Companheiras, companheiros
Como sabem,
fiz parte da comissão que elaborou a versão final do texto que acaba de ser aprovado
por este Diretório.
Na comissão,
apresentei inúmeras emendas, algumas das quais foram acatadas.
Considero
que, divergências à parte, a resolução é mais completa do que o texto-base.
Apresentei diretamente
ao DN três emendas à versão final: uma emenda sobre o socialismo, uma emenda
sobre a Petrobrás e uma emenda sobre a tutela militar.
As duas primeiras
emendas foram aprovadas pelo DN.
Já a emenda
sobre a tutela militar foi rejeitada pelo DN.
E rejeitada por
ampla maioria de votos (ou seja, votaram na rejeição cerca de 46 dirigentes, de
diferentes chapas e tendências).
Sendo assim,
cumprindo o regimento, peço que se registre meu voto favorável nas emendas e
minha abstenção na votação principal, para que se registre em ata a seguinte declaração de voto.
Nosso
partido nasceu lutando pela democracia e pelo socialismo.
Nesses 43
anos, muita gente enfraqueceu suas convicções socialistas.
Mas todo o
nosso Partido segue reafirmando a democracia.
Democracia
que, no passado e no presente, teve e tem na tutela militar uma de suas maiores inimigas.
Fatos
recentes da história do Brasil – como o golpe contra a Dilma, a prisão de Lula,
a eleição do cavernícola, a tentativa de golpe do 8 de janeiro – têm relação
direta com a tutela militar.
A respeito disto,
há inúmeras resoluções, aprovadas desde 1980 até 2017, no 6º Congresso Nacional
do PT.
Mas o que o nosso
atual Diretório Nacional, eleito em 2019, deliberou a respeito da questão?
Quando
debatemos o programa de reconstrução e transformação, recusamos as propostas de
resolução apresentadas a respeito da tutela militar; naquela ocasião, o
Diretório escolheu remeter o tema para debate em uma comissão de especialistas,
que até onde eu sei nunca se reuniu.
Quando
debatemos o programa da Federação, recusamos as propostas de resolução
apresentadas a respeito.
Quando
debatemos o programa da coligação presidencial, recusamos as propostas de
resolução apresentadas a respeito.
Na
transição, não foi constituído um grupo para tratar do tema.
Aí veio o 8
de janeiro de 2023.
E apesar
disto, seis meses depois, no dia 10 de julho de 2023, o Diretório Nacional do
PT decidiu seguir na mesma toada, recusando uma emenda que afirma o seguinte: “Não
se poderá falar em democracia plena no Brasil, enquanto persistir a tutela
militar. O Diretório Nacional do PT decide convocar uma conferência nacional
para debater a política de Defesa Nacional e o papel das forças armadas”.
Ou seja: o
Diretório aprovou uma resolução que exige “punição severa aos golpistas que no
dia 08 de janeiro intentaram contra o Estado Democrático de Direito”, inclusive
punição a seus “estimuladores militares”.
Mas o mesmo Diretório
prefere não falar de “tutela militar”.
E, ao mesmo
tempo, prefere (numa interpretação otimista) adiar o debate organizado
a respeito do papel das forças armadas.
Trata-se, na
minha opinião, de um erro grave.
O golpismo
de 8 de janeiro tem causas sistêmicas e seu tratamento não pode ser adiado. E o
tratamento dessas causas sistêmicas inclui o debate público, aberto,
democrático, acerca do papel das forças armadas.
O fato do DN
não aprovar a emenda proposta não impede que o debate exista, muito menos faz a
tutela desaparecer.
Mas o fato
da emenda ser rejeitada revela que a direção nacional de nosso partido segue
não percebendo que o tema é inescapável e inadiável, e que precisa ser tratado
publicamente.
No dia 8 de
janeiro, quando muita gente foi surpreendida
pelos acontecimentos, vimos o resultado deste tipo de atitude.
Um documento
cujo título é “no rumo certo” não deveria procrastinar nunca, muito menos em
uma questão tão decisiva.
Saudações
petistas
Valter Pomar
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