segunda-feira, 22 de abril de 2024

PT: divagações sobre o papel da secretaria-geral

Na China, o Estado é poderoso.

E quem está no centro do poder de Estado? 

Na China, é o Partido Comunista.

E quem dirige o Partido?

Na China, é o Comitê Central, dentro dele o Politburo, dentro do Politburo a Comissão Permanente, que tem como núcleo o secretário-geral.

O secretário-geral é o presidente da China.

Não é secretário-geral porque é presidente.

É presidente porque é secretário-geral.

Quem é o presidente do PCCh? Ninguém: na China atual, o Partido não tem presidente.

Quem é o tesoureiro do PCCh? Não sei. Deve ter, mas nunca ouvi falar.

Na esquerda brasileira, a coisa é toda muito diferente.

Aqui o presidente da República tem grande influência sobre o principal Partido da esquerda, sendo inclusive seu presidente de honra.

Aqui os partidos têm presidente, inclusive por imposição da legislação.

Aqui as pessoas que ocupam a tesouraria têm imenso poder, assumindo muitas vezes o papel de “primeiro-ministro” das direções partidárias, no que parece ser uma transposição do que ocorre em parte do movimento sindical.

Um exemplo: desde 1995, a tendência atualmente majoritária no Diretório Nacional do PT nunca abriu mão de um único cargo: a tesouraria. Todos os demais cargos já foram ocupados por pessoas de outras tendências. A tesouraria, nunca!

E a secretaria-geral? No caso do PT, José Dirceu foi o último secretário-geral ao “estilo chinês” que tivemos. Desde 1995 até hoje, todos os demais secretários-gerais tiveram que lutar muito para definir seu espaço.

Alguns tiveram mais êxito nessa luta, outros menos. 

E tem aqueles que nem lutam por isso. Vá entender, mas assim é.

Se juntarmos esse fato com o predomínio crescente, tanto das bancadas parlamentares, quanto dos governantes “por sobre” as direções partidárias, temos como resultado uma crescente estatização do Partido.

Não “o Partido mandando no Estado”, mas “o Estado mandando no Partido”. 

Dito de outro jeito e exagerando um pouco, é como se quem controlasse as verbas, controlasse o Partido. Não seria “a política no comando do dinheiro”, mas - para usar uma imagem imperfeita, mas não falsa - “o dinheiro no comando da política”. 

Ou isso muda, ou não tem como terminar bem.



2 comentários:

  1. "E a secretaria-geral? No caso do PT, José Dirceu foi o último secretário-geral ao “estilo chinês” que tivemos. "

    Roma non pereat, si romani non pereant.
    O ditado romanos nos diz que não são as instituições que garantem a qualidade das pessoas, mas o contrário.
    Isso vale pro partido chinês, soviético, cubano ou pro Timão.
    Não me pergunte o que os Estados Unidos podem fazer por você - disse aquele presidente assassinado.
    Mas o que você pode fazer pelo seu país, partido ou time.

    Pare e pense

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  2. Marx na veia! Somos produto da materialidade de nosso contexto histórico!

    Em uma realidade capitalista perversa de um país dependente e subdesenvolvido na qual quem tem dinheiro pode tudo, em que a política institucional funciona como um caminho de ascenção financeira pessoal, que cargos eletivos prescindem de uma filiação partidária, que o Partido despreza a formação teórico política (a meu ver, essencial para escapar da alienação consciencial sobre a luta de classes que estabelece essa realidade) o círculo vicioso se fecha e o prato feito é entregue à burguesia com o cardápio de "mais do mesmo" para que não seja melindrado seu paladar com mudanças!

    Partidos deixam de ser ambiente de discussão política para se transformarem em comitês eleitorais.

    O PT foi se transformando à medida que galgou mais cargos eletivos!

    Funcionando, portanto, com diretivas de cima para baixo, em que "de cima" significa os eleitos que para se perpetuarem como comandantes no partido, o aparelha com seus "apoiadores" na eleição (muitas das vezes nomeados também para um cargo público) e é comandado não por decisões de seus filiados em participação militante, mas por definições dos "capas pretas" que não coincidentemente estão eleitos pro executivo ou legislativo.

    Essa retroalimentação por interesses individuais de ascenção econômica não coaduna com discussões reais sobre o interesse da construção de um plano político para o país e, na prática, o partido só anima a participação militante em anos eleitorais.

    Para a mídia é o PT no governo, mas o fato material é que sequer são consideradas suas diretivas partidárias nas decisões parlamentares e de governos.

    Por isso, há anos passou a ter muito significado a referência ao PT ser como SIGLA e não como partido, na realidade é só isso há muitos anos, não porque parte de seus militantes não sejam aguerridos e lutem por construir uma política em prol da classe trabalhadora, mas porque isso em nada impacta ou influi nos governos do PT.

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