terça-feira, 1 de setembro de 2020

Roteiro da aula 3-3

 Parte 3 do roteiro da aula 3 de leitura de O Capital.

 2. O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias

Inicialmente, a mercadoria apareceu-nos como um duplo [Zwieschlächtiges] de valor de uso e valor de troca. Mais tarde, mostrou-se que também o trabalho, na medida em que se expressa no valor, já não possui os mesmos traços que lhe cabem como produtor de valores de uso. Essa natureza dupla do trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez por mim. Como esse ponto é o centro em torno do qual gira o entendimento da economia política, ele deve ser examinado mais de perto.

-OU SEJA, MERCADORIA, VALOR DE USO (utilidade e valor de uso para outrem) E VALOR (VALOR E VALOR DE TROCA), TRABALHO útil-CONCRETO E TRABALHO ABSTRATO

-“Essa natureza dupla do trabalho contido na mercadoria foi criticamente demonstrada pela primeira vez por mim”.

-ESSA NATUREZA DUPLA DO TRABALHO CONTIDO NA MERCADOria é o centro de tudo: no limite, O CAPITAL poder-se-ia chamar a relação entre trabalho morto e trabalho vivo...

Tomemos duas mercadorias, por exemplo, um casaco e 10 braças de linho. Consideremos que a primeira tenha o dobro do valor da segunda, de modo que se 10 braças de linho = V, o casaco = 2V.

O casaco é um valor de uso que satisfaz uma necessidade específica. Para produzi-lo, é necessário um tipo determinado de atividade produtiva, a qual é determinada por seu escopo, modo de operar, objeto, meios e resultado. O trabalho, cuja utilidade se representa, assim, no valor de uso de seu produto, ou no fato de que seu produto é um valor de uso, chamaremos aqui, resumidamente, de trabalho útil. Sob esse ponto de vista, ele será sempre considerado em relação a seu efeito útil.

-TRABALHO UTIL GERA UTILIDADES, VALORES DE USO

Assim como o casaco e o linho são valores de uso qualitativamente distintos, também o são os trabalhos que os produzem – alfaiataria e tecelagem. Se essas coisas não fossem valores de uso qualitativamente distintos e, por isso, produtos de trabalhos úteis qualitativamente distintos, elas não poderiam de modo algum se confrontar como mercadorias. O casaco não é trocado por casaco, um valor de uso não se troca pelo mesmo valor de uso. No conjunto dos diferentes valores de uso ou corpos de mercadorias [Warenkörper] aparece um conjunto igualmente diversificado, dividido segundo o gênero, a espécie, a família e a subespécie, de diferentes trabalhos úteis – uma divisão social do trabalho.

-NOTEM QUE A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO DE QUE ELE FALA AQUI É em certo sentido UMA DIVISÃO “TÉCNICA”, QUE PERMITE QUE O CONJUNTO DA SOCIEDADE PRODUZA DE TUDO QUE ELA PRECISA e também é uma divisão social na medida em que a tarefa de produzir o necessário é distribuída entre diferentes “classes” da sociedade referida

Tal divisão é condição de existência da produção de mercadorias, embora esta última não seja, inversamente, a condição de existência da divisão social do trabalho.

-A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO É UMA NECESSIDADE EM QUALQUER TIPO DE SOCIEDADE

-E É A BASE, A CONDIÇÃO DE EXISTENCIA DA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS

-MAS A PRODUÇÃO DE MERCADORIAS É UMA DAS POSSIBLIDADES decorrentes DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

-PODE EXISTIR divisão social do trabalho SEM que isto implique em PRODUÇÃO DE MERCADORIAS

 Na antiga comunidade indiana, o trabalho era socialmente dividido sem que os produtos se tornassem mercadorias. Ou, para citar um exemplo mais próximo, em cada fábrica o trabalho é sistematicamente dividido, mas essa divisão não implica que os trabalhadores troquem entre si seus produtos individuais. Apenas produtos de trabalhos privados, separados e mutuamente independentes uns dos outros confrontam-se como mercadorias.

-OU SEJA, UMA SOCIEDADE QUE PRODUZ VALORES DE TROCA, PRODUZ VALORES PARA SEREM TROCADOS, NÃO PARA ATENDER AS NECESSIDADES SOCIAIS (que, entretanto, existem, mesmo que não sejam o móvel da produção de mercadorias)

-O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES É DIGAMOS UM PRETEXTO para o capitalismo [wp: embora sem tal necessidade também não haveria tal pretexto]

-donde se explica porque algumas “”””necessidades”””” são criadas e outras NECESSIDADES são desprezadas

Viu-se, portanto, que no valor de uso de toda mercadoria reside uma determinada atividade produtiva adequada a um fim, ou trabalho útil. Valores de uso não podem se confrontar como mercadorias se neles não residem trabalhos úteis qualitativamente diferentes. Numa sociedade cujos produtos assumem genericamente a forma da mercadoria, isto é, numa sociedade de produtores de mercadorias, essa diferença qualitativa dos trabalhos úteis, executados separadamente uns dos outros como negócios privados de produtores independentes, desenvolve-se como um sistema complexo, uma divisão social do trabalho.

-AQUI, O TERMO DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO ACIMA ASSUME UM SIGNIFICADO UM POUCO DIFERENTE DO QUE ASSUMIU ANTES, melhor dizendo o que “vem primeiro” é a divisão social em si, a dimensão técnica da divisão social fica em segundo plano

Para o casaco, é indiferente se ele é usado pelo alfaiate ou pelo freguês do alfaiate, uma vez que, em ambos os casos, ele funciona como valor de uso. Tampouco a relação entre o casaco e o trabalho que o produziu é alterada pelo fato de a alfaiataria se tornar uma profissão específica, um elo independente no interior da divisão social do trabalho. Onde a necessidade de vestir-se o obrigou, o homem costurou por milênios, e desde muito antes que houvesse qualquer alfaiate. Mas a existência do casaco, do linho e de cada elemento da riqueza material não fornecido pela natureza teve sempre de ser mediada por uma atividade produtiva especial, direcionada a um fim, que adapta matérias naturais específicas a necessidades humanas específicas. Como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, assim, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas sociais, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.

-o trabalho é uma condição de existência da humanidade

-melhor dizendo, a humanidade vai se diferenciando do restante da natureza ATRAVÉS do trabalho

-é um tipo de “mediação do metabolismo entre humanidade e natureza” qualitativamente DIFERENTE de outras mediações, feitas por outras espécies vivas

Os valores de uso casaco, linho etc., em suma, os corpos das mercadorias, são nexos de dois elementos: matéria natural e trabalho. Subtraindo-se a soma total de todos os diferentes trabalhos úteis contidos no casaco, linho etc., o que resta é um substrato material que existe na natureza sem a interferência da atividade humana. Ao produzir, o homem pode apenas proceder como a própria natureza, isto é, pode apenas alterar a forma das matérias. Mais ainda: nesse próprio trabalho de formação ele é constantemente amparado pelas forças da natureza. Portanto, o trabalho não é a única fonte dos valores de uso que ele produz, a única fonte da riqueza material. O trabalho é o pai da riqueza material, como diz William Petty, e a terra é a mãe.

Passemos, então, da mercadoria, como objeto de uso, para o valor-mercadoria.

De acordo com nossa suposição, o casaco tem o dobro do valor do linho. Essa é, porém, apenas uma diferença quantitativa, que por ora ainda não nos interessa. Recordemos, por isso, que se o valor de um casaco é o dobro de 10 braças de linho, então 20 braças de linho têm a mesma grandeza de valor de um casaco. Como valores, o casaco e o linho são coisas de igual substância, expressões objetivas do mesmo tipo de trabalho. Mas alfaiataria e tecelagem são trabalhos qualitativamente distintos. Há, no entanto, circunstâncias sociais em que a mesma pessoa costura e tece alternadamente, de modo que esses dois tipos distintos de trabalho são apenas modificações do trabalho do mesmo indivíduo e ainda não constituem funções fixas, específicas de indivíduos diferentes, assim como o casaco que nosso alfaiate faz hoje e as calças que ele faz amanhã pressupõem somente variações do mesmo trabalho individual.

-o exemplo acima é uma das maneiras pelas quais a divisão técnica do trabalho vai se convertendo/se fixando em uma divisão social do trabalho

A evidência nos ensina, além disso, que em nossa sociedade capitalista, a depender da direção cambiante assumida pela procura de trabalho, uma dada porção de trabalho humano será alternadamente oferecida sob a forma da alfaiataria e da tecelagem. Essa variação de forma do trabalho, mesmo que não possa se dar sem atritos, tem necessariamente de ocorrer. Abstraindo-se da determinidade da atividade produtiva e, portanto, do caráter útil do trabalho, resta o fato de que ela é um dispêndio de força humana de trabalho. Alfaiataria e tecelagem, embora atividades produtivas qualitativamente distintas, são ambas dispêndio produtivo de cérebro, músculos, nervos, mãos etc. humanos e, nesse sentido, ambas são trabalho humano. Elas não são mais do que duas formas diferentes de se despender força humana de trabalho. No entanto, a própria força humana de trabalho tem de estar mais ou menos desenvolvida para poder ser despendida desse ou daquele modo.

-a divisão técnica e a divisão social do trabalho são historicamente produzidas, portanto, em níveis muito baixos de produtividade ela não se verifica, por outro lado a divisão técnica e social do trabalho é em si mesma um fator de aumento da produtividade (uma vez iniciada, é um moto contínuo)

Mas o valor da mercadoria representa unicamente trabalho humano, dispêndio de trabalho humano. Ora, assim como na sociedade burguesa um general ou um banqueiro desempenham um grande papel, ao passo que o homem comum desempenha, ao contrário, um papel muito miserável, o mesmo ocorre aqui com o trabalho humano. Ele é dispêndio da força de trabalho simples que, em média, toda pessoa comum, sem qualquer desenvolvimento especial, possui em seu organismo corpóreo. O próprio trabalho simples médio varia, decerto, seu caráter em diferentes países e épocas culturais, porém é sempre dado numa sociedade existente. O trabalho mais complexo vale apenas como trabalho simples potenciado ou, antes, multiplicado, de modo que uma quantidade menor de trabalho complexo é igual a uma quantidade maior de trabalho simples. Que essa redução ocorre constantemente é algo mostrado pela experiência. Mesmo que uma mercadoria seja o produto do trabalho mais complexo, seu valor a equipara ao produto do trabalho mais simples e, desse modo, representa ele próprio uma quantidade determinada de trabalho simples.

-embora o raciocínio seja auto-explicável, ele é de tamanha importância, que vale a pena explorar mais

-vamos repetir o que foi dito antes (ver roteiro 3-2):  Cada uma dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a outra, na medida em que possui o caráter de uma força de trabalho social média e atua como tal força de trabalho social média; portanto, na medida em que, para a produção de uma mercadoria, ela só precisa do tempo de trabalho em média necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário.

-notem que a existência de uma “força de trabalho social média” é uma equalização dos diferentes trabalhos simples e complexos existentes em uma sociedade, dos diferentes níveis de produtividade existentes numa sociedade

-logo, estamos diante do tema que constitui o núcleo da formulação de Marx, da teoria do valor e do mais valor

-qual é o problema? O problema está em COMO isto ocorre

-dissemos antes que é como se todas as forças individuais fizessem uma conversão em uma força de trabalho humana geral

-a questão é: isto é uma fórmula para  explicar algo que não se consegue explicar de outro jeito ou é um fenômeno real, que a abstração detecta??

-consideramos que é um fenômeno real, mas como todo fenômeno real, é historicamente produzido, ou seja, parte-se de forças de trabalho individuais até que se produza uma efetiva força de trabalho humana geral

-a questão é: como isso ocorre?

-no roteiro 3-2 explicamos que ocorre primeiro uma equalização no âmbito da troca E uma equalização no âmbito da produção material

-a equalização no âmbito da troca: NUM MESMO INTERVALO DE TEMPO, forças de trabalho mais produtivas produzem maior número de produtos que conterão cada um menos tempo de trabalho individual, forças de trabalho menos produtivas produzem menor número de produtos que conterão cada um mais tempo de trabalho individual, mas no processo de troca umas e outras serão empurradas no sentido de um ponto médio (que pode ser produzido de diferentes maneiras, inclusive se um nada trocar, pois nesse caso é como se a força de trabalho social total sofresse uma diminuição, o que por sua vez terá o mesmo efeito da equalização)

-qual o efeito desta equalização realizada no âmbito da troca, sobre o processo de produção? uma equalização do tempo de produção real (destruição dos menos produtivos, cópia dos métodos mais produtivos pelos menos produtivos etc.)

-ou seja, o tempo de trabalho socialmente necessário, de que Marx vai falar a seguir, ele se produz historicamente, partido de diferenças iniciais, passando por uma média no mercado, concluindo com um rebote no processo produtivo real, e assim sucessiva e “interminavelmente”

-o mesmo raciocínio vale na relação entre trabalho simples e trabalho complexo

-com uma novidade interessante: a existência de trabalho complexo supõe não mais APENAS diferentes produtores fazendo o mesmo em velocidades diferentes, nem supõe  APENAS diferentes produtores fazendo coisas tecnicamente diferentes, supõe também diferentes produtores fazendo “coisas” SOCIALMENTE diferentes

-e, neste sentido, a equalização pelo mercado e o rebote na produção NÃO são mais as únicas variáveis presentes. Um faxineiro e um médico terão o valor de seus produtos equiparados NO MERCADO, mas o rebote na produção (o acicate) não se produzirá da mesma forma. A divisão social do trabalho buscará manter e ampliar as diferenças, mesmo que a divisão técnica do trabalho opere no sentido oposto (vide as respectivamente habilidades e salários de médicos e enfermeiros). E a medida que se automatiza tudo, vai ficando cada vez mais clara a diferença entre o que é diferença material e o que é diferença social. De toda forma, no plano que estamos analisando, é correto dizer que...

Mesmo que uma mercadoria seja o produto do trabalho mais complexo, seu valor a equipara ao produto do trabalho mais simples

As diferentes proporções em que os diferentes tipos de trabalho são reduzidos ao trabalho simples como sua unidade de medida são determinadas por meio de um processo social que ocorre pelas costas dos produtores e lhes parecem, assim, ter sido legadas pela tradição. Para fins de simplificação, de agora em diante consideraremos todo tipo de força de trabalho diretamente como força de trabalho simples, com o que apenas nos poupamos o esforço de redução.

Assim como nos valores casaco e linho está abstraída a diferença entre seus valores de uso, também nos trabalhos representados nesses valores não se leva em conta a diferença entre suas formas úteis, a alfaiataria e a tecelagem. Assim como os valores de uso casaco e linho constituem nexos de atividades produtivas orientadas a um fim e realizadas com o tecido e o fio, ao passo que os valores casaco e linho são, ao contrário, simples geleias de trabalho, também os trabalhos contidos nesses valores não valem pela relação produtiva que guardam com o tecido e o fio, mas tão somente como dispêndio de força humana de trabalho. Alfaiataria e tecelagem são elementos formadores dos valores de uso, casaco e linho, precisamente devido a suas diferentes qualidades; constituem substâncias do valor do casaco e do valor do linho apenas na medida em que se abstraem suas qualidades específicas e ambas possuem a mesma qualidade: a qualidade do trabalho humano.

Casaco e linho não são apenas valores em geral, mas valores de determinada grandeza, e, de acordo com nossa suposição, o casaco tem o dobro do valor de 10 braças de linho. De onde provém essa diferença de suas grandezas de valor? Do fato de que o linho contém somente a metade do trabalho contido no casaco, pois para a produção do último requer-se um dispêndio de força de trabalho durante o dobro do tempo necessário à produção do primeiro.

Portanto, se em relação ao valor de uso o trabalho contido na mercadoria vale apenas qualitativamente, em relação à grandeza de valor ele vale apenas quantitativamente, depois de ter sido reduzido a trabalho humano sem qualquer outra qualidade. Lá, trata-se do “como” e do “quê” do trabalho; aqui, trata-se de seu “quanto”, de sua duração. Como a grandeza do valor de uma mercadoria expressa apenas a quantidade de trabalho nela contida, as mercadorias devem, em dadas proporções, ser sempre valores de mesma grandeza.

 Mantendo-se inalterada a força produtiva, digamos, de todos os trabalhos úteis requeridos para a produção de um casaco, a grandeza de valor do casaco aumenta com sua própria quantidade. Se um casaco contém x dias de trabalho, dois casacos contêm 2x, e assim por diante. Suponha, porém, que o trabalho necessário à produção de um casaco dobre ou caia pela metade. No primeiro caso, um casaco tem o mesmo valor que antes tinham dois casacos; no segundo caso, dois casacos têm o mesmo valor que antes tinha apenas um casaco, embora nos dois casos um casaco continue a prestar os mesmos serviços e o trabalho útil nele contido conserve a mesma qualidade. Alterou-se, porém, a quantidade de trabalho despendida em sua produção.

O TRECHO A SEGUIR MERECE SER ANALISADO COM CALMA

Uma quantidade maior de trabalho constitui, por si mesma, uma maior riqueza material, dois casacos em vez de um. Com dois casacos podem-se vestir duas pessoas; com um casaco, somente uma etc. No entanto, ao aumento da massa da riqueza material pode corresponder uma queda simultânea de sua grandeza de valor. Esse movimento antitético resulta do duplo caráter do trabalho.

-este raciocínio é chave, por nele estar contido, mais uma vez, a “contradição fatal” do capitalismo: a quantidade de valor de uso pode aumentar ao mesmo tempo em que pode cair a quantidade de valor

-o que empurra o capitalismo a produzir mais valores de uso do que os necessários, o que o empurra por sua vez a ampliar as necessidades humanas, numa voragem pantagruélica

-na base disto está, como acentua Marx, o duplo caráter do trabalho

Naturalmente, a força produtiva é sempre a força produtiva de trabalho útil, concreto, e determina, na verdade, apenas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim, num dado período de tempo. O trabalho útil se torna, desse modo, uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos em proporção direta com o aumento ou a queda de sua força produtiva

VEJAMOS AGORA A FRASE SEGUINTE

Ao contrário, por si mesma, uma mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor.

-qual é a premissa?

-A premissa é que 1 hora de trabalho socialmente necessário, continua sendo 1 hora de trabalho socialmente necessário, não importa quanto se produza de útil nesta 1 hora. Como se diz adiante:

Como a força produtiva diz respeito à forma concreta e útil do trabalho, é evidente que ela não pode mais afetar o trabalho, tão logo se abstraia dessa sua forma concreta e útil. Assim, o mesmo trabalho produz, nos mesmos períodos de tempo, sempre a mesma grandeza de valor, independentemente da variação da força produtiva.

-note-se, entretanto, que há um problema na frase: a rigor não se TRATA MAIS DO “MESMO TRABALHO”. É VERDADE QUE A VARIAÇÃO DA FORÇA PRODUTIVA DIZ RESPEITO AO TRABALHO UTIL. MAS a variação da força produtiva afeta o TEMPO DE TRABALHO socialmente NECESSÁRIO, e isso não se faz de forma uniforme, homogênea, simultânea, PORTANTO a rigor NÃO FAZ SENTIDO DIZER QUE É O “MESMO TRABALHO”.

-de toda maneira, a essência do raciocínio não se altera e é repisada abaixo:

Mas ele fornece, no mesmo espaço de tempo, diferentes quantidades de valores de uso: uma quantidade maior quando a produtividade aumenta e menor quando ela diminui. A mesma variação da força produtiva, que aumenta a fertilidade do trabalho e, com isso, a massa dos valores de uso por ele produzida, diminui a grandeza de valor dessa massa total aumentada ao reduzir a quantidade de tempo de trabalho necessário à sua produção. E vice-versa.

NÃO COMENTAREMOS AQUI (NOTAS DE RODAPÉ SERÃO TRATADAS NOUTRO MOMENTO), MAS É IMPORTANTE LER detalhamente a nota explicativa na página 124 da edição da Boitempo

Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força humana de trabalho em sentido fisiológico, e graças a essa sua propriedade de trabalho humano igual ou abstrato ele gera o valor das mercadorias. Por outro lado, todo trabalho é dispêndio de força humana de trabalho numa forma específica, determinada à realização de um fim, e, nessa qualidade de trabalho concreto e útil, ele produz valores de uso.

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