Ontem o Ibope divulgou nova rodada de pesquisas.
No caso da
cidade de São Paulo, comparando a pesquisa de 9 de novembro com a de 30 de
outubro, teria ocorrido o seguinte:
1/a
candidatura de Covas teria subido muito e lideraria isolado;
2/o segundo
lugar estaria sendo disputado por Boulos, Russomano e França;
3/depois
viria um terceiro pelotão, onde estariam Tatto e Mamãe Falei;
4/em seguida
viriam as demais candidaturas.
Não cito os
números, porque a pesquisa tem uma margem de erro de 3 pontos percentuais, o que torna possível
qualquer malabarismo. Por exemplo: Tatto poderia ter de 3% a 9%, Boulos poderia
ter de 16% a 10%.
Assim, números
deixados de lado, e supondo que a pesquisa não esteja manipulada, nem contenha
nenhuma falha metodológica mortal, o que podemos dizer?
1/que é
provável que haja segundo turno;
2/que é
muito provável que a candidatura Covas, apoiada por Doria e por Marta, esteja no
segundo turno;
3/que não
está decidido quem mais estará no segundo turno, disputando contra Covas;
4/que provavelmente
Russomano não estará no segundo turno: aliás, em todas as partes, as
candidaturas apoiadas por Bolsonaro passam por dificuldades;
5/que, a
depender do que ocorra nos próximos dias, há margem estatística em alguns casos
e política noutros casos para que vários postulantes consigam estar no segundo
turno: Boulos, França, Tatto, Mamãe Falei e inclusive Russomano.
Entretanto,
a maneira como o Ibope divulgou seus números e a maneira como as pessoas se
habituaram a ler as pesquisas, induz muita gente a achar que Boulos seria o
melhor posicionado para estar no segundo turno, pois supostamente estaria em
segundo lugar.
Motivo pelo
qual alguns de seus apoiadores tem se dedicado, diuturnamente, a conquistar
votos de petistas. Acham que, fazendo isto, Boulos teria grande chance de estar no
segundo turno.
Veremos, em
poucos dias, se este tipo de movimentação terá efeitos eleitorais e quais
efeitos eleitorais terá. Mas há fortes sinais de que os defensores do voto útil
possam terminar como aquele famoso aprendiz de feiticeiro.
No Rio de
Janeiro, por exemplo, a campanha pelo “voto útil” também está em marcha, mas nesse
caso para tentar beneficiar a candidatura do PDT. O que, certamente, não era o
resultado esperado por alguns que defendiam o voto útil com o argumento de “trocar
o Rio por São Paulo”.
Já em São
Paulo, os defensores do “voto útil” deveriam ficar espertos para uma informação
que consta da mesmíssima pesquisa em que se baseiam, a saber: Boulos estaria
congelado, sem cair, nem subir. Some-se isto com a presença de Márcio França,
candidato do PDT de Ciro Gomes e do PSB de São Paulo (ou seja, dos tucanos anti-Dória);
e a conclusão é de que defender o “voto útil” pode ser meio caminho andado para
o voto mais inútil da história de muita gente.
Isto posto, e
a bem da verdade, não é a primeira vez que o PT sofre este tipo de pressão.
Foi assim no
início de nossa trajetória, quando, em nome de derrotar a direita, se pedia ao PT
que abrisse mão de lançar candidaturas. Ou que as retirasse, em favor de
candidaturas supostamente melhor posicionadas.
O impressionante,
portanto, não é que haja campanha pelo voto útil. Nem é impressionante a crença
nas pesquisas, a certeza com que algumas pessoas fazem cálculos de viabilidade
e apostas neste ou naquele tipo de segundo turno, ou as certezas absolutas
sobre o que vai ocorrer em 2022, à luz do resultado X ou Y em 2020.
O que
impressiona é a vista curta com que alguns petistas tratam o assunto. É impressionante,
mas não é surpreendente: de um lado, há setores que estão fazendo luta interna,
na hora e do jeito errado; de outro lado, há setores que transformaram as disputas
eleitorais no alfa e ômega da sua atividade política.
Convenhamos,
não é nem um pouco misterioso o que está em jogo. Afinal, quando vários defensores
do “voto útil” falam que é preciso deixar de lado os interesses partidários, eles
estão expondo honestamente o núcleo do problema. Pois olhando a história dos
últimos 40 anos, nada foi mais importante para a luta do povo brasileiro, nada foi
mais importante para as liberdades democráticas, do que a construção de uma
esquerda de massas, nucleada pelo PT.
O fato é que
a pressão brutal para que o PT “desista” de sua candidatura em São Paulo visa
objetivos muito mais estratégicos. Afinal, um partido de esquerda que, no auge
da batalha, desiste da luta por temor da derrota, muito dificilmente voltará a
levantar a cabeça.
Por isso, para
além de muitos outros argumentos que já foram expostos noutros textos, fazer
campanha, defender a candidatura e votar em Tatto prefeito de São Paulo tem um
significado que transcende a eleição de 2020 e o município de São Paulo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNa pesquisa não colocam o partido do candidato, apenas citam seus nomes, só ai a manipulação é grande.
ResponderExcluirPrecisamos reavaliar a qualidade de muitos militantes que se dizem petistas, mas ou lutam por interesses estranhos só partido, ou no caso de recém filiados, não têm a clareza do que significa e da necessidade de firtalecê-lo. E não enxergam que enfraquecer o partido, enfraquecem a luta pelo restabelecimento dos direitos políticos do Lula. Estou muito triste com essa situação.
ResponderExcluirMuito triste com o posicionamento de alguns dirigentes e líderes petistas, pressionados por uma intelectualide "gourmet, que se iludem com imediatismos táticos e estratégicos. Ora, defender o PT é fortalecer as suas diferentes instâncias e seus núcleos decisórios. É pensar em sua linha programática, independente da conjuntura desfavorável que possa existir. Vida longa ao PT!
ResponderExcluirE quem representa a esquerda nesta disputa? Tatto? Não me faça rir.
ResponderExcluirImpressionante sua análise, companheiro! Sempre admiro seus argumentos, mesmo qdo discordo deles.
ResponderExcluirPor que o nosso partido não pode admitir que avaliou mal seu potencial e o potencial desse candidato? Por que não compor com a esquerda, inclusive com Boulos, q foi um defendor de Lula de primeira hora?
Por que não reconhecermos que nosso partido sofreu um grande revés e (com ou sem razão) ainda é lido, no mínimo, como o partido que negociou com a corrupção? Eu sei que são injustas as campanhas contra o PT. Também sofro com elas. Por isso mesmo, temos que ter cuidado com as decisões. A direção do partido quer A tem q ser A? Está claro q o PT sai desprestigiado da eleição em Sampa.
É óbvio que PSOL espera uma união com o PT! O programa é ruim ou viramos um partidão q a direção manda e os filiações obedecem?
Olha Campinas: os dois estão juntos. Fizemos um programa de governo juntos e fazemos campanha juntos. Por que não em São Paulo?
Vai dizer q o Sr Tatto (nunca li, nem vi qq produção no partido, nem fora. Única informação é que parece q se relaciona muito bem com os ônibus- os trabalhadores ou os empresários?) é melhor candidato que Boulos, reconhecido pelo seu trabalho com os sem teto.
A disputa é com o grande capital. Não dá pra brigar em nome de fortalecer o partido. Sempre soubemos que se fortalece partido com fortalecimento dos núcleos, por compreender porque s militância não está assumindo o Tatto.
Sem compreender isso, fica difícil fazer hipótese das chances do Tatto. A leitura dos números sobre a eventual chance de Tatto é forçada. Óbvio q tem manipulacao mas sempre lidamos com isso.
Sei que posso ser linchada por estar expondo aqui as “heresias” que circulam para além dos cargos diretivos do partido.
Mas, não estou preocupada com isso. Há muito tempo queria me manifestar, mas numa instância interna, pq esse é uma questão de roupa suja pra se lavar em casa.
Nesse sentido, vou pra além do aparelho partidário pra analisar o fenômeno cujas consequências são a disputa com o grande capital, Não me digam q o Márcio França e o outro idiota q só cai, é melhor para a esquerda disputar um segundo turno. Ainda mais numa chapa q tem a Erundina, q é uma referência histórica do PT como a primeira prefeita do PT em grandes cidades!
Enfim, estou me expondo aqui e disposta a receber críticas. Tufo bem. Mas pelo menos ouçam quem não está na disputa do aparelho, nem está no outro lado: uma companheira leal mas independente.
Se não somos necessários pra contribuir com os capos do PT... me retiro ( do debate), não do partido pq luto por ele desde seu início no interior do RS.
Um abraço solidário.
Corinta