terça-feira, 9 de abril de 2024

Roteiro de exposição na China

Segue o roteiro da exposição que fiz no VII Seminário teórico entre  

Partido Comunista da China e o Partido dos Trabalhadores do Brasil.

O seminário ocorreu no dia 8 de abril de 2024, sob o título "Reforçar a 
Construção de Partido no Poder e Explorar o Caminho de Modernização”.

Também fizeram exposições neste seminário, além dos chineses, a 
presidenta Gleisi Hoffmann, o secretário de relações internacionais do 
PT Romênio Pereira, a secretária executiva do Foro de São Paulo Monica 
Valente.

Segue o roteiro da minha exposição.

Cabe a mim falar sobre a “Exploração de caminho de modernização conforme 
às próprias realidades de país”.
Começo lembrando que a sociedade brasileira nasceu dependente das 
potências metropolitanas da época, especialmente Portugal e Inglaterra.
Desde então e até hoje, o Brasil foi e segue sendo uma das sociedades 
mais desiguais do mundo.
Para preservar esta desigualdade, a classe dominante brasileira sempre 
fez de tudo para impedir que a maioria do povo tivesse acesso à 
democracia.
Outra característica do Brasil é que nosso desenvolvimento é sempre 
inferior às nossas possibilidades.
Toda vez que o Brasil começa a se desenvolver, algo acontece e a roda da 
história nada para trás.
Como diz um ditado popular, somos o país do futuro, mas o futuro nunca 
chega.
Para ser mais preciso, na maior parte da história do Brasil nós tivemos 
crescimento, tivemos modernização, mas não tivemos desenvolvimento.
No Brasil costumamos falar de “modernização conservadora”, ou seja, uma 
modernização que conserva a riqueza dos que já são ricos e o poder dos 
que já têm poder.
Quando falamos de desenvolvimento, falamos não apenas de crescimento, 
não apenas de acumulação de riquezas materiais.
Quando falamos de desenvolvimento, falamos da criação das condições para 
a nossa sobrevivência no longo prazo.
Condições econômicas, sociais, culturais, ambientais, políticas.
Falamos de criar estas condições em escala planetária, em escala de 
humanidade, em escala de civilização, em escala de modo de produção e 
reprodução da vida.
Nesta escala mais ampla, falar em desenvolvimento é falar das forças 
produtivas de toda a humanidade.
Se nós do Brasil quisermos contribuir positivamente para o futuro da 
humanidade, precisaremos dar um salto de qualidade em relação a situação 
atual.
E para isso teremos que fazer um imenso esforço produtivo e tecnológico, 
cultural e político, para transformar as condições materiais e 
espirituais de vida de nossa população.
Se trata de elevar a capacidade produtiva da sociedade como um todo e se 
trata, também, de elevar a capacidade produtiva individual de cada um 
dos brasileiros e brasileiras.
Um primeiro passo foi dado em 2022, quando reconquistamos a presidência 
da República, derrotando a extrema-direita neoliberal.
A vitória de Lula impediu Bolsonaro de continuar na presidência.
Mas a vitória na eleição presidencial não basta. Há inúmeras tarefas 
pela frente.
Hoje, a economia brasileira possui dois grandes pilares: a especulação 
financeira e a exportação de produtos primários (minerais, vegetais e 
proteína animal).
Hoje quem domina a economia brasileira é o agronegócio, a mineração, o 
capital financeiro e o capital transnacional.
Um de nossos desafios é mudar esta situação.
Mudando esta situação, mudaremos as bases estruturais nas quais repousa 
a distribuição de propriedade, riqueza e poder em nossa sociedade.
Uma questão central a ser resolvida, insuficiente em si mesma, mas sem a 
qual as demais não terão solução a contento, é a reindustrialização do 
Brasil.
Em 1980, nosso país estava se convertendo em uma grande potência 
industrial.
Desde então, tivemos a crise da dívida externa e vários governos 
neoliberais.
Como resultado disto, desde 1980 o Brasil veio se desindustrializando 
fortemente.
Isso começou a mudar nos governos Lula e Dilma (entre janeiro de 2003 e 
agosto 2016), que  manifestaram a disposição de colocar um freio e até 
de tentar reverter o processo de desindustrialização.
Mas aí tivemos o ciclo golpista iniciado no impeachment de 2016 e 
continuado com os governos de Temer e Bolsonaro (agosto de 2016 a 
dezembro de 2022).
Como resultado disto, o Brasil involuiu. Deixamos de ser uma quase 
potência industrial e viramos uma subpotência agroexportadora e 
minério-exportadora.
Além de prosseguirmos sendo um paraíso para o capital financeiro 
especulativo.
A “desindustrialização” iniciada em 1980 foi uma verdadeira ponte para o 
passado, que nos levou a experimentar hoje, no ano de 2024, uma situação 
similar, mas pior, àquela situação vivida no Brasil, na década de 1920, 
um século atrás.
A desindustrialização mudou a composição da classe dominante, mudou a 
composição e as condições de vida da classe trabalhadora, mudou o 
ambiente político e cultural no Brasil, mudou a relação do Brasil com o 
mundo.
Foi nesse ambiente de desindustrialização que os neoliberais atuaram e 
seguem atuando.
Foi em reação a esse ambiente de desindustrialização, que a esquerda 
encabeçada pelo PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas (2002, 
2006, 2010 e 2014) e voltou a ganhar, novamente, em 2022.

Foi também nesse ambiente de desindustrialização que os neofascistas 
cresceram e seguem ameaçando.
Por todos estes motivos, um dos principais desafios estratégicos do 
governo Lula é servir de ponto de partida para uma “transição”: sair da 
condição atual, de subpotência agro-minério-exportadora & rentista, e 
passarmos a ser uma potência industrial.
Mas uma potência industrial de novo tipo.
Por novo tipo, queremos falar tanto de uma capacidade científica, 
tecnológica e industrial padrão século 21, quanto queremos falar de uma 
relação totalmente diferente com a classe trabalhadora, com o meio 
ambiente e com o mundo.
Achamos que a atual situação mundial é, apesar de seus perigos, propícia 
para as mudanças e transformações que queremos fazer.
A atual situação mundial é marcada pelos desdobramentos da crise de 
2008, pela pandemia da Covid 19, pelo agravamento da situação ambiental, 
pela ascensão da República Popular da China, pela guerra da Rússia 
contra a aliança Ucrânia/OTAN e, destacadamente, pelas tentativas que os 
Estados Unidos fazem no sentido de reverter seu declínio enquanto 
potência hegemônica.
O declínio dos Estados Unidos abre uma janela para que o Brasil e outros 
países possam mudar o mundo e mudar o nosso lugar no mundo.
Adotar como objetivo central a reindustrialização nacional tem 
implicações em nossa política externa. Por exemplo, em nossa relação com 
a Europa. A Europa demonstrou, na segunda onda da crise de 2008 e agora 
na Guerra da Ucrânia, sua submissão aos interesses estratégicos dos 
Estados Unidos.
Por outro lado, na relação econômica com o Brasil e com a região, parte 
das nações que integram a União Europeia insistem em firmar acordos que, 
se fossem aceitos, acabariam reforçando a nossa condição 
primário-exportadora.
Quanto aos Estados Unidos, estes já demonstraram sua disposição de fazer 
de tudo – sabotagem, golpes, lawfare, guerras, cooptação, fábricas de 
fakenews – para prejudicar a integração regional latino-americana e 
caribenha.
E nós consideramos que a integração regional da América Latina e Caribe 
é parte essencial de nosso projeto de reindustrialização.
Portanto, fazer do Brasil um polo mundial industrial, científico e 
tecnológico entra em choque com as ambições e interesses dos Estados 
Unidos e da União Europeia.
Mas entra em choque, também, com a classe dominante brasileira.
A classe dominante brasileira, o empresariado capitalista, já demonstrou 
inúmeras vezes que está dominado pelos rentistas da especulação 
financeira, pela turma do agronegócio e pelas potências estrangeiras.
Se depender dos capitalistas brasileiros, nosso país continuará 
subalterno e subdesenvolvido.
Portanto, a reindustrialização do Brasil depende essencialmente da 
classe trabalhadora.
Só a classe trabalhadora tem interesse em promover mudanças estruturais 
na sociedade brasileira.
Só a classe trabalhadora está disposta a lutar para que deixemos de ser 
uma economia primário-exportadora e controlada pelo capital financeiro.
Só a classe trabalhadora tem interesse em vincular a reindustrialização 
com a redução das desigualdades sociais, culturais e ambientais.
Por tudo isso é que dizemos que, do ponto de vista estratégico, 
programático e histórico, cabe ao governo Lula a missão de desencadear 
um ciclo de desenvolvimento sustentável que reindustrialize o país, que 
amplie o bem-estar social da maioria do povo, que amplie as liberdades 
democráticas, que proteja nossa  soberania nacional, fazendo tudo isso 
de forma combinada com a integração regional.
Para dar conta destas tarefas, precisaremos entre outras coisas de mais 
estado e mais empresas estatais.
Precisamos que o Estado brasileiro amplie substancialmente o 
investimento público em apoio ao desenvolvimento da indústria brasileira 
e em apoio ao desenvolvimento científico-tecnológico.
Precisamos que o Estado brasileiro adote fortes políticas de ampliação 
do bem-estar social.
Precisamos superar a política monetária adotada, hoje, pela direção do 
Banco Central brasileiro.
O Banco Central brasileiro mantém, há bastante tempo, a maior taxa de 
juros reais do planeta.
Entre outros motivos, isso acontece porque o presidente e parte 
majoritária da diretoria do Banco Central brasileiro foi nomeada pelo 
presidente anterior, foi nomeada por Jair Bolsonaro.
Só em 2025 o presidente Lula poderá nomear um novo presidente do Banco 
Central.
Cabe ao Estado, ainda, coordenar o investimento estrangeiro e nacional, 
o investimento privado e público, a grande e a pequena e média empresas.
Apenas com o protagonismo do Estado, será possível combinar 
desenvolvimento econômico com ampliação do bem estar social.
Em outras palavras, um desenvolvimento democrático e popular só será 
alcançado com protagonismo do Estado.
Protagonismo de um Estado de novo tipo.
Afinal, o atual Estado brasileiro não está à altura das tarefas que 
temos pela frente.
Nos países em que o capitalismo se desenvolveu exitosamente, ainda no 
século XIX (desde a Inglaterra até os Estados Unidos, passando por 
Alemanha e Japão), nos países chamados de "imperialistas", nesses países 
o papel do Estado também foi muito importante.
Mas o Estado foi e segue sendo decisivo, nesses países, essencialmente 
para proteger as empresas privadas e os interesses dos grandes 
capitalistas.
Já nos países que foram colônias, nos países chamados de atrasados, de 
dependentes ou de periferia, o papel do Estado é ainda mais 
indispensável, mas no sentido de proteger os interesses da maioria do 
povo.
Cumprem um papel importante, também, as empresas estatais.
Não haverá como superar o atraso em relação aos países economicamente 
avançados, nem haverá como enfrentar a "concorrência" do imperialismo, 
sem Estado e sem empresas estatais.
Os capitalistas privados brasileiros não conseguem, não podem, não 
querem e não vão cumprir um papel de liderança no desenvolvimento do 
Brasil.
Por isso, não haverá soberania nacional, bem-estar social, liberdades 
democráticas e desenvolvimento enquanto a classe trabalhadora brasileira 
não controlar as principais alavancas do poder (poder político, 
cultural, econômico, militar) e usar estas alavancas para mudar 
estruturalmente nossa sociedade.
Está aí a China para demonstrar o papel que o Estado joga no 
desenvolvimento acelerado, na ampliação do bem-estar social e na 
transformação da periferia em centro.
Sabemos que os Estados Unidos não têm interesse no desenvolvimento do 
Brasil.
Motivo pelo qual o Brasil precisa ter capacidade de defender sua 
soberania.
Defender a soberania depende, em primeiro lugar, das condições de vida 
que o Brasil oferece a seus cidadãos.
Claro que as pessoas podem se mobilizar e se sacrificar por outras 
motivações.
Mas no longo prazo, se queremos que a população brasileira defenda a 
soberania, precisamos garantir o máximo possível de igualdade social.
Em segundo lugar, a capacidade de defesa depende da economia.
Em poucas palavras: oficinas e laboratórios, indústria e tecnologia.
Em terceiro lugar, a capacidade de defesa depende da democracia, no 
sentido mais profundo da palavra.
Precisamos de uma política estruturada de maneira a fazer valer o ponto 
de vista da maioria do povo.
Em quarto lugar, a capacidade de defesa depende da vizinhança: quanto 
mais integração regional, mais soberania.
Finalmente, a soberania depende de Forças Armadas que estejam a serviço 
do povo e não a serviço dos Estados Unidos.
Para terminar, repito que nós do Brasil estamos diante de uma equação 
política e econômica muito complexa.
Esperamos ter a ajuda dos nossos amigos chineses nesse esforço, 
inclusive no esforço de superar nossa atual condição 
primário-exportadora.
Vale dizer que o exemplo chinês já nos é muito útil, pois demonstra tudo 
que se pode conseguir, quando se tem uma noção clara sobre o longo 
prazo, vontade política, persistência, capacidade de gestão, esforço 
coletivo e esforço individual.
Evidentemente, nada disto teria ocorrido sem a Revolução.
Sem a Revolução, sem o Partido Comunista e sem a disposição de luta do 
povo chinês, a China não seria o que é hoje.
Viva os 40 anos de relações entre o PT e o PC.
Viva os 50 anos de relação entre o Brasil e a República Popular.

2 comentários:

  1. Valter, a editora Caminho Luminoso editou as obras do Pedro Pomar. Vc poderia ajudar? São jovens trabalhadores.

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  2. https://www.instagram.com/p/C4vTUJ8OZdq/?img_index=1

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