sábado, 17 de agosto de 2024

Venezuela: o “regime desagradável” de Lula

Lula concedeu, no dia 16 de agosto, uma entrevista à Rádio Guaíba. Entre outros assuntos, falou da Venezuela.

Quem quiser ouvir um trecho da entrevista, clique abaixo:

https://www.poder360.com.br/poder-governo/lula-diz-discordar-de-nota-do-pt-que-reconhece-vitoria-de-maduro/

Como sempre acontece com as entrevistas de Lula, cada um (perdão, Bosco e Blanc!) destaca o que gosta.

Por exemplo quando Lula lembra que “o problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela”.

Quando disse que a Venezuela não é uma ditadura.

E quando ele reafirma que o Partido e o governo não precisam estar de acordo em tudo. 

Previsivelmente, parte da imprensa pensa o contrário: às vezes acusa Lula de ser o “dono” do PT, às vezes trata uma diferença de opinião como “racha”. 

Esta mídia finge ser democrata, mas gosta mesmo é de pensamento único.

A parte mais curiosa da citada entrevista de Lula foi a definição que ele deu acerca do regime político da Venezuela: “Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Eu não acho que é uma ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas ditaduras pelo mundo”.

De fato, às vezes parece difícil classificar o regime político da Venezuela. 

A oposição governa estados e cidades, possui fortes bancadas parlamentares, consegue mais de 40% dos votos nas eleições presidenciais, controla importantes meios de comunicação, tem muito dinheiro, além de usar e abusar do apoio internacional.

(Corina, por exemplo, defendeu uma intervenção militar estrangeira na Venezuela. E Guaidó foi reconhecido como presidente por inúmeros governos supostamente democráticos.)

Em resumo: a Venezuela é mesmo muito diferente das “ditaduras” que “a gente conhece pelo mundo”.

Por outro lado, na Venezuela a esquerda hegemoniza - até agora - o governo e o parlamento nacional, o judiciário e as forças armadas. 

Isto também é bastante diferente das “democracias” que “a gente conhece pelo mundo”.

No Brasil, por exemplo, é a oposição que hegemoniza o congresso, as forças armadas e as polícias, a maioria dos governos subnacionais, boa parte do sistema judiciário, os meios de comunicação e a grana. 

Isto tudo torna o Brasil um “regime” também “muito desagradável”, a depender do lado que você estiver.

Vamos lembrar que Dilma foi derrubada e Lula foi preso por este “regime”. Ocasião em que, mundo afora e Brasil a dentro, teve gente “agradável” que preferiu acreditar nas mentiras e manteve prudente distância do PT e de Lula.

Aliás, infelizmente, no chamado mundo da política existem, mas são raros, os “amigos agradáveis”, por exemplo aqueles que te ajudam quando você não tem mais para onde correr.

Na vida real, o mais frequente é sermos obrigados a escolher entre inimigos aparentemente agradáveis e amigos supostamente desagradáveis. 

Pode não ser o mais bonito. Mas certamente é o mais saudável.




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4 comentários:

  1. Sigo atenta às manifestações pró e contra a conduta de Lula, governo e PT sobre a política externa do Brasil, na qual se inclui a Venezuela, feitas por pessoas da esquerda e do campo que se auto intitula "progressista".
    Confesso que os artigos de Valter têm me alertado sempre com a materialidade factual, muito mais do que com sua opinião pessoal e isso faz muita diferença.
    É essencial não deixar "escapar" nada na contextualização de um diagnóstico. É esta minha percepção de suas análises.

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  2. Vivemos no ápice do Império da hipocrisia! Os mercenários estadunidenses declararam q podem aliviar as medidas punitivas, sanções, caso o presidente local, Maduro, realize eleições “justas”. Isso antes das eleições, é claro, sinalizando apoio a campanha de González, (versão atual de Guaidó), e sua predileção p cumprir as “metas de políticas externas”. Mas a subjetividade de “eleições honestas” se resume em, somente se o nosso representante fantoche entreguista ganhar. E agora o q vamos assistir na Globo? Uma ampliação do pacote de sanções para asfixiar economicamente o país e tentar derrubar o governo Maduro, com uma descrição do tipo:- o pai q pune o filho na intenção de educá-lo a ser “democrático”? Ou corrigiram os erros da última tentativa com o Guaidó, de sustentá-lo como presidente interino, e González ocupará esse cargo? Sim, pois até a posse em janeiro tem muito tempo p instaurar discórdia. Certamente que Lula já provou o fel da impotência diante do poder dos bastidores, está lidando com a questão diplomaticamente. Mas confio q ele sabe muito bem q González vai empoderar os EUA e isso não é bom p ninguém. Segue o jogo...

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  3. Muito boa análise. Abraço Solidário desde Luanda Angola África.

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  4. O regime chavista é bonapartista sui generis, numa visão trotskysta ortodoxa.
    É progressista mesmo sendo autoritário. Tenta se equilibrar por cima das classes sociais e se apoia nas camadas mais pobres.
    Devido ao petróleo, China e Rússia são leais a Maduro. Se os EUA se atreverem a atacar com tropas o território serão respondidos e o conflito vai escalar no Caribe.
    Esquerda brasileira está muito adaptada ainda. Só aprende na dor, infelizmente...

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