sábado, 22 de julho de 2023

Para um balanço dos próximos 6 meses

No dia 19 de julho realizamos mais uma "quarta quente" do blog Manifesto Petista.

O tema foi “os próximos 6 meses do governo Lula: balanço do futuro”.

A íntegra está aqui: (44) Os próximos 6 meses do governo LULA: balanço do futuro - YouTube

Para quem achou o título um pouco paradoxal – balanço do futuro, balanço de algo que ainda não aconteceu – pedimos levar em consideração um dos grandes livros do sensacional Mike Davis, o Cidade de Quartzo, cujo subtítulo era “escavando o futuro em Los Angeles”.

Interessados, tem uma edição da Boitempo. E a primeira edição em português foi da Scritta, editora do Breno Altman, onde trabalhei como assistente editorial.

Reminiscências a parte, segue um resumo adaptado das hipóteses sobre o que esta por vir.

1/

Começamos com o cenário mundial: aconteça o que acontecer com a guerra na Ucrânia, tudo indica que em dezembro de 2023 o ambiente mundial estará mais tenso que hoje, por razões militares, políticas, sociais, econômicas e ambientais.

Aliás, sem piada, algumas regiões do mundo estão pegando fogo.

Qual a implicação que isso tem para nós? Que podemos e devemos fazer acordos, alianças e tratados – a começar pela China – sem cair em trampas como o acordo Mercosul-União Europeia;  mas o cenário mundial indica que, acima de tudo, devemos contar com nossas próprias forças

Incluindo nessas forças nossos aliados latino-americanos e caribenhos. É preciso que em dezembro de 2023 tenhamos dado mais passos no sentido da integração regional, não apenas institucional, mas também produtiva.

E aqui há um problema para o qual é preciso estar alerta: a diplomacia presidencial é importante, é um grande ponto a nosso favor, mas não podemos depositar no Lula todas as tarefas, sob pena dele simplesmente não dar conta.

Por isso, é muito importante que, até dezembro de 2023, o PT tenha reorganizado sua atuação na frente internacional. Do jeito que está, não está à altura da situação.

2/

Passamos em seguida para o cenário nacional. 

A situação econômica melhorou um pouco, a inflação caiu um pouco.

Há muita gente comemorando o Novo Marco Fiscal e outros tantos comemorando a aprovação da reforma tributária.

Há até quem diga que o Novo Marco Fiscal seria algo de impacto semelhante ao Plano Real.

Esperamos que não seja, pois como sabe qualquer pessoa que não tenha coração tucano, o plano real contribuiu para gerar um imenso desemprego, contribuiu para ampliar a dependência externa, foi financiado pelas privatizações e, detalhe, durou até as eleições de 1998, depois fez água. E o país entrou num inferno, o que aliás contribuiu para a eleição da oposição, no caso nós, em 2002.

Deixando o plano real de lado, há sinais moderadamente positivos no curto prazo. Mas isso é absolutamente insuficiente.

E não basta tirar o presidente do BC, embora seja fundamental fazer isso e rápido.

Até dezembro de 2023, alguns passos precisam ser dados para o Brasil deixar de ser uma subpotência primária exportadora e caminhar para ser uma potência industrial e tecnológica d de novo tipo.

E isso não se fará em aliança com o agronegócio e com o capital financeiro.

Ou, para falar da política, não basta união e reconstrução. Pois isso nos deixará, na melhor das hipóteses, onde estávamos em 2016.

Precisamos de transformação, palavra que foi deixada de lado na elaboração do slogan do governo Lula. E não apenas no slogan.

3/

Passamos em seguida para outro aspecto do cenário nacional, a política.

Como sabem, a Fundação Perseu Abramo tem uma revista, chamada Focus.

E o diretor da revista é um companheiro que fez sua formação política em Moscou.

E trouxe de lá um dos hábitos mais arraigados da imprensa soviética.

Como voces sabem, não havia pravda no isveztia nem isvestia no pravda.

Indo ao grão: segundo a capa da mais recente edição da revista Focus, estaríamos assistindo “a agonia do bolsonarismo”. 

A revista também diz que “ainda há riscos, mas as instituições estão atentas”.  

Ao contrário do que diz nossa imprensa neosoviética, o cavernícola pode estar passando por um mau bocado, mas a extrema-direita brasileira ainda não está na fase da agonia.

E mesmo que estivesse, isso não seria o fim dos nossos problemas.

Para começo de conversa, sempre é bom lembrar que o golpe de 2016 foi dado por uma ampla aliança, onde a extrema-direita era mera coadjuvante. Quem mandava era a direita gourmet, os neoliberais, com STF e tudo.

Também é bom lembrar que o cavernícola governou durante 4 anos, fez todas as merdas possíveis e não ganhou as eleições por apenas 2 milhões de votos.

Igualmente é bom lembrar que a direita e extrema direita são maioria no congresso nacional. Aliás, neste exato momento, está se negociando espaço no governo para partidos que apoiaram Bolsonaro, como se o povo tivesse feito o L de Lira, e não o L de Lula.

Mas o mais grave na formulação da nossa imprensa neosoviética é a afirmação de que “as instituições estão atentas”.

Veja, atentas estão. Mas isso não quer dizer que estejam atentas a nosso favor.

De que instituições estamos falando?

Do congresso?

Do sistema judiciário?

Do oligopólio da comunicação?

E das forças armadas?

Não podemos confiar nem depender de instituições que são majoritariamente controladas pela direita e pelos neoliberais.

Basta ver como vem votando o STF em questões importantes que afetam os direitos dos trabalhadores.

E atenção: quem fala em derrotar o neofascismo e, em nome disso, faz concessões aos neoliberais, está pavimentando o caminho para a volta do neofascismo.

Por tudo isso, precisamos chegar no final de 2023 com avanços no trato daquelas 4 instituições.

E para isso precisamos, entre outras coisas, de muito mais mobilização política e social do que hoje.

4/

Para terminar o pontapé inicial sobre o balanço do futuro, falaremos de nós, da esquerda, especialmente do Partido dos Trabalhadores.

Há várias maneiras de analisar a situação do PT.

Por exemplo: desde 1989 até 2022, aconteceram 9 eleições presidenciais, o PT venceu 5 e ficou em segundo lugar nas outras 4.

Isto serve para ilustrar a seguinte tese: nos temos das nossas vidas, a classe trabalhadora brasileira só vencerá se for com o PT.

Ao menos nos tempos de nossas vidas, digamos, nos próximos 30 anos, sem o PT ou contra o PT, não haverá vitórias para a classe trabalhadora.

O problema é que tem uma parte do PT que está remando contra.

Deixando de ser socialista e passando a se apresentar como de centro-esquerda.

Abandonando o programa de transformações democrático-populares e passando a defender políticas social-liberais.

Desistindo da mobilização social e transformando o PT em partido de anos pares.

E tentando transformar um partido de massas num partido controlado por um sindicato de parlamentares.

O caso é: precisamos chegar no inicio de 2024 tendo dado passos no sentido de mudar esta situação.

Por exemplo: não dá para achar normal que haja governantes e parlamentares que não pagam o partido. Ou que chegam nas campanhas eleitorais, fazem campanha para candidaturas que não são apoiadas pelo PT e nada aconteça.

E antes que alguém que me diga que fazer este tipo de crítica seria subestimar a institucionalidade, respondemos: é exatamente o contrário.

O PT tem um desempenho institucional melhor, quando ele adota uma estratégia que não coloca o eleitoral no centro do mundo.

Prova?

Desde 2002, temos diminuído nossa presença no congresso nacional.

E nos estados onde a institucionalidade virou o começo, o meio e o fim, fomos arrasados.

É o caso do Acre.

E se não tomarmos cuidado, é o que pode acontecer nas eleições de 2024. Se depender da turma que só pensa em eleição, vamos perder as próximas eleições.

É assim que abrimos a discussão sobre “os próximos 6 meses do governo Lula: balanço do futuro”.





Um comentário:

  1. Assisti o vídeo do topo dessa página e só discordo de um detalhe sobre o Acre que não ilustra bem pois acaba igualando situação complicada que é o cenário eleitoral das grandes e médias cidades do sudeste e sul.

    Seu colega Maringoni faz análise mais fina sobre Haddad a partir dos 19 min do vídeo abaixo. E faz emergir um debate político central.

    https://youtu.be/A4nxArAjqOc

    Na China, a classe dominante é a classe trabalhadora através da sua burocracia. Ela impede que a burguesia chinesa, uma classe em si, atue como uma classe para si. Em outras palavras existe uma ditadura do proletariado. Portanto a classe dirigente E dominante governa a China.

    No Brasil uma casta dominante, a que Brizola se referiu uma vez na unicamp, dona da terra e financiadora do 8/1 seria dissociada da classe dirigente segundo Haddad...

    No Brasil quem governa? Lira é industrial? O ministro da Defesa é do PT?

    Em 2015 / 16 o PT perdeu rapidamente o apoio nas cidades com a política econômica. Quem segura o leme dessa nave incandescente?







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