O artigo pode ser lido aqui: Venezuela: precisamos perder a hipocrisia, por Gilberto Maringoni (jornalggn.com.br)
O ponto de partida do artigo de Maringoni é o seguinte: "Nicolás Maduro fraudou as eleições, como tudo indica".
Ele diz que a fraude é uma "hipótese", mas "o que tudo indica" é revelador do que ele realmente pensa.
Em decorrência, diz Maringoni, a "consequência lógica é forçá-lo a entregar o poder, cumprindo assim o princípio da alternância liberal".
Mas, prossegue Maringoni, se a direita assumir o governo, "o que sobrar do país será reduzido a um protetorado estadunidense de segunda linha, um cosplay de Porto Rico".
Logo, conclui Maringoni, "o dilema para a esquerda em todos os países está em realizar separadamente uma disputa que preferencialmente deve ser embalada num único pacote. Ou seja, a luta por soberania e democracia. Na Venezuela, defender soberania implica passar por cima de resultados eleitorais objetivos. E defender a democracia eleitoral hoje significa triturar o país. A escolha é amarga, qualquer que seja a opção. Ela é inescapável. Por isso a tarefa inicial no enfrentamento em curso implica que os dois lados joguem fora qualquer ranço de hipocrisia ou falsos moralismos. É duro e feio, mas a vida é assim".
Na minha opinião, a "tarefa inicial" é outra: reconhecer que "tudo indica" que Maduro ganhou as eleições e defender o respeito ao resultado. Para a esquerda que tem esta posição, não existe contradição ou dilema: defender a soberania e defender os resultados eleitorais fazem parte da mesmíssima batalha.
Para a esquerda-tipo-Boric também não existe dilema algum. Para eles Maduro fraudou e ponto final. E como Guaidó Segundo teria ganho, suas ações estariam legitimadas pela soberania popular, a única capaz de definir os limites da soberania nacional.
Portanto, o dilema existencial que atormenta Maringoni só existe para aquela parte da esquerda-que-acredita-em fraude mas sabe o que aconteceria caso a extrema-direita viesse a assumir o governo da Venezuela, a saber: nem soberania, nem democracia.
Conclusão: não há "dois lados", nem são "todos" os que precisam jogar fora "qualquer ranço de hipocrisia ou falsos moralismos".
Pode ser duro, feio e amargo, mas autocrítica cada um faça a sua. Salvo, é claro, que o "todos" do subtítulo do artigo de Maringoni seja apenas majestática figura.
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ResponderExcluirOs centristas (não acho o caso de Maringoni) apelam a uma suposta orteguizacao na Venezuela para derrubar o chavismo. De certa forma (não é o caso do professor) parte da esquerda tem dúvidas que Rosa teve quando bolcheviques dissolveram a Assembleia logo após Outubro.
ResponderExcluirMas ela escrevendo na prisão não publicou suas críticas que foram publicadas depois de seu assassinato.
Como a Rússia tinha uma ampla maioria camponesa, a autora cogitou ser melhor entregar o poder aos SRs.
Nossos centristas contemporâneos não vacilam e publicam nas redes ...
Desconsideram o lado ruim da democracia. Tocqueville tinha mais senso crítico no séc. XIX e apontou uma complementaridade entre capitalismo e democracia.