quinta-feira, 24 de março de 2022

O discurso de Alckmin

Recomendo fortemente assistir a íntegra do discurso feito por Geraldo Alckmin no ato de sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro.

O discurso pode ser assistido neste endereço: https://m.youtube.com/watch?v=1EI_hDkjvjI

Um dos vários objetivos da peça foi pavimentar o caminho para Alckmin virar vice de Lula.

Também por conta disso tem sido muito citado o trecho do discurso em que o ex-governador cumprimenta o PSB pela decisão de apoiar o presidente Lula para presidente da República: "é ele, nós temos que ter os olhos abertos para enxergar, a humildade para entender que ele é hoje aquele que melhor reflete, interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro, aliás ele representa a própria democracia porque ele é fruto da democracia, não chegaria lá do berço humilde que sempre foi se não fosse o processo democrático e por ter conhecido as vicissitudes é que na realidade interpreta este sentimento da alma nacional”.

Entretanto, o discurso de Alckmin não se resumiu a isto.

Como em todo discurso dessa natureza, há inúmeras passagens protocolares e outras tantas meramente demagógicas.

Entretanto, há passagens muito importantes, por exemplo aquela onde Alckmin diz que a “primeira tarefa nossa é combater a mentira, porque a mentira é o que há de pior para o regime democrático”.

Nesse espírito de combater a mentira (e suas primas: a desfaçatez, a hipocrisia e a dissimulação), é imprescindível chamar a atenção para outras passagens do discurso de Alckmin.

Comecemos pelo seguinte: logo depois de falar que nossa primeira tarefa é combater a mentira, Alckmin emenda o seguinte: “aqueles que criticam, que desconfiam, que agem de maneira displicente em relação aos resultados das eleições estão na realidade ofendendo a democracia”.

Cabe perguntar: o impeachment da presidenta Dilma não foi uma ofensa à democracia?

Infelizmente, Alckmin não fala do assunto em seu discurso, assim como não fala do apoio explícito dado por ele à condenação, prisão e interdição da candidatura Lula em 2018.

Verdade seja dita, Alckmin não fala de Dilma, nem da prisão de Lula, mas também não fala de Fernando Henrique Cardoso.

Compreensível: seria difícil falar das "origens comuns da socialdemocracia e do socialismo", citar as palavras de ordem da revolução francesa e terminar explicando o nexo disto tudo com as políticas neoliberais implementadas por FHC, Alckmin e seus tucanos.

Por falar em citações, Alckmin se refere a São Lucas, ao Padre Louis-Joseph Lebret e também a Chesterton (1874-1936), intelectual conservador muito influente nas hostes olavistas e assemelhadas. Confirmando que o diabo se esconde nos detalhes.

Entre os detalhes está a maneira como Alckmin apresenta sua entrada na política, candidato a vereador em Pindamonhangaba, na luta contra as ditaduras “que suprimem a liberdade em nome do pão”, chavão muito utilizado para se criticar o socialismo soviético.

Enfim, escutando o discurso fica evidente que chamar Alckmin de “socialista” tem o mesmo sentido de chamar o grampinho de “democrata”. E por falar de democracia, Alckmin a circunscreve a defesa do parlamento, do STF e das eleições (neste caso em tese, pois sabemos o que Alckmin foi capaz de fazer com o resultado das eleições de 2014).

Mas façamos como Alckmin: vamos “olhar para frente”. Argumento que ele apoia numa citação de Churchill (“quando aprofundamos a rixa entre o presente e o passado nós nos esquecemos do futuro”), embora pudesse ter citado outra mais divertida, que em tradução livre é mais ou menos assim: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”.

Depois de citar Ulysses Guimarães, JK e o Padre Lebret (“nós devemos ser na política um zé ninguém a serviço de uma grande causa”), foi neste ponto do discurso (“é o futuro que nos une”) que Alckmin cumprimenta a decisão do PSB de apoiar Lula, acrescentando algo muito revelador: “Não tenho dúvida de que o presidente Lula se Deus quiser eleito vai reinserir o Brasil no cenário mundial, vai alargar o horizonte do desenvolvimento econômico e vai diminuir esta triste diferença social que nós temos no país”.

O "programa" de Alckmin é esse: inserção mundial, desenvolvimento econômico e “diminuir a triste diferença social”. Aos que não entenderam ainda, é isto o que significa social-liberalismo.

Mas o melhor do discurso é mesmo o final, onde Alckmin cita Covas, dando o que parte da imprensa interpretou como um recado a Lula: “Apoiar não significa deixar de emitir discordância. Igualmente, é preciso não confundir discordância com ultimato, nem lealdade com subserviência. Lealdade é o valor praticado entre companheiros, mas há uma forma de lealdade que se sobrepõe à todas: a lealdade aos destinos do país”.

A frase acima de Covas parece ter sido dita no seu discurso de posse para um segundo mandato de governador, depois de sua reeleição em 1998, onde uma campanha de fake news estimulada pelos tucanos roubou do PT a chance de estar no segundo turno das eleições.

E por falar em discursos de Covas, além deste onde ele falou da "lealdade aos destinos do país", tem outro onde ele fala acima de tudo está o nosso amor a São Paulo."

Cada um entenda como achar mais prudente.

17 comentários:

  1. Eu entendo é do meu desgosto, tristeza e preocupações. E, egoísta talvez, me pergunto como vou me matar de trabalhar nessa campanha tendo um vice como esse neoliberal golpista travestido de social-democrata? Social-democracia pra mim é a ante-sala do neoliberalismo que por sua vez é a ante-sala do fascismo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vamos vencer com Lula e Alckmin no 1o turno e é isto o que importa agora. Depois pra depois. Fora Bolsonaro.

      Excluir
  2. Com ima abordagem ainda mais polêmica, escrevi este texto que se soma a este debate. Leoam:

    http://linhacaatomica.blogspot.com/2022/03/geraldo-alckmin-sepulta-o-esquerdismo.html?m=1

    ResponderExcluir
  3. Tenho a impressão que o Lula ganhá a eleição, mas o projeto de um Brasil com soberania popular e de enfrentamento às raízes das desigualdades sociais e econômicas continuará esquecido.

    ResponderExcluir
  4. Cínico é o que é BB este discurso.
    O sujeito que vc era vice de Covas que vc citou era ele, o em Pinóquio. Vindo do PFL de Pinda e sabendo que Covas estava com câncer, morrendo.
    Essa carinha e pose de "santo" é disfarce do cinismo. Sinto muito. Não há futuro para nosso programa com essa inserção. O problema é fazer campanha com isso. 😔
    Como vc diz sócio-liberal.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isto.e com isto e vamos para vencer no 1o turno. Política é assim, não dá pra firulas e perder a eleição. Fora Bolsonaro.

      Excluir
  5. Cínico, é o que é este discurso.
    O sujeito que era vice de Covas que vc citou era ele, o Pinóquio. Vindo do PFL de Pinda e sabendo que Covas estava com câncer, morrendo.
    Essa carinha e pose de "santo" é disfarce do cinismo. Sinto muito. Não há futuro para nosso programa com essa inserção. O Lula acredita nele?? O problema é fazer campanha, como?

    ResponderExcluir
  6. Cínico, é o que é este discurso.
    O sujeito que era vice de Covas que vc citou era ele,o Pinóquio. Vindo do PFL de Pinda e sabendo que Covas estava com câncer, morrendo.
    Essa carinha e pose de "santo" é disfarce do cinismo. Sinto muito. Não há futuro para nosso programa com essa inserção. Lula acredita nele?? E no PSB?? O problema é fazer campanha. Como, com honestidade ??

    ResponderExcluir
  7. Se não pudermos trazer para o nosso lado aqueles que mesmo propositalmente ou equivocadamente estiveram contra os governos e propostas políticas de esquerda e que foram maioria nas eleições passadas, se não aceitarmos seu arrependimento e apoio, como mudar a realidade e a esperança de recuperar os espaços democráticos?
    Sobre a Lula e Alckmin
    Achei o discurso do Alckmin, durante sua filiação ao PSB, excelente e que reflete uma necessidade, e o momento exige esta aliança.
    Acredito ainda que a esquerda brasileira vai sair maior deste processo.
    A seis anos atrás a esquerda sofreu um processo de demonização que parecia que ia ser exterminada do cenário político nacional.
    Com uma resistência ponderada, ela vota a ter peso nos destinos do país. A própria esquerda vem se repensando e escolhendo os caminhos possíveis para se recompor. Este é um dos caminhos, as palavras do Alckmin neste discurso, curto , foram certeiras e esclarecedoras. Diálogo, Respeito, Convencimento, Esperança e Confiança na vitória. Temos de sair deste marasmo que é o governo bolsonaro ( em letras minúsculas mesmo).

    ResponderExcluir
  8. O meu sentimento é de que pagaremos caro por permitir a coalizão celebrada desse senhor à presidência da República. Quem não se defende leva! Preparemo-nos, o PT parece não aprender e nos põe em enorme risco de traição oficializada,e,historicamente nos tira da trajetória de luta por direitos populares conquistados.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Radical demais você. Agora evebmbcer Bolsonaro no 1o turno e ponto com ponto br

      Excluir
  9. Mais uma coisa, o PT apoiou e com razão a reeleição de Mario Covas em 1998, mesmo porque o roubo a que você se refere não está descrito em seu texto, é uma acusação genérica. A questão de mérito é que o PT não acusou este "roubo", genérico de que você fala, e o sentiu como próprio de campanha eleitoral e dentro das regras do jogo, diferente do que aconteceu nas eleições de 2018, onde o roubo e os crimes foram fartamente feitos e disseminados. As falsas notícias contra o Partido dos Trabalhadores são propagadas desde sua fundação, o que não exime os adversário desta propagação, mas o apoio do PT ao Mario Covas rescindiu esta acusação, Paulo Maluf obteve o 1º lugar no primeiro turno com 5,3 milhões de votos, aproximadamente 1,5 milhões a mais que Mario Covas, com a aliança com o PT no segundo turno Mario Covas se elegeu com 9,8 milhões de votos e 1,9 a mais que Paulo Maluf. A adesão do PT à candidatura de Mario Covas foi vital para sua reeleição. e é bem possível que você tenha votado em Mario covas, se o fez, parabéns, pois foi uma escolha sábia, Mario Covas atendeu muitas demandas em cidades governadas pelo PT, a aliança foi frutífera e necessária naquele momento, o mesmo ocorre agora. Da mesma forma que o PT viu e entendeu que apoiar Mario Covas era importante, Geraldo Alckmin está fazendo e temos que aceitar este apoio, ou acabaremos como Marcelo Freixo que recusou o apoio do PT em 2016 e deu no que deu. Não espero que você mude de opinião, mas que a bem da verdade deixe esta resposta ser publicada, para que a polêmica continue democrática.

    ResponderExcluir
  10. Pra mim o Alkmin é um dissimulado...
    Lula sem chuchu,com esse cara de vice nem dá pra fazer campanha.

    ResponderExcluir
  11. Vamos ter que fazer. Ou é isto ou aquilo Estou dentro com Lula e Alckmin

    ResponderExcluir