Segunda versão, agradecemos comentários e emendas.
Proposta
de resolução sobre situação política, para debate na reunião de 7 de abril da executiva
nacional da tendência petista Articulação de Esquerda.
SEM REVISÃO
#
O
tempo corre contra nós
Golpistas
fazem grande manifestação no dia 25 de fevereiro. De maneira oficiosa, governo
cancela atividades oficiais para marcar 60 anos do golpe militar de 1964. Fracasso
de público nas manifestações da esquerda no dia 23 de março. Pesquisas indicam
queda de popularidade do governo. Prognósticos apontam que esquerda deve ter
resultado fraco nas eleições municipais de 2024.
Pelos
motivos acima resumidos, consideramos necessário mudar imediatamente a linha
política adotada pelo governo e pelo Partido. Outros setores do Partido pensam
o mesmo, mas não existe consenso sobre o que deve mudar.
Muitos
apontam que há um problema de comunicação. Concordamos em parte com isso. A
comunicação do governo e a comunicação do Partido precisam mudar. Mas, para que
essa mudança produza efeitos, é preciso que haja mudanças na prática do governo
e na prática do partido.
Muitos
apontam que há problemas de coordenação. Concordamos em parte com isso. É
evidente que a coordenação política do governo, ou não existe, ou funciona
muito mal. É evidente, também, que o Partido não tem uma direção coletiva. Mas se
a coordenação funcionasse, tanto no governo quanto no partido, ainda assim
restaria por resolver um problema de linha política.
Qual
é a linha do Partido, desde pelo menos 2022? A linha é a de derrotar a
extrema-direita. Em nome desse objetivo, disputamos a eleição presidencial em
aliança com setores da direita. Uma vez no governo, incluímos no governo mais
setores da direita, inclusive gente que ontem apoiava o governo cavernícola.
Aliás, até hoje há bolsonaristas ocupando posições de comando em diversas áreas
do governo.
Ganhamos
a eleição presidencial, no segundo turno, com uma diferença de 2 milhões de
votos. Há quem diga que só ganhamos graças às alianças. Há quem diga que a
diferença foi pequena exatamente devido às alianças, ou seja, que uma campanha
pela esquerda poderia ter alcançado melhor resultado. Mas não há controvérsias
acerca de que fomos derrotados na eleição para o Congresso.
Fomos
derrotados, apoiamos a reeleição de Arthur Lira e de Pacheco e seguimos desde
então uma tática que, na prática, não tem sido eficaz para impedir a adoção de
um “semi-parlamentarismo estilo Centrão”.
Também
não há controvérsia de que fomos derrotados, na maioria dos estados, na eleição
para governadores. E ali onde somos oposição, há vários casos em que não temos conseguido
fazer uma oposição eficaz.
Frente
a esta correlação de forças institucional negativa, uma das “táticas” adotadas
tem sido a de buscar uma aliança com o Supremo. Esta aliança com o Supremo teve
como principal resultado, até agora, as investigações e os processos contra os
golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Durante
muitos meses, essas investigações e processos atingiram mais bagrinhos do que
graúdos, além de em alguns casos adotarem métodos que criticamos (como é o caso
das decisões diretas pelo Supremo, sem respeitar as várias instâncias que
exigimos nos processos feitos contra nós). Entretanto, o fato é que – antes do
carnaval de 2024 – as investigações finalmente bateram na porta da família do
Cavernícola e de alguns oficiais graduados das forças armadas.
A
reação da extrema-direita a essa pressão foi convocar o já citado ato de 25 de
fevereiro de 2024. O ato foi uma demonstração de força, estabeleceu a narrativa
da “perseguição judicial” e dois objetivos políticos: ganhar as eleições de
2024 e anistia para Bolsonaro poder concorrer em 2026. Logo em seguida ao ato,
saíram as tais pesquisas que mostram um declínio no apoio popular ao governo
federal e a Lula.
Frente
a isso, o Partido se dividiu. Uma parte defendeu convocar mobilizações, outra
parte defendeu um recuo. Na prática, o que prevaleceu o recuo.
Por
um lado, o governo cancelou oficiosamente as atividades previstas para marcar
os 60 anos do golpe de 1964. De outro lado, as manifestações de 23 de março
foram uma enorme manifestação de fraqueza.
Como
cereja no bolo, crescem as pressões em favor da moderação na punição dos envolvidos
na intentona golpista de 8 de janeiro de 2023. Aliás, até agora não foi
decretada a prisão preventiva do Cavernícola, apesar de sua evidente tentativa
de fugir da justiça, se abrigando numa embaixada estrangeira.
Entrementes,
parte importante da militância de esquerda concentra suas energias nos
preparativos para as eleições de 2024.
Embora
não fale em metas, o coordenador do grupo de trabalho eleitoral do PT estima
que elegeremos mais prefeituras do que as que governamos hoje. É possível que
isto ocorra, até porque hoje encabeçamos apenas 241 prefeituras (no passado, já
chegamos a mais de 600). Mas a análise política precisa levar em consideração,
também, quantas prefeituras nossos inimigos vão eleger; bem como qual a importância
eleitoral, política e econômica dessas prefeituras. Será preciso incluir na
avaliação, também, nosso desempenho na eleição de vereadores.
Evidentemente,
a situação em abril de 2024 pode se alterar muito. E devemos trabalhar para que
se altere. Mas até para que façamos isso, é preciso assumir que a situação não
é positiva. Basta dizer que nas 213 cidades onde se concentra 50% do eleitorado
brasileiro, até agora – segundo o coordenador do GTE – “temos potencial para
ter entre 89 e 125 candidaturas petistas”. Ou seja, pode ser que em 124 das 213
maiores cidades brasileiras, o eleitorado não tenha a possibilidade nem mesmo
de votar no PT.
O
mais preocupante, entretanto, é que na maioria das cidades onde lançamos
candidaturas petistas, o quadro é difícil. E a principal dificuldade é que,
para usar as palavras do presidente Lula, nossas realizações estão “aquém” do
que prometemos.
Há
no PT diferentes interpretações a esse respeito. Uma delas é que a economia vai
bem, mas uma parte do povo não se dá conta disto porque a comunicação é falha.
Outra delas é que a economia vai bem, mas uma parte do povo não se dá conta
disto por causa da polarização política.
Em
nossa opinião, a polarização é parte da explicação, a comunicação é parte da
explicação, mas o problema principal é que a economia não vai tão bem assim. E
isso acontece por causa da política de juros altos e por causa do déficit zero.
No
caso dos juros altos, trata-se de uma herança cavernícola, contra a qual não
fizemos tudo o que podíamos fazer (pois o governo poderia ter forçado a
demissão do presidente do BC, assim como poderíamos ter mantido a crítica
pública aos juros altos num tom mais alto).
No
caso do déficit zero, trata-se de uma opção errada feita por nosso governo. Pois,
embora haja quem debite o déficit zero na conta da maioria conservadora do congresso
nacional, a verdade é que esta proposta surgiu por opção livre e soberana da
equipe econômica comandada pelo ministro Fernando Haddad.
O
que, isto sim, é de responsabilidade da maioria conservadora do congresso, é o
bloqueio contra diversas tentativas de ampliação da receita do governo, ao
mesmo tempo que privatizam o orçamento público.
Vista
de conjunto a situação, aquilo que começou como uma aliança com a direita
tradicional, em nome de derrotar a extrema-direita, pode terminar com uma
derrota frente às duas direitas. Pois estas direitas, embora também briguem
entre si, embora “marchem separadamente”, ambas golpeiam a esquerda.
Um
exemplo disto é o que está ocorrendo nas eleições de São Paulo. Trata-se de uma
batalha eleitoral decisiva, não apenas para o PT e para a esquerda, mas também
para o governo. E o que fazem Alckmin e Tebet? Alckmin apoia uma candidatura do
PSB, que tem se notabilizado por atacar a esquerda. E Tebet apoia a candidatura
de MDB, apoiada por Tarcísio e por Bolsonaro.
Em
resumo: estamos numa situação de cerco. E nossa grande questão é como romper o
cerco. No dia 25 de fevereiro, para romper o cerco, o Cavernícola mobilizou sua
base política. Uma parte do nosso Partido acredita que, como estamos no
governo, é através da ação do próprio governo que devemos romper o cerco. Acreditam,
também, que essa ação do governo não se faria através de mobilização, mas sim
através de atos administrativos. E têm fé que, nos próximos meses, as “entregas”
do governo vão produzir resultados positivos.
Adotada
esta linha, na melhor das hipóteses não sairemos do lugar. Pois é evidente que
a campanha eleitoral em si mesma tende a melhorar nossa posição. Mas também é
verdade que os efeitos da ação do governo não estão produzindo os efeitos que
gostaríamos e, frente a isso, o governo está recuando. Ou seja: adotada a linha
citada anteriormente, há um grande risco de terminarmos pior do que estamos
hoje.
Outra
parte do nosso Partido acredita que, para romper o cerco, precisamos fazer
vários movimentos, no governo, no Partido, no conjunto da esquerda. Entre esses
movimentos, estaria a mobilização de rua.
Entretanto,
desde 2013 até agora, temos tido crescentes dificuldades para mobilizar. E o
auge disto (ou o fundo do poço) foram as minúsculas mobilizações de 23 de
março. É imperioso debater por quais motivos isto ocorre. Assim, convidamos
cada militante e cada instância a refletir, no concreto, de maneira crítica,
mas também autocrítica, por quais motivos temos fracassado.
1/será
por conta da linha política predominante na esquerda brasileira, que enfatiza
as disputas eleitorais? Nos anos 1970 e 1980, a mobilização direta ocupava um
lugar mais importante do que hoje.
2/será
por conta da mudança na linha política de uma parte da direita brasileira?
Desde 2013, a extrema-direita passou a valorizar a ocupação direta das ruas.
3/será
por conta de uma perda da capacidade de convocatória de parte das organizações
da esquerda? Perda de capacidade que teria, por sua vez, relação direta com a
perda de representatividade de nossas organizações.
4/será
por conta de termos desaprendido sobre como convocar e realizar manifestações?
Achando, por exemplo, que cards são suficientes.
5/será
devido à incapacidade de definir pautas unitárias que estimulem a mobilização?
6/será
devido à postura da direção do PT, do governo e do próprio Lula, posições que
na prática são adotadas por outras forças de esquerda, inclusive as que no
passado ou até no presente fazem duras críticas ao petismo? Vale lembrar que
nosso candidato a prefeito em SP capital não compareceu no ato de 23 de março.
7/será
devido a inconsequência de uma parte da esquerda-pró-mobilização? Afinal, a
imensa maioria dos militantes de esquerda que defendem a importância
estratégica da mobilização social, simplesmente não compareceu nos atos de 23
de março e, geralmente, não fez absolutamente nada de prático no sentido de que
eles acontecessem.
8/será
devido à descrença ou falta de motivação de uma parte majoritária da classe
trabalhadora, mesmo daquela que vota na esquerda?
9/será
devido a falta de vínculo entre o que chamamos de “mobilização de rua” e as
questões cotidianas do povo, que poderiam mobilizar o povo em torno de suas
necessidades imediatas?
Para
além de debater as questões acima, é preciso discutir o que fazer em relação aos
próximos “testes” de mobilização: o primeiro de maio de 2024 e a Marcha a
Brasília convocada também para maio de 2024. Nesse sentido, perguntamos a cada
militante:
1/o
que está sendo planejado, na sua entidade, na sua categoria, na sua cidade,
acerca do primeiro de maio?
2/caso
nada tenha sido planejado até agora, que iniciativas vamos tomar nesse sentido?
3/que
ações práticas devemos realizar, no sentido de falar com o conjunto da classe,
acerca do primeiro de maio (reuniões, panfletagens, anúncios nos meios de
comunicação etc.)?
4/quais
são os temas que farão parte da convocatória e que vamos enfatizar no trabalho
de divulgação?
5/como
combinar a convocatória do primeiro de maio, com a campanha eleitoral de 2024?
Encerramos
este texto chamando a atenção para a importância da luta em defesa da Palestina.
A visita de Tarcísio e Caiado ao carniceiro Bibi é a prova de que, para a
extrema direita, os métodos genocidas estão na ordem do dia. Cabe reagir à
altura, em defesa da humanidade.
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