domingo, 10 de março de 2024

O que dizem as pesquisas?

Este texto estava sendo escrito ao mesmo tempo em que eram divulgados os resultados das eleições em Portugal, ocorridas no domingo 10 de março de 2024. No cinquentenário da Revolução dos Cravos, a direita venceu as eleições e a extrema-direita se tornou o terceiro partido mais votado em Portugal. A festa não foi bonita. E, para quem não percebeu, de te fabula narratur.

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Até o dia 25 de fevereiro, uma parte da esquerda brasileira achava que estava tudo bem. E melhorando.

Depois do dia 25 de fevereiro, esta parte da esquerda está começando a sair da zona de conforto. E se deu conta de que a vida anda mais dura do que eles estavam achando.

Depois vieram as pesquisas, com números que confirmam que há problemas que precisam ser corrigidos. E para agravar, veio também a composição das comissões na Câmara. Mais o debate sobre “desmemoriar”, além dos recentes golpes comandados pela direita gourmet, também o Golpe de 1964.

Aí começou o tiroteio.

O bloco-do-tá-tudo-muito-bem coloca a culpa na comunicação. O problema seria de "narrativa".

O povo do quero-demitir-a-ministra coloca a culpa na nota técnica sobre a interrupção da gravidez.

A banda-dos-amigos-de-Israel-genocida coloca a culpa na fala de Lula sobre a Palestina.

A turma-dos-devotos-do-arcabouço coloca a culpa em qualquer lugar, menos na economia.

A turma-da-avestruz está mais preocupada em não fazer nada em março, do que em debater como lidar com a preocupante situação.

E a turma-com-torcicolo diz que a saída é pelo centro.

Mas, afinal, o que dizem as pesquisas?

Sob inaceitável tortura, dizem quase qualquer coisa.

Estudados com mínima disposição crítica e autocrítica, contam uma história interessante.

Antes, contudo, é preciso lembrar do seguinte: ganhamos a eleição presidencial de 2022 por cerca de 2 milhões de votos. Em percentual de votos válidos, 50,9% a 49,1%. 

Mas, quando olhamos para além dos votos válidos, há 38 milhões de eleitores que não compareceram para votar, votaram branco ou votaram nulo.

É preciso ter estes dados em mente, quando olhamos as pesquisas. 

A saber: há cerca de 96 milhões de eleitores que não votaram em Lula, no segundo turno das eleições de 2022.

Portanto, qualquer mínimo deslocamento - seja perda de apoio entre os que votaram em nós, seja polarização de quem não votou – pode gerar mudanças qualitativas nas pesquisas e, depois, desastres eleitorais.

Isto posto, vamos à primeira das pesquisas, por ondem de divulgação, a Quaest.

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Desde o início do governo Lula, a Quaest divulgou sete pesquisas, em fevereiro, abril, junho, agosto, outubro e dezembro de 2023, bem como em fevereiro de 2024.

Quando olhamos nosso desempenho ponta a ponta, de fevereiro de 2023 a fevereiro de 2024, percebe-se uma queda. 

Quando olhamos as duas últimas pesquisas, de dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, verifica-se uma queda acentuada.

Além disso, percebemos dois movimentos combinados: a) uma queda de nosso apoio entre os que antes nos apoiavam e b) um crescimento da rejeição, entre os que já não nos apoiavam. 

Ou seja: nosso lado está menos sólido e o lado de lá, mais polarizado.

Vamos dar uns exemplos.

Comecemos pela aprovação do trabalho de Lula. Era de 56% em fevereiro de 2023, caiu para 51% em fevereiro de 2023. 

São 5 pontos a menos em nosso favor.

Já a desaprovação, cresceu de 28% em fevereiro de 2023, para 46% em fevereiro de 2024. 

São 18 pontos contra nós.

Quanto aos que não sabiam ou não responderam, caíram de 16% para 3%. 

Ou seja: quem nos apoiava, majoritariamente segue nos apoiando; mas quem não nos apoiava, nos rejeita mais do que rejeitava antes. 

O nome disso é polarização assimétrica, quando um lado polariza e o outro não polariza.

Quando olhamos a "longa duração" (fevereiro de 2023 até fevereiro de 2024), percebemos - salvo engano - que a nossa aprovação caiu em todas as regiões, em todas as faixas de idade, entre homens e mulheres, em todos os níveis de ensino, em todas as faixas de renda, entre católicos e evangélicos, entre pardos, pretos e brancos, entre eleitores de Lula, do cavernícola e de ninguém.

Em algumas dessas populações caiu mais, em outras caiu menos, mas o fato é que parece ter caido em todas.

Quando olhamos a "curta duração", há dados discrepantes (por exemplo, entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, nossa aprovação teria crescido de 41% para 44% entre os que recebem mais de 5 salários mínimos). 

Mas quando olhamos a "longa duração", ou seja, de fevereiro de 2023 até fevereiro de 2024, a curva é de queda: em fevereiro de 2023 tínhamos 50% de aprovação naquela faixa de renda, agora temos 44%. 

Noutras palavras, mesmo onde crescemos da última para a atual pesquisa, não se trata de um avanço sobre novo território, mas sim de uma pequena recuperação de terreno perdido.

Onde fica mais evidente que se trata de polarização assimétrica (não importando aqui os motivos e os temas, isso veremos a seguir) é naquilo que a Quaest chama de “avaliação geral do governo”, especificamente no dado estratificado por religião.

O dado geral é o seguinte: olhando na "longa duração", a avaliação positiva caiu de 40% para 35%, a avaliação negativa cresceu de 29% para 34%.

Entre os católicos, sempre na "longa duração", a positiva caiu de 47% para 42%. Já a negativa cresceu de 16% para 28%. 

Ou seja: não se trata apenas de algo simétrico (perda de um lado, ganho de outro), mas de algo assimétrico (perda de um lado, muito ganho de outro). 

No caso dos evangélicos, ainda na "longa duração", a avaliação positiva caiu de 27% para 22%. A negativa cresceu de 30% para 48%.

Reiteramos: não se trata de uma queda inesperada, vem de longe.

Quando olhamos a "curta duração", de outubro de 2023 para fevereiro de 2024, a avaliação negativa entre os evangélicos se acelera muito: vai de 36% para 48% (no mesmo período, a avaliação negativa entre católicos vai de 25% para 28%).

Essa mudança, de 36% para 48%, é um combinado entre a queda de 5 pontos na avaliação positiva (de 27% para 22%) com a queda ainda maior entre os que avaliavam nosso governo como regular, onde a queda foi de 34% para 27%. 

De novo, independente das formas e dos motivos, o nome disso é polarização: parte dos nossos e parte dos até então "neutros" está sendo arrastada para o lado de lá.

Outro exemplo de polarização aparece na resposta dada à pergunta sobre se o governo estaria melhor do que esperava, se estaria nem melhor nem pior, se estaria pior do que esperava ou se não sabe responder.

Os que acham que está melhor caíram de 33% para 27%. Um movimento de 6 pontos.

Os que respondem que está na mesma, caíram de 38% para 36%. Um movimento de 2 pontos.

Os que acham que piorou, saltaram de 18% para 35%. Um movimento de 17 pontos.

E os que não sabem responder, foram de 11% para 2%. 

Ou seja, mais ou menos metade das respostas negativas vieram de quem antes não sabia responder. 

O nome disto é polarização.

Um detalhe interessante: quando se estratifica a questão acima, com base no voto dado nas eleições de 2022, fica claro que parte importante desta polarização se dá em torno do eleitorado do cavernícola. 

Ou seja: parte do eleitorado cavernícola, que até outubro estava sendo, digamos, condescendente com o governo Lula, agora deixou de ser.

Explicando a afirmação acima: entre os eleitores de Lula, pioramos em tudo. 

Caiu o número dos que achavam que o governo está melhor (57/49), subiu o número dos que acham que não melhorou nem piorou (34/40), cresceu o número dos que acham que piorou (1/9) e diminuiu o número dos que não sabem responder (8/2). 

Uma vez que estas respostas vem de quem votou em Lula na presidencial de 2022, toda esta movimentação é politicamente negativa.

Já entre os eleitores do cavernícola, também caímos em tudo, o que é previsível. 

Mas o interessante é o tamanho da queda. 

Entre os que acham que o governo está melhor, a queda foi de 1 ponto (5/4). 

Entre os que não sabem responder, a queda foi de 9 pontos (11/2), um resultado negativo tendo em vista que as pessoas migraram para respostas contrárias a nós. 

Entre os que acham que não melhorou, nem piorou, caímos 13 pontos (37/24), o que também significa uma evolução negativa, como veremos a seguir. 

E entre os que acham que piorou, a mudança foi de 23 pontos (47/70). 

Ou seja: politicamente falando, o que a extrema-direita fez nos últimos dias foi polarizar seu eleitorado, colocar ordem nas suas fileiras, fazer quem estava vacilando afirmar que nosso governo está sendo pior do que as pessoas achavam até há pouco.

Este foi um dos objetivos da manifestação de 25 de fevereiro: unificar a tropa.

E, o que é bem mais preocupante, tanto política quanto eleitoralmente, esse movimento de polarização está arrastando o eleitorado que em 2022 não votou em ninguém. 

Entre esses que não votaram em ninguém no segundo turno de 2022, a avaliação positiva de nosso governo cresceu de 17 para 19. Mas a negativa cresceu de 18% para 33%. E grande parte disso veio de quem antes não sabia responder (15/3). O nome disso, repetimos, é polarização.

Um detalhe interessante: embora nossa avaliação seja pior entre evangélicos do que entre católicos, a diferença não é tão grande assim, confirmando que a polarização é um combo político, não reflexo de um único assunto.

Vamos aos números, na "longa duração". 

O governo estaria melhor: caímos de 39 para 31 entre católicos e 25 para 19 entre evangélicos, ou seja, 8 e 6 respectivamente. 

Nem melhorou, nem piorou, mantivemos em 36 entre católicos e caímos de 36 para 32 entre evangélicos. 

O governo estaria pior, caímos de 15 para 30 entre católicos e de 30 para 47 entre evangélicos, portanto 15 e 17 pontos, respectivamente. 

E não sabe opinar caiu de 10 para 3 entre católicos e 9 para 2 entre evangélicos, iguais 7 pontos. 

Moral da história, ao menos no que diz respeito a essa pergunta: a nossa piora se deve não principalmente a movimentação de católicos e de evangélicos, mas se deve isto sim a polarização de bolsonaristas católicos e de bolsonaristas evangélicos.

Há outra questão, feita pela Quaest, que confirma como ao lado da polarização do lado de lá, está havendo uma, digamos, desmotivação do lado de cá. 

Trata-se da provocativa pergunta sobre se o governo Lula está melhor, está igual ou está pior do que o governo Bolsonaro. 

Note-se que a alternativa “não sei” e a alternativa “está igual” são politicamente negativas.

Em fevereiro de 2023, 60% achava que estava melhor. Hoje, 47% dos entrevistados acham que está melhor. 

Esta queda não ocorreu de outubro para cá. Na verdade, desde junho 49% já respondia desta forma. 

A resposta não sei e a resposta está igual oscilaram, de outubro de 2023 até fevereiro de 2024, de 5 para 4 e de 8 para 11, respectivamente. 

Portanto, o que realmente mudou foi a avaliação “está pior”, que cresceu de 27 para 38. Os 11 pontos de piora vieram, na sua maioria, de quem achava que estava melhor e agora pulou para a avaliação oposta. 

Nome disto: polarização.

Com um detalhe: entre os eleitores de Lula, a avaliação de que o nosso governo estaria melhor do que o anterior caiu de 92 para 83. 

E entre os eleitores do cavernícola, a avaliação de que nosso governo está pior do que o anterior cresceu de 71 para 82. 

Nove pontos perdidos aqui, onze pontos ganhos lá.

Entre os católicos, perdemos 13 pontos entre os que nos achavam melhor. Perdemos o mesmo entre os evangélicos.

O número dos que acham nosso governo pior do que o anterior cresceu 9 pontos entre os católicos e 14 pontos entre os evangélicos. 

Novamente repetimos: o que está se movimentando não é o eleitorado religioso, mas é o eleitorado bolsonarista, que foi chamado a fazer ordem unida.

Quais os argumentos para conseguir esta ordem unida?

A pesquisa nos induz a achar que foi o tema da Palestina, onde supostamente Lula teria “exagerado”. 

A inclusão de uma pergunta capciosa sobre o genocídio tinha este objetivo, mas a ideia de que isto deu naquilo é – do ponto de vista dos números, da estatística – uma suposição baseada na vontade de quem encomendou a pergunta, não nos dados. 

Entre outros motivos porque a queda vem de longe, não começou agora, embora tenha se acelerado de outubro para cá.

O que não é suposição é a influência da economia. Para ser mais preciso, a influência da percepção popular sobre a economia. 

Não importando, nesta fase, qual o motivo da percepção, se é a realidade, a propaganda ou uma mistura de ambas e outras tantas coisas, o fato é que - segundo a Quaest, a percepção popular sobre a economia piorou.

Perguntados se a economia melhorou, está do mesmo jeito ou se piorou nos últimos doze meses, o eleitorado de Lula majoritariamente tem uma opinião positiva e ponderada. 

Já o o eleitorado do cavernícola pira no cabeção.

Explico.

De conjunto, os pesquisados fazem uma avaliação negativa: os que acham que melhorou, caíram de 30 para 26; os que acham que está do mesmo jeito, caem de 37 para 34; e os que acham que piorou, crescem de 30 para 38.

Feitas as mesmas questões para os eleitores de Lula, a resposta é que melhorou cresceu de 25 para 46, ficou do mesmo jeito manteve em 38 e piorou caiu de 34 para 15. 

Digamos que são respostas positivas e ponderadas. Reconhecem uma evolução positiva, mas sem triunfalismos.

Já o eleitorado do cavernícola é sem mediações. 

O melhorou caiu de 42 para 5, o ficou do mesmo jeito caiu de 33 para 24 e o piorou cresceu de 23 para 70.

Ou seja: enquanto o nosso eleitorado fez uma avaliação, o lado de lá tomou partido (se o governo é deles, então é um governo de merda). ]

O nome disso é polarização, ordem unida. Não importa o tema, a atitude da extrema-direita é a mesma.

A polarização, ainda que menos radical, se verificou entre os que não votaram em ninguém no segundo turno de 2022: melhorou caiu de 24 para 18, tá na mesma ficou estacionado (41/42) e piorou foi de 31 para 38.

O quadro fica ainda pior quando a pergunta é sobre o que vai acontecer nos próximos 12 meses. Ou, para usar uma palavra que os economistas adoram, as expectativas, não as do mercado, mas as do povo.

Vai melhorar caiu de 62 para 46.

Vai ficar no mesmo subiu de 14 para 19 (o que, no  contexto, não é uma resposta favorável a nós).

Vai piorar foi de 20 para 31.

E a péssima notícia é a de que metade desta piora foi de outubro de 2023 para fevereiro de 2024: nesse período, vai melhorar caiu de 55 para 46, vai ficar no mesmo foi de 16 para 19 e vai piorar foi de 25 para 31. 

Ou seja, em 4 meses caímos mais ou menos o mesmo que nos 8 meses anteriores. 

Outra péssima notícia é que a percepção de que vai piorar atinge gregos, troianos e persas. 

Entre os eleitores de Lula, a percepção de que vai piorar sobe de 3 para 13; entre os eleitores do cavernícola, sobe de 51 para 59; entre os que não votaram em ninguém no segundo turno, sobe de 18 para 27.

Quais os motivos desta percepção de piora?

A pesquisa nos leva a crer que possa ter sido a alta dos preços, que a maioria dos pesquisados diz ter ocorrido, tanto nas contas, quanto nos alimentos e no combustível.

Lembrando que neste caso importam as expectativas, a percepção, a economia política, não a economia estritamente falando.

A pesquisa também pergunta se o governo Lula se preocupa com pessoas "como você". 

A resposta é um empate, 48 a 48. 

O que demonstra que, no plano mais geral, não se alterou qualitativamente a situação detectada na eleição de 2022. 

Mas esta constatação é terrível, pois a) depois de quatro anos de governo de merda o cavernícola ficou 2 milhões de votos atrás e b) depois de 14 meses de um governo com muitas boas realizações, o copo segue apenas meio cheio.

Sendo assim as coisas, é óbvio que há algo que precisa ser corrigido.

A esse respeito, a pesquisa contém a seguinte pérola: perguntados se o governo Lula tem mais facilidade ou menos facilidade do que o cavernícola, na relação com o Congresso, 48% dizem achar que o governo Lula tem mais facilidade.

Resposta que não surpreende, considerando como se informam sobre política os entrevistados (34% com a TV, 32% com as redes sociais). 

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Falemos agora, mais rapidamente, da segunda pesquisa: a IPEC.

Do ponto de vista da metodologia, é comparável com a Quaest. O período de coleta é de 1 a 5 de março.

Os resultados consolidados de seis pesquisas, realizadas em março, abril, junho, setembro e dezembro de 2023, assim como em março de 2024, também apontam uma queda no nosso apoio.

Olhando os resultados de março de 2023 e março de 2024, a avaliação ótima/boa de Lula caiu de 41% para 33%. A avaliação regular foi de 30% para 33%. A ruim/péssima foi de 24% para 32%.

No mesmo período, a aprovação foi de 57% para 49%. E a desaprovação cresceu de 35% para 45%.

A confiança em Lula foi de 53% para 45%. E a desconfiança foi de 43% para 51%.

Há duas outras questões (expectativas melhores ou piores, se o rumo do país está certo ou errado) em que também prevalece uma opinião negativa.

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Falemos agora, ainda mais sucintamente, da terceira pesquisa: a Atlas.

Desde o início do governo Lula, a Atlas também fez sete pesquisas, nos meses de janeiro, abril, julho, setembro e novembro de 2023, bem como nos meses de janeiro e março de 2024. A coleta da pesquisa mais recente foi feita nos dias 2 a 5 de março.

Segundo a Atlas, o apoio a Lula oscilou, desde janeiro de 2023 até março de 2024, de 51% para 47%; e a desaprovação cresceu de 42% para 46%.

A preços de hoje, o governo seria avaliado como ruim e péssimo por 40,6%; contra 38,1% que avaliam o governo como ótimo e bom. O regular estaria com 18,2% e os que não sabem seriam 3,1%;

A desaprovação se concentraria principalmente nos de sempre: homens, moradores do sul e do sudeste e evangélicos. 

Quando a variável é faixa de renda, nossa desaprovação seria maior entre os que recebem de 2 a 10 mil reais; abaixo e acima disso, o apoio ao governo seria majoritário. 

Quando a variável é nível educacional, a desaprovação se concentraria na educação média; no fundamental e no superior, o apoio ao governo seria majoritário.

Um ponto interessante, destacado pela pesquisa, é a opinião de pansexuais e bissexuais.

A pesquisa Atlas inclui, ademais, uma análise sobre o desempenho de 16 áreas de atuação do governo, agrupadas em cinco categorias: ótimo, bom, regular, péssimo e ruim. 

Considerado o contexto e agrupando as três primeiras categorias, resulta que três áreas obtêm resultado superior a 50%. A saber e em ordem decrescente: agricultura, relações internacionais, turismo/cultura/eventos. 

Outras quatro áreas obtêm 50%: meio ambiente, facilidades para negócios/tributação, política industrial e energética, direitos humanos e igualdade racial.

A pesquisa aponta, como os três maiores problemas do Brasil, drogas e criminalidade (60%), corrupção (59%) e, em terceiro lugar e com 20%, pobreza, desemprego e desigualdade.

Perguntados como avaliam a situação do Brasil “neste momento”, 53% dos entrevistados respondem que é “ruim”; em janeiro de 2023 a mesma resposta foi dada por 54%. No mesmo período, a avaliação “boa” teria crescido de 16% para 28%. Mas, perguntados sobre como estará o país daqui há seis meses, 50% diz que vai melhorar, 42% diz que vai piorar e 9% responde que vai ficar igual.

A entrevista inclui, ainda, perguntas e respostas sobre a imagem de líderes, incluindo não apenas os nomes óbvios, mas também Tarcísio de Freitas e Michele Bolsonaro.

A metodologia utilizada pela Atlas é bastante diferente da Quaest; além disso as questões e os períodos de coleta são diferentes.

Assim, não é possível fazer uma comparação direta entre as duas pesquisas. Mas a Atlas aponta no mesmo sentido das outras duas: há um declínio nosso. Em números absolutos, pouca coisa. Mas como o quadro geral é de equilíbrio e considerando a comparação entre nosso governo e o anterior, o balanço geral é preocupante.

A Atlas também divulgou outra pesquisa, com período de coleta de 4 a 7 de março, intitulada “superando a polarização nas eleições municipais”. O que essa pesquisa destaca é a polarização existente no país, com destaque para a polarização política entre PT e PL, Lula e Bolsonaro, esquerda e direita.

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Isto posto, o que concluir das pesquisas divulgadas entre o final de fevereiro e o início de março de 2024?

Primeiro: nenhuma grande surpresa, exceto é claro para os puxa-sacos e os chapa-branca.

Desde a eleição de 2022, há um equilíbrio muito grande. E a curva de nosso desempenho, medida em várias pesquisas, embora tenha oscilado momentaneamente para cima, fundamentalmente veio infletindo para baixo.

Portanto, podemos discutir exaustivamente os motivos pelos quais a queda acelera num determinado momento, porque cai mais num determinado setor, mas o mais importante é reconhecer que há um movimento geral de queda, que está relacionado com o conjunto da obra, não com este ou aquele detalhe, esta ou aquela ação, este ou aquele movimento.

Segundo: do fato de não haver nenhuma grande surpresa, não decorre que nada deva ser feito. A queda de nossa avaliação já está afetando o desempenho geral da esquerda e impactará as eleições de 2024; e já está afetando, também, o desempenho geral do governo e impactará o resultado das eleições de 2026.

Há quem pense que o melhor está por vir e que o governo dará mais e melhores frutos. 

Tirante outros problemas, esta postura não dá conta daquilo que parece ser a maior arma da extrema-direita: a aposta na polarização política. 

Mesmo que seja verdade que ali na frente o governo fará maiores e melhores entregas, isso não se traduzirá em acúmulo político se não houver polarização da parte da esquerda, especialmente da parte do PT. 

Parte desta polarização depende das campanhas eleitorais; outra parte depende da ação do governo; e outra parte depende da ação direta dos partidos e movimentos. 

E o que temos visto, no geral, é muita dificuldade em polarizar, quando não a opção explícita por não “tomar partido”.

Um exemplo disto: o tema da Palestina. 

Desde o discurso em Adis Abeba, o governo escalou no enfrentamento contra o genocídio. A direita também escalou. Mas grande parte dos partidos e dos movimentos sociais adotou uma atitude passiva, o que deixa muito espaço livre para as forças pró-genocídio operarem. 

Na ausência de mobilização organizada das principais forças da esquerda, as manifestações não têm a potência necessária para enfrentar a propaganda pró-Israel genocida, feita todo santo dia por importantes meios de comunicação.

O mesmo vale, no plano interno, para o enfrentamento da política de segurança pública da direita, cuja maior expressão é a chacina que o governo Tarcísio vem implementando em Santos. 

Aliás, é tocante ver a surpresa de muita gente boa, com o fato de Tarcísio ter subido no palanque do dia 25 de fevereiro.

Terceiro: não há causa única para nosso declínio, mas sim um combo de razões. Por isso, também não há ação milagrosa, mas sim um conjunto de medidas. 

Entretanto, estas medidas não terão êxito se não houver uma alteração na economia política do governo e da esquerda. Não se trata apenas de mudar a política econômica, com destaque para o déficit zero. Trata-se de fazer uma inflexão no movimento geral da esquerda e do governo, no que diz respeito ao que queremos construir. 

Ou reassumimos com toda a força a ideia da transformação, ou nos libertamos da camisa de força da “união e reconstrução”, ou o que virá pela frente será não apenas uma derrota eleitoral, mas também política e ideológica.


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