domingo, 25 de dezembro de 2011

Deste mato não sai coelho

O texto abaixo foi divulgado em 7 de abril de 2005.


Assim que acabou a eleição de 2004, começou a eleição de 2006. Sobre esta, uma coisa é certa: Lula será candidato à reeleição e estará no segundo turno. Com quem, contra quem e com que chances de vitória, ainda não se sabe. 

Todos os petistas consideram fundamental reeleger Lula. Mas os objetivos variam. Para alguns, entre os quais a esquerda petista, se não houver uma mudança na linha do PT e do governo, a reeleição de Lula servirá antes de mais nada para impedir o retorno da direita (PSDB e PFL). Já se houver uma mudança na linha, a reeleição de Lula servirá para impulsionar as mudanças.
Para outros, principalmente da ala moderada do PT, a reeleição de Lula é uma espécie de "valor universal", que carrega dentro de si sua própria justificativa. Logo, justifica-se qualquer iniciativa que amplie (ou que pareça ampliar) suas chances de vitória.

Este foi o sentido da composição inicial do ministério, logo após a eleição de 2004, bem como da primeira e da segunda reformas ministeriais: aumentar o leque de apoios ao governo e à futura candidatura à reeleição de Lula.

Dentre os integrantes da cúpula do governo, há defensores de diferentes tipos de ampliação: em direção ao empresariado (daí a presença de José Alencar, Furlan, Rodrigues e Meirelles), em direção ao PSDB e em direção ao PMDB.

No caso do empresariado, a experiência com José Alencar surpreendeu tanto a esquerda quanto a direita do Partido. Afinal, o "aliado burguês" tem se demonstrado um crítico ardoroso da política pallociana.

Já no caso dos partidos, houve uma dura disputa entre os integrantes do chamado núcleo duro do governo, entre os defensores de ampliar em direção ao tucanato e os defensores da ampliação em direção dos peemedebistas.

Identificado com esta segunda posição, o ministro Dirceu tentou emplacar a presença do PMDB na chapa de Marta Suplicy e o apoio petista a pelo menos uma candidatura do clã Sarney. Não conseguiu. Passada a eleição, tentou ampliar a presença do PMDB no ministério, inclusive do setor transgênico do partido, oriundo da velha Arena (Sarney, Roseana e quetais). Também não conseguiu. Agora, tenta costurar alianças do PT com o PMDB em alguns estados, alianças em que o PT entraria com o apoio e o PMDB com os candidatos majoritários. Conseguirá?

Nunca se deve subestimar a capacidade do ministro Dirceu. Afinal, arquiteto da estratégia moderada, ele consegue transmitir a imagem de "ala esquerda" do governo Lula. A dúvida é outra: se o presidente Lula garantirá retaguarda para as articulações de Dirceu. Afinal, nas três vezes em que o ministério foi composto e recomposto, o presidente Lula desautorizou Dirceu.

O problema é que Dirceu quer ser presidente da República, em 2010. E, ao contrário de outros concorrentes mais bem dotados de voto, Dirceu é totalmente dependente do sucesso do governo Lula. Assim, uma afastamento do governo --voltando à Câmara dos Deputados ou à presidência do Partido-- atrapalharia seu objetivo presidencial.

Assim, não se deve esperar que a virada de rumos do governo possa vir do tensionamento entre Lula e Dirceu. Salvo engano, deste mato não sai coelho. Mas ainda sairão muitas cobras e lagartos.


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