Segue a segunda parte do roteiro da aula 3 do curso de leitura de O capital.
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Feita esta leitura
de trechos da resenha escrita por Engels, partamos agora para o Capítulo
1 A mercadoria.
CONFORME INFORMADO, LEREI TRECHOS E FAREI
ALGUNS COMENTÁRIOS. Como este capítulo é grande tem cerca de 45 páginas, acontecerá
de parte dele ficar para a próxima aula, a quarta.
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1. Os dois fatores da
mercadoria: valor de uso e valor (substância do valor, grandeza do valor)
A riqueza das sociedades onde
reina o modo de produção capitalista aparece
como uma “enorme coleção de mercadorias”, e a mercadoria individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, por isso, com a análise da mercadoria.
-porque começar pela
mercadoria?
-aparência,
superfície
-forma elementar da
riqueza capitalista
-célula
A mercadoria é, antes de tudo,
um objeto externo, uma coisa que, por meio de suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de um tipo qualquer. A
natureza dessas necessidades – se, por exemplo, elas provêm do estômago ou da imaginação – não altera em nada a questão.
-mercadoria.... satisfação
de necessidades que provêm do estômago ou da imaginação
-da imaginação: logo
no início, Marx revela como falam besteira os teóricos da “imaterialidade”
(falam besteira duplamente, pela maneira como abordam a questão e pela acusação
lançada contra Marx)
Tampouco se trata aqui de como
a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de subsistência [Lebensmittel], isto é, como objeto
de fruição, (material ou intelectual) ou
indiretamente, como meio de produção.
-objeto de fruição ou
meio de produção
-aqui é algo que vai
ganhar imensa importância mais adiante, inclusive no que diz respeito a “realização”,
uma vez que em tese os limites da fruição são mais modestos
Toda coisa útil, como ferro,
papel etc., deve ser considerada sob um duplo ponto de
vista: o da qualidade e o da quantidade.
-portanto, até agora mercadoria/valor de
uso/qualidade e quantidade
-notem que, conforme explicou
Engels na sua resenha da Contribuição, o método lógico conduz a esta sequência:
relação, seus lados... aparência e essência, quantidade e qualidade, valor de
uso e valor etc. Sendo que cada “lado” é, em si mesmo, uma relação e assim
sucessivamente.
Cada uma dessas coisas é um
conjunto de muitas propriedades e pode, por isso, ser útil sob diversos
aspectos. Descobrir esses diversos aspectos e, portanto, as múltiplas formas de
uso das coisas é um ato histórico. Assim como também é um ato histórico
encontrar as medidas sociais para a quantidade das coisas úteis. A diversidade
das medidas das mercadorias resulta, em parte, da natureza diversa dos objetos
a serem medidos e, em parte, da convenção.
A utilidade de uma
coisa faz dela um valor de uso.
-se formula aqui,
portanto, uma categoria: valor de uso
Mas não se pretende
estudar estas qualidades e quantidades. O Capital x merceologia...
Mas essa utilidade não flutua
no ar. Condição dada pelas propriedades do corpo da mercadoria [Warenkörper],
ela não existe sem esse corpo. Por isso, o próprio corpo da mercadoria, como
ferro, trigo, diamante etc. [quadro de pintura, livro,
filme etc], é um valor de uso ou um bem. Esse seu caráter não depende do
fato de a apropriação de suas qualidades úteis custar muito ou pouco trabalho
aos homens.
-apropriar-se (fruição ou meio de produção)
das qualidades úteis do corpo físico de
uma mercadoria pode dar mais ou menos trabalho, mas não é isso que
determina a utilidade
-notar que este raciocínio será essencial
na discussão sobre a força de trabalho. O valor de uso da mercadoria força de
trabalho é dada pelas propriedades do “corpo da mercadoria”, está contida potencialmente
naquele “corpo”, e o consumo das suas utilidades pode “dar mais ou menos
trabalho” = pode levar/exigir mais tempo ou menos tempo
Na consideração do valor de uso
será sempre pressuposta sua determinidade [Bestimmtheit] quantitativa, como uma
dúzia de relógios, 1 braça de linho, 1 tonelada de ferro, 1 livro de contos) etc. Os valores de uso das
mercadorias fornecem o material para uma disciplina específica, a merceologia.
O valor de uso se
efetiva apenas no uso ou no consumo. Os valores
de uso formam o conteúdo material da riqueza, qualquer
que seja a forma social desta. Na forma de sociedade que iremos analisar,
eles constituem, ao mesmo tempo, os suportes materiais
[stofflische Träger] do valor de troca.
-importante: o valor de uso se efetiva
no uso ou no consumo
-valores de uso = conteúdo material
da riqueza em qualquer sociedade
-mas no capitalismo são suportes
materiais do valor de troca (3 categorias portanto= mercadoria, valor de
uso, valor de troca)
O valor de troca
aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores
de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo,
uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço.
-o valor de troca APARECE na troca
-aparece como a proporção em que se troca X
de algo por Y de outra coisa
-e como as trocas são muitas, simultâneas
ou sequenciais, parece que o valor de troca é primeiro uma relação quantitativa
e, em segundo lugar...
Por isso, o valor de troca parece algo acidental e puramente relativo,
um valor de troca intrínseco, imanente à mercadoria (valeur
intrinsèque); portanto, uma contradictio in adjecto [contradição nos próprios
termos]. Vejamos a coisa mais de perto.
-valor de troca... acidental
-quantidade de um valor de uso
por quantidade de outro valor uso
-parece que se trata de uma troca
entre quantidades (de valores de uso)
Certa mercadoria, 1 quarter a
de trigo, por exemplo, é trocada por x de graxa de 97 sapatos ou por y de seda
ou z de ouro etc., em suma, por outras mercadorias nas mais diversas
proporções. O trigo tem, assim, múltiplos valores de troca em vez de um único.
-REPETINDO: o valor de troca aparece na
troca, aparece como a proporção em que trocam os valores de uso, uma proporção
que varia constantemente
Mas sendo x de graxa de
sapatos, assim como y de seda e z de ouro etc. o valor de troca de 1 quarter de
trigo, então x de graxa de sapatos, y de seda e z de ouro etc. têm de ser
valores de troca permutáveis entre si ou valores de troca de mesma grandeza.
-portanto, trata-se de uma equação, onde os
diferentes valores de troca remetem todos eles para uma grandeza comum
-aqui é a base da diferença entre valor de
troca e valor (como será, mais adiante, a base da diferença entre valor de
troca e preço...]
Disso se segue, em primeiro
lugar, que os valores de troca vigentes da mesma
mercadoria expressam algo igual. Em segundo lugar, porém, que o valor de troca
não pode ser mais do que o modo de expressão, a “forma de manifestação”
[Erscheinungsform] de um conteúdo que dele pode ser distinguido.
-existe algo de igual naquilo que
é trocado (e que permite que a troca exista, não como algo fortuito, mas como
parte do metabolismo social)
-e este algo de igual não é o
valor de uso
-valor de troca expressa, é
manifestação de algo distinto do valor de uso
-...um “cavalo” e um espírito que
usa um corpo como “cavalo”...
-ou seja, o valor de troca é o modo de
expressão do valor (entendendo por valor o nome que é dado para uma substância
de que se falará logo mais]
Tomemos, ainda, duas
mercadorias, por exemplo, trigo e ferro. Qualquer que seja sua relação de
troca, ela é sempre representável por uma equação em que uma dada quantidade de
trigo é igualada a uma quantidade qualquer de ferro, por exemplo, 1 quarter de
trigo = a quintaisb de ferro. O que mostra essa equação? Que algo comum de
mesma grandeza existe em duas coisas diferentes, em 1 quarter de trigo e em quintais
de ferro. Ambas são, portanto, iguais a uma terceira, que, em si mesma, não é
nem uma nem outra. Cada uma delas, na medida em que é valor de troca, tem,
portanto, de ser redutível a essa terceira.
-“ambas são iguais a uma terceira, que em
si mesma não é uma nem outra”
Um simples exemplo geométrico
ilustra isso. Para determinar e comparar as áreas de todas as figuras retilíneas,
é preciso decompô-las em triângulos. O próprio triângulo é reduzido a uma expressão
totalmente distinta de sua figura visível – a metade do produto de sua base
pela sua altura. Do mesmo modo, os valores de troca das mercadorias têm de ser
reduzidos a algo em comum, com relação ao qual eles representam um mais ou um
menos.
-Marx e a matemática, tema
interessantíssimo, diretamente relacionado ao que estamos tratando, mas que escapa
do nosso foco
Esse algo em comum não pode ser
uma propriedade geométrica, física, química ou qualquer outra propriedade
natural das mercadorias. Suas propriedades físicas importam apenas na medida em
que conferem utilidade às mercadorias, isto é, fazem delas valores de uso.
-raciocínio dedutivo: o que entra na
composição do valor de uso, do cavalo, não pode ser a explicação do valor de
troca. Inclusive porque, como se verá em seguida...
Por outro lado, parece claro
que a abstração dos seus valores de uso é justamente o que caracteriza a
relação de troca das mercadorias. Nessa relação, um valor de uso vale tanto quanto
o outro desde que esteja disponível em proporção adequada. Ou como diz o velho
Barbon:
“Um tipo de mercadoria é tão
bom quanto outro se seu valor de troca for da mesma grandeza. Pois não existe nenhuma
diferença ou possibilidade de diferenciação entre coisas cujos valores de troca
são da mesma grandeza.”
Como valores de uso,
as mercadorias são, antes de tudo, de diferente qualidade; como valores de
troca, elas podem ser apenas de quantidade diferente, sem conter, portanto,
nenhum átomo de valor de uso.
-pouco antes Marx disse o
seguinte: “Toda coisa útil, como ferro, papel etc.,
deve ser considerada sob um duplo ponto de vista: o da
qualidade e o da quantidade.”
-agora ele diz: como valores de uso (como
coisa útil) as mercadorias são ANTES DE TUDO de diferente qualidade
-portanto, valores de uso, quantidade
MAS ANTES DE TUDO qualidade
-já os valores de troca, APENAS quantidade
diferentes
-mas quantidade do que?
-não é, por óbvio, quantidade...
de valores de uso, nem de utilidades (=qualidades), pois isso nos remeteria a
um lop ou, no segundo caso, a uma incongruência
-lembremos da frase anterior: “Toda
coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser considerada sob um duplo ponto de
vista: o da qualidade e o da quantidade”
-mas no caso que está sendo
discutido, não é quantidade de valores de uso, mas sim a quantidade de algo que
SOBRA depois que se elimina a utilidade, as características corpóreas...
Prescindindo do valor
de uso dos corpos das mercadorias, resta nelas uma única propriedade: a de
serem produtos do trabalho.
-se você jogar todas as mercadorias do
mundo num liquidificador mental (ou em uma prensa de ferro velho, ou numa
caldeira de alto-forno) a geleia que sobrará fará “abstração” das utilidades,
restando uma gosma de trabalho humano
Mas mesmo o produto do trabalho
já se transformou em nossas mãos. Se abstraímos seu valor de uso, abstraímos
também os componentes [Bestandteilen] e formas corpóreas que fazem dele um
valor de uso. O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer outra
coisa útil. Todas as suas qualidades sensíveis foram apagadas. E também já não
é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outro
trabalho produtivo determinado. Com o caráter útil dos produtos do trabalho
desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados e, portanto, também
as diferentes formas concretas desses trabalhos, que não mais se distinguem uns
dos outros, sendo todos reduzidos a trabalho humano
igual, a trabalho humano abstrato.
-a geleia, a gosma... trabalho humano
abstrato
-portanto, já fomos apresentados
até aqui as categorias mercadoria/valor de uso/valor de troca/trabalho/trabalho
útil-concreto/trabalho abstrato
Consideremos agora o resíduo
dos produtos do trabalho. Deles não restou mais do que uma mesma objetividade
fantasmagórica, uma simples geleia [Gallerte] de trabalho humano
indiferenciado, i.e., de dispêndio de força de trabalho humana, sem
consideração pela forma de seu dispêndio. Essas coisas
representam apenas o fato de que em sua produção foi despendida força de
trabalho humana, foi acumulado trabalho humano. Como cristais dessa substância
social que lhes é comum, elas são valores – valores de mercadorias.
-cristais, geléia, imagens para
dar ideia de produtos de uma metamorfose
-substância social comum = trabalho... valores de mercadoria, valores de troca
Na própria relação de troca das
mercadorias, seu valor de troca apareceu-nos como algo completamente independente
de seus valores de uso. No entanto, abstraindo-se agora o valor de uso dos
produtos do trabalho, obteremos seu valor como ele foi definido anteriormente. O elemento comum, que se apresenta na relação de troca ou
valor de troca das mercadorias, é, portanto, seu valor. A continuação da
investigação nos levará de volta ao valor de troca como
o modo necessário de expressão ou forma de manifestação do valor, mas
este tem de ser, por ora, considerado independentemente dessa forma.
-ele aqui fala da diferença, mas
adiante ele explicará a diferença entre valor e valor de troca
-valor de troca como forma de expressão
do valor
-portanto, a rigor a categoria mercadoria/valor
de uso e valor (curiosidade lógica, o valor de uso, ao ser consumido, gera uma
categoria simétrica a de valor de troca, mas que escapa da análise aqui)
Assim, um valor de uso ou bem
só possui valor porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano
abstrato. Mas como medir a grandeza de seu valor?
Por meio da quantidade de “substância formadora de
valor”, isto é, da quantidade de trabalho nele contida. A própria quantidade de
trabalho é medida por seu tempo de duração, e o tempo de trabalho
possui, por sua vez, seu padrão de medida em frações determinadas de tempo,
como hora, dia etc.
-voltando a afirmação feita
antes: valores de uso, quantidade MAS ANTES DE TUDO qualidade. Já os valores de
troca, APENAS quantidade diferentes
-qual a grandeza (qual a
quantidade da quantidade) do valor?
-quantidade da substância formadora
de valor
-aqui tem nova dedução lógica: a quantidade
de trabalho é medida por seu tempo de duração
-tempo de duração do trabalho
Poderia parecer que, se o valor
de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho despendido durante
sua produção, quanto mais preguiçoso ou inábil for um homem, tanto maior o
valor de sua mercadoria, pois ele necessitará de mais tempo para produzi-la.
-para escapar da dificuldade, outra dedução
lógica
No entanto, o trabalho
que constitui a substância dos valores é trabalho humano igual, dispêndio da
mesma força de trabalho humana. A força de
trabalho conjunta da sociedade, que se apresenta nos valores do mundo das
mercadorias, vale aqui como uma única força de trabalho humana, embora consista
em inumeráveis forças de trabalho individuais.
-notem que a premissa implítica é
que as mercadorias & a troca de mercadorias são fenômenos SOCIAIS,
permitindo falar pois...
... não em trabalho individual,
mas em trabalho social
... em uma média historicamente construída
-notar que a própria categoria é
PRODUZIDA HISTORICAMENTE, ou seja, a percepção da realidade supõe que a
realidade exista (ou que possa ser deduzida dela, caso a contradição ainda não
tenha sido resolvida, lembrar do que é dito na resenha de Engels), mas neste
caso o fato de existir não quer dizer que esta realidade existiu sempre, até porque,
para que exista uma média, é preciso que esta média se constitua DE FATO
-o que nos leva a outro
raciocínio: o fato de que certas previsões possam ser feitas, não quer dizer
que elas necessariamente vão se tornar realidade, elas não se tornam realidade
por serem feitas como desdobramento lógico, como solução lógica para
contradições postas, elas se tornam realidade quando se constituem materialmente,
históricamente (o caso da socialização da produção, ela existe realmente, mas
que a contradição entre a socialização da produção e a apropriação privada vá
se resolver através da apropriação coletiva, isto é uma dedução lógica que
ainda não se materializou senão parcialmente, por exemplo sob a forma de propriedade
estatal)
Cada uma
dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a
outra, na medida em que possui o caráter de uma força de trabalho social média
e atua como tal força de trabalho social média; portanto, na medida em que,
para a produção de uma mercadoria, ela só precisa do tempo de trabalho em média
necessário ou tempo de trabalho socialmente necessário.
-aqui, ou por conta da tradução,
ou por conta da dificuldade de expressar ideias novas com o aparato linguístico
disponível, há uma certa imprecisão: “Cada uma
dessas forças de trabalho individuais é a mesma força de trabalho humana que a
outra”, a rigor cada uma dessas forças individuais é e não é,
pois “na vida real” é como se todas as forças individuais fizessem uma conversão
em uma força de trabalho humana geral, que por sua vez regressa para cada força
de trabalho individual, mas isso é uma abstração mental de um duplo processo,
primeiro a equalização realizada no âmbito da troca, segundo a equalização
realizada no âmbito da produção material, inclusive por acicate da equalização realizada
no âmbito da troca
-ou seja, o tempo de trabalho socialmente
necessário, de que Marx vai falar a seguir, ele se produz historicamente, como efeito
de um triplo processo, as diferenças iniciais, a média no mercado, o rebote no
processo produtivo real
Tempo de trabalho socialmente necessário é
aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições
normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade
do trabalho.
-tempo de trabalho socialmente
necessário
-é este tempo que conta para a
determinação do valor
-o que segue é auto-explicável
Após a introdução do tear a
vapor na Inglaterra, por exemplo, passou a ser possível transformar uma dada
quantidade de fio em tecido empregando cerca da metade do trabalho de antes. Na
verdade, o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de
trabalho para essa produção, mas agora o produto de sua hora de trabalho
individual representava apenas metade da hora de trabalho social e, por isso, seu
valor caiu para a metade do anterior.
Portanto, é apenas a quantidade
de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção de um valor de uso que determina a grandeza de seu
valor. A mercadoria individual vale aqui somente como exemplar médio de sua
espécie. Por essa razão, mercadorias em que estão contidas quantidades iguais
de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho têm a mesma
grandeza de valor. O valor de uma mercadoria está para
o valor de qualquer outra mercadoria assim como o tempo de trabalho necessário
para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção
de outra. “Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas determinadas
de tempo de trabalho cristalizado.”
Assim, a grandeza de valor de uma mercadoria permanece constante se
permanece igualmente constante o tempo de trabalho requerido para sua produção.
Mas este muda com cada mudança na força produtiva do trabalho. Essa força produtiva
do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias, dentre outras pelo grau
médio de destreza dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e de
sua aplicabilidade tecnológica, a organização social do processo de produção, o
volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.
-interessante notar as muitas variáveis envolvidas
e citadas acima
Por exemplo, a mesma quantidade de trabalho
produz, numa estação favorável, 8 alqueires de trigo, mas apenas 4 alqueires
numa estação menos favorável. A mesma quantidade de trabalho extrai mais metais
em minas ricas do que em pobres etc. Os diamantes muito raramente se encontram
na superfície da terra, e, por isso, encontrá-los exige muito tempo de
trabalho. Em consequência, eles representam muito trabalho em pouco volume. Jacob
duvida que o ouro tenha alguma vez pago seu pleno valor. Isso vale ainda mais
para o diamante. Segundo Eschwege, oitenta anos de exploração das minas de
diamante brasileiras não havia atingido, em 1823, o preço do produto médio de
um ano e meio das plantações brasileiras de açúcar ou café, embora ela
representasse muito mais trabalho, portanto, mais valor.
-aqui é outro exemplo de uma inconsistência
lógica: oitenta anos de exploração das minas de diamante brasileiras não havia
atingido, em 1823, o preço do produto médio de um ano e meio das plantações
brasileiras de açúcar ou café, embora ela representasse muito mais trabalho,
portanto, mais valor. 960 meses de trabalho PREÇO MENOR E VALOR MAIOR que 18
meses de trabalho. A RIGOR, NÃO HÁ PROBLEMA NISSO...
Com minas mais ricas, a mesma
quantidade de trabalho seria representada em mais diamantes, e seu valor
cairia. Se com pouco trabalho fosse possível transformar carvão em diamante,
seu valor poderia cair abaixo do de tijolos. Como regra
geral, quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo de trabalho
requerido para a produção de um artigo, menor a massa de trabalho nele
cristalizada e menor seu valor. Inversamente, quanto menor a força produtiva do
trabalho, maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e
maior seu valor. Assim, a grandeza de valor de uma mercadoria varia na razão
direta da quantidade de trabalho que nela é realizado e na razão inversa da
força produtiva desse trabalho.
-notem que nessa pequena frase
está contida toda a interpretação acerca da crise do capitalismo: “a grandeza
de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade de trabalho que
nela é realizado e na razão inversa da força produtiva desse trabalho”
-o capitalismo aumenta a força produtiva
(e a quantidade de mercadorias produzidas no mesmo tempo), ao tempo que reduz o
valor destas mercadorias (portanto, para aumentar o valor é preciso produzir muito
mais mercadorias que antes, de jeito que a massa compense, mas isso cria
problemas de realização etc.)
-AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR SÃO AS,
DIGAMOS, “EXCEÇÕES A REGRA”, QUE COMO SE VERÁ MAIS ADIANTE, NÃO SÃO TÃO SIMPLES
QUANTO PARECEM
Uma coisa pode ser valor de uso
sem ser valor. É esse o caso quando sua utilidade para o homem não é mediada
pelo trabalho. Assim é o ar, a terra virgem, os campos naturais, a madeira
bruta etc. Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano sem ser
mercadoria. Quem, por meio de seu produto, satisfaz sua própria necessidade,
cria certamente valor de uso, mas não mercadoria. Para
produzir mercadoria, ele tem de produzir não apenas valor de uso, mas valor de
uso para outrem, valor de uso social. {E não somente para outrem. O camponês
medieval produzia a talha para o senhor feudal, o dízimo para o padre, mas nem
por isso a talha ou o dízimo se tornavam mercadorias. Para se tornar
mercadoria, é preciso que o produto, por meio da troca, seja transferido a
outrem, a quem vai servir como valor de uso.} Por último, nenhuma coisa
pode ser valor sem ser objeto de uso. Se ela é inútil, também o é o trabalho
nela contido, não conta como trabalho e não cria, por isso, nenhum valor.
-primeiro: o fato de que tudo seja
convertido em mercadoria, faz com que se estenda o manto do valor até sobre
aquilo que não foi produto do trabalho humano, ou seja, o capitalismo converte em
valor tudo, mesmo aquilo que não é produto do trabalho
-segundo, como já foi dito antes, o duplo
valor/valor de troca tem seu correspondente lógica na noção utilidade/valor de
uso, em que este valor de uso é valor de uso para outrem
-e não apenas para outrem, mas para outrem mediado
por uma relação de troca
-por fim, resta saber se tem algo inútil
neste mundo de mercantilização ampla, geral de ireestrita
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