segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Venezuela: a declaração conjunta Brasil-Colômbia

Brasil e Colômbia divulgaram, no dia 24 de agosto, uma "Declaração conjunta".

A íntegra pode ser conferida aqui: Declaração conjunta de Brasil e Colômbia — Planalto (www.gov.br)

Segundo a Declaração, Petro e Lula "permanecem convencidos de que a credibilidade do processo eleitoral somente poderá ser restabelecida mediante a publicação transparente dos dados desagregados por seção eleitoral e verificáveis".

No plano subjetivo, não há o que dizer: os dois presidentes informam que somente ficarão convencidos acerca da vitória de Maduro se os resultados forem publicados de forma desagregada "por seção eleitoral e verificáveis".

No plano diplomático, entretanto, não é nada trivial o questionamento à credibilidade do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela. Afinal, uma coisa é uma pessoa ou um partido fazerem isto; mas quando um governo comete este gesto, trata-se em algum nível de ingerência, ainda que possa ser explicada pelo fato de sermos parte do Acordos de Barbados.

No plano político, contudo, é improvável (para ser otimista) que a "publicação transparente dos dados desagregados" consiga mudar a postura da oposição de extrema-direita.

Muito mais provável é o seguinte: aqueles que antes mesmo da eleição estavam seguros de que ganhariam, que no dia da votação já estimulavam um golpe militar, que no dia seguinte denunciaram fraude e seguem denunciando, vão dizer que publicar agora os "dados desagregados" se trata de uma nova etapa do que consideram ser uma fraude.

Se isso for verdade, então a solicitada "publicação transparente" pode criar as condições para que Colômbia e Brasil reconheçam o resultado, mas não vai "normalizar" a situação da Venezuela. 

Isto posto, a crítica e a solicitação feita pela Declaração não é inócua.

Ao menos no curtíssimo prazo, mesmo que não seja esse o propósito, o texto da Declaração na prática contribui para prolongar a pressão da oposição da extrema direita. Uma oposição que não está interessada no "diálogo pacífico" e na "convivência democrática na diversidade". 

Mais grave ainda, uma oposição que não respeita e quer subverter a Constituição venezuelana.

Cabe perguntar por quais motivos os governos da Colômbia e do Brasil publicam uma Declaração cujo efeito prático imediato é prolongar a pressão de uma oposição que, além de todos os outros problemas, é aliada da extrema-direita brasileira e colombiana?

Talvez um dos motivos, ao menos no caso brasileiro, seja o profundo apego à democracia, acima de tudo e de todos.

Um apego tão grande que nos leva a questionar a justiça de lá, no mesmíssimo momento em que a extrema-direita questiona a justiça daqui.

Mas se o apego à democracia for mesmo um dos motivos, vale registrar uma "curiosidade": ao fazer uma justa crítica às sanções unilaterais (embora sem citar quem as pratica), a Declaração cita que tais sanções são "contrárias ao direito internacional e prejudicam a população dos países sancionados, em especial as camadas mais vulneráveis".

Verdade.

Mas também é verdade que as sanções afetam a democracia

Aliás, este é um dos objetivos centrais das sanções: fazer "a economia gemer", prejudicar a população mais vulnerável e reduzir o apoio ao governo, com o objetivo de favorecer a oposição.

Este tipo de ingerência descarada no processo eleitoral, praticada pelos Estados Unidos e Europa, precisaria ser denunciada sempre, sob pena de reforçar uma interpretação parcial e enviesada dos problemas ocorridos no processo eleitoral. 


Um comentário:

  1. Curto e grosso, eis o Governo Lula 3: neoliberalismo de face humana na economia e alinhamento mal dissimulado com interesses do Império Estadunidense.
    Será que algo mais se esconde nesse ataque ao Governo Maduro, além de defesa de supostos princípios democráticos e republicanos, feita por Lula?
    O que Lula teme?
    Convenhamos que as posições assumidas pelo Governo Lula 3 permitem especulações e hipóteses de trabalho.
    Vejamos.
    Estará atacando Maduro em troca de sua própria manutenção no cargo de Presidente de Pindorama?
    Se, como disseram por aí, o golpe de 8 de janeiro fracassou por não ter recebido aval do Império, Biden estaria agora cobrando a fatura? A própria intentona e seu fracasso não seriam obra do Império?
    Lula estaria, desde longa data, escondendo esqueletos no armário? Teria recebido da Casa Branca a recomendação de que assistisse ao filme EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO?
    Sei não...
    Me lembrei de A HISTÓRIA SECRETA DO IMPÉRIO AMERICANO, de John Perkins.
    A primeira edição do livro foi aqui publicada em 2008. O capítulo 23 intitula-se ‘Brasil: esqueletos no armário’.
    Segue abaixo um trecho de uma longa conversa confidencial que o autor teria mantido com um homem que se identificava como ‘principal conselheiro do presidente Lula’, durante encontro do Fórum Social Mundial, realizado em 2005 em Porto Alegre – no qual John Perkins foi um dos palestrantes.
    Quem fala é o interlocutor.

    “(...)Lula tem esqueletos. Se as forças que controlam seu império quiserem fazê-lo cair, abrirão a porta do armário. Há muitas maneiras de assassinar um líder que ameace a hegemonia norte-americana.”

    Não há nenhuma prova de que a conversa tenha de fato acontecido. Porém, o conteúdo é deveras plausível.
    John Perkins é também autor de CONFISSÕES DE UM ASSASSINO ECONÔMICO.
    Lembremos que Lula é monitorado e espionado desde sempre pelo Império.
    (Jucemir Rodrigues da Silva)

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