No dia 8 de abril, um amigo me perguntou quantos votos teria a candidatura a vice de Alckmin no Encontro Nacional do PT. Eu respondi o seguinte: a preços de hoje, no mínimo 65%, mas pode chegar a 95%.
Por pensar assim, fiquei surpreso com o artigo de Paulo Vannuchi, publicado na Folha de S. Paulo no dia 8 de abril. E mais surpreso
ainda com o artigo de Gilberto Maringoni, publicado no
site Disparada no dia 12 de abril.
O artigo de Vannuchi pode ser lido nesse endereço:
O artigo de Maringoni pode ser lido nesse endereço:
https://disparada.com.br/oposicao-chapa-lula-alckmin/
No caso de Maringoni é preciso dar um desconto. Ele está no
PSOL e, portanto, não tem a obrigação de conhecer a correlação de forças existente
no PT.
Mesmo assim, frases do tipo “investir contra a chapa
Lula-Alckmin não apenas atrapalha, mas objetivamente sabota a única tentativa
viável de nos tirar do abismo e de recolocar o Brasil no rumo da democracia” revelam
um nível de preocupação só explicável se houvesse um movimento poderoso contra
a candidatura de Alckmin.
Seja como for, simplesmente não é verdade que Alckmin seja o
último pacote do biscoito. Havia inúmeras outras alternativas, inclusive no
campo conservador, desde empresárias até políticos abrigados por exemplo no
PSD. E as pesquisas divulgadas desde que se aventou o nome de Alckmin ainda não
demonstraram as suas vantagens eleitorais. Mesmo na disputa paulista, um dos
argumentos mais utilizados para demonstrar a suposta genialidade da aliança,
ainda está por demonstrar estar sendo bom negócio, eleitoralmente falando.
Maringoni usa como argumento em favor da aliança com Alckmin
os “resultados desastrosos do primeiro turno francês”, reclamando do fato de “quatro
candidatos progressistas sequer terem se sentado para traçar uma tática comum,
que poderia ter levado Jean-Luc Melénchon à segunda volta”. Realmente é um desastre
que as candidaturas de esquerda (não “progressistas”) não tenham se unificado.
Mas tirante a aparência, o caso francês só teria alguma semelhança com a
situação brasileira se estivesse na mesa uma aliança de primeiro turno entre Melenchon e, digamos,
Macron.
Maringoni afirma, também, que os que atacam a proposta de entregar a vice de Lula para Alckmin “são insensíveis não apenas a fascitização do governo Bolsonaro e seus apoiadores, mas à gosma social que o sustenta”.
Entendo o ponto de vista, mas do meu ponto de vista ocorre exatamente o contrário. Bolsonaro e sua gosma não vieram do espaço, vicejaram no ambiente neoliberal. Foi a lógica da Aliança Democrática que permitiu a sobrevivência do bolsonarismo nas forças armadas. Foram os golpistas tucanos de 2016 que abriram caminho para a fraude de 2018. É o ambiente social gestado pelo neoliberalismo que fez a “gosma” crescer.
Por tudo isso, do ponto de vista eleitoral e do ponto de vista
programático, a aliança com Alckmin pode ter o efeito diametralmente oposto ao
esperado. Temos falado disso o tempo todo. Podemos estar errados, óbvio. Mas
impressiona como os defensores de Alckmin na vice são “insensíveis” a estes
alertas. Tão insensíveis
Maringoni fala também que “as Forças Armadas viraram um
lumpesinato fardado, as polícias estão incontroláveis, diversos bandos
milicianos fortemente armadas estão prontos para botar fogo no circo nos
próximos meses, entre outras coisas”. Tudo isso é verdade. Resta nos explicar como
a presença de Alckmin na vice vai contribuir para enfrentar estes e outros
problemas. Afinal, os tucanos não são propriamente bons conselheiros no trato
com as forças armadas e com as polícias militares.
Maringoni usa, ainda, um argumento insólito para defender Alckmin
na vice, a saber: “alguém acha, siceramente, que Alckmin tem posições mais
neoliberais do que Antonio Palocci e Henrique Meirelles – que elevaram a selic
a 26,5% em 2003 e o superávit primário para 4,8% do PIB em 2005 (índice sequer
tentado nos anos FHC)? Ou que a fé mercadista do governador suplanta a de Dilma
Rousseff, que dobrou o desemprego em 15 meses e chegou a dizer – ao jornal
belga Le Soir, em junho de 2015 – que não havia outro caminho a não ser o
alucinado ajuste fiscal que arrebentou nossa economia? Alckmin seria mais
conservador que José Eduardo Cardozo, que ofereceu ao ex-governador a Força
Nacional para reprimir os protestos de 2013? Seria um direitista mais extremado
que Dias Tóffoli, Luís Fux, Luís Roberto Barroso, Edson Facchin e outros juristas
de confiança do PT?”
Supondo que tudo isso seja verdade, pergunto: devemos
aprender com os erros passados ou devemos repetir tudo de novo, para ver se
desta vez o desfecho é diferente?
Maringoni, uma pessoa supostamente de esquerda, mas cujo pensamento é organizado pelo antipetismo visceral padrão Hora do Povo, chega a dizer
o seguinte: “Pela composição de forças, a chapa Lula-Alckmin não parece ser nem
melhor e nem pior do que as administrações do período 2003-16. Assim como
aqueles governos, a chapa não tem em seu horizonte qualquer perspectiva de
transformação social.”
Mesmo assim, segundo ele, “mesmo um governo mediano e tímido
é preferível à barbárie em curso. As oposições de esquerda ao longo dos 13 anos
petistas foram incapazes de gerar um programa de desenvolvimento factível e
realista. Não adianta brigar pelas aparências agora”.
Infelizmente, não se trata de “aparências”, mas se trata de
uma opinião: Lula é de fato“a única tentativa viável de nos tirar do abismo e de
recolocar o Brasil no rumo da democracia”. Colocar Alckmin na vice sabota estes
objetivos e, na melhor das hipóteses, aprisiona a “democracia” pela qual
lutamos no figurino social-liberal. Nos tempos da política normal de 2003 a
2016 isso já seria um erro. Mas em tempos de bolsonarismo, com uma extrema
direita com apoio popular, isso pode ser suicida.
Na continuação deste texto, na próxima postagem, falarei das opiniões de Paulo
Vannuchi.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste trecho resume tudo: "Supondo que tudo isso seja verdade, pergunto: devemos aprender com os erros passados ou devemos repetir tudo de novo, para ver se desta vez o desfecho é diferente?". Como não lembrar Marx, para quem “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”?
ResponderExcluirOutra coisa, quando Maringoni fala que “as Forças Armadas VIRARAM um lumpesinato fardado” (grifo nosso) e que “as polícias estão incontroláveis”, fica a impressão de que ele desconhece a história recente do Brasil, das determinantes e traidoras intervenções militares e policiais nos momentos mais agudos à liberdade e a democracia no país.
Rsrs,parece mesmo que estou literalmente desatualizada, nos meus tempos de Brasil, eu conhecia a expressão "o último biscoito do pacote"....
ResponderExcluirO pior é ver muitos petistas repostando esse texto e falando que concorda do começo ao fim.
ResponderExcluirO Brasil não é governado jo estilo partido único e sim no estilo poucos partidos e muitas siglas de aluguel e por isto, infelizmente temos que engolir Alckmin.
ResponderExcluirÓtimo texto. De uma grande lucidez. Aponta muito bem as certas e possíveis verdades nas premissas de Maringoni, mas evidencia que as conclusões são falaciosas.
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