O texto abaixo é a terceira versão de um projeto de resolução
para debate e votação na reunião que a direção nacional da tendência petista
Articulação de Esquerda fará neste domingo, dia 27 de março de 2022.
1.Faltam cerca de seis meses para o primeiro turno da
eleição presidencial de 2022. O cenário eleitoral segue sendo de polarização entre
as candidaturas de Lula e Bolsonaro. Até o momento, as candidaturas da chamada “terceira
via” não parecem capazes de ir ao segundo turno. Ainda seguem em curso
movimentos no sentido de viabilizar uma candidatura unificada dos setores neoliberais
não bolsonaristas. Entretanto, mesmo que esta unificação não ocorra, a mera existência
destas candidaturas, somada ao percentual de eleitores ainda indefinidos,
indica que a disputa presidencial de 2022 só deverá ser decidida no segundo
turno.
2.A candidatura de Lula segue liderando em todas as pesquisas,
em alguns casos alcançando percentuais que tornariam possível uma vitória ainda
em primeiro turno. Entretanto, este não é o cenário mais provável, pelas razões
indicadas anteriormente. Por outro lado, as pesquisas também indicam que a
candidatura de Bolsonaro pode chegar em outubro em melhores condições do que hoje,
a depender principalmente do cenário econômico e social e da luta política.
3.O cenário econômico e social segue terrível, ao menos para
a grande maioria da população brasileira: desemprego, inflação, fome, Covid 19,
desassistência, violência são alguns dos problemas a atormentar a vida da
classe trabalhadora, especialmente das mulheres, dos negros e negras, da juventude,
dos moradores da periferia. Esta situação decorre da política adotada desde o
golpe de 2016, inicialmente pelo governo Temer e depois pelo governo Bolsonaro.
A Covid 19 e, agora, a guerra agravam a situação, mas este agravamento é ainda
maior devido as opções feitas por Bolsonaro, por seus apoiadores políticos e
pela classe dominante brasileira. Entretanto, para que prevaleça a interpretação
correta dos fatos, é necessário travar uma intensa luta política e ideológica, seja para evidenciar as responsabilidades de Bolsonaro e de suas políticas neoliberais,
seja para demonstrar que existem alternativas (demonstrando que poderia e pode ser
diferente).
4.Sem esta intensa luta política e ideológica, pode prevalecer
– em camadas importantes da população – outra interpretação dos fatos. Além
disso, o governo federal desencadeou uma ofensiva em todos os terrenos,
utilizando os recursos públicos com finalidades eleitorais, numa ação
clientelista que - no ambiente de crise econômica e social fomentada pelo
próprio governo - pode gerar dividendos na disputa presidencial. Em 2018 construiu
sua vitória a partir de condições relativamente mais difíceis do que as atuais;
hoje seu principal flanco é o desempenho do governo, mas é preciso saber explorar
este flanco. Neste sentido, o nosso grande desafio, do qual depende a vitória na
eleição presidencial de 2022, segue sendo o mesmo de sempre: travar uma intensa
luta política e ideológica. E é neste ponto que residem as principais debilidades
da candidatura Lula e da ação do PT.
5.Até o momento não apresentamos ao país nosso programa de
governo. Como já dissemos antes, este programa é essencial para demonstrar que as
coisas podem ser diferentes. Não basta, para isso, falar do que fizemos no
passado, noutras circunstâncias. Além disso, apresentar desde já nosso programa
de governo é essencial para construir a vontade política organizada necessária para
a execução do próprio programa. É verdade que dispomos do chamado programa de
reconstrução e transformação, aprovado pelo DN. Este programa, apesar de suas
debilidades e lacunas, pode servir de base para a elaboração de um programa de
governo. Entretanto, não apenas o programa não foi elaborado, como além disso nossa
pré-candidatura emite sinais contraditórios neste terreno. O principal desses
sinais é a crescente consolidação da candidatura Alckmin a vice-presidente: ter
um golpista e neoliberal na vice emite sinais confusos acerca de qual será,
efetivamente, nosso programa. É sintomático, neste sentido, que o texto apresentado
à reunião do Diretório Nacional dia 24 de março, pelo grupo majoritário, não contivesse,
entre as medidas programáticas propostas, a reindustrialização. Ao mesmo tempo
em que um neoliberal se afirma como “socialista”, muitos petistas promovem o rebaixamento
de nosso programa.
6.Até o momento a campanha não saiu das pesquisas e das crescentes
manifestações espontâneas de apoio (como vem ocorrendo em vários shows
populares), para a fase de uma campanha militante sistemática, capilarizada, que
disputa o apoio popular em cada local de trabalho, em cada local de moradia, em
cada local de estudo, em cada espaço de cultura e lazer. Foram dados alguns
passos neste sentido – com destaque para os comitês populares de luta – mas o
feito até agora é insuficiente e o tempo é cada vez mais curto. Contribui para nossa
velocidade baixa o fato de parte importante da direção do PT – inclusive aqueles
supostamente responsáveis pela campanha presidencial – serem candidatos a cargos
legislativos. Contribui, também, o precioso tempo perdido nas negociações da
chamada “federação” com o PSB, além das negociações de cúpula com candidaturas de
partidos conservadores.
7.Até o momento segue existindo – e nos últimos dias cresceu
– uma distância muito grande entre a liderança de Lula nas pesquisas e a situação
de nossas candidaturas ao governo de estado, ao senado, às assembleias
legislativas e a à Câmara dos Deputados. A política de “priorizar a candidatura
Lula” foi encaminhada, em muitos estados, como sendo igual a abrir mão de candidaturas
petistas ou mesmo de candidaturas de esquerda. O resultado é que, em muitos
estados eleitoralmente importantes, nosso “palanque” estadual está sujeito a
todo tipo de problemas. Vide por exemplo algumas situações ocorridas nos
estados da Bahia, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Pará, do Ceará, de
Pernambuco, do Rio Grande do Norte e de São Paulo.
8.Até o momento segue reduzida a mobilização direta e geral da
classe trabalhadora, por suas reivindicações. As manifestações organizadas pelo
Fora Bolsonaro arrefeceram, o 8 de março teve presença importante mas inferior
a necessária. Há muita insatisfação, há protestos e lutas por toda a parte, mas
não há um clima nacional de lutas organizadas. Noutras palavras, a luta fica
concentrada no terreno eleitoral e fica concentrada no bolsonarismo. Para garantir
a vitória, um tipo vitória que constrói as melhores condições para governar, e
para que este governo possa enfrentar não apenas o bolsonarismo mas também o
neoliberalismo, é preciso estimular mais lutas de massa e mais mobilizações organizadas
da classe trabalhadora. Neste sentido, ganham importância o Fora Bolsonaro dia
9 de abril e o Primeiro de maio.
9.Frente a esta situação tão complexa, agravada pela
situação mundial, o grupo que controla o Diretório Nacional do PT não está demonstrando
estar à altura do desafio histórico. Um exemplo disso é a resolução aprovada no
dia 24 de março de 2022, suprimindo a autonomia das direções estaduais do
Partido na implementação da tática eleitoral, o que tende a agravar os
problemas já existentes, especialmente porque na maioria dos casos estes problemas
decorrem exatamente da política implementada a partir da direção nacional do PT
(sem falar no fato de que 25 dos 27
diretórios regionais são controlados pelo mesmo grupo que controla a direção
nacional, o que demonstra que a supressão da autonomia dos estados é uma medida
que no fundo revela apenas o desconcerto deste grupo com os efeitos deletérios
da política que ele mesmo vem implementando).
10. Não se trata de discutir a legitimidade e a dedicação individual dos dirigentes. Trata-se de constatar, em primeiro lugar, que não existe direção coletiva. O que ocorreu no caso da Federação e o que vem ocorrendo no caso da candidatura de Alckmin a vice são sinais disso: as decisões vêm sendo tomadas fora da direção, em grupos informais, sendo trazidas depois para a direção chancelar fatos consumados. Este método de “maioria presumida” e “a posteriori” não é capaz de enfrentar e vencer os imensos desafios deste momento histórico, desafios que não resumem a vencer as eleições presidenciais. A eleição de Lula e o sucesso de nossa próxima gestão presidencial, ou será uma tarefa coletiva ou não será. E nesta tarefa coletiva, o PT tem papel insubstituível. Por isso, enfraquecer o partido, suas instâncias, sua democracia interna, seus objetivos históricos, sua militância, contribui no esforço dos setores da classe dominante que buscam nos derrotar, nos domesticar, nos cooptar e nos degenerar, por exemplo incentivando o controle do Partido pelas bancadas e governos e abrindo o partido para políticos tradicionais. Para cada Roberto Requião, cuja filiação democrática ao PT saudamos e apoiamos, há outros tanto novos filiados sem nenhuma trajetória de esquerda.
11.Diante deste quadro tão complexo, orientamos
nossa militância a:
-difundir os 13 pontos de programa apresentados ao final
desta resolução;
-construir comitês populares de luta e iniciar já a campanha,
destacando no trabalho destes comitês o debate sobre o programa;
-seguir lutando por eleger candidaturas majoritárias e
proporcionais de esquerda, combatendo as propostas de apoio às candidaturas de
direita;
-seguir lutando por uma candidatura a vice-presidente
comprometida com o programa democrático-popular: Temer nunca mais!
-seguir lutando para que o programa e o estatuto da “federação”
com o PV e com o PCdoB preservem a autonomia política e organizativa do Partido;
-seguir lutando para garantir o funcionamento coletivo do partido, incluindo aí a luta por um encontro nacional de tática para deliberar sobre a vice, único espaço legítimo para apresentar e aprovar um nome à altura da tarefa histórica;
-seguir estimulando e participando das lutas e mobilizações da
classe trabalhadora, a exemplo do 9 de abril e do Primeiro de Maio.
13.Apesar da postura e da política que prevalecem no Diretório
Nacional do PT, é preciso manter o foco na tarefa principal: derrotar o
bolsonarismo e o neoliberalismo, construindo as condições para implementar um
programa em defesa da soberania nacional, do desenvolvimento, do bem estar
social, das liberdades democráticas e do socialismo.
NOSSOS 13 PONTOS PROGRAMÁTICOS
1.A nosso ver, destacam-se como prioridades:
i/as propostas emergenciais para superar o desemprego, a
inflação, a fome, a carestia, a miséria; o apagão na saúde; os retrocessos na
educação e na cultura; a falta de perspectivas para a juventude;
ii/as propostas de natureza estrutural, de médio e longo
prazo, capazes de garantir a soberania, o bem-estar, a liberdade e um
desenvolvimento de novo tipo para nosso país.
2.Entre as medidas e ações, destacamos as seguintes:
i/decretar situação de emergência em âmbito nacional, para
que o novo governo tenha os meios legais necessários para enfrentar o caos
herdado do governo anterior, em particular no enfrentamento das necessidades
mais imediatas: o alimento, a moradia, a saúde, a educação o transporte, o
emprego;
ii/corrigir imediatamente o orçamento herdado do governo
anterior, principalmente ampliando a dotação vinculada às áreas sociais e ao
desenvolvimento econômico, inclusive recuperando a capacidade de investimento
do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, bem como das
empresas estatais como vetor do desenvolvimento;
iii/tomar as medidas necessárias para estabelecer um imposto
sobre grandes fortunas, lucros e dividendos, para contribuir no financiamento
das medidas de reconstrução e transformação nacional, especialmente para dobrar
ao longo do primeiro biênio de governo as receitas do SUS (hoje de
aproximadamente 4% do PIB ou 4,00 per capita). Apoiar as propostas de reforma
tributária já apresentadas pelos partidos de esquerda;
iv/retomada imediata do programa Bolsa Família, do programa
Mais Médicos e do programa Minha Casa Minha Vida, com as devidas alterações. Convocação de concursos públicos
emergenciais para recompor o quadro de servidores públicos federais;
v/revogação do “teto de gastos” (através de emenda
constitucional), bem como revogação da reforma previdenciária, da reforma
trabalhista e da autonomia do Banco Central. Nos casos de alteração
constitucional, realizar referendo revogatório;
vi/como parte da defesa da economia popular e do combate à
inflação, promover uma lei de reajuste do salário mínimo, garantindo ganho real
capaz de recuperar o poder de compra afetado pela carestia; ampliação imediata
dos recursos disponíveis para agricultura familiar, principal fonte de
alimentos saudáveis e baratos; reduzir os preços da energia elétrica, do gás de
cozinha, da gasolina e demais combustíveis, pondo fim ao atual sistema
subordinado à oscilação dos preços internacionais;
vii/iniciar já em 2023 plano de reconstrução da
infraestrutura e reindustrialização nacional (através de obras públicas nas
estradas, hidrovias, ferrovias, fontes de energia, prédios e vias públicas,
habitação popular, saneamento básico e medidas de proteção imediata às populações em áreas de risco), reconstrução da Petrobrás como empresa de desenvolvimento
nacional, com plena retomada do sistema de partilha para exploração do pré-sal
e das medidas dinamizadoras da construção civil e da industrial naval,
incluindo a anulação das criminosas vendas dos ativos da empresa: o petróleo
deve voltar a ser nosso;
viii/interrupção da destruição do meio ambiente, moratória
imediata da expansão do agronegócio especialmente na Amazônia, retomada da demarcação das
áreas indígenas e das comunidades quilombolas, reconstrução do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com retomada e atualização das políticas de reforma agrária;
ix/reconstrução do Ministério da Cultura, relançamento da
Empresa Brasileira de Comunicação, implementação das previsões constitucionais
contrárias ao oligopólio privado da mídia, recomposição do orçamento de ciência
e tecnologia; retomada dos projetos de expansão e democratização do setor
público de educação, ampliando as políticas de ação afirmativa e desenhando
políticas específicas para avaliar e superar as perdas provocadas pela
pandemia;
x/reconstrução das Secretarias Especiais de Mulheres,
Igualdade Racial, da Juventude e criação da Secretaria Nacional LGBTQIA+, do
Sistema Nacional de Igualdade Racial e retomada das políticas em defesa dos
idosos, das pessoas com deficiência, dos povos indígenas e quilombolas;
xi/medidas em defesa do direito à memória e à verdade do
povo brasileiro e responsabilização dos agentes envolvidos em desrespeitos aos
direitos, liberdades e vida do povo desde o golpe de 2016. Entre as medidas
destaca-se, emergencialmente, a declaração oficial do novo chefe de Estado e de
Governo sobre o conjunto de ataques aos direitos, liberdades e vida do povo
brasileiro desde o golpe de 2016 até o governo Bolsonaro. Paralelamente à
difusão nacional da declaração oficial do Estado brasileiro, que sejam
instaladas Comissões da Verdade nos Estados brasileiros, sob coordenação do
governo federal, para apuração/sistematização detalhada localmente. Outras
medidas cabíveis: a)punição imediata dos responsáveis no que estiver sob
alcance do Executivo; b) abertura de procedimentos administrativos e judiciais
contra todos que tenham atentado contra os direitos humanos durante a
administração anterior, especialmente os relacionados ao genocídio causado por
políticas negacionistas frente à pandemia; c)devolução imediata às Forças
Armadas de todos os militares nomeados para cargos de natureza
civil;d)transferência para a reserva de todos os comandantes nomeados no mesmo
período; e) apresentar PEC para revogar o artigo 142 da Constituição, contribuindo para acabar com a chamada tutela das forças armadas;
f)apresentar PEC para desmilitarizar a segurança pública, com o objetivo de
deter a escalada de violência contra as populações pobres, periféricas e
negras, combinado com medidas para por fim à denominada “guerra às drogas”
xii/retomar e intensificar a presença do Brasil nos fóruns e
organismos multilaterais, em especial nos BRICS. Construir uma agenda de
recuperação da imagem do país em todo o mundo, priorizando a luta pela integração
latino-americana e caribenha. Restabelecer as relações com os países da África,
da Ásia e do Oriente Médio;
Xiii/tomando como referência a resolução do 6º Congresso do
PT, abrir o debate com a sociedade brasileira acerca da convocação de uma Assembleia
Nacional Constituinte.
TEXTO EM DEBATE, SUJEITO A ALTERAÇÕES
Custei do texto, embora não tenha falhado na leitura por causa do tamanho das Letras e também texto em celular não consigo me concentrar.
ResponderExcluirÉ importante vencer Bolsonaro e a ideias wue ele representa, o bolsonarismo, mas é preocupante vencer apenas porque ele é muito ruim, vencer apenas porque seu projeto (?) Para o desenvolvimento (?) é notoriamente maléfico. Para nós a vitória não representa apenas derrotar algo péssimo que desapontou a sociedade, mas convencer a sociedade de que temos projeto de nação para todos e todas, vencer pelo convencimento político e ideológico, pela apresentação de um programa superior.
ResponderExcluirApesar dessa descaracterização que o partido ora experimenta, com a exclusão da base nas decisões, com a interferência decisória que abala a autonomia nos estados, dando a impressão de que o partido não tem direção, mas proprietários, devemos sim (militância) nos lançar de "corpo e alma" nessa luta proposta no texto.
Nunca foi fácil para nós, fica ainda mais difícil quando temos o acréscimo de problemas internos, mas vamos pra cima, apenas lembrando que convertidos não precisam de pregação, precisam de respeito e estímulo.