segunda-feira, 25 de março de 2024

Impugnação de Marta Suplicy: resposta ao parecer da Sorg

Acabo de ler, no grupo de zap do Diretório Nacional do PT, o parecer da secretária nacional de organização, companheira Sonia Braga, acerca da impugnação da filiação de Marta Suplicy ao PT.

Como a reunião do DN, no dia 26 de março, será virtual e com uma pauta sobrecarregada, adianto por aqui minha resposta a este parecer.

A íntegra do pedido de impugnação está aqui:

https://valterpomar.blogspot.com/2024/02/impugnacao-da-filiacao-de-marta-suplicy.html

Em essência, a impugnação apresenta 4 motivos:

O fato de Marta Suplicy ter deixado o PT, em 2015, fazendo pesadas acusações contra o
nosso Partido, especialmente quanto ao tema “corrupção”.

Os votos que Marta proferiu, no Senado, em favor de políticas antipopulares, causando danos imensos à classe trabalhadora.

O voto que Marta deu em favor do impeachment golpista contra a presidenta Dilma Rousseff.

A posição que Marta adotou depois de sair do PT, tanto nos processos eleitorais de 2016,
2018 e 2020, quanto em sua participação no atual governo de São Paulo capital, do qual só saiu depois de convidada a ser vice na chapa encabeçada por Boulos.

Além de apresentar estes 4 motivos, a impugnação concorda que é fundamental ganhar a eleição paulistana. 

E, mesmo sem achar “fundamental”, reconhecemos ser bastante positivo que, depois de anos contribuindo com a direita, Marta Suplicy volte agora a contribuir com a esquerda e, inclusive, apoie a candidatura Boulos em São Paulo. 

Mas, para contribuir com a candidatura Boulos, inclusive como candidata à vice-prefeita, Marta
não precisaria necessariamente estar filiada ao PT.

A impugnação afirma, ainda, que para que a vice seja realmente do PT, para que isso não seja
uma mera ficção cartorial, é preciso que a pessoa que ocupa a vice pelo menos respeite o Partido. 

Acontece que Marta não respeitou o PT quando saiu do Partido, nos acusando como fez na já
citada carta. 

Ela não respeitou o eleitorado petista, nem o povo brasileiro, quando votou pelo impeachment. 

Ela não respeitou o PT, nem a classe trabalhadora, quando votou nas contrarreformas de Temer. 

Sem falar no que Marta disse e fez nas campanhas eleitorais de 2016, 2018 e 2020, notadamente contra as candidaturas petistas que disputaram aquelas eleições.

Obviamente, fazer autocrítica, ou pelo menos dar uma singela explicação, não impediria a ocorrência de novos desrespeitos. 

Mas aceitar que Marta se filie ao PT, sem que ela nada diga a respeito do que cometeu desde que se desfiliou, é temerário, pois passar o pano nos malfeitos é estimular que eles voltem a ocorrer.

No ato de 2 de fevereiro de 2024, a própria Marta Suplicy não disse absolutamente nada a respeito do que fez a partir de 2015. 

Outros discursos feitos naquela ocasião, ou fugiram do assunto, ou chegaram quase a atribuir as opções de Marta à erros do próprio Partido. 

Certamente o Partido errou muito, sendo importante lembrar que nossos principais dirigentes são, também, os principais responsáveis por aqueles erros. 

Mas nossos erros, por maiores que tenham sido, não são desculpa para o fato de Marta ter apoiado o golpe e as contrarreformas de Temer.

Pois bem: o parecer da secretária nacional de organização - muito sintomaticamente - não contesta absolutamente nenhum dos argumentos constantes da impugnação. 

Copio abaixo a íntegra do referido parecer.

IMPUGNAÇÃO DO PEDIDO DE FILIAÇÃO DA EX-PREFEITA DE SÃO PAULO,
MARTA SUPLICY

16 de janeiro de 2024 – A Comissão Executiva Municipal de São Paulo decidiu, por ampla
maioria, receber o eventual pedido de filiação e acolher o retorno de Marta Teresa Suplicy ao PT.
2 de fevereiro de 2024 – Em atividade com a presença do Presidente Lula, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, apresenta pedido de filiação ao PT.
3 de fevereiro de 2024 – Valter Pomar, membro do Diretório Nacional, impugna o pedido de filiação, alegando que Marta Suplicy, deixou o PT em 2015 alegando falta de diálogo e o abandono dos princípios partidários e que durante este período a ex-prefeita participou de
governos adversários ao PT.
19 de fevereiro de 2024 – A Executiva Municipal decide, por unanimidade, encaminhar o pedido de impugnação para análise da Direção Nacional.
Considerando que:
A relevância política da ex-prefeita Marta Suplicy e o legado deixado em sua gestão como prefeita e a necessidade de formar uma frente ampla para enfrentar o bolsonarismo nas Eleições de 2024 em São Paulo.
Somos pelo seguinte PARECER:
Negar provimento à impugnação e aprovar a filiação da Ex-prefeita Marta Suplicy ao PT
26 de março de 2024
Sonia Braga
Secretária Nacional de Organização”

Este parecer da secretária nacional de organização cai na armadilha de misturar a discussão sobre a vice, com a discussão sobre a refiliação. 

Essa mistura não interessa a quem de fato quer derrotar a extrema direita, não interessa à
campanha, interessa apenas a quem pretende aproveitar uma determinada situação para tentar regressar ao Partido, sem sofrer questionamentos constrangedores.

Muita gente, por conta da citada armadilha, preferiu calar, embora discorde da refiliação e não tenha esquecido do que aconteceu.

Compreendo, mesmo discordando, os motivos de quem escolheu calar. 

Mas peço que, calados ou não, votem contra o parecer da Sorg, pois aceitar este parecer, aceitar a filiação de quem fez o que Marta Suplicy fez, argumentando que isso seria supostamente necessário para ganhar a eleição de 2024, abre um precedente que significa, na prática, tratar nosso partido como se
fossemos uma mera legenda, cujos procedimentos internos estão totalmente
subordinados às dinâmicas eleitorais.

Afinal, uma coisa é fazer uma aliança com inimigos de nossos inimigos; outra coisa é
trazer para dentro do nosso Partido quem nos traiu, sem nem ao menos pedir uma explicação a respeito. 

Caso prevaleça, um dos desdobramentos deste tipo de atitude será estimular futuras traições e descaminhos. 

Outro potencial desdobramento será contribuir para a desmoralização de uma parte da militância.

Afinal, a falta de memória e a falta de respeito próprio constituem um desastre para a classe trabalhadora.

Vale lembrar que um dos péssimos hábitos da classe dominante é atribuir ao povo a responsabilidade pelos gravíssimos problemas do país. 

Não aceitamos isso. 

No caso do golpe, por exemplo, a responsabilidade não é do povo, não é da classe trabalhadora, não é do PT, não é dos que resistiram, não é dos que ficaram firmes, não é dos que se mantiveram do lado certo da história.

Se hoje recuperamos parte de nossas liberdades democráticas, isto foi graças à luta de milhões de pessoas, em boa medida anônimas.

Mas de nada adianta dizer que esta militância é nosso maior patrimônio, nossa razão de existir; e, ao mesmo tempo, receber de volta ao Partido, com pompas e circunstâncias quem desrespeitou profundamente esta mesma militância.

Por isso a impugnação é necessária.

Alguém já disse que a vida não se resume a festivais.

Pois então: tampouco se resume a eleições.


Um comentário:

  1. Após longa explanação sobre o pedido de impugnação c justificado embasamento na negativa trajetória política da vaidosa transfigurada, tudo se resume em:
    Negar provimento é aprovar filiação.
    Lamentável imposição.

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