesmos espaços, ainda que o preço seja ao final garantir os interesses do grande capital contra os trabalhadores”, lembra muito o discurso da direita sobre a postura “aparelhista” do PT.

Para entender melhor o PT, Mauro só precisa olhar melhor a história do PCB.

É na tradição do "Partidão" que podemos encontrar antecedentes da postura adotada pelas tendências do PT que aderiram, desde 1995, a uma estratégia reformista e de aliança com setores do grande capital.

A vida está mostrando qual o custo prático desta estratégia, que não viabiliza as grandes reformas nem (apesar dos lucros) consegue ganhar o apoio do grande capital, além de destruir pouco a pouco o próprio Partido.

Acontece que a maioria da esquerda brasileira (e não apenas o PT) organizou sua estratégia em torno da disputa presidencial, na prática em torno do “Lula presidente”. É por isto que, como admite de má vontade Mauro Iasi, o fracasso do governo Lula “só pode fortalecer a direita”. Por isto também que o “aparente sucesso” não abre caminho para governos mais à esquerda. Afinal, Lula pode terminar seu governo com alta popularidade e mesmo assim o PSDB pode reconquistar a presidência em 2010.

Por isso, a verdadeira pergunta não é “até quando é possível ser de esquerda em um partido de centro, que apóia um governo de centro-direita que executa um programa de direita”. Uma das muitas "verdadeiras" perguntas é: o que deve fazer um partido de esquerda para que um governo de centro-esquerda seja sucedido por um governo que seja, pelo menos, de esquerda-centro?

Isso dependerá, em grande medida, de “organizar a classe trabalhadora para que ela volte à cena política com autonomia e na defesa de seu próprio projeto histórico”. Nisto estamos de acordo com Mauro Iasi. Mas será muito difícil fazer isto, ao menos nesta quadra histórica, sem o PT e muito menos contra o PT. É nisto que estou em total desacordo com Iasi.

Valter Pomar




xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 

Vaias, esquerda e direita.

A vida é dura. A resposta de Valter Pomar ao colunista Clovis Rossi, merece alguns comentários. Primeiro o dever de solidariedade com todo mundo de esquerda que tem a dificuldade em explicar as contradições de um governo como o de Lula, segundo contra o verdadeiro reino da opinião em que se transformou o que deveria ser jornalismo.

            Feito isto vamos aos fundamentos do debate: o PT pode ser considerado, hoje, um partido de esquerda? Comecemos por afirmar que existem setores de esquerda hoje no Partido dos Trabalhadores, pessoas e correntes que resistem ao endireitamento da legenda pela sucessiva hegemonia de um núcleo dirigente que, este sim, deixou de ser de esquerda.

            A posição de esquerda ou direita (deveríamos nós acrescentar que existe o centro), foi duramente questionada pela academia e pelo pensamento pós-moderno, que afirma, como em Guiddens, por exemplo, que esta polaridade não mais caberia em uma sociedade pós-industrial e com o enfraquecimento das classes como determinantes nas formações sociais contemporêneas. Sabemos que isso não corresponde aos fatos e a dinâmica da luta de classes continua tão ativa como a necessidade de definir o posicionamento político das organizações como de direita ou de esquerda.

            Nesse sentido, o resumo de Valter é preciso até certo ponto: “o governo Lula é de coalizão partidária (entre partidos de esquerda, centro e direita) e social (entre setores da classe trabalhadora e setores do empresariado). Não é, portanto, um governo petista ou de esquerda, pelo menos não no sentido que emprestávamos a este termo nos anos 80, quando falávamos de "governo democrático-popular”. A questão seria, conforme Valter, se seria legitimo um partido de esquerda apoiar tal formação de governo.

            A confusão começa quando se caracteriza o governo Lula como sendo de “centro-esquerda”. Ora, um governo de aliança, partidária e social, com o centro e a direita, não pode ser considerada de “centro esquerda”, mas se aproxima mais do desejo, aliás expresso nas resoluções do 12º Encontro, de uma ampla frente de unidade nacional, que pega tudo, desde setores empresariais de qualquer porte, até setores sociais do proletariado passando pelos setores médios.

            Podemos afirmar, de maneira absolutamente objetiva, que estamos diante de um governo de centro-direita. O pólo que daria contornos de esquerda ao governo, o PT (aqui como síntese da correlação de forças que se resolve por uma hegemonia à direita), dirige e coesiona todo o projeto tendo por base um programa conservador e moderado, ocupando, na dura realidade dos fatos, o papel de centro e não de esquerda. Ora se a força que deveria ser de esquerda, age como centro, o resultado é um governo de “centro-direita”.

            Continuemos, no entanto, considerando válida a formulação: pode uma força de esquerda apoiar um governo de centro direita, como mediação possível dentro de uma dinâmica maior da luta de classes? Logicamente que sim. Mas, ocorre que não é o caso.

            Primeiro porque a “esquerda” não se coloca como atônita diante de um quadro de forças em que é obrigada a apoiar uma força menos conservadora contra outra, mais conservadora. O PT ocupa o papel, na formação do governo e na definição da linha geral da estratégia a ser seguida, da força menos conservadora. Uma opção de caminho que, como sabe a esquerda do PT, não era, em absoluto, a única. Ao fazer um governo verdadeiramente de centro-esquerda, o PT poderia forçar um outro quadro de correlação de forças, impondo aos demais setores sociais a equação de alinhar-se a uma alternativa à esquerda contra uma reação de direita. O que ocorreu não foi isto, ao apostar numa inflexão ao centro e depois à direita, OPT desarmou os setores sociais e os trabalhadores e circunscreveu o debate entre duas alternativas moderadas, na verdade de centro e de direita.

            Segundo, pelo fato que as alcunhas de esquerda, centro e direita, não devem ser manifestações de desejos e boas intenções, mas são expressões de posições de classe, isto é, não do que esta ou aquela classe, ou indivíduo que a compõe acredita em cada momento, mas como dizia Lucáks, o que representa o horizonte histórico de cada classe. Enquanto a política de direita é a expressão dos interesses do grande capital monopolista na manutenção das relações capitalistas de produção, o proletariado necessita superar as relações do capital na perspectiva de uma nova forma social. O centro é a expressão da pequena burguesia, que lamenta o antagonismo e luta para transformar em harmonia a relação conflituosa entre capital e trabalho.

            Como vemos, não se trata de como devemos chamar o PT, ou como seus integrantes gostariam de ser chamados, mas qual papel político tal agremiação acaba por desempenhar na correlação de forças da atual dinâmica da luta de classes no Brasil. Avaliando por este ângulo, a luta interna ao PT, entre setores de direita que hoje são hegemônicos e os resultados da escolha de delegados para o Congresso confirma tal hegemonia, e os setores de esquerda que ainda resistem, é uma síntese ao centro. Um centro, infelizmente, moderado e pequeno burguês.

            Quando passamos para a correlação de forças no governo o massacre é ainda pior. Como o próprio Valter afirma, no “governo de coalizão” a parte do PT que se faz presente é a direita partidária, que se alia a setores claramente de direita (na base de sustentação parlamentar e na própria composição de governo) levando a um resultado conhecido por todos: os grandes interesses históricos e imediatos a serem garantidos, são os do grande capital monopolista.

            O fundamental para solucionar este dilema, torna-se, portanto, responder a seguinte pergunta: a estratégia em curso fortalece a esquerda contra a direita? Caso a resposta seja afirmativa, Valter tem razão e a mediação possível seria apoiar o governo Lula. Infelizmente, estou convencido que não. A atual estratégia deixou de ter um horizonte ainda que vagamente socialista, e foi substituída por uma estratégia de governo que privilegia o controle da máquina e de espaços institucionais que tem por objetivo máximo a manutenção destes mesmos espaços, ainda que o preço seja ao final garantir os interesses do grande capital contra os trabalhadores.

            O fracasso do que poderia ser um governo de centro esquerda, mas não foi, só pode fortalecer a direita. O resultado prático do aparente sucesso do governo Lula (sua vitória para um segundo mandato, sua popularidade, etc) não abre caminho para governos mais à esquerda, mas limita o debate político entre alternativas conservadoras, expulsando do debate alternativas reais de esquerda, urgentes e inadiáveis para o Brasil, engolidas pelo pragmatismo reinante da política do “possível”.

            A verdadeira pergunta então seria: até quando é possível ser de esquerda em um partido de centro, que apóia um governo de centro direita que executa um programa de direita?

            A mediação real pode estar em outra parte. Como organizar a classe trabalhadora para que ela volte a cena política com autonomia e na defesa de seu próprio projeto histórico e não apenas como base amorfa e inercial de apoio a um projeto que não é o seu?

Um abraço

Mauro Iasi

Nenhum comentário:

Postar um comentário