A ilusão é má conselheira.
Também por isto, é pedagógico, é didático, é útil, ver lideranças do empresariado fazendo críticas a Dilma e elogios a Marina.
Especialmente quando sabemos que estas lideranças eram, não faz muito tempo, elogiadas como exemplos de que tínhamos apoios "no outro campo".
Dois exemplos: Antonio Delfim Netto e Benjamin Steinbruch.
Ambos podem ser lidos na Folha de S. Paulo de 24 de setembro.
Segundo Steinbruch, atual presidente da Fiesp e também à frente da (privatizada) CSN, Marina Silva é "uma boa opção para o Brasil andar para a frente."
Já Dilma seria "fechada em si mesma", "se distancia da realidade", "dura com as pessoas, inibe aqueles que a cercam de falar a verdade ou de levar os problemas".
É sempre tocante ler um empresário atento para este tipo de questão.
Mas, segundo a própria Folha, haveria outra lista de "motivos" para a declaração de voto de Steinbruch, lista que inclui atritos por causa da Transnordestina e a atuação da Receita Federal.
Diz a Folha: "o empresário discute com o fisco uma autuação de R$ 4 bilhões aplicada à CSN, por supostamente ter deixado de pagar impostos sobre os ganhos na venda de parte de uma mineradora em 2008. A siderúrgica recorreu".
De fato, alguém que deixa a Receita cobrar 4 bilhões de reais é mesmo "dura".
E Delfim?
Este é um caso de laboratório.
Ministro da ditadura, depois parlamentar, conselheiro de gregos e troianos, capaz de tiradas e raciocínios inteligentes.
Por exemplo: ele tem razão ao criticar, na Folha de 24 de setembro, a submissão das campanhas eleitorais ao domínio irresponsável dos "marqueteiros".
Ele também tem razão ao acusar de falacioso o argumento segundo o qual a crença que o Estado cria recursos físicos do nada e que, portanto, não tem limite --a não ser a "vontade política"-- para atender às suas demandas.
Mas é uma vergonha --vindo de alguém inteligente, como sem dúvida ele é-- ler o seguinte: afirmar que um Banco Central independente "rouba a comida da boca do pobre" é uma ignomínia.
Vou repetir o trecho inteiro, para que fique claro o raciocínio:
As falsidades que o elegeram são as mesmas que lhes serão cobradas no exercício do governo. Afirmar que um Banco Central independente "rouba a comida da boca do pobre" é uma ignomínia.
Independente de quem, se sua diretoria é escolhida pelo presidente que lhe fixa os objetivos e aprovada pelo Senado, ao qual presta contas regularmente?
Prometer que vai "eliminar o fator previdenciário" diante das contas de previdência e do rápido envelhecimento da população brasileira é tão irresponsável quanto a promessa anterior.
Prometer que vai "modificar os índices de produtividade do campo" é irrelevante para aumentar a "produtividade" e será uma bobagem verificável só quando o MST promover a revolução...
A urna aprova qualquer barbaridade, mas a sociedade aprende para a próxima eleição. Infelizmente, a verdade é sempre descoberta tarde demais...
É por isso que nas democracias (sem adjetivo!) o remédio é mais democracia, cuja marcha pode, eventualmente, ser interrompida pelo "democratismo delirante".
Vamos por partes:
Quem deve ser cobrado a explicar a independência do Banco Central é quem a está propondo. Nós, do PT, sempre fomos contra.
E basta ler os intermináveis artigos em defesa da independência, para perceber qual o objetivo: aumentar a autonomia do setor financeiro, frente à soberania popular.
Prometer eliminar o fator previdenciário só seria irresponsável, caso a proposta não viesse acompanhada de medidas para ampliar os recursos disponíveis, por exemplo via reforma tributária ou via redução dos encargos da dívida pública.
Utilizar como argumento as contas da previdência e o rápido envelhecimento da população é desconhecer os avanços da produtividade e a existência de riquezas acumuladas, hoje disponíveis apenas para uma parte minúscula da população brasileira.
Se modificar os índices de produtividade do campo fosse mesmo irrelevante, por qual motivo o agronegócio faz tamanha agitação contrária à proposta?
Nem o MST, nem toda a esquerda brasileira, é capaz de "promover a revolução". Neste quesito, não há como competir com os black blocs do grande capital.
Por fim: vindo de um coxinha, a última frase do texto não me preocuparia.
Mas vindo de alguém com o passado de Delfim, preocupa-me ler o seguinte: a marcha da democracia pode, eventualmente, ser interrompida pelo "democratismo delirante".
"Eventualmente", isto pode ser entendido como uma ameaça típica de golpistas.
Golpistas cujos armários ainda estão cheios de cadáveres.
Também por isto, é pedagógico, é didático, é útil, ver lideranças do empresariado fazendo críticas a Dilma e elogios a Marina.
Especialmente quando sabemos que estas lideranças eram, não faz muito tempo, elogiadas como exemplos de que tínhamos apoios "no outro campo".
Dois exemplos: Antonio Delfim Netto e Benjamin Steinbruch.
Ambos podem ser lidos na Folha de S. Paulo de 24 de setembro.
Segundo Steinbruch, atual presidente da Fiesp e também à frente da (privatizada) CSN, Marina Silva é "uma boa opção para o Brasil andar para a frente."
Já Dilma seria "fechada em si mesma", "se distancia da realidade", "dura com as pessoas, inibe aqueles que a cercam de falar a verdade ou de levar os problemas".
É sempre tocante ler um empresário atento para este tipo de questão.
Mas, segundo a própria Folha, haveria outra lista de "motivos" para a declaração de voto de Steinbruch, lista que inclui atritos por causa da Transnordestina e a atuação da Receita Federal.
Diz a Folha: "o empresário discute com o fisco uma autuação de R$ 4 bilhões aplicada à CSN, por supostamente ter deixado de pagar impostos sobre os ganhos na venda de parte de uma mineradora em 2008. A siderúrgica recorreu".
De fato, alguém que deixa a Receita cobrar 4 bilhões de reais é mesmo "dura".
E Delfim?
Este é um caso de laboratório.
Ministro da ditadura, depois parlamentar, conselheiro de gregos e troianos, capaz de tiradas e raciocínios inteligentes.
Por exemplo: ele tem razão ao criticar, na Folha de 24 de setembro, a submissão das campanhas eleitorais ao domínio irresponsável dos "marqueteiros".
Ele também tem razão ao acusar de falacioso o argumento segundo o qual a crença que o Estado cria recursos físicos do nada e que, portanto, não tem limite --a não ser a "vontade política"-- para atender às suas demandas.
Mas é uma vergonha --vindo de alguém inteligente, como sem dúvida ele é-- ler o seguinte: afirmar que um Banco Central independente "rouba a comida da boca do pobre" é uma ignomínia.
Vou repetir o trecho inteiro, para que fique claro o raciocínio:
As falsidades que o elegeram são as mesmas que lhes serão cobradas no exercício do governo. Afirmar que um Banco Central independente "rouba a comida da boca do pobre" é uma ignomínia.
Independente de quem, se sua diretoria é escolhida pelo presidente que lhe fixa os objetivos e aprovada pelo Senado, ao qual presta contas regularmente?
Prometer que vai "eliminar o fator previdenciário" diante das contas de previdência e do rápido envelhecimento da população brasileira é tão irresponsável quanto a promessa anterior.
Prometer que vai "modificar os índices de produtividade do campo" é irrelevante para aumentar a "produtividade" e será uma bobagem verificável só quando o MST promover a revolução...
A urna aprova qualquer barbaridade, mas a sociedade aprende para a próxima eleição. Infelizmente, a verdade é sempre descoberta tarde demais...
É por isso que nas democracias (sem adjetivo!) o remédio é mais democracia, cuja marcha pode, eventualmente, ser interrompida pelo "democratismo delirante".
Vamos por partes:
Quem deve ser cobrado a explicar a independência do Banco Central é quem a está propondo. Nós, do PT, sempre fomos contra.
E basta ler os intermináveis artigos em defesa da independência, para perceber qual o objetivo: aumentar a autonomia do setor financeiro, frente à soberania popular.
Prometer eliminar o fator previdenciário só seria irresponsável, caso a proposta não viesse acompanhada de medidas para ampliar os recursos disponíveis, por exemplo via reforma tributária ou via redução dos encargos da dívida pública.
Utilizar como argumento as contas da previdência e o rápido envelhecimento da população é desconhecer os avanços da produtividade e a existência de riquezas acumuladas, hoje disponíveis apenas para uma parte minúscula da população brasileira.
Se modificar os índices de produtividade do campo fosse mesmo irrelevante, por qual motivo o agronegócio faz tamanha agitação contrária à proposta?
Nem o MST, nem toda a esquerda brasileira, é capaz de "promover a revolução". Neste quesito, não há como competir com os black blocs do grande capital.
Por fim: vindo de um coxinha, a última frase do texto não me preocuparia.
Mas vindo de alguém com o passado de Delfim, preocupa-me ler o seguinte: a marcha da democracia pode, eventualmente, ser interrompida pelo "democratismo delirante".
"Eventualmente", isto pode ser entendido como uma ameaça típica de golpistas.
Golpistas cujos armários ainda estão cheios de cadáveres.
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