O cidadão mandou, eu obedeci: no sábado 30 de outubro, André Janones lacrou e mandou printar o seguinte: “(...) a surra amanhã vai ser MUITO (sic) maior do que as pesquisas mostram! Os institutos não conseguem pegar o movimento de rede das últimas hora (sic) e, esse ano, esse movimento será a nosso favor!”
Pura bazófia. A votação final de Bolsonaro foi
maior do que a prevista pela maioria das pesquisas. Motivos possíveis: i/amostra
incorreta; ii/abstenção de gente que ao ser pesquisado declarara intenção de
votar em alguém; iii/recusa dos bolsonaristas em responder as pesquisas; iv/onda
bolsonarista na reta final; v/tudo isto junto e misturado.
Uma das conclusões a tirar da barrigada de
Janones é que não basta ter pesquisa, é preciso interpretar corretamente. E a interpretação
inclui uma premissa: pesquisa não é eleição. Portanto, quem decide o resultado
da eleição é a luta política, que não termina enquanto a urna não fecha. Também
por isso, não adianta confundir desejo com realidade. O desejo era vencer no
primeiro turno. E certamente era possível transformar este desejo em realidade.
Mas bastava fazer uma análise política objetiva para perceber que, embora
possível, vencer no primeiro turno não era a hipótese mais provável.
Bom, não deu outra. A eleição foi para o segundo
turno e muita gente entrou em estado de choque, não porque tenha ocorrido uma
surpresa, um acidente inexplicável e imprevisível, mas sim porque estavam dando
como absolutamente garantido o que era apenas uma possibilidade.
Já vimos esta novela antes, principalmente em
2006 e em 2014. O mais chato é que os gênios da raça, inclusive aqueles que davam
como liquidada a disputa no dia 2 de outubro, não dão um segundo de folga e já
estão “interpretando” o resultado, com alguns chegando a dizer que “a chance de
perder a eleição é igual a zero”.
Não tenho como não recordar a fantástica frase,
dita em 2018 por um coordenador da campanha de Haddad: “de uma coisa tenho
certeza, Bolsonaro nunca será eleito presidente”.
Subestimar o inimigo é meio caminho andado para
ser derrotado. A votação de Bolsonaro, a eleição de governadores e senadores
apoiados por ele, a votação da direita na eleição da Câmara e nas Assembleias
Legislativas, tudo indica que o segundo turno será muito difícil e que o
resultado está em aberto. Ou seja: embora o mais provável seja nossa vitória, não
se pode descartar como impossível uma vitória do cavernícola.
#
A seguir alguns números que podem ser úteis para
quem estiver pensando em como vencer.
Lula teve 48,43% dos votos válidos. Em números
absolutos 57.258.115 votos no 13.
O cavernícola teve 43,20% dos votos válidos. Em
números absolutos 51.071.277 votos no 22.
Simone Tebet teve 4,16% dos votos válidos. Em
números absolutos 4.915.306 votos no MDB 15.
O Coronel Gomes teve 3,04% dos votos válidos. Em
números absolutos 3.599.201 votos no PDT 12.
As demais candidaturas ficaram assim: Soraya Tronicke
(0,51% e 600.953 votos no União Brasil 44); Felipe D’Avila (0,47% e 559.680
votos no Velho 30); o padre de festa junina (0,07% e 81.127 votos no PTB 14); Leo
Péricles (0,05% e 53.518 votos na UP 80); Sofia Manzando (0,04% e 45.615 votos
no PCB 21); Vera Lúcia (0,02% e 25.623 votos no PSTU 16); e Eymael (0,01% e 16.603
votos na Democracia Cristão 27).
No plano nacional as candidaturas da autoproclamada
esquerda da esquerda só causaram dano a elas mesmas. Mas no Rio Grande do Sul
não foi assim: lá faltaram 2.441 votos para o Edegar Preto ir ao segundo turno.
Pois bem: no mesmo RS o PSTU teve 6.252 votos para a candidata a governadora
Rejane de Oliveira. E o candidato do PCB a governador, Carlos Messala, teve 4.003
votos. Ou seja: neste caso, foram a esquerda de que a direita gosta. Embora o
troféu esteja sendo disputado por outras pessoas, inclusive pelas pessoas da
direção nacional do PT que agiram contra a candidatura de Edegar.
Mas voltemos à disputa presidencial nacional. Lula
48,43% com 57.258.115 votos; o cavernícola 43,20% com 51.071.277 votos. Diferença
de 6.186.838.
(Uma curiosidade: Lula teve 48,61% dos votos no
primeiro turno de 2006, quando disputou contra Alckmin. Nessa campanha eu
lembro como hoje: todo mundo no comitê, a maioria esperando dar vitória no primeiro
turno, veio o resultado e a maioria de otimista vazou, a tal ponto que sobrou
eu para falar com alguns desatinados da imprensa. Alckmin teria feito bem, ontem,
se contasse o que ocorreu no segundo turno de 2006, quando Lula mudou a linha
de campanha e conseguiu a proeza de deixar Alckmin com menos votos do que no
primeiro turno!)
(Parenteses, para quem ficou alardeando o papel
dos neoaliados, o desempenho do PT no primeiro turno foi o seguinte: 1989,
17,18%; 1994, 27,07%; 1998, 31,71%; 2002, 46,44%; 2006, 48,61%; 2010, 46,91%;
2014, 41,59%; 2018, 29,28%. Como se vê, quando disputávamos contra os tucanos,
nossa votação oscilou entre 27 e 48%. A vinda de parte deles, agora, não trouxe
o que alguns imaginavam. Aliás, o resultado do primeiro turno em São Paulo é a
prova didática disto).
Seja como for, em tese, parece fácil vencer o
segundo turno, dado que temos 6.186.838 votos de vantagem. Mesmo que os votos
da Soraya e do Kelmon sigam todos para o cavernícola. E mesmo que os votos da
Tebet e do Ciro se dividam meio a meio. Ainda assim seria possível vencer.
Aliás, nas eleições entre 2002 e 2018, quem
passou em primeiro lugar ao segundo turno sempre venceu. Vejamos os dados:
2002, primeiro turno:
Lula 46,44%
Serra 23,19%
2002, segundo turno:
Lula 61,27%
Serra 38,72%
2006, primeiro turno:
Lula 48,61%
Alckmin 41,64%
2006, segundo turno:
Lula 60,83%
Alckmin 39,17%
2010, primeiro turno:
Dilma 46,91%
Serra 32,61%
2010, segundo turno:
Dilma 56,05%
Serra 43,95%
2014, primeiro turno:
Dilma 41,59%
Aécio 33,59%
2014, segundo turno:
Dilma 51,64%
Aécio 48,36%
2018, primeiro turno:
Haddad 29,28%
Bozo 46,03%
2018, segundo turno:
Haddad 44,87%
Bozo 55,13%
Repetindo, em todas estes eleições, o primeiro
colocado no primeiro turno ganhou o segundo turno. Mas acontece que, sob muitos
aspectos, estas eleições não são como as anteriores.
Ademais, existe uma “coisa” chamada luta política
e ideológica, que pode incidir sobre os atuais eleitores e também sobre quem se
absteve. No segundo turno de 2006 a luta política e ideológica de Lula contra Alckmin
levou este último a perder eleitores. Além disso, há 32.766.498 de eleitores
que se abstiveram, além dos que votaram em outras candidaturas.
A gangue do cavernícola vai disputar política e ideologicamente
este pessoal, além de fazer “operações especiais” as mais diversas. Por tudo
isso, não podemos cometer o erro de achar que a eleição está ganha.
Vale lembrar que Lula falou que o segundo turno é
só uma “prorrogação”. Mas em prorrogação as vezes a gente perde. Por isso, repito,
não vamos subestimar. O inimigo pode ser “feio, sujo e malvado”, como no filme
do Ettore Scola: Brutti, sporchi e cattivi. E por isso mesmo ele pode
nos vencer. E se não levarmos isso a sério, estaremos facilitando o trabalho
dele.
Entre os argumentos políticos que o lado de lá
vai usar, está o resultado obtido nas eleições para governos estaduais, senado
federal e Câmara dos deputados. Vejamos rapidamente:
Governadores
eleitos por partido
PT: CE, PI, RN
MDB: DF, PA
UNIÃO: GO, MT
PP: AC, RR
PL: RJ
NOVO: MG
PSD: PR
PSB: MA
SD: AP
REPU: TO
Partidos que
disputam o segundo turno nos estados:
PT: BA, SC, SE,
SP
PL: ES, RS, RO, SC
PSDB: MS, PB, PE, RS
UNIÃO: AL, AM, BA, RO
MDB: AL, AM
PSB: ES, PB
PSD: SE
REPU: SP
SD: PE
PRTB – MS
Senadores por
partido
PL 13
União Brasil 12
MDB 10
PSD 10
PT 9
PP 7
PODEMOS 6
PSDB 4
Republicanos 3
PDT 2
Rede 1
Cidadania 1
Deputados e
deputados por partido
PL 99
PT, PCdoB e PV: 79 (destes, parece que 68 do PT)
União Brasil 59
PP 47
Republicanos 42
MDB 42
PSD 42
PSDB 18
PDT 17
Segundo o DIAP, “19 partidos elegeram ao menos um
representante na Câmara (...) Em 2018, 30 legendas haviam sido vitoriosas. (...)os
partidos do núcleo duro do Centrão (PL, União, PP e Republicanos) elegeram 229
deputados federais, o que representa 48% da Câmara (...) As legendas da
coligação de Lula elegeram ao todo 121 deputados (...) Para a aprovação de uma
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) (...)são necessários no mínimo 308
votos favoráveis na Casa em dois turnos de votação.”
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Para encerrar, alguns comentários:
-o resultado global foi pior do que o previsto
-prevaleceu a vontade da maior parte da classe
dominante: um segundo turno.
-basta de subestimar o inimigo
-fazer luta ideológica também produz resultados
eleitorais
-prioridade é disputar o voto da classe
trabalhadora
-nada substitui o corpo a corpo
-é preciso apresentar mais propostas de futuro
-é preciso travar mais disputa cultural contra as
posições da extrema direita, em favor das posições democráticas, populares e
socialistas.
-só a militância salva
-concentrar todas as nossas energias em um único
objetivo: derrotar a extrema-direita, eleger Lula presidente.
SEM REVISÃO
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