(versão atualizada dia 21 de julho, em debate na Dnae, sujeita a chuvas e trovoadas)
À militância
petista
À militância
da tendência petista Articulação de Esquerda
O Partido
dos Trabalhadores aprovou, no V Encontro Nacional (1987) e no I Congresso
(1991), o direito de tendência. E determinou que as tendências devem dar
publicidade, ao Partido, acerca de suas posições e atividades.
Cumprindo
esta determinação, informamos ao conjunto do Partido que nos dias 28, 29 e 30
de julho de 2023, acontecerá na sede nacional do PT, em Brasília, o Oitavo
Congresso nacional da tendência petista Articulação de Esquerda.
Destacamos o
fato de que neste ano de 2023 a tendência petista Articulação de Esquerda
completará 30 anos, fato que será lembrado no Oitavo Congresso, para cuja
sessão de abertura convidamos o conjunto da militância petista, em particular a
direção nacional do PT e a as direções de todas as tendências existentes no
Partido, a começar pelas 14 tendências que fazem parte das 8 chapas
representadas no Diretório Nacional do Partido eleito em 2019.
Como
subsídio aos congressos de base e ao congresso nacional, a direção nacional da
AE aprovou o seguinte projeto de resolução.
Projeto de
resolução
Lula tomou
posse na Presidência da República no dia 1 de janeiro de 2023. Esta vitória só
foi possível porque as forças democráticas e populares resistiram e derrotaram
os golpistas e os neofascistas, derrota consagrada no dia 30 de outubro de
2022, tendo sido decisivo o voto da classe trabalhadora com consciência de
classe, das mulheres, das negras e negros, da juventude e dos eleitores de
coração nordestino, moradores ou não daquela região do país.
A partir da
vitória eleitoral e antes mesmo de ser diplomado, Lula começou de imediato a
tomar decisões e atitudes presidenciais. É o caso de sua participação na 27ª
Conferência do Clima das Nações Unidas e, também, da participação de Lula nas
negociações junto ao Congresso Nacional, buscando alterar o orçamento 2023, de
forma a incluir recursos para pagar a chamada Bolsa Família para milhões de
famílias. O governo de extrema-direita não havia incluído tais recursos na
previsão orçamentária e, caso a negociação não fosse feita, Lula iria iniciar
seu governo administrando uma crise humanitária de proporções ainda mais
graves.
Também no
período de 31 de outubro a 1 de janeiro, Lula dedicou grande atenção à
transição e ao balanço do governo derrotado. O resultado deste trabalho foi
tornado público no dia 22 de dezembro de 2022, num relatório cuja leitura é
essencial para compreender a herança maldita recebida pelo governo Lula.
No mesmo
período, Lula se dedicou à composição do governo e à definição de suas relações
com o judiciário e com o legislativo. Nos três casos, aplicou-se a chamada
“política de frente ampla”, ou seja, a política de alianças entre o Partido dos
Trabalhadores e um amplo leque de forças, incluindo aí partidos e setores de
partidos de esquerda, de centro, de centro-direita e de direita.
Usando como
argumento a correlação de forças, se decidiu fazer alianças, inclusive, com
forças que no passado recente fizeram parte da base de apoio do governo
anterior. Em nossa opinião, para disputar e vencer as eleições presidenciais de
2022 era necessário fazer amplas alianças. Mas fazer alianças é diferente de rebaixar
programa e capitular frente aos inimigos, motivo pelo qual repetimos: outra política
de alianças era possível e necessária.
Na mesma
linha, é óbvio que se faz necessário manter relações institucionais com o
sistema judiciário. Mas se hoje prevalece no Supremo uma postura contrária à
extrema direita, há pouco tempo prevaleceu uma postura contrária à esquerda, com
destaque para o respaldo dado pela “suprema corte” para a ilegal condenação,
prisão e interdição eleitoral de Lula. Por isso, seguiremos lutando pelo controle
externo e democrático do judiciário, combatendo os que buscam atribuir-lhe funções
e atribuições que não são suas. O cumprimento da lei – como foi feito no caso
que decidiu a inelegibilidade do genocida – não deve ser confundido com a
partidarização da justiça, com a judicialização da política, com o protagonismo
político das supremas cortes, por exemplo, sob a forma do lavajatismo e do
lawfare. Em nenhum caso é aceitável – ao menos em uma democracia – dar a uma
instituição não eleita poderes que são restritos à soberania popular e a quem
for eleito por ela.
Ao compor o ministério
de seu governo, Lula contemplou a ampla coligação que o elegeu, mas também
contemplou outras forças, em nome de compor uma maioria congressual, sem que,
entretanto, este objetivo tenha sido alcançado. As vitórias do governo no
Congresso, pelo menos até o momento, se deram apenas quando contamos com o
apoio dos setores neoliberais, que por sua vez só apoiam aquilo com que têm
acordo total ou parcial.
Até o
momento em que redigimos este projeto de resolução, dos 37 ministros, 17 são
petistas ou simpatizantes do Partido; 3 são filiados ao PSB; 3 são filiados ao
MDB; 3 são filiados ao PSD; 2 são filiados ao União Brasil (partido que,
entretanto, não se considera parte da base do governo no Congresso Nacional); 2
são vinculados ao PDT (embora um destes dois seja na verdade vinculado ao União
Brasil, que portanto ocupa de fato três cadeiras no ministério); 1 é integrante
do PCdoB, 1 da Rede e 1 do PSOL (embora não tenha se oposto a participação de
uma filiada como ministra, o PSOL enquanto partido não se considera parte do
governo). Os partidos de direita com participação no governo não garantiram até
o momento nem mesmo a fidelidade de suas bancadas parlamentares, em mais um caso
do “toma lá, sem dá cá”. E, também no momento em que redigimos este projeto de
resolução, está em curso uma negociação que pode levar a nomeação de novos
ministros de direita, sob o argumento de ampliar a governabilidade, vista única
e exclusivamente de uma ótica institucional.
Ademais da
composição partidária estrito senso, é importante ressaltar que o ministério é
composto por uma maioria de homens e brancos, realidade que precisa ser
alterada. Assim como se faz necessário corrigir distorções regionais e
contemplar adequadamente a diversidade partidária, pois uma única tendência
controla a maior parte dos principais cargos. A esse respeito, está certo quem
aponta a contradição entre a defesa de amplas alianças com a direita e a defesa
do monopólio interno.
Quando
encerrarmos o 8º Congresso da AE, no dia 30 de julho de 2023, completar-se-ão
sete meses do terceiro mandato de Lula na presidência da República do Brasil.
Ao longo destes primeiros meses de atividade, o governo desenvolveu uma intensa atividade. Balanço oficial divulgado pelo próprio governo apresenta o seguinte resumo: “seis meses de união e reconstrução: é o Brasil no rumo certo”, citando entre outras medidas “programas que fazem a diferença no combate às desigualdades e conciliam crescimento econômico com inclusão social: Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Brasil Sorridente e Farmácia Popular, entre tantos outros”; “mais renda, mais consumo e mais empregos, impulsionados pelo aumento real do salário mínimo, a redução dos preços de alimentos e combustíveis e o aumento da taxa de isenção do imposto de renda”; “o combate à fome voltou a ser uma política de Estado, com o aumento de repasses do Bolsa Família, o novo Programa de Aquisição de Alimentos, o Plano Safra Agricultura Familiar e o reajuste nos repasses da alimentação escolar para estados e municípios”; “foram criados os ministérios da Mulher, da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas e sancionada a lei da igualdade salarial e remuneratória entre mulheres e homens, além do anúncio do pacote de igualdade racial e a volta da demarcação e homologação de terras indígenas”; “o presidente Lula se reuniu com líderes de mais de 40 países e organizações internacionais e transnacionais dentro e fora do País”. Acrescentamos, entre outras medidas: combate ao garimpo ilegal; recursos para ciência e tecnologia; investimento cultural via Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc 2; combate ao trabalho escravo; recomposição do orçamento das universidades federais; ações para deter o genocídio contra o povo Yanomami; a retomada de várias obras paradas; a interrupção de privatizações; a recomposição do salário do funcionalismo público; e a política externa do presidente Lula.
Embora haja
muito que comemorar, é muito mais o que resta por fazer. Sabemos, também, que
não basta administrar bem. Fizemos grandes realizações administrativas entre
2003 e 2016, mas isso não impediu o golpe, a vitória do cavernícola e quase
sete anos de destruição. O desfecho da luta política se decide na luta
política.
Também por
isto, o conjunto da militância petista deve saber combinar, de maneira
adequada, a necessária propaganda positiva das nossas realizações, com a
crítica e autocrítica dos nossos erros, a análise detalhada dos grandes
desafios que temos pela frente, um trabalho intenso de conscientização, a
permanente organização e mobilização do povo, bem como a elaboração das táticas
e da estratégica adequadas ao atual período histórico.
Êxitos,
críticas e autocrítica
Tomados de
conjunto, os primeiros meses do governo Lula devem ser comemorados,
especialmente frente aos malfeitos de sete anos dos governos golpistas e de
extrema-direita.
Entretanto,
sabemos que a avaliação política do governo não é um desdobramento automático
de suas realizações administrativas; sabemos, também, que – como diz o próprio
presidente Lula – precisamos exercer nossa capacidade de crítica e de
autocrítica.
Devemos
lembrar que o desempenho do governo Lula nesses primeiros meses teria sido
melhor, se vários ministérios não tivessem sido saqueados, desmontados ou até
mesmo extintos pelo governo cavernícola, o que agora exige uma engenharia
administrativa, legal e orçamentária que torna muito difícil este início de
governo. Além disso, o orçamento deixado pelo governo de extrema-direita foi
absolutamente inferior ao necessário.
A ação de
muitos ministérios precisa enfrentar o peso da herança maldita deixado pelo
governo da extrema direita: desmonte e recursos à míngua, contrastando com a
realidade, que exige grande e imediata intervenção.
Outro fator
que dificulta a ação de vários ministérios é o fato das equipes demorarem
demasiado para ser montadas, entre outros motivos porque o governo combinou as nomeações
com a busca – até o momento infrutífera – de ter uma efetiva maioria no
Congresso Nacional. Como resultado daquela combinação, há situações que na
opinião do PT são inaceitáveis, como é o caso da presença de integrantes e
apoiadores do governo anterior em postos chave do atual governo. Presença que não
mudou o comportamento efetivo destes setores no Congresso, que aliás clamam por
mais espaços no ministério, tendo inicialmente mirado inclusive no ministério da
Saúde. A esse respeito, na esteira das manifestações da 17ª Conferência
Nacional de Saúde, reafirmamos: a saúde não é mercadoria e não pode ser objeto
de negociatas.
As ações
positivas do governo – especialmente quando postas em contraste com anos de
gestão da extrema-direita – não podem nos levar a fechar os olhos para o fato
de que, em algumas áreas e temas, até agora muito pouco ou quase nada mudou. E
isto se deve, essencialmente, ao fato de que vários ministérios são encabeçados
por titulares vinculados a direita, inclusive a setores que participaram do
golpe, do lavajatismo, além de terem apoiado o governo derrotado.
Evidente que
enquanto prosseguir esta situação, nesses ministérios – com destaque para
situações como a da Comunicação e da Defesa – não haverá avanços efetivos, no
sentido do cumprimento do programa de reconstrução e transformação. Avanços que
são urgentes: como tem dito e repetido o presidente Lula, temos pressa. Não
apenas para superar os motivos que produzem sofrimento no povo, mas também
porque a situação política nacional, continental e mundial é muito instável e
não admite que se perca um segundo sequer.
Desafios
estratégicos e históricos
A esse
respeito, é preciso lembrar sempre que a situação mundial é de crise sistêmica.
Esta crise possui múltiplas dimensões (militar, política, social, econômica,
ambiental, cultural), tem duração indeterminada e seu desfecho dependerá de
muitos conflitos que atualmente estão em curso.
No âmbito
mundial, um dos principais conflitos envolve Estados Unidos e República Popular
da China. Em nosso continente, o conflito fundamental se dá entre os que
defendem a submissão ao imperialismo estadounidense e, de outro lado, nós que
defendemos a integração regional latino-americana e caribenha. E, no âmbito
nacional, o conflito fundamental se dá entre opositores e defensores do modelo
primário-exportador, sem cuja superação não haverá como garantir
desenvolvimento, bem-estar social, liberdades democráticas e soberania
nacional.
Os grandes
conflitos que caracterizam o atual
período histórico ganharam maior dimensão, profundidade e velocidade nos
últimos anos, a partir da crise de 2008. Em seguida vieram: a onda de golpes na
América Latina e a posterior reviravolta ocorrida em diversos países, com
governos direitistas sendo substituídos por governos progressistas e de
esquerda; a pandemia e todos os seus impactos; o crescimento mundial da
extrema-direita; a guerra entre Rússia e Ucrânia/Otan. Para onde quer que se
olhe, o mundo está atravessado por conflitos, lutas e mobilizações de todo
tipo, como demonstra a onda de protestos na França.
Momentos de
crise profunda – como a que vivemos atualmente – são terríveis e perigosos, mas
também são propícios para darmos passos decisivos para a construção de um novo
mundo, um mundo com bem-estar e liberdades, com soberania e integração, um
mundo desenvolvido e que preserve o meio ambiente, um mundo socialista.
Este é um
dos motivos, aliás, que explica a calorosa recepção dada a Lula nos quatro
cantos do mundo: a humanidade quer um futuro diferente do passado, um futuro
que tem na palavra igualdade uma de suas mais poderosas sínteses. E igualdade –
falemos as coisas por completo - implica em lugar contra o capitalismo e pelo socialismo.
É desta
perspectiva que abordamos a atual conjuntura brasileira. Nosso governo está
chamado a contribuir para uma missão histórica, que inclusive transcende as
fronteiras do Brasil. Mas só teremos êxito se ampliarmos nosso apoio junto a
classe trabalhadora, se dermos um salto de qualidade na atuação de nosso Partido
e se impusermos derrotas tanto à extrema-direita neofacista quanto aos
neoliberais.
Neste sentido, mais do que comemorar os êxitos parciais obtidos até agora - entre os quais incluímos a inelegebilidade do cavernícola e a realização no Brasil do XXVI encontro do Foro de São Paulo - o esforço principal do PT deve ser vencer as batalhas presentes e futuras, entre as quais mudar a política do Banco Central e derrotar a ditadura do capital financeiro; garantir forças armadas comprometidas com a defesa da soberania nacional; além de impor à maioria de direita do Congresso o respeito às prerrogativas constitucionais do executivo, criar as condições para construir uma maioria de esquerda no Congresso nacional; democratizar o sistema judiciário; quebrar o oligopólio da comunicação; executar uma política de reforma agrária e enfrentar o agronegócio e a mineração; iniciar um novo ciclo de desenvolvimento do Brasil, com industrialização, alta tecnologia e proteção do meio ambiente. Tudo isto combinado e à serviço de melhorar rápida e profundamente a qualidade de vida da maioria do povo brasileiro, com políticas de moradia, saúde, educação e cultura.
Vistas de conjunto, as batalhas presentes e futuras demandam um processo Constituinte, na linha do que já decidiu o sexto congressos do PT. A Constituição de 1988 tinha imensas limitações, bem explicadas por Lula quando informou que a bancada do PT votaria contra o texto final. Posteriormente, cerca de 120 emendas constitucionais alteraram o texto aprovado, geralmente acentuando seu caráter conservador. Quem deseja transformar o país, não pode aprisionar nossos direitos e liberdades nos marcos de 1988.
Exonerar
o presidente do Banco Central
Legislação
aprovada durante o governo golpista concedeu uma suposta “independência” ao
Banco Central, suposta porque na prática o tornou ainda mais dependente e
extensão dos interesses do grande capital financeiro.
Nomeado pelo
derrotado, o atual presidente do Banco Central mantém uma política de juros
absolutamente alucinada, cujo único propósito é transferir recursos para o
setor financeiro.
É preciso
tomar todas as medidas legais e institucionais para, no mais rápido prazo
possível, alterar a diretoria do Banco Central, a começar pela sua presidência,
sob pena de não conseguirmos adotar uma política de desenvolvimento com
ampliação do bem-estar social.
Apoiamos as
críticas feitas pelo presidente Lula contra a política de juros. E propomos, ao
governo, que oriente seus representantes no Conselho Monetário Nacional a atuar
conforme prevê o artigo 5º da lei complementar número 179, de 24 de fevereiro
de 2021, que no seu artigo 5º diz o seguinte: “O Presidente e os Diretores do
Banco Central do Brasil serão exonerados pelo Presidente da República (…) IV –
quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance
dos objetivos do Banco Central do Brasil. § 1º Na hipótese de que trata o
inciso IV do caput deste artigo, compete ao Conselho Monetário Nacional
submeter ao Presidente da República a proposta de exoneração, cujo
aperfeiçoamento ficará condicionado à prévia aprovação, por maioria absoluta,
do Senado Federal. § 2º Ocorrendo vacância do cargo de Presidente ou de Diretor
do Banco Central do Brasil, um substituto será indicado e nomeado para
completar o mandato, observados os procedimentos estabelecidos no art. 3º e no
caput do art. 4º desta Lei Complementar, devendo a posse ocorrer no prazo de 15
(quinze) dias, contado da aprovação do nome pelo Senado Federal. § 3º Na
hipótese do § 2º deste artigo, o cargo de Presidente do Banco Central do Brasil
será exercido interinamente pelo Diretor com mais tempo no exercício do cargo
e, dentre os Diretores com o mesmo tempo de exercício, pelo mais idoso, até a
nomeação de novo Presidente”.
A demissão
do presidente do Banco Central e a redução da taxa de juros são objetivos importantes,
mas não são suficientes. Além de mudar a política de juros altos e passar a ter
a geração de empregos como o objetivo central da política de juros, é preciso tomar
medidas contra o oligopólio financeiro privado. O país precisa ter soberania
sobre sua moeda e isso depende de um sistema financeiro que seja público.
Na mesma
perspectiva de fazer transformações estruturais e não apenas reduzir danos,
reafirmamos a necessidade de revogar as contra reformas trabalhista e da
previdência, bem como destacamos que o correto teria sido aumentar o salário
mínimo – como defendeu a CUT – para no mínimo R$ 1.382,71 e já a partir do
início de 2023, como forma de compensar o confisco salarial resultante da
inflação. Reafirmamos, também, que é preciso achar maneiras de recuperar o que
foi confiscado desde o golpe.
Sem
Anistia para os criminosos de 8 de janeiro
No dia 8 de
janeiro, milhares de criminosos atacaram os prédios do governo federal, do
Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Para fazer a polícia da
capital do país agir adequadamente contra os criminosos, o presidente Lula foi
obrigado a decretar intervenção na segurança do Distrito Federal.
Posteriormente, o presidente do Supremo Tribunal Federal decretou o afastamento
temporário do governador do Distrito Federal. E, dias depois, foi a vez do
comandante do Exército ser demitido e substituído, comprovando que ele nunca
deveria ter sido nomeado.
O ataque dos
criminosos de extrema-direita não foi um ato espontâneo, nem totalmente
inesperado. Já no dia 12 de dezembro de 2022, quando da diplomação de Lula, a
extrema-direita promoveu um quebra-quebra na cidade de Brasília, contando com a
cumplicidade do então presidente da República, do governo do Distrito Federal,
de setores das Forças Armadas e das polícias. Na sequência destes fatos, no
final de dezembro de 2022 e início de janeiro de 2023, as redes (anti)sociais
da extrema-direita foram tomadas por mensagens arregimentando pessoas para vir
a Brasília. E acampamentos foram montados em frente a quartéis, por todo o
Brasil.
Tratou-se,
portanto, de uma operação de guerra, financiada por empresários, coordenada por
uma aliança cívico-militar e perpetrada por alguns milhares de neofascistas,
que usaram o acampamento defronte ao Quartel General do Exército como base de
operações. Apesar disso, o então e ainda ministro da Defesa – que, reiteramos,
precisa ser demitido - disse que nos tais acampamentos havia “democratas”,
inclusive “amigos e familiares” seus, prevendo que eles se desmobilizariam aos
poucos e pacificamente. Aliás, até hoje o atual ministro da Defesa segue –
contra todas as evidências – tentando encobrir a participação criminosa de
altos mandos nos atos de 8 de janeiro. Suas declarações apenas confirmam os
motivos pelos quais ele foi preferido pelos militares para ocupar o posto.
Resta
evidente a necessidade de processar, julgar e punir quem financiou as caravanas
e os acampamentos da extrema-direita; quem, por ação ou omissão, facilitou o
acesso da extrema-direita à Esplanada dos Ministérios, onde ficam os três
prédios atacados; assim como processar, julgar e punir quem invadiu e depredou
os três palácios. Ficou patente, também, a necessidade de uma revisão completa
dos protocolos de segurança e inteligência do governo federal. Parte disto vem
sendo feito. Mas muito resta por ser feito, como ficou fartamente demonstrado
pelos fatos que levaram à demissão do General encarregado do chamado GSI; e,
mais recentemente, pela descoberta de diálogos mantidos pelo então ajudante de
ordem do cavernícola.
Até agora,
oficiais-generais e outros militares de alta patente envolvidos com o golpe não
foram punidos, nem mesmo administrativamente. O ex-comandante do Exército, por
exemplo, general Júlio César Arruda, precisa ser compulsoriamente reformado,
uma vez que resistiu às ordens para desalojar o acampamento bolsonarista
montado diante do Quartel General do Exército em Brasília, desacatou ministros
e o interventor federal no Distrito Federal (DF) e chegou a ameaçar um coronel
da Polícia Militar que tentava remover os acampados.
Outro
general de quatro estrelas, Gustavo Dutra de Menezes, foi responsável por
impedir ações contra os bolsonaristas acampados no QG. Portanto, é outro caso
de militar da mais alta patente que não pode permanecer na ativa,
independentemente das ações que vierem a ser ajuizadas contra ele por
participação nos eventos golpistas.
Caso os
generais Arruda e Dutra não sejam objeto de reforma, passando à reserva, eles
continuarão participando do Alto Comando do Exército, o que é uma situação inaceitável,
tais as evidências de seu envolvimento com os golpistas.
Reformá-los
imediatamente é uma prerrogativa do governo federal e deve ser levada a cabo,
sob pena de premiar quem conspirou contra a vontade popular. Dutra, por
exemplo, vem até o momento exercendo uma subchefia do Estado-Maior do Exército.
Destaque-se
como ação extremamente positiva a transferência da Agência Brasileira de
Informações (ABIN) para a Casa Civil, deixando assim de fazer parte do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI). Mas o próprio GSI deve ser extinto e o
controle da Inteligência (assim como da proteção do presidente da República)
deve ficar sob controle de órgãos civis e não do Exército. Ademais, precisamos
ter um Ministério da Defesa que seja legítimo representante do poder civil.
Além de seguir pendente a necessidade de criar um Ministério da Segurança
Pública e de dar publicidade aos atos cometidos pelos ministros da Justiça do
governo cavernícola.
Segue
necessária, também, uma reforma das Forças Armadas e das PMs, que seja capaz de
democratizar tanto os processos de recrutamento e de formação de oficiais como
suas estruturas internas (organização, regulamentos, hierarquia). Os currículos
atuais das escolas militares são fortemente enviesados pelo conservadorismo
mais reacionário, calcado nas antigas doutrinas de “Segurança Nacional” e nas
agendas expansionistas dos EUA, a ponto de as Forças Armadas considerarem
seriamente a possibilidade de uma invasão da Amazônia pela França e de
colocarem um oficial-general a serviço da 5ª Frota estadounidense.
As escolas
militares não podem se furtar às orientações do Ministério da Educação, nem
escamotear uma vasta bibliografia de autores e escolas de pensamento que os
generais ainda hoje enxergam como “subversivos”. A resistência dos militares a
qualquer alteração no seu sistema escolar indica precisamente quão crucial é
esse sistema na reprodução da ideologia profundamente antidemocrática,
visceralmente oligárquica, que historicamente vem enquadrando a visão de mundo
de gerações e gerações de oficiais. Lembrando que esta visão de mundo inclui a
subordinação das forças armadas brasileiras a uma potência estrangeira: os
Estados Unidos.
A gestão das
escolas militares é profundamente autoritária, desrespeitando a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e a Constituição Federal, que preveem a
gestão democrática do ensino, com a participação de professores, funcionários e
estudantes nos colegiados e nas decisões das instituições escolares. No ensino
superior, um exemplo é o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), cujo
reitor é escolhido em processo de seleção decidido exclusivamente pelo Alto
Comando da Aeronáutica, sem consulta à comunidade.
A extinção
da diretoria responsável pelas escolas cívico-militares, no âmbito da
Secretaria de Educação Básica do MEC, foi um passo importante para sepultar a
política do governo anterior. Contudo, não é suficiente para avançarmos na
desmilitarização da gestão educacional e escolar das redes públicas. É preciso
induzir a descontinuidade e a reversão do processo de militarização de escolas
em estados e municípios, para que as estruturas civis responsáveis por essas
unidades escolares reassumam plenamente sua gestão, em todos os aspectos,
livrando-as da interferência de militares e de suas respectivas corporações.
Vale
lembrar, também, da necessidade de alterar o artigo 142 da Constituição
Federal, que prevê, atualmente, a figura da “garantia da lei e da ordem” (GLO).
É preciso acabar com as chamadas operações de GLO e transferir automaticamente
para a reserva o militar que assumir cargo público, encerrando as especulações
sobre o suposto “poder moderador” das Forças Armadas, pondo fim a um certo
discurso praticado por setores neofascistas com a finalidade de justificar a
tutela militar sobre a sociedade civil.
É central a
reformulação do artigo 1º da Lei da Anistia (lei 6.683/1979) e do seu parágrafo
1º, que preveem anistia para os autores de “crimes conexos”, uma espécie de
código para anistiar agentes militares e civis que praticaram torturas,
assassinatos e toda sorte de atrocidades contra aqueles e aquelas que se
opuseram à Ditadura Militar, bem como contra diferentes grupos populacionais,
inclusive camponeses e povos indígenas.
Ao
“interpretar” essa lei, em 2010, o Supremo Tribunal Federal considerou válidos
os dispositivos de “crimes conexos”, legitimou a anistia que os militares se
autoconcederam (e a seus cúmplices civis), e interditou todo e qualquer
processo criminal contra torturadores e assassinos a serviço do regime
ditatorial e de seu terrorismo de Estado: centros de tortura, execuções
sumárias, “casas da morte”, desaparecimento forçado de corpos, falsificação de
laudos etc.
Não haverá
sequer liberdades democráticas no Brasil, muito menos uma “democracia”,
enquanto persistir a tutela militar sobre a sociedade civil, enquanto a tortura
não for definitivamente banida, enquanto as Polícias Militares tiverem licença
para matar. Inclusive por isso, outra alteração que devemos priorizar, não
apesar mas exatamente por causa das pesadas adversidades conjunturais, é a desmilitarização
das PMs e sua desvinculação do Exército. É preciso pôr fim à falida “guerra às
drogas”. As PMs seguem comportando-se como “tropa de ocupação” nas periferias e
comunidades faveladas dos grandes centros urbanos. São as forças policiais que mais
matam no mundo inteiro! O texto atual da Constituição Federal as define como
“forças auxiliares do Exército”, o que dificulta aos governadores e
governadoras exercer comando sobre elas. O que vale para os governos estaduais
encabeçados por petistas, sendo o caso da Bahia inaceitável. Como demonstram os
dados do Anuário de Segurança Pública 2023, a Bahia tem uma das polícias mais
letais do Brasil, abaixo do Amapá e acima do Rio de Janeiro. Além disso, das 50
cidades mais violentas do país ("segundo a taxa de Mortes Violentas
Intencionais, com população acima de 100 mil habitantes"), a Bahia tem 12.
A saber: Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Camaçari, Feira de
Santana, Juazeiro, Teixeira de Freitas, Salvador, Ilhéus, Luis Eduardo
Magalhães, Eunapolis e Alagoinhas.
Por todas
estas razões, enfrentar a questão militar deve estar entre as prioridades do
programa do PT e exortamos o governo do companheiro Lula a tomar medidas
concretas a respeito.
Fatos
recentes da história do Brasil – como o golpe contra a Dilma, a prisão de Lula,
a eleição do cavernícola, a tentativa de golpe do 8 de janeiro – têm relação
direta com a tutela militar.
A respeito
disto, há inúmeras resoluções, aprovadas desde 1980 até 2017, no 6º Congresso Nacional
do PT. Mas o que o nosso atual Diretório Nacional, eleito em 2019, deliberou a
respeito da questão?
Quando
debatemos o programa de reconstrução e transformação, a maioria dos integrantes
do Diretório recusou as propostas de resolução apresentadas a respeito da
tutela militar; naquela ocasião, a maioria do Diretório escolheu remeter o tema
para debate em uma comissão de especialistas, que nunca se reuniu.
Quando
debatemos o programa da Federação, a maioria dos integrantes do Diretório recusou
as propostas de resolução apresentadas a respeito. Quando debatemos o programa
da coligação presidencial, a maioria dos integrantes do Diretório recusou as
propostas de resolução apresentadas a respeito. Na transição de governo, não
foi constituído um grupo para tratar do tema. Aí veio o 8 de janeiro de 2023. E
apesar disto, seis meses depois, no dia 10 de julho de 2023, 47 integrantes do Diretório
Nacional do PT decidiram votar contra um texto que afirmava o seguinte: “Não se
poderá falar em democracia plena no Brasil, enquanto persistir a tutela
militar. O Diretório Nacional do PT decide convocar uma conferência nacional
para debater a política de Defesa Nacional e o papel das forças armadas”.
Ou seja: o mesmo
Diretório que exige “punição severa aos golpistas que no dia 08 de janeiro
intentaram contra o Estado Democrático de Direito”, inclusive punição a seus
“estimuladores militares”; o mesmo Diretório prefere não falar de “tutela
militar”. E, ao mesmo tempo, decide não convocar uma conferência para debater o
papel das forças armadas.
O golpismo
de 8 de janeiro tem causas sistêmicas e seu tratamento não pode ser adiado. E o
tratamento dessas causas sistêmicas inclui o debate público, aberto,
democrático, acerca do papel das forças armadas.
O fato do Diretório
Nacional não aprovar a emenda proposta não impede que o debate exista, muito
menos faz a tutela desaparecer. Mas o fato da emenda ser rejeitada revela que a
maioria da direção nacional de nosso partido segue não percebendo que o tema é
inescapável e inadiável, e que precisa ser tratado publicamente.
No dia 8 de
janeiro, quando muita gente foi surpreendida pelos acontecimentos, vimos o
resultado deste tipo de atitude.
O PT deve
convocar uma conferência nacional para debater Defesa Nacional e o papel das
forças armadas. Precisamos de forças armadas fortes, capacidades
tecnologicamente, subordinadas ao governo eleito pelo povo e comprometidas com
a defesa da soberania nacional.
No terreno
militar, assim como em outros terrenos, o governo Lula precisa combinar uma
“guerra de movimento” com uma “guerra de posição”, neste caso parecida com aquela
que se precisa fazer quando se reocupa uma cidade que fora tomada por um
exército invasor. É preciso ir de casa em casa, desalojando franco-atiradores,
desmontando minas e armadilhas de todo tipo. E ao presidente não cabe o papel
de fazer reclamações, como se diz ter feito quando o criminoso Mauro Cid
compareceu fardado na CPMI do 8 de janeiro. Ao presidente cabe comandar.
Contra o
semipresidencialismo e contra as emendas secretas, mobilização popular, orçamento
participativo e reforma política
A bancada do
PT no Congresso Nacional, a pedido do governo, votou a favor da reeleição do
presidente da Câmara dos Deputados e do presidente do Senado federal. Isto
apesar de ambos terem contribuído para dar sustentação legislativa à administração
da extrema-direita, além de terem introduzido métodos duramente criticados pelo
PT, como o popularmente designado “orçamento secreto”.
Apesar da
disposição pacífica do PT, prevaleceu desde então – no caso da presidência da
Câmara dos Deputados – a tentativa de impor uma espécie de semiparlamentarismo
(ou, o que é equivalente, um semipresidencialismo). Combatemos e seguiremos
combatendo esta tentativa, sem respaldo constitucional e sem respaldo
popular. A atitude especialmente de
Arhur Lira confirma o erro cometido pelo PT, ao votar na sua reeleição, sem nem
ao menos negociar previamente os termos desse apoio, numa atitude que pode ser
resumida assim: “toma lá, sem dá cá”. Mas ao invés de reconhecer o erro, se
está negociando a entrada no governo de ministros indicados pelo Centrão de
Arthur Lira.
Muito ao
contrário desta atitude – de ceder à chantagem, o que só levará a novas
chantagens -, um dos objetivos do PT é derrotar a hegemonia da direita e da
extrema-direita no Congresso Nacional. Isto exigirá ampliar a votação da
esquerda nas próximas eleições proporcionais, mas também exigirá mudanças
legislativas constitucionais, sendo este um dos motivos pelos quais reafirmamos
a necessidade de fazer uma Assembleia Nacional Constituinte que promova uma
reforma política. Vale dizer que a convocação de uma Constituinte é uma
resolução aprovada pelo 6º Congresso do PT e até hoje vigente, embora esquecida
pelos que atualmente dirigem o Partido. Uma Constituinte é necessária, também,
para democratizar o sistema judiciário.
No curto
prazo, impõe-se ampliar a denúncia contra as manobras do atual presidente da
Câmara, apoiar as investigações em curso contra os malfeitos de que ele é
acusado e, principalmente, criar um ambiente de mobilização social e um verdadeiro
mecanismo de participação popular na definição do orçamento, que resgate os
aspectos positivos do Orçamento Participativo, como contraponto ao fisiologismo
institucionalizado das emendas secretas.
Neste
sentido, é necessário fazer um balanço do PPA participativo, na perspectiva de
construir um Orçamento Participativo.
Iniciar
um novo ciclo de desenvolvimento
Comemoramos
o fato de 88% das negociações da data base de maio (setor privado) tenham
obtido vitórias acima da inflação. Assim como comemoramos todas as medidas de recomposição
de políticas públicas adotadas em nossos governos e desmontadas pelo golpismo e
pelo cavernícola. Mas para mudar os rumos do Brasil, não basta aumentar os
salários e ampliar as políticas sociais.
A nossa
vitória contra a extrema direita e contra o neoliberalismo dependem não apenas
de melhorar conjunturalmente a vida do povo, mas também de mudanças
estruturais, o que exige construirmos uma nova perspectiva de futuro para o
Brasil. Entre estas mudanças estruturais, destacamos a reforma agrária e a
política ambiental, essenciais para oferecer alternativas concretas à hegemonia
do bloco primário-exportador, composto pelo agronegócio e pela mineração. Outras
medidas essenciais são as que constroem nossa industrialização e desenvolvimento
tecnológico.
Neste
sentido, é fundamental que o anúncio do Novo PAC mude o rumo do debate acerca
da política econômica. O problema central do Brasil não é “controlar gastos”,
mas sim ampliar os investimentos, especialmente os investimentos do Estado, no
sentido de induzir um tipo de desenvolvimento que combata a desigualdade e mude
o lugar do Brasil no mundo.
As políticas
dos governos golpistas e de extrema-direita foram no sentido oposto, ou seja,
foram no sentido de beneficiar a primário exportação e a ditadura do capital
financeiro. Um dos instrumentos disto foi o chamado “teto de gastos”, aprovado
em 2017, que buscava limitar por 20 anos a expansão do gasto público à variação
inflacionária, excetuando os gastos financeiros, cuja evolução seguiu
descontrolada. O resultado foi a evolução descontrolada da dívida pública, a
desestruturação das políticas públicas e a estagnação da economia nacional. O
preço quem pagou foi a maioria do povo, assim como foi o povo que pagou os
custos da mal denominada “lei de responsabilidade fiscal”, que nunca impediu o
crescimento da dívida pública, que beneficiava o setor financeiro.
O PT sempre
se opôs ao “teto de gastos” e congêneres. O presidente Lula, na campanha de
2022, informou que iria trabalhar por sua revogação. E de fato, enquanto o teto
de gastos impedia a expansão real do gasto público, o chamado Novo Arcabouço
Fiscal (ainda em debate no Congresso nacional) permite que isso ocorra. Mas o
NAF permite a expansão do gasto público apenas sob determinadas condições. Em
um cenário em que não se conseguir aumentar os impostos, em que não se
conseguir avanços significativos no combate às desonerações e à sonegação, o
crescimento dependerá fundamentalmente do investimento privado. Mais do que
isso: ao estabelecer um crescimento das “despesas” sempre menor do que as
receitas, o NAF aponta para um futuro em que o Estado será mais mínimo do que é
hoje.
Diante do
marco fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda, defendemos alterações no
sentido de:
1)
estabelecer metas de crescimento e geração de empregos, como parâmetros para a
política fiscal;
2)
estabelecer metas fiscais expansionistas, portanto opostas à política monetária
do BC, para evitar o risco de uma dupla pressão contracionista;
3)
estabelecer metas de evolução do superávit subordinadas às necessidades de
investimento, em nenhum caso aceitando déficit zero ou superávit, enquanto a
economia brasileira não crescer de forma sustentada;
4) diluir ao
longo de vários anos as “punições” previstas para o caso de não cumprimento das
metas;
5) incluir
propostas tributárias que, além de rever desonerações e combater a sonegação,
aumentassem os impostos sobre os ricos;
6) alterar
os números de variação da receita e crescimento dos “gastos”, no sentido de
eliminar qualquer restrição ao papel do setor público na economia brasileira.
Reiteramos: o peso do setor público frente ao PIB deve crescer e não diminuir,
ao contrário do previsto na proposta da Fazenda e na proposta de Cajado;
7) retirar a
educação, a saúde, a previdência, o salário-mínimo e os investimentos da conta
dos “gastos”, para evitar cortes nos demais gastos públicos;
8) permitir
a transferência de recursos do Tesouro para os bancos públicos.
Opinamos que
o marco fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda era contraditório com as
posições históricas do Partido e, principalmente, contraditório com o tipo de
política que o Brasil necessita para sair das atuais condições de economia
primário-exportadora, capturada pelo setor financeiro, uma sociedade de imensa
desigualdade. Consideramos que a propaganda positiva que o Ministro da Fazenda
e parte de sua equipe fazem a respeito é, em parte, puro “pensamento positivo”;
e, em parte, submissão à lógica fiscalista e curtoprazista que predomina na
elite brasileira.
Argumentou-se,
dentro do governo e do partido, que o marco fiscal proposto pelo Ministério da
Fazenda era o máximo de avanço possível, dada a correlação de forças.
De fato, a
correlação de forças é um problema. Mas a questão não está principalmente em
constatar qual é a correlação de forças; a questão fundamental está em como
fazer para alterar a correlação de forças. Se nos limitamos a constatar qual é
a correlação de forças, é óbvio que o passo seguinte será retroceder ainda
mais. E foi exatamente isso que ocorreu no debate do marco fiscal no Congresso
Nacional.
Ademais,
alertamos que o marco fiscal proposto pelo Ministério da Fazenda, se fosse
aprovado como proposto, iria gerar pressões contra o piso constitucional da
saúde e da educação.
Submetido ao
debate na Câmara dos Deputados, o NAF original foi alterado para pior, com a
introdução de contingenciamento obrigatório, criminalização, eliminação de
exceções, proibição de concursos e reajustes etc.
Mesmo a
direção do Partido não tendo sido consultada previamente, prevaleceu na bancada
da Câmara uma postura recuada, de não apresentar emendas. Isto contribuiu para
que a direita do Congresso nacional, através do relator Cajado, pudesse agir
sem nenhum contraponto, apresentando um relatório que piorou muito os problemas
já existentes na proposta apresentada originalmente pela Fazenda.
O relatório
foi aprovado pela Câmara, inclusive com o voto da bancada do PT. Como
resultado, o marco fiscal original foi alterado para pior, com a introdução de
contingenciamento obrigatório, criminalização, eliminação de exceções,
proibição de concursos e reajustes etc.
No Senado, a
proposta aprovada pela Câmara sofreu duas alterações importantes, no sentido de
preservar o Fundeb e os investimentos em ciência e tecnologia. Agora o tema
está novamente em debate na Câmara. Se for mantida a proposta do relator Cajado
(PP Bahia), passaremos a ter dois problemas: uma política monetária contrária
ao crescimento e uma política fiscal que não contribui para o desenvolvimento.
Por que
então setores do governo e do Partido apresentam o marco fiscal como uma
vitória?
Em alguns
casos, por ato reflexo: acham que tudo que vem do governo é bom. Noutros casos,
por entender que o marco fiscal aprovado é melhor do que o teto de gastos, o
que era verdade parcial no caso do proposto originalmente pela Fazenda e quase
deixou de ser no caso do aprovado pela Câmara. Há os que pensam que, com a
aprovação do NAF, será possível alterar pacificamente a política do Banco
Central. Mas há, também, os que acreditam que, com o NAF, teremos um cenário
primaveril: retomada dos investimentos privados, grandes investimentos
estrangeiros, êxitos no combate à sonegação e redução nas isenções.
De fato, se
este cenário primaveril se confirmar, parte das restrições da política
monetária do BC e parte das restrições da política fiscal terão sido superadas.
Também neste
cenário primaveril, mesmo que o crescimento dos “gastos” seja sempre menor do
que as receitas, mesmo que o marco fiscal projete um futuro em que o peso do
setor público no PIB seja menor do que é hoje, isto não impedirá alguma
ampliação dos investimentos públicos e do bem-estar social.
A pergunta
é: este cenário primaveril é realista? E, mesmo que seja, ele vai se
materializar no tempo político adequado, ou seja, a tempo de afetar
positivamente as eleições de 2024 e 2026? E, finalmente, os investimentos daí
decorrentes serão no volume necessário para o país sair da condição primário-exportadora?
Em nossa
opinião, o cenário primaveril não é realista. Sem forte investimento público e
sem mudança na política de juros, o investimento privado não crescerá, ao menos
não crescerá na quantidade e na qualidade necessárias. Por outro lado, o
cenário internacional é excessivamente turbulento, não permitindo confiar em
investimentos estrangeiros cujo volume e natureza permitam saltos de qualidade
na economia de um país como o Brasil. Além disso, mesmo que haja crescimento
nos investimentos, privados e estrangeiros, nas condições atuais ele será em
grande parte capturado pelo sistema financeiro. Sem falar que fazer depender
nosso desenvolvimento de capitais estrangeiros é um equívoco em si mesmo.
Por outro
lado, é improvável que tenhamos êxito no combate à sonegação e na redução das
isenções, no volume e na velocidade necessárias, sem que haja uma imensa
mobilização política dos setores populares contra os ricos. E a pergunta é: se
existe condições de fazer tal mobilização, por qual motivo, na elaboração do
tal marco fiscal, abrimos mão da mobilização e fizemos tantas concessões à
Faria Lima?
Conclusão:
se o cenário primaveril não é o mais provável, se o mais realista for um
cenário sem grandes investimentos estrangeiros, sem grandes investimentos
privados nacionais, sem avanços significativos no combate às desonerações, sem
avanços significativos no combate à sonegação, neste cenário realista o novo
marco fiscal impõe imensas restrições a ação do Estado e aos investimentos
públicos.
Diante desta
situação, estamos convocados a travar uma imensa batalha em favor de uma
reforma tributária progressiva, que faça os ricos pagarem a conta. O que
exigirá superar a atual postura do Ministério da Fazenda, que assumiu
indevidamente os compromissos de não aumentar e de não criar impostos sobre os
ricos.
Sem novos
impostos sobre os ricos, as receitas não vão crescer significativamente. Como
nos próximos anos certas despesas vão aumentar, aconteça o que acontecer. E como
– segundo o marco fiscal – o conjunto das despesas não pode crescer mais do que
70% do crescimento das receitas. Então a conclusão é que haverá uma disputa
para saber quais despesas serão mantidas e quais serão cortadas.
Pelos
motivos acima, vai crescer a pressão para revogar os atuais pisos
constitucionais da saúde e da educação, conforme aliás já anunciado pelo Relatório
de Projeções Fiscais, publicação da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), que defende
mudanças nos “principais despesas vinculadas a receitas", citando as
emendas parlamentares obrigatórios, o fundo constitucional do Distrito Federal,
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb) e - em primeiro lugar - os Gastos Mínimos
Constitucionais com Saúde e Educação.
A atitude da
Secretaria do Tesouro Nacional é coerente: afinal, uma das premissas do
"novo marco fiscal" é que os gastos só crescerão até 70% do
crescimento das receitas. Para um governo que não quer ampliar investimentos,
isto não é problema. Mas para um governo que não só deseja, mas também está
ampliando investimentos, há um conflito óbvio, que só se resolve: i/fazendo
crescer muito as receitas (o que exigiria, por exemplo, uma reforma tributária
de verdade, algo totalmente diferente da reforma aprovada recentemente, em
primeira instância, pela Câmara dos Deputados) e/ou 2/contendo algumas
"despesas", para abrir espaço para alguns investimentos. Daí vem a
tentação de fazer algo que a direita neoliberal sempre defendeu:
desconstitucionalizar, de fato ou de direito, os investimentos em saúde e
educação.
Ou seja, um
dos efeitos colaterais do marco fiscal aprovado pela Câmara será jogar pobres
contra pobres, disputando um cobertor curto.
Por estes e
por outros motivos, parabenizamos os parlamentares federais (mais de 22) que,
apesar de respeitarem a disciplina partidária, fizeram uma declaração de voto
demarcando com as diretrizes do marco fiscal.
Qualquer que
seja o formato final do NAF, seguiremos necessitando de medidas extraordinárias
que nos permitam sair das atuais condições de desigualdade social e
primário-exportação. Precisamos de muitos investimentos, investimentos
principalmente estatais, e feitos com velocidade, durante várias décadas. Sem
isso, nosso país não escapará da atual situação, de subpotência primário
exportadora.
Para
financiar nossa política de desenvolvimento, é preciso – entre outras medidas –
realizar uma reforma tributária progressiva, de grande impacto. Esta batalha
deve ser articulada com o Novo PAC: os ricos devem pagar a conta, para o Brasil
se desenvolver combatendo a desigualdade.
Nessa
perspectiva, de politizar o debate sobre o desenvolvimento, defendemos a
convocatória imediata de uma Conferência nacional pelo desenvolvimento. Sem
isso, a chamada neoindustrialização será apenas um slogan, ou se reduzirá a
nichos, sem gerar efeitos sistêmicos sobre o conjunto da sociedade.
Nesta mesma
perspectiva, destacamos a necessidade de a Petrobrás adotar medidas que rompam
totalmente com a política adotada no governo anterior e a façam adotar papel
central, junto com a Eletrobrás, no processo de retomada do crescimento, do
desenvolvimento e da chamada neoindustrialização. A mudança da política de
preços é um importante passo neste sentido, mas muito mais precisa ser feito.
Destacamos,
por fim, que não haverá neoindustrialização, nem tampouco política ambiental
com transição ecológica, se não houver mudanças radicais no agronegócio e na
mineração. Estes dois setores não têm conflitos ideológicos apenas com o PT e
com o governo Lula; tem conflitos com o futuro do Brasil. No futuro que eles
defendem, não haverá mudança no lugar do Brasil no mundo, nem tampouco na
desigualdade social existente em nosso país.
Transformar
a qualidade de vida do povo
A luta
contra o neofascismo é inseparável da luta contra o neoliberalismo. As
politicas neoliberais submetem o povo a um massacre cotidiano e contribuem para
que parcelas da nossa população sejam capturadas pela extrema direita e pelo
individualismo extremo. Por isso, tampouco basta ampliar os empregos e os
salários. É preciso mudar as condições de vida como um todo, o que exige fortes
políticas públicas de cultura, comunicação, saúde e educação, entre outras.
Acerca da comunicação, que já foi objeto de resoluções específicas em outros congressos
da AE, reafirmamos que é preciso cumprir a Constituição e quebrar os oligopólios
midiáticos.
Quanto a saúde
e a educação, são peças fundamentais em nossa política de desenvolvimento. Acerca
destes dois temas – saúde e educação – o congresso aprovou resoluções específicas,
cuja leitura recomendamos.
É necessário
retomar a pauta do financiamento, que de acordo com a Meta 20 do Plano Nacional
de Educação deveria chegar até 10% do PIB, objetivo que sofreu um profundo
retrocesso com a Emenda Constitucional que instituiu o chamado “teto dos
gastos”. É preciso enfrentar, também, os retrocessos ocorridos, desde 2016, na
Educação Básica e no Ensino Médio. Nos somamos a luta dos trabalhadores da
educação e dos estudantes que pedem a revogação da chamada reforma do ensino
médio e combatem as concepções privatistas na área da educação, inclusive as
que se manifestaram na transição e no ministério da Educação.
Apoiamos as
resoluções aprovadas pela 17ª Conferência Nacional de Saúde e um SUS 100%
público, integral, equânime e democrático. Apoiamos, também, a luta para
recuperar o orçamento do SUS, a defesa do piso da enfermagem, a luta contra a
avassaladora privatização da gestão dos serviços e das ações assistenciais, o
enfrentamento à desregulamentação dos planos e seguros privados, as ameaças ao
cuidado em liberdade e antimanicomial.
Em janeiro
de 2023 foi anunciado a criação de um departamento no Ministério do
Desenvolvimento Social, com a seguinte nomenclatura: “departamento de entidades
de apoio e acolhimento atuantes em álcool e outras drogas”. Essa ação favorece
o setor privatista da saúde, a ala conservadora das igrejas e seus partidos, o
tratamento para usuários em abuso/dependência em substâncias psicoativas fora
dos preceitos de direitos humanos.
As chamadas
comunidades terapêuticas não se enquadram na Resolução de Tipificação dos
Serviços Socioassistenciais aprovadas no Conselho Nacional de Assistência
Social (n. 13/2014) e há contra as Comunidades Terapêuticas diversas denúncias
de irregularidades em todo o Brasil, apontadas no Relatório da inspeção
nacional em CTs, elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia, pelo Mecanismo
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura e pelo Ministério Público Federal
(2018).
Nesse
sentido, defendemos que o governo Lula revogue o decreto federal que cria tal
departamento, como recomendou o Conselho Nacional de Saúde, e simultaneamente
desenvolva ações, sob a coordenação do Ministério da Saúde, voltadas ao
controle e vigilância de modo a gradativamente extinguir tais instituições,
suspendendo a transferência de verbas públicas e definindo-as como asilos
religiosos ou assemelhados, agenciando seu fechamento com a retomada e
fortalecimento dos serviços substitutivos na RAPS.
A
política no comando
O PT foi
fundado em 1980. Temos 43 anos. Em 1980 o povo brasileiro não elegia pelo voto
direto seu presidente da República. Este direito básico só foi conquistado em
1989. Outra conquista em 1989 foi a ampliação do número de pessoas habilitadas
a votar. Desde 1989, a maior parte do povo brasileiro tem direito a votar nas
eleições. Não era assim antes. Pois bem: desde 1989 até hoje aconteceram 9
eleições presidenciais. O PT venceu cinco e ficou em segundo lugar nas outras
quatro eleições presidenciais.
Isso dá uma
ideia da importância do PT na política brasileira e do apoio eleitoral que
temos no povo.
Entretanto,
toda essa nossa força eleitoral não foi capaz de impedir o golpe de 2016. E em
2022, nós ganhamos a eleição presidencial, com 60 milhões de votos, mas nosso
inimigo teve 58 milhões de voto. Além disso, as forças de direita ganharam
grande número de eleições estaduais e são majoritárias no Congresso nacional.
Portanto,
temos pela frente imensos desafios, se quisermos atingir nossos grandes
objetivos: ampliar o bem-estar social do povo, ampliar as liberdades
democráticas, impulsionar o desenvolvimento de novo tipo, garantir a soberania
nacional, participar da integração regional, contribuir para a construção de
uma nova ordem mundial, tudo isto tendo como nosso objetivo histórico e
estratégico o socialismo.
Para dar
conta desses objetivos de médio e longo prazo, precisamos neste momento
concentrar nossas energias em: 1/derrotar a extrema-direita; 2/superar a
influência do neoliberalismo; 3/disseminar, no povo brasileiro, uma cultura
democrática e popular; 4/ampliar a força das esquerdas nas instituições de
Estado, a começar pelas prefeituras que estaremos disputando em 2024 e pela
reeleição de nosso projeto em 2026; 5/estimular a auto-organização da classe
trabalhadora, em seus movimentos, sindicatos e partidos, a começar pelo próprio
PT.
Estas cinco
tarefas imediatas estão intimamente ligadas ao sucesso do governo Lula, sucesso
que não se limita a “união e reconstrução”, mas se amplia no sentido da
reconstrução e transformação. Se o governo Lula tiver sucesso neste trabalho de
reconstrução e transformação, teremos sucesso naqueles cinco objetivos. E para
o governo Lula ter sucesso no trabalho de reconstrução e transformação,
precisamos que o Partido e a esquerda partidária e social tenham êxito naqueles
cinco objetivos.
Por isso, se
faz necessário dar um salto de qualidade no funcionamento do nosso Partido, bem
como do conjunto do campo democrático e popular. O que inclui, no curto prazo,
um enfrentamento coletivo da CPI do MST, a preparação adequada das eleições
2024, maior sincronia entre ação do governo, dos partidos de esquerda e dos
movimentos sociais.
Lula é hoje
chefe de Estado, chefe de governo, líder da ala esquerda do governo e nosso
principal comunicador social. É uma sobrecarga brutal sobre os ombros de uma
única pessoa. Cabe ao Partido, como instituição coletiva, assumir mais tarefas
na defesa e na disputa de rumos do governo, na luta contra a direita neoliberal
e neofascista. E cabe tanto à esquerda partidária quanto à esquerda social –
lideradas pelo PT – não apenas vencer nas urnas em 2024 e 2026, mas também
ocupar de maneira permanente as redes e as ruas. Só a ampliação da luta social
garantirá a reconstrução e a transformação do Brasil.
Atuando sob condições mais difíceis
O ocorrido
no dia 8 de janeiro, o ocorrido com o NAF e os acontecimentos internacionais
confirmam que o terceiro governo Lula atua em condições muito mais complexas e
difíceis do que os governos encabeçados pelo PT entre 2003 e 2016.
Além das
dificuldades resultantes da situação mundial e da herança maldita do golpismo e
do bolsonarismo, temos as dificuldades ligadas à situação do governo Lula, da
classe trabalhadora, da esquerda e do PT.
Fica
evidente, a cada dia que passa, que enfrentamos uma dupla oposição: da direita
tradicional e da direita neofascista, ambas neoliberais. As duas direitas estão
presentes no governo e na máquina de Estado. São majoritárias no Congresso
nacional, entre os governadores de Estado, nos aparatos de segurança e na
grande mídia. As duas oposições, embora se dividam no que toca a
“reconstrução”, unificam-se para impedir a “transformação” nacional. Ambas
operam para vencer as eleições de 2024 e tirar o PT da presidência, em 2026.
Frente a
este quadro, a linha política hegemônica na esquerda brasileira e em nosso
Partido está demonstrando ser ineficiente e insuficiente, tanto do ponto de
vista tático quanto do ponto de vista estratégico. É preciso mudar de orientação
estratégica e tática. E, para fazer isto, é preciso começar abandonando
totalmente a atitude baluartista, cabotina, autocongratulatória que prevalece
em certos setores; e, no lugar disto, debater abertamente os problemas
existentes, debate que deve ser feito nas instâncias partidárias, com a base
militante, com o povo de esquerda.
Hoje, ainda
tem prevalecido a opção de não travar o debate, nem mesmo nas instâncias. Como
já dissemos, antes da campanha eleitoral de 2022 começar, a maioria dos
integrantes do atual Diretório Nacional escolheu não aprovar nenhuma resolução
sobre como enfrentar o bolsonarismo nas forças armadas, assim como não aprovou
uma resolução que propunha enfrentar - já na campanha eleitoral - a mal
denominada “independência” do Banco Central. Tampouco debatemos previamente, na
direção do Partido, a proposta de Novo Arcabouço Fiscal. Como resultado, o
Partido tem mais dificuldade de enfrentar os problemas, uma vez que estes não
desaparecem pelo fato de não terem sido debatidos.
A respeito
desses e de outros temas, como por exemplo a necessidade de revogar as
contrarreformas da previdência, trabalhista, sindical e do ensino médio, a
mudança de rumo da Petrobrás e a recuperação da Eletrobrás, a luta por outra
política de segurança pública e de Defesa, a tendência petista Articulação de
Esquerda tem apresentado diversas propostas ao Diretório Nacional do PT e a
outras instâncias partidárias.
Com base
nelas, e também com base nas propostas surgidas dos congressos de base, o
Oitavo Congresso da AE abordará um conjunto de resoluções e orientações, tendo
como objetivos principais apontar medidas concretas no sentido de retomar o
crescimento, implementar uma industrialização de novo tipo, mudar o curso do
desenvolvimento nacional, realizar a reforma agrária, defender o meio ambiente,
ampliar as políticas públicas de saúde (ver o anexo desta resolução) e
educação, concretizar o bem-estar social e as liberdades democráticas do povo
brasileiro, recuperar a soberania nacional, promover a integração
latino-americana e caribenha, mudar o lugar do Brasil no mundo.
Entretanto,
não bastam propostas, se não conquistarmos maioria organizada junto a classe
trabalhadora.
As eleições
presidenciais de 2022 demonstraram que a esquerda é majoritária entre os
eleitores ativos, por uma diferença de 2 milhões de votos. Aliás, como já foi
dito, ganhamos 5 das últimas 9 eleições presidenciais. Entretanto, se
considerarmos os mais de 30 milhões que votaram branco, nulo e se abstiveram; e
somarmos a estes os trabalhadores que votaram na candidatura presidencial da
extrema-direita, a conclusão inescapável é que, neste momento, a esquerda não
tem maioria numérica na classe trabalhadora.
Ademais,
décadas de neoliberalismo, somadas a décadas de institucionalização e
burocratização, enfraqueceram brutalmente a presença, a força e a
representatividade das organizações da classe trabalhadora: movimentos,
associações, sindicatos, partidos. E, de outro lado, nas últimas décadas
constituiu-se uma extrema-direita com base de massas.
Portanto,
nossa tarefa estratégica, de cujo sucesso dependem todas as outras tarefas, é
fazer com que a esquerda conquiste e organize a maioria da classe trabalhadora.
Conquistar e organizar a maioria exige um conjunto de ações práticas, entre as
quais trabalho de base, funcionamento regular das instâncias, política de
comunicação. Mas exige, acima de tudo, linha política correta. Neste sentido,
reafirmamos a necessidade de recuperar o “fio vermelho” das elaborações do V
Encontro Nacional (1987) e do 6º Congresso Nacional do PT (1917).
Esta tem
sido a preocupação fundamental da tendência petista Articulação de Esquerda,
desde 1993. Isso pode ser constatado na leitura das resoluções de seus seis
seminários (1993-1997), onze conferências (1998-2009) e sete congressos
(2011-2020), cujo sentido geral resumimos a seguir.
Diretrizes
estratégicas
A construção
do socialismo supõe que a classe trabalhadora tenha poder para reorganizar a
sociedade. O tema do poder, no que consiste, como construí-lo, como
conquistá-lo, é a questão chave em toda reflexão política.
Durante o
século XIX, os socialistas enxergavam o tema do poder através do prisma
oferecido pela revolução francesa: 1789, 1848, 1871 eram os paradigmas
clássicos ao redor dos quais girava o imaginário de anarquistas, sindicalistas
revolucionários, socialistas, social-democratas, narodniks, comunistas etc.
As
revoluções russas de 1905, fevereiro de 1917 e outubro de 1917 ofereceram um
novo paradigma, ao redor do qual girou, durante décadas, a reflexão política,
tática e estratégica dos diferentes setores da esquerda mundial.
Os
paradigmas “francês” e “russo” tinham semelhanças: o protagonismo da plebe
urbana, o papel contraditório das massas camponesas, a insurreição seguida de
guerra civil e contra inimigos externos, o caráter “permanente” da revolução, o
fantasma do “Termidor”.
O isolamento
da Rússia soviética e a derrota das tentativas revolucionárias na Alemanha, na
Romênia e na Itália, entre outras, resultarão – nos anos 1920 e 1930 – numa
reflexão acerca da estratégia a adotar, seja nos países capitalistas
desenvolvidos, seja nos países da chamada periferia colonizada ou formalmente
independente.
Tal reflexão
correu simultânea a outros debates, acerca da construção do socialismo na URSS,
acerca de qual devia ser a política internacional de um Estado socialista,
acerca da evolução do capitalismo e do imperialismo pós-Primeira Guerra
Mundial, acerca de como se posicionar frente a, na época, cada vez mais
provável (segunda) guerra mundial.
Os escritos
de Antonio Gramsci datam deste período, embora sua influência (em variadas
versões e contraditórias releituras) vá se estabelecer após a Segunda Guerra,
em uma situação mundial distinta daquela que serviu de base para as reflexões
do comunista italiano.
De toda
forma, até o final da Segunda Guerra, quando se debatia os temas do poder,
predominava em grande parte da esquerda o paradigma da revolução russa: o papel
de vanguarda da direção partidária, o protagonismo das plebes urbanas, o
acúmulo de forças via lutas sindicais, políticas e ideológicas, o duplo poder,
a insurreição como parte da guerra civil, uma certa modalidade de construção do
socialismo. Tal “modelo” estava presente inclusive nos que defendiam as Frentes
Populares, inclusive nas suas versões mais moderadas, de alianças estratégicas
com setores da burguesia, nas políticas conhecidas como “etapistas”.
Um novo
paradigma se afirmará com a vitória da revolução chinesa de 1949. Neste
paradigma, o papel do Partido continua destacado, mas agora trata-se de um
partido-exército. O protagonismo principal passou a ser das massas camponesas.
As cidades, antes palco da insurreição decisiva, passam a ser “cercadas pelo
campo”. O acúmulo de forças prévio inclui experiências precoces de duplo poder,
com libertação de territórios, formação de governos e de um exército popular. A
insurreição urbana torna-se um elemento auxiliar da guerra popular prolongada.
A estes dois
paradigmas (“russo” e “chinês”) soma-se logo em seguida um terceiro, o da
guerra de libertação nacional. Este terceiro paradigma vai se materializar sob
duas formas principais. A primeira delas é antinazista, por exemplo em países
como Albânia e Iugoslávia (onde a derrota dos nazistas foi seguida pela
instauração de governos de orientação socialista); Grécia (neste caso, a
guerrilha comunista foi derrotada pela intervenção britânica); Itália e França
(nestes dois casos, a política dos partidos comunistas foi a de nem ao menos
tentar transformar a guerra em revolução). A segunda forma pela qual vai se
materializar o paradigma da guerra de libertação nacional é o da guerra
anticolonial, como no caso do Vietnã, Laos, Camboja, Angola, Moçambique e Guiné
Bissau. Ainda hoje há lutas anticoloniais em curso, como no caso de Porto Rico,
Sahara Ocidental e da Palestina. Por uma destas ironias da história, os Estados
Unidos – resultado da revolução anticolonial vitoriosa das chamadas 13 colônias
contra o Império Britânico – tornou-se o principal ponto de apoio para o colonialismo.
Os três
paradigmas citados - “russo”, “chinês” e de “libertação nacional”-
influenciaram o debate político e estratégico da esquerda latino-americana, desde
pelo menos os anos 1920. Há toda uma literatura a respeito, que vale a pena
revisitar sempre, especialmente aquela que leva em conta o impacto da revolta
de Tupac Amaru, da revolução haitiana e da grande revolução mexicana, episódios
que apavoraram a elite continental muito antes que acontecesse a revolução
socialista russa.
A partir de
1959, surge outra grande influência paradigmática, a revolução cubana, uma
revolução democrática antiditatorial, baseada na combinação entre diferentes
formas de luta e organização, com ênfase na combinação entre guerrilha no campo
e insurreição urbana; revolução que, uma vez vitoriosa, se revelou cada vez
mais democrática popular e anti-imperialista; e que acabou convertendo-se em
uma revolução socialista.
A revolução
cubana, especialmente suas interpretações de tipo “foquista”, infuenciou
fortemente a esquerda latinoamericana e caribenha nos anos 1960 e 1970. Mas,
com a parcial exceção da revolução nicaraguense, as estratégias inspiradas no
exemplo cubano não foram vitoriosas em nenhuma parte de nosso subcontinente.
O mesmo,
entretanto, deve ser dito das demais estratégias adotadas pela esquerda socialista
em nosso continente. Aliás, devemos reconhecer que se as revoluções são
fenômenos raros, as revoluções vitoriosas são fenômenos ainda mais raros e
profundamente singulares: há mais constância nos motivos de derrota do que nas
razões de vitória.
Foi neste
contexto que surgiu a experiência do governo da Unidade Popular chilena, entre
1970 e 1973. A história da Unidade Popular, os antecedentes da vitória
eleitoral de 1970, as vicissitudes do governo Allende, o golpe de 1973, a
ditadura que veio em seguida (com semelhanças e diferenças frente a outras
ditaduras contemporâneas), as políticas neoliberais e os governos de
centro-esquerda posteriores, são processos cujo estudo é essencial para quem
hoje faz ou busca fazer parte dos governos “progressistas e de esquerda” na
América Latina.
Reformista
demais para os revolucionários, revolucionária demais para os reformistas, a
estratégia experimentada pela Unidade Popular ficou numa espécie de limbo até
1998. Desde então, diversos governos da região passaram a tentar construir o
socialismo, não a partir de revoluções, mas sim a partir de vitórias
eleitorais.
Ao mesmo
tempo, outros partidos socialistas passaram a ter que lidar – em seus esquemas
estratégicos – com governos que buscavam implementar reformas mais ou menos
profundas no capitalismo. Portanto, pelo menos para alguns setores da esquerda
regional, a experiência pós 1998 exigia revisitar o debate sobre a orientação
estratégica que se buscou materializar no governo da Unidade Popular (UP),
evidentemente que à busca de construir um “caminho chileno com final feliz”.
Este
revisitar da experiência da UP não fazia sentido, é óbvio, para quem a
revolução (e, em alguns casos, o socialismo) não faziam mais parte do horizonte
estratégico. Para gente assim, não cabia mais diferenciar luta pelo governo e
luta pelo poder; para eles ganhar uma eleição seria igual a ganhar o poder. Na prática,
a confusão entre governo e poder implicava em não tocar nos demais instrumentos
de poder controlados pela classe dominante. Não admira que muitos dos que confundiam
governo e poder, também acreditavam que golpes seriam coisa do passado: imaginavam
que se não mexêssemos com os poderes fáticos, a classe dominante não se sentiria
pressionada e faria “as pazes com a democracia”.
O revisitar da
experiência da UP tampouco fazia sentido para quem acreditava que os governos
progressistas e de esquerda eram, na verdade, uma aclimatação da experiência
socialdemocrata europeia ou uma customização da experiência populista latino-americana
e caribenha. Para quem pensava desta maneira, os governos progressistas e de
esquerda não passavam de experiências mais ou menos funcionais ao esquema de dominação
imperialista e capitalista, governos mais ou menos reformistas que logo seriam
ultrapassados pelos acontecimentos, após o que a luta de classe voltaria a
condições que exigiriam – da parte da esquerda – a adoção de algum dos
paradigmas revolucionários clássicos.
Portanto,
seja para o esquerdismo, seja para o melhorismo, a experiência da Unidade
Popular chilena não era vista como tendo muito o que nos ensinar, do ponto de
vista estratégico, salvo do ponto de vista negativo. Aliás, é curioso constatar
essas e outras semelhanças entre melhoristas e esquerdistas. Ambos foram
surpreendidos pelo golpismo, uns porque achavam que a classe dominante não
faria golpe contra governos que supostamente faziam o que a classe dominante
desejava; outros porque achavam que a classe dominante não golpearia quem havia
renunciado a fazer mudanças estruturais radicais e imediatas.
Já para
aqueles setores que continuam tendo o socialismo como objetivo estratégico e
que, portanto, querem que a classe trabalhadora tenha o poder necessário para
construir o socialismo, o “caso” da Unidade Popular entre 1970 e 1973 segue
sendo estrategicamente atual. E a pergunta chave é: como converter a parcela de
poder obtida num processo eleitoral, não apenas em melhorias concretas para a
vida do povo, não apenas em reformas estruturais, mas também numa parcela de
poder que permita iniciar a transição socialista?
Ao longo dos
anos, a tendência petista Articulação de Esquerda vem buscando responder esta
questão, tanto no plano prático quanto no plano teórico. A seguir resumimos
algumas de nossas respostas.
Em primeiro
lugar é preciso construir um sólido apoio nas classes trabalhadoras, o que
inclui articular sob um comando estratégico único a maior parte das organizações
políticas e sociais. A combinação entre luta institucional e eleitoral, ação
parlamentar e de governos, luta social e construção partidária, só é virtuosa
quando articulada politicamente.
Em segundo
lugar, é preciso ganhar o apoio dos setores médios, dividir as classes
dominantes e isolar o inimigo principal. Impedindo que ocorra o contrário: que
a classe dominante isole a esquerda, ganhe o apoio dos setores médios e divida
as classes trabalhadoras.
Em terceiro
lugar, é preciso combinar disputa política com disputa cultural. A construção
do poder necessário para iniciar uma transição socialista é indissociável da
construção de outra hegemonia ideológica, cultural.
O que
remete, em quarto lugar, para a necessidade de ganhar apoio e/ou incidir de
forma expressiva nos organismos estatais e nos organismos aparentemente
privados que executam funções públicas, como é o caso das igrejas, das escolas,
da indústria cultural e dos meios de comunicação.
Em quinto
lugar, é preciso conquistar uma maioria eleitoral que seja suficiente para ter
hegemonia de esquerda nos organismos executivos e legislativos fundamentais. É
insuficiente ter a presidência da República, mas sem maioria no Congresso, nem
nos governos subnacionais fundamentais.
Em sexto
lugar, é preciso impedir a sabotagem e a subversão provenientes dos organismos
de Estado não eletivos, principalmente a alta burocracia, o judiciário e as
forças armadas. Trata-se de democratizar o acesso, estabelecer controle social,
mudar as doutrinas vigentes e, fundamentalmente, garantir o respeito a
legalidade que advém da soberania popular. Motivo pelo qual é tão decisiva a
realização de processos constituintes nos países engajados em transformações
estruturais.
Em sétimo
lugar, é preciso construir uma rede de solidariedade e proteção internacional,
que reduza a ingerência externa que as metrópoles capitalistas centrais fazem
sobre processos socialistas nacionais. Daí, por exemplo, a centralidade da
integração regional latino-americana e caribenha.
Em oitavo
lugar, é preciso implementar um programa de transformações que parta dos
problemas reais enfrentados pela sociedade e que construa soluções que atendam
às necessidades das camadas populares, respeitando os níveis de consciência e a
correlação de forças em cada momento, mas sempre tendo em perspectiva que cada
passo gera novas necessidades, novos conflitos e novas reações, cabendo à
direção política do processo se antecipar.
No caso
chileno, o programa de transformação seguiu por dois eixos fundamentais: o
poder popular e a área de propriedade social. O que nos remete para uma nono questão,
que é a necessidade de – como primeiro passo de um um longo processo - converter
uma economia dominada pelo capitalismo privado, em uma economia hegemonizada
pelo Estado, sob condução de um governo de esquerda.
Finalmente, décimo
tema, é preciso manter a iniciativa tática, especialmente nos momentos de
impasse estratégico. O ano de 1973, no Chile, foi um desses momentos. A classe
dominante havia decidido ir para o golpe. E o governo Allende perdeu
progressivamente a iniciativa, passando a uma postura cada vez mais defensiva,
confundindo a defesa estratégica da legalidade, com a passividade legalista
frente à subversão de direita.
O legalismo
corresponde a visão estática da consciência popular. A legalidade é sempre uma
mediação entre a lei (que expressa a correlação de forças passada) e a
legitimidade (que expressa a correlação de forças presente). A burguesia sabe
disto muito bem e não deixa de invocar o suposto apoio popular, quando lhe
interessa desrespeitar a legalidade, sempre que esta está do lado da esquerda.
A história
poderia ter sido diferente se, por exemplo frente ao Tancazo, o presidente
Allende tivesse acatado as propostas do General Prats, no sentido de afastar os
comandantes golpistas. Também por isso, é um erro dizer que o golpe teria sido,
inevitavelmente, vitorioso.
A
estratégia do PT
O Partido
dos Trabalhadores, entre 1985 e 1989, buscou implementar uma estratégia política que
fazia referência explícita à experiência chilena de 1970-1973. Entre 1990 e
2002, a experiência da Unidade Popular perdeu influência nas formulações
petistas, mas seguiu presente. Entre 2003 e 2016, os governos petistas
enfrentaram várias situações que teriam sido melhor equacionadas, se algumas
lições do Chile tivessem sido levadas em consideração.
Em 2016, um
golpe de Estado derrubou o governo brasileiro, então encabeçado por Dilma
Rousseff, do PT. Veio então um governo golpista, sob o qual foram realizadas as
eleições presidenciais de 2018, nas quais se impediu a participação do então
ex-presidente Lula. Lula assistiu da cadeia a vitória e a posse de um
cavernícola. Mas, pouco tempo depois, Lula foi libertado, reconquistou o
direito de disputar as eleições e venceu – por dois milhões de votos de diferença
– as eleições presidenciais de 2022.
O novo
governo Lula (2023-2026) experimenta dilemas estratégicos semelhantes aos de
seus dois primeiros governos (2003-2006, 2007-2010), mas em condições piores do
que no passado. Algo parecido ocorre com os demais governos encabeçados por
partidos nacional-populares, de esquerda e progressistas na América Latina e
Caribe.
Guardadas as
devidas proporções, a mudança de cenário e a mudança de ânimo dos protagonistas
as vezes faz lembrar o que ocorreu quando o Partido Socialista voltou à
presidência do Chile, com Ricardo Lagos (2000-2006): o mundo era outro, o Chile
era outro, o Partido Socialista era outro, os problemas eram maiores e menores
os meios para resolvê-los. Mas, acima de tudo, era diferente a estratégia
predominante na esquerda chilena. E diferente num sentido muito profundo: em
2000, para amplos setores da esquerda chilena, o “horizonte”, o objetivo final,
deixara de ser o socialismo e passara a ser, não a socialdemocracia europeia ou
o desenvolvimentismo latino-americano dos anos 1950-1970, mas sim o
social-liberalismo, ou seja, a tentativa de fazer coexistir certos compromissos
democráticos e sociais, com políticas econômicas neoliberais e a submissão à
hegemonia estadounidense.
Na época,
talvez muitos não tenham se dado conta disso. Assim como, hoje, muitos setores
da esquerda latino-americana e caribenha pensam sinceramente que não mudaram de
lado, que estão apenas fazendo concessões devido à correlação de forças etc.
Tal metamorfose atinge, como é fartamente demonstrado pelo governo Boric,
inclusive setores que há tão pouco tempo eram vistos como alternativas idôneas
à velha esquerda.
Tudo isto
ocorre, paradoxalmente, mas não surpreendentemente, num ambiente em que o
cenário mundial é de crises e guerras, o que noutros tempos desembocou em
rupturas e revoluções. E depois de 40 anos de neoliberalismo, que provocou
mudanças profundas nas classes trabalhadoras, mudanças que colocam novos
desafios teóricos e práticos para as forças políticas e sociais que seguem
comprometidas com a derrota do capitalismo e do imperialismo.
O papel do
PT e da AE
Levando em
conta o conjunto da situação, cabe concluir que, assim como nossa poesia deve
ser extraída do futuro, a estratégia da esquerda brasileira também está por ser
construída. E, se quisermos construir vitórias no tempo de nossas vidas, esta
construção passa pelo por nosso Partido, pelo Partido dos Trabalhadores.
A maioria da
classe trabalhadora com consciência de classe, especialmente mulheres, jovens,
negros e negras, se identifica com o PT. Desde os anos 1980 até hoje, as
vitórias da classe trabalhadora brasileira dependeram, em grande medida, das
opções feitas pelo PT. Assim como pesa sobre nós parte importante da
responsabilidade pelas derrotas.
Hoje, nosso
Partido – ao mesmo tempo que tem imensos méritos – vem apresentando imensas
debilidades. A principal destas debilidades não é organizativa, nem de
comunicação; a principal debilidade é política: nosso Partido até agora não
construiu uma linha política e uma maneira de funcionar adequadas aos tempos de
guerra em que vivemos.
Guerra
travada, contra a maioria do povo brasileiro, pelos defensores do imperialismo,
do capitalismo, do modelo primário exportador, do neofascismo, do patriarcado,
do racismo, do fundamentalismo, pelos defensores de todo tipo de preconceito,
opressão e exploração. Guerra que custou a vida de centenas de milhares de
pessoas, como é o caso dos indígenas vítimas de genocídio; e, também dos
brasileiros e brasileiras que poderiam estar entre nós, se o governo de extrema
direita não tivesse sido aliado da Covid.
Neste
contexto, qual é o papel da tendência petista Articulação de Esquerda? Numa
resolução específica do 8º Congresso, detalhamos nosso plano de ação para o período,
organizado em torno da seguinte diretriz: contribuir, no limite de nossas
forças, para que nosso Partido – associado a CUT, ao MST, a CMP, ao MNLM, a UNE,
a Ubes, as Frentes e a todas as demais organizações do nosso povo – estejamos à
altura dos imensos desafios postos pela atual situação nacional, continental e
mundial. Desafios que exigem, sob a liderança e iniciativa do PT, a formação de uma ampla frente de esquerda, reunindo as forças democráticas, populares e socialistas.
Os desafios históricos e estratégicos postos diante de nossa classe exigem, de nosso Partido, um intenso trabalho organizativo, com destaque
para nosso enraizamento na classe trabalhadora e para a mudança de métodos de
funcionamento. E para isso, a retificação que exigimos que seja feita no PT,
também deve ser feita entre nós. As minorias e as maiorias de nosso Partido
padecem de deformações gravíssimas e não somos alheios a isto.
Destacamos,
como parte desta retificação, em primeiro lugar, dar prioridade total para contribuir
na organização da classe, nos locais de trabalho, de moradia, de estudo, nos
espaços de cultura e lazer. Para este esforço convocamos cada militante de
nossa tendência. Não basta criticar o que os outros não fazem, é preciso fazer
aquilo que achamos que precisa ser feito.
Em segundo
lugar, contribuir para construir o Partido dos Trabalhadores e das
trabalhadoras, como partido de massas e radicalmente democrático. Novamente,
reafirmamos: não basta criticar os que têm maioria nesta ou naquela instância,
é preciso fazer por nossa própria conta o que pode e deve ser feito.
Em terceiro
lugar, lutar contra as políticas equivocadas que existem no interior do chamado
campo democrático-popular, com destaque para os setores social liberais
infiltrados na esquerda, defensores das privatizações, das terceirizações, do
capital financeiro e do agronegócio. Neste terreno, é preciso lembrar que as
concessões feitas ao neoliberalismo só produzem mais neoliberalismo.
Em quarto e
fundamental lugar, trabalhar para que o PT continue lutando, aqui e agora, em
favor de soluções efetivamente socialistas e revolucionárias para os grandes
problemas do nosso país, de nosso continente e do mundo. Nos tempos perigosos e
desafiantes em que vivemos, não cabe dúvida: o futuro depende da classe
trabalhadora lutar com todas as suas forças pela soberania, pela democracia,
pelo desenvolvimento e pelo socialismo. A única alternativa à crise sistêmica
do capitalismo é o socialismo.
Anexo 1
Resolução
organizativa
No dia 19 de
setembro de 2023, a tendência petista Articulação de Esquerda completará 30
anos de existência.
Caberá a
direção nacional eleita no 8º Congresso dar continuidade às ações planejadas
para marcar a data. Entre estas ações, citamos: a publicação de uma coleção de
livros contendo todas as resoluções aprovadas em nossos seminários,
conferências e congressos nacionais; a publicação da coleção de jornais Página
13; a publicação de uma revista Esquerda Petista, bem como de edições especiais
do Antivírus e do Podcast; a alimentação da seção especial dedicada ao tema no
site www.pagina13.org.br
Caberá,
também, à direção nacional eleita no 8º Congresso publicar uma edição atualizada
do Manual do Militante, a realização de um seminário de balanço dos 30 anos (nos
dias 16 e 17 de setembro) e a realização de eventos virtuais nos dias 18 ou 19
de setembro.
Este
conjunto de atividades deriva, em primeiro lugar, de nossa avaliação de que temos
um passado defensável.
Nesses
trinta anos, não abrimos mão do socialismo. E hoje, mais do que antes, o
socialismo se reafirma como alternativa à crise sistêmica do capitalismo.
Nesses trinta
anos, não abrimos mão da luta por reformas estruturais e por uma revolução
política e social. E hoje, mais do que antes, fica evidente que o caminho exclusivamente
gradualista não é capaz de superar os obstáculos imensos postos diante da luta
pelo bem-estar social, pelas liberdades, pela soberania e pelo desenvolvimento.
Nesses
trinta anos, não abrimos mão da necessidade de combinar formas de luta –
cultural, de massas e institucional. E a experiência dos últimos anos confirma
que a hipertrofia da via institucional frente às outras formas de luta reduz,
inclusive, nossas chances de vitória eleitoral.
Nesses
trinta anos, não abrimos mão do internacionalismo, do anti-imperialismo, da
integração latino-americana e caribenha. E a vida confirmou que o futuro do
Brasil depende, em importante medida, da situação mundial.
Nesses
trinta anos, não abrimos mão do PT. Diferente de outros setores da esquerda revolucionária
e socialista, sempre afirmamos que – nesta quadra histórica, no tempo de nossas
vidas – a vitória da classe trabalhadora passa pelo PT, não contra o PT, não
sem o PT. Nos opusemos ferozmente aos que declaram o PT esgotado, aos que
afirmaram que o PT não era de esquerda, aos que se foram do PT supostamente pela
esquerda e hoje voltam ao PT explicitamente pela direita, aos que se dedicaram
a construir seitas e organizações mais do que perfeitas.
Nesses
trinta anos, não abrimos mão de enfrentar as posições social-liberais e
social-democratas existentes dentro do PT e atualmente majoritárias na sua
direção. Diferente de outros setores da esquerda petista, optamos por demarcar
o campo de classe, travar a disputa ideológica, fazer a crítica, disputar a
direção. Nunca aceitamos abrir mão de nossas posições em troca de espaços. Pagamos
um preço alto por isso, entre outros motivos porque não é fácil nem óbvio defender
posições revolucionárias em épocas reformistas. E, também, porque – como petistas
que somos - não somos imunes aos problemas que criticamos.
Se nosso
passado é defensável, não queremos ter um grande passado pela frente. A continuidade
de nossa tendência só faz sentido se ela for capaz de contribuir para as opções
que a classe trabalhadora e nosso Partido está fazendo e fará nos próximos
meses e anos. E para isso nossa tendência precisa – como está indicado na resolução
central do Congresso – passar por um imenso processo de retificação. Como já
dissemos e queremos repetir, temos entre nós todos os problemas e defeitos que
existem no interior do PT e da esquerda brasileira. Em alguma medida isso é inevitável:
não vivemos numa bolha, não somos uma seita. Mas se queremos cumprir um papel
diferenciado, precisamos enfrentar de maneira mais enfática e resolutiva cada
um dos problemas e defeitos do nosso Partido, e corrigir o que deles exista em
nós.
#
Primeiro: há
petistas que dizem militar no Partido. Esta visão é equivocada. O espaço da militância
é a classe trabalhadora, a sociedade. O partido deve ser o espaço onde
organizamos nossa atuação na sociedade. Claro que o Partido realmente existente
está muito longe de ser isso. Mas se o Partido não faz coisa certa, devemos
trabalhar para que faça. E devemos dar o exemplo, fazendo com que a tendência
também seja o espaço de organização de nossa ação na sociedade, na classe trabalhadora.
Claro que o PT, além de um partido, é também um movimento social, talvez o
maior movimento social do país, com mais de 30 milhões de simpatizantes
autodeclarados. Nesse sentido específico, cabe à tendência organizar nossa atuação
militante junto a este movimento social que chamamos de “nação petista”. Mas
organizar nossa atuação não pode ser, nem única, nem principalmente, divulgar
nossa opinião sobre os acontecimentos. É preciso um trabalho permanente junto a
classe trabalhadora.
Segundo:
militar não é aparecer ocasionalmente, muito menos aparecer apenas ou principalmente em momentos eleitorais. Militar é atual de maneira permanente - nos
locais de trabalho, de moradia, de estudo, nos espaços de cultura e lazer – com
três objetivos fundamentais: conscientizar, organizar e mobilizar. E para isso
é preciso que as instâncias coletivas funcionem, debatam o que fazer, avaliem o
que foi feito, façam o trabalho de crítica e autocrítica, corrijam rumos, tomem
as decisões fundamentais. Tanto no partido quanto na tendência, há instâncias
que deveriam existir e não existem; há instâncias que existem formalmente, mas
não funcionam de fato; há instâncias que funcionam, mas não coletivamente. É
preciso trabalhar para mudar esta situação, indo de estado a estado, de cidade a
cidade, de categoria a categoria, de setor a setor. As direções, as coordenações,
os organismos de base precisam existir, se reunir periodicamente, planejar e
avaliar sua atuação.
Terceiro: o
trabalho de conscientização é permanente. Queremos transformar o mundo,
queremos construir e conquistar o poder, queremos materializar soluções criativas
para todos os problemas da humanidade. E isso exige estudar e elaborar, de
forma permanente. As pessoas que ocupam posições dirigentes precisam estudar, a
militância precisa estudar, a classe trabalhadora precisa estudar. Por isso, o
trabalho de cultura, de comunicação e de educação são essenciais e não podem
ser capturados pelo baixo nível da classe dominante, pela autopropaganda que
dialoga com a própria bolha, com cirandas recreativas que evitam tratar com a
profundidade e seriedade os grandes problemas da classe, do Brasil e do mundo. É
preciso desenvolver, em nossa militância, a convicção de que, por mais que o
coletivo tenha seu papel, a autoformação é essencial. E que a conscientização –
da classe, da militância, dos dirigentes – não se faz principalmente estudando problemas
e soluções passados, se faz debatendo e elaborando soluções presentes para os
problemas presentes. É no enfrentamento cotidiano contra a extrema direita e
contra os neoliberais; e também na disputa cotidiana contra os social-liberais
e social-democratas; que deve se formar nossa classe, nossa militância e nossos
dirigentes. Em palavras antigas, mas que seguem válidas: nosso marxismo só ganha
sentido se for análise concreta da situação concreta.
Quarto: parcelas
do nosso partido só se mobilizam em anos pares. Convertem o PT em espaço para
discussão de temas eleitorais e, em menos medida, para debater a ação dos
mandatos conquistados. E, em decorrência disso, vão aceitando que mandatos parlamentares
e executivos dirijam o Partido. Alguns já se referem, jocosamente, a existência
de um “sindicato” de parlamentares, vários dos quais não pagam o Partido. A
parlamentarização do PT atinge, também, muitas tendências de nosso partido, que
se converteram em cooperativas de parlamentares, meras fachadas de mandatos. O
resultado é que – apesar dos nomes as vezes pomposos - perdem progressivamente a
capacidade de formular e de dirigir projetos realmente coletivos. Como um
efeito colateral disso, o Partido vai sendo tratado, por muitas pessoas, como
uma agência de alocação em mandatos parlamentares, em governos ou em estruturas
conexas. Não aceitamos esta situação e a combatemos, tanto no Partido quanto em
nossa própria tendência. Queremos ter mais presença em mandatos e em governos, mas
queremos fazer isso preservando o princípio petista segundo o qual é o Partido,
através de suas instâncias, que dirige os mandatos; e que a luta eleitoral e a
ação institucional constituem duas dimensões, mas não as únicas dimensões, da
vida partidária. E lembramos sempre que queremos ser revolucionários
profissionais, não políticos profissionais, que buscam a todo custo espaços e
salários no Partido, em mandatos ou em governos.
Quinto:
nosso Partido não pode depender de recursos públicos. Hoje, é isso que ocorre.
A maioria dos filiados não contribui. Grande parte dos militantes não
contribui. E um número significativo de governantes, parlamentares, assessores
e dirigentes tampouco contribui financeiramente. Isso gera uma dependência
absoluta do Partido frente aos recursos públicos, seja o fundo partidário, seja
o fundo eleitoral. O resultado é a estatização do Partido, na mais absoluta contramão
de tudo o que PT defendia quando surgiu (e na mais absoluta contradição com o discurso
de muitos que “fizeram carreira” criticando a estatização dos partidos no
chamado socialismo real). Tanto no Partido quanto na tendência, sustentamos a
necessidade da contribuição militante.
#
A direção nacional
da tendência, eleita no 8º Congresso, vai dirigir a tendência até 2025. Neste
período, deve dar conta de pelo menos quatro grandes tarefas: a retificação da
tendência, a disputa pelos rumos do governo Lula, as eleições de 2024 e o PED
de 2025.
Em relação a
primeira tarefa: no segundo semestre de 2023, a direção deve acompanhar todos
os congressos estaduais da tendência, contribuindo na elaboração das diretrizes
políticas e do plano de trabalho. E no caso dos estados onde ainda não existimos
organizadamente (caso por exemplo de RR, AC, RO, GO, SC) e no caso dos estados
onde temos grandes debilidades político-organizativas (caso por exemplo de PR,
MT, MG, BA, PB, PI), a direção nacional deve propor um plano de trabalho
conjunto para organização da tendência. Em todos os casos, a questão central que
vai ser apresentada a militância é: o que fazer para reforçar e ampliar nossa
presença nos locais de trabalho, moradia, estudo, cultura e lazer,
especialmente nos movimentos sociais e no movimento sindical.
Em relação a
segunda tarefa: devemos fortalecer o grupo de acompanhamento das ações do
governo, de forma a elaborar um diagnóstico contínuo da situação e das
perspectivas, contribuindo para elaborar políticas nos espaços onde temos
militantes atuando (no governo ou relacionando-se com ele); e também contribuindo
para elaborar diretrizes para aquelas questões que a resolução central do 8º Congresso
aponta como centrais, a saber: mudar a política do Banco Central e derrotar a
ditadura do capital financeiro; garantir forças armadas comprometidas com a
defesa da soberania nacional; impor à maioria de direita do Congresso o
respeito às prerrogativas constitucionais do executivo; democratizar o sistema
judiciário; quebrar o oligopólio da comunicação; executar uma política de
reforma agrária e enfrentar o agronegócio e a mineração; iniciar um novo ciclo
de desenvolvimento do Brasil, com industrialização, alta tecnologia e proteção
do meio ambiente; melhorar rápida e profundamente a qualidade de vida da
maioria do povo brasileiro, com políticas de moradia, saúde, educação e cultura.
Em relação a
terceira tarefa: ainda este ano, devemos elaborar um mapa da situação eleitoral
nacional e – em conjunto com as direções estaduais – elaborar uma opinião sobre
qual deva ser a tática do Partido, caso a caso. E, nos estados e cidades onde
tenhamos grandes chances, traçar um plano para contribuir nacionalmente com
nosso êxito eleitoral.
Em relação a quarta tarefa: devemos nos preparar desde já para disputar, com chapa e candidatura presidencial, o PED 2025. A experiência desde 2001 até hoje demonstraram que uma tendência com as nossas características não pode se dar ao luxo de abrir mão de travar com perfil próprio a disputa nacional. Sempre que possível, devemos adotar a mesma política nos estados e cidades. Se estivermos preparados para disputar com perfil próprio, podemos fazer os ajustes que cada situação exija. Mas se não estivermos preparados, seremos arrastados para soluções que não necessariamente são adequadas à nossa política. A preparação inclui ampliar a filiação ao Partido e ampliar a filiação a tendência; manter iniciativas comuns com outros setores do Partido; preparar desde já quadros que possam assumir a tarefa de compor e encabeçar chapas, com atenção especial para mulheres, jovens e pessoas negras.
Um aspecto importante de nossa preparação para o PED 2025 é nossa contribuição para atualizar o programa, a estratégia e os métodos de trabalho do Partido dos Trabalhadores. Nesse sentido, a direção da tendência deve dedicar parte de seu tempo para estimular o debate sobre os seguintes temas: a situação mundial, em particular a situação do capitalismo e as perspectivas do socialismo; a situação nacional, em particular a crise e as perspectivas do capitalismo e da luta pelo socialismo no Brasil, com destaque para o estudo das classes sociais e da luta de classe em nosso país; a análise crítica das organizações políticas e sociais da classe trabalhadora, com destaque para o movimento sindical e para as organizações partidárias, incluindo o PT e as principais organizações que se propõem alternativas ao petismo (os partidos e organizações comunistas, o PSOL e o PSTU, os grupos derivados do racha da Consulta Popular).
Para dar conta
dessas tarefas, propomos – em consonância com o relatório que a atual direção
nacional apresentou ao 8º Congresso – que a próxima direção nacional seja
composta da seguinte maneira:
1/uma
direção nacional composta por 16 integrantes, sendo no mínimo 8 mulheres;
2/uma
executiva nacional composta por 6 integrantes, sendo no mínimo 3 mulheres;
3/a direção (16,
dos quais 10 não são da executiva e 6 são da executiva) se reunirá de três em
três meses, virtual e/ou presencialmente;
4/a executiva
(6) se reunirá mensalmente, virtual e/ou presencialmente;
5/as pessoas
que integrarão a direção devem ter i/acordo com a linha política aprovada no
Congresso; ii/capacidade dirigente; iii/disposição de assumir tarefas, a
começar pela participação nas reuniões periódicas;
6/lembrando
que a direção nacional não é um parlamento representativo das regiões, estados,
setores etc., a nominata da direção nacional deve buscar ter pelo menos 1 dirigente
residente em cada uma das grandes regiões do país; deve buscar ter pelo menos 1
dirigente do movimento sindical, do movimento estudantil, do movimento de
mulheres, do combate ao racismo; deve buscar ter pelo menos 1 parlamentar e 1
integrante do governo federal;
7/lembrando
que a executiva nacional é uma instância, como diz o nome, executiva, cada uma
das pessoas que venha a participar dela devem assumir pelo menos 1 das
seguintes tarefas: secretaria geral e de organização; comunicação; finanças;
formação política; acompanhamento das direções partidárias; acompanhamento da
frente institucional. Além disso, as pessoas integrantes da executiva devem compartilhar
as seguintes tarefas: acompanhamento dos setoriais da AE; acompanhamento da
frente institucional; acompanhamento dos movimentos sociais; acompanhamento da
atuação da AE nos estados. De forma que cada dirigente da executiva terá pelo
menos duas tarefas.
Anexo 2
Saúde como
política pública estratégica e de Estado, democrática, classista,
anticapitalista e rumo ao socialismo
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