No dia 19 de julho realizamos mais uma "quarta quente" do blog Manifesto Petista.
O tema foi “os próximos 6 meses do governo Lula: balanço do futuro”.
A íntegra está aqui: (44) Os próximos 6 meses do governo LULA: balanço do futuro - YouTube
Para quem achou o título um pouco paradoxal – balanço do futuro, balanço de algo que ainda não aconteceu – pedimos levar em consideração um dos grandes livros do sensacional Mike Davis, o Cidade de Quartzo, cujo subtítulo era “escavando o futuro em Los Angeles”.
Interessados, tem uma edição da Boitempo. E a primeira edição em português foi da Scritta, editora do Breno Altman, onde trabalhei como assistente editorial.
Reminiscências a parte, segue um resumo adaptado das hipóteses sobre o que esta por vir.
1/
Começamos com o cenário mundial: aconteça o que acontecer com a guerra na Ucrânia, tudo indica que em dezembro de 2023 o ambiente mundial estará mais tenso que hoje, por razões militares, políticas, sociais, econômicas e ambientais.
Aliás, sem piada, algumas regiões do mundo estão pegando fogo.
Qual a implicação que isso tem para nós? Que podemos e devemos fazer acordos, alianças e tratados – a começar pela China – sem cair em trampas como o acordo Mercosul-União Europeia; mas o cenário mundial indica que, acima de tudo, devemos contar com nossas próprias forças.
Incluindo nessas forças nossos aliados latino-americanos e caribenhos. É preciso que em dezembro de 2023 tenhamos dado mais passos no sentido da integração regional, não apenas institucional, mas também produtiva.
E aqui há um problema para o qual é preciso estar alerta: a diplomacia presidencial é importante, é um grande ponto a nosso favor, mas não podemos depositar no Lula todas as tarefas, sob pena dele simplesmente não dar conta.
Por isso, é muito importante que, até dezembro de 2023, o PT tenha reorganizado sua atuação na frente internacional. Do jeito que está, não está à altura da situação.
2/
Passamos em seguida para o cenário nacional.
A situação econômica melhorou um pouco, a inflação caiu um pouco.
Há muita gente comemorando o Novo Marco Fiscal e outros tantos comemorando a aprovação da reforma tributária.
Há até quem diga que o Novo Marco Fiscal seria algo de impacto semelhante ao Plano Real.
Esperamos que não seja, pois como sabe qualquer pessoa que não tenha coração tucano, o plano real contribuiu para gerar um imenso desemprego, contribuiu para ampliar a dependência externa, foi financiado pelas privatizações e, detalhe, durou até as eleições de 1998, depois fez água. E o país entrou num inferno, o que aliás contribuiu para a eleição da oposição, no caso nós, em 2002.
Deixando o plano real de lado, há sinais moderadamente positivos no curto prazo. Mas isso é absolutamente insuficiente.
E não basta tirar o presidente do BC, embora seja fundamental fazer isso e rápido.
Até dezembro de 2023, alguns passos precisam ser dados para o Brasil deixar de ser uma subpotência primária exportadora e caminhar para ser uma potência industrial e tecnológica d de novo tipo.
E isso não se fará em aliança com o agronegócio e com o capital financeiro.
Ou, para falar da política, não basta união e reconstrução. Pois isso nos deixará, na melhor das hipóteses, onde estávamos em 2016.
Precisamos de transformação, palavra que foi deixada de lado na elaboração do slogan do governo Lula. E não apenas no slogan.
3/
Passamos em seguida para outro aspecto do cenário nacional, a política.
Como sabem, a Fundação Perseu Abramo tem uma revista, chamada Focus.
E o diretor da revista é um companheiro que fez sua formação política em Moscou.
E trouxe de lá um dos hábitos mais arraigados da imprensa soviética.
Como voces sabem, não havia pravda no isveztia nem isvestia no pravda.
Indo ao grão: segundo a capa da mais recente edição da revista Focus, estaríamos assistindo “a agonia do bolsonarismo”.
A revista também diz que “ainda há riscos, mas as instituições estão atentas”.
Ao contrário do que diz nossa imprensa neosoviética, o cavernícola pode estar passando por um mau bocado, mas a extrema-direita brasileira ainda não está na fase da agonia.
E mesmo que estivesse, isso não seria o fim dos nossos problemas.
Para começo de conversa, sempre é bom lembrar que o golpe de 2016 foi dado por uma ampla aliança, onde a extrema-direita era mera coadjuvante. Quem mandava era a direita gourmet, os neoliberais, com STF e tudo.
Também é bom lembrar que o cavernícola governou durante 4 anos, fez todas as merdas possíveis e não ganhou as eleições por apenas 2 milhões de votos.
Igualmente é bom lembrar que a direita e extrema direita são maioria no congresso nacional. Aliás, neste exato momento, está se negociando espaço no governo para partidos que apoiaram Bolsonaro, como se o povo tivesse feito o L de Lira, e não o L de Lula.
Mas o mais grave na formulação da nossa imprensa neosoviética é a afirmação de que “as instituições estão atentas”.
Veja, atentas estão. Mas isso não quer dizer que estejam atentas a nosso favor.
De que instituições estamos falando?
Do congresso?
Do sistema judiciário?
Do oligopólio da comunicação?
E das forças armadas?
Não podemos confiar nem depender de instituições que são majoritariamente controladas pela direita e pelos neoliberais.
Basta ver como vem votando o STF em questões importantes que afetam os direitos dos trabalhadores.
E atenção: quem fala em derrotar o neofascismo e, em nome disso, faz concessões aos neoliberais, está pavimentando o caminho para a volta do neofascismo.
Por tudo isso, precisamos chegar no final de 2023 com avanços no trato daquelas 4 instituições.
E para isso precisamos, entre outras coisas, de muito mais mobilização política e social do que hoje.
4/
Para terminar o pontapé inicial sobre o balanço do futuro, falaremos de nós, da esquerda, especialmente do Partido dos Trabalhadores.
Há várias maneiras de analisar a situação do PT.
Por exemplo: desde 1989 até 2022, aconteceram 9 eleições presidenciais, o PT venceu 5 e ficou em segundo lugar nas outras 4.
Isto serve para ilustrar a seguinte tese: nos temos das nossas vidas, a classe trabalhadora brasileira só vencerá se for com o PT.
Ao menos nos tempos de nossas vidas, digamos, nos próximos 30 anos, sem o PT ou contra o PT, não haverá vitórias para a classe trabalhadora.
O problema é que tem uma parte do PT que está remando contra.
Deixando de ser socialista e passando a se apresentar como de centro-esquerda.
Abandonando o programa de transformações democrático-populares e passando a defender políticas social-liberais.
Desistindo da mobilização social e transformando o PT em partido de anos pares.
E tentando transformar um partido de massas num partido controlado por um sindicato de parlamentares.
O caso é: precisamos chegar no inicio de 2024 tendo dado passos no sentido de mudar esta situação.
Por exemplo: não dá para achar normal que haja governantes e parlamentares que não pagam o partido. Ou que chegam nas campanhas eleitorais, fazem campanha para candidaturas que não são apoiadas pelo PT e nada aconteça.
E antes que alguém que me diga que fazer este tipo de crítica seria subestimar a institucionalidade, respondemos: é exatamente o contrário.
O PT tem um desempenho institucional melhor, quando ele adota uma estratégia que não coloca o eleitoral no centro do mundo.
Prova?
Desde 2002, temos diminuído nossa presença no congresso nacional.
E nos estados onde a institucionalidade virou o começo, o meio e o fim, fomos arrasados.
É o caso do Acre.
E se não tomarmos cuidado, é o que pode acontecer nas eleições de 2024. Se depender da turma que só pensa em eleição, vamos perder as próximas eleições.
É assim que abrimos a discussão sobre “os próximos 6 meses do governo Lula: balanço do futuro”.
Assisti o vídeo do topo dessa página e só discordo de um detalhe sobre o Acre que não ilustra bem pois acaba igualando situação complicada que é o cenário eleitoral das grandes e médias cidades do sudeste e sul.
ResponderExcluirSeu colega Maringoni faz análise mais fina sobre Haddad a partir dos 19 min do vídeo abaixo. E faz emergir um debate político central.
https://youtu.be/A4nxArAjqOc
Na China, a classe dominante é a classe trabalhadora através da sua burocracia. Ela impede que a burguesia chinesa, uma classe em si, atue como uma classe para si. Em outras palavras existe uma ditadura do proletariado. Portanto a classe dirigente E dominante governa a China.
No Brasil uma casta dominante, a que Brizola se referiu uma vez na unicamp, dona da terra e financiadora do 8/1 seria dissociada da classe dirigente segundo Haddad...
No Brasil quem governa? Lira é industrial? O ministro da Defesa é do PT?
Em 2015 / 16 o PT perdeu rapidamente o apoio nas cidades com a política econômica. Quem segura o leme dessa nave incandescente?