A escolha de Sofia é um livro de 1979, que virou filme em 1982. Pano rápido.
Em 57 cidades brasileiras, há segundo turno.
Em 15 delas, há uma candidatura petista disputando. É o caso
de Juiz de Fora, Contagem, Mauá, Guarulhos, Diadema, Vitória, Recife, Anápolis,
Santarém, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Cariacica, São Gonçalo, Caxias
do Sul e Pelotas.
Em outras 2 cidades, o PT faz parte desde o primeiro turno de chapas encabeçadas por aliados claramente de esquerda: Manuela (PCdoB) em Porto Alegre e Edmilson (PSOL) em Belém. E, na cidade de São Paulo, o PT apoia no segundo turno a candidatura de Boulos, também do PSOL.
Nas demais 39 cidades, há dois tipos de situações: disputas
entre uma candidatura nominalmente de centro e uma candidatura claramente de
direita; e disputas entre duas candidaturas claramente de direita.
Por nominalmente de centro, nos referimos a candidaturas lançadas
pelo PDT e pelo PSB. É o caso de Socorro Neri, do PSB, que disputa Rio Branco; é o caso de JHC, também do PSB, que disputa Maceió; é o caso de Vitor
Valim, do PROS, que disputa Caucaia, no Ceará; é o caso de Sarto, do PDT, que disputa
Fortaleza; é o caso de Francisco Padilha, do PSB, que disputa a cidade
Paulista, em Pernambuco; é o caso de Edvaldo, do PDT, que disputa Aracaju; é o
caso de Caio Vianna, do PDT, que disputa o segundo turno em Campos, Rio de
Janeiro. E há também o caso de Serra, onde disputam candidaturas da Rede e do PDT.
Algumas destas candidaturas merecem apoio no segundo turno,
outras não. Pois, como sabemos, nestes partidos nominalmente de centro há muitos lobos em pele de
cordeiro, que são ultraliberais no programa e que não vacilam em recorrer a
métodos bolsonaristas. Vide o caso de Sarto e as violências praticadas contra
Luiziane no primeiro turno; vide o que está fazendo João Campos, em Recife,
atacando Lula, Dilma, Marília e o PT, com um linguajar típico do esgoto da extrema
direita; e vide, também, algumas candidaturas do PSB que disputam contra candidaturas
petistas, como acontece em Mauá e Juiz de Fora.
Portanto, ser de um partido de centro não quer dizer,
automaticamente, coisa alguma. É preciso avaliar o conteúdo real, a prática
real do candidato e seu partido na cidade em que está disputando.
Mas sigamos adiante: sobram 31 cidades, onde a disputa é
travada entre candidaturas lançadas por partidos que estão à direita do centro.
Para simplificar: partidos que apoiaram Bolsonaro no segundo turno das eleições
presidenciais. Como se posicionar nestas cidades?
Neste caso, há de tudo. Há quem procure analisar o programa
das candidaturas, à busca de uma boia. Como se realmente valesse de alguma coisa
o que esta gente promete em época de eleição.
Há quem procure analisar o comportamento pessoal das
candidaturas, à busca do mais afável. Tipo como fazem os que discutem quem é mais
chucro e quem é o adulto da sala, o cavernícola ou seu vice.
Há quem tente descobrir quem é o assumidamente bolsonarista,
para votar no outro. Esquecendo que, ontem, todos foram declaradamente bolsonaristas.
E que, amanhã, todos podem estar, novamente e declaradamente, juntos com Bolsonaro.
Boa parte desta busca do mal menor deve-se a imensa dificuldade,
quase uma repulsa, que algumas pessoas tem frente ao voto nulo, ao voto branco,
a abstenção. É curiosa a dificuldade, já que estas alternativas fazem parte do
cardápio político há 200 anos, pelo menos. Se recusar a participar de um
processo, recusar as alternativas postas, considerar que ambas são equivalentes
fazem parte do processo democrático, tanto quanto faz parte do processo democrático
escolher dentre as alternativas postas.
Aliás, o sistema de voto em dois turnos fortalece a legitimidade
destas alternativas (branco, nulo e abstenção). Afina, no primeiro turno todos podemos votar no que defendemos.
No segundo turno, podemos influir com nosso voto; ou podemos deixar que a
decisão seja tomada pelos que estão convencidos de uma ou de outra alternativa.
As duas alternativas são possíveis e são legítimas, do ponto de vista
democrático. O sistema prevê exatamente esta possibilidade e não me venham dizer que a legislação eleitoral brasileira é esquerdista ou anarquista.
Acredito, sem ter provas para isso, que a dificuldade de
alguns em ausentar-se, votar branco ou nulo, deve-se a impressão de que agir
assim seria irresponsável. De minha parte sou absolutamente contra a irresponsabilidade.
E acho que sempre devemos tomar partido. Mas tomar partido não implica,
obrigatoriamente, em indicar voto em fulano ou beltrano. Até porque há várias
maneiras de ser responsável (e de ser irresponsável).
Aqui onde moro e voto (Campinas, SP), por exemplo, penso que
ser responsável é dizer ao povo que, no segundo turno, estão duas candidaturas de
direita que vão continuar desgraçando a vida da classe trabalhadora.
De um lado está Dário Saadi, dos Republicanos, tendo como
vice Wandão, do PSB, partido do atual prefeito Jonas Donizete, que sempre foi
do setor tucano do PSB. Saadi teve 121.932 votos e 25,78% dos votos válidos. Em
segundo lugar está Rafa Zimbaldi, do PL. Zimbaldi teve 103.397 votos e 21,86%
dos votos válidos. Na vice de Zimbaldi está Annabê, que faz questão de
apresentar-se como esposa de Carlão Sampaio, prócer tucano.
O PT e o PSOL, para quem não sabe, teve com nossa candidatura
petista Pedro Tourinho 96.905 votos e 20,49% dos votos válidos. Por muito pouco
não fomos ao segundo turno. Mas voltemos às candidaturas que estão no segundo
turno.
Os governos de Saadi e de Zimbaldi serão iguais? Claro que não. Algum será “melhor” do que o outro? Sinceramente, não sei dizer. Mas tenho absoluta certeza que faremos oposição a qualquer um deles, até porque ambos surgiram do ventre da mesma besta.
Tenho certeza, também, que o futuro de
Campinas depende, em grande medida, da resistência ao futuro governo e da nossa
capacidade de criar as condições para eleger Pedro Tourinho em 2024. Neste sentido, penso que o voto
mais responsável é aquele que garante maior liberdade de ação para nossa
oposição, não aquele que nos fará ouvir algo do tipo: "tá reclamando do quê, você
não votou nele?"
Ou seja: ser responsável numa disputa como a do segundo
turno em Campinas, é não cometer a irresponsabilidade de indicar o voto em duas
alternativas que, por diferentes motivos e formas, implicam na continuidade do
atual governo. Que foi e segue sendo um desastre sem tamanho.
Tanto o PT, quanto o PSOL e o PCdoB já divulgaram resoluções
de suas direções locais, em que não declaram voto em nenhuma das candidaturas,
por motivos similares aos acima apontados. Entretanto, há alguns eleitores da
esquerda propensos a votar num dos dois. Para estes eleitores, além dos argumentos acima, deixo uma pergunta
que enfatizo ser totalmente retórica e integralmente ficcional: se tivessem que
escolher entre o “Mineirinho” que é nominado na lista da Odebrecht e o “Marcola”
que está em Porto Velho, em quem votariam?
Sinceramente, neste hipotético caso, tomaria partido contra as duas alternativas. Risco
por risco, prefiro não ser petisco.
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