quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

16 de dezembro de 1976, perto das 7 horas da manhã

Em dezembro de 1976, as posições de Pedro Pomar acerca do Araguaia tornaram-se majoritárias no Comitê Central do PCdoB. Os integrantes da reunião começaram a sair da casa na Lapa, na noite do dia 15.  
  
Eram cerca de sete horas da manhã do dia 16 de dezembro de 1976, quando Pedro Pomar, sem sequer saber em que bairro de São Paulo se encontrava, tombou assassinado aos 63 anos, pelo forte dispositivo policial-militar, que desde o dia 10 de dezembro cercara a casa onde haviam se reunido a comissão executiva e o comitê central do PCdoB, na rua Pio XI, na Lapa. Ângelo Arroyo também foi assassinado, recebendo um balaço que estourou seu crânio. Maria Trindade foi presa, sendo salva do tiroteio por um desses milagres da vida.

Elza Monerat e Joaquim Celso de Lima também foram capturados longe dali, na avenida Faria Lima, após safar-se momentaneamente da perseguição policial e deixarem Jover Telles e José Gomes Novaes a salvo.

A essa altura, João Batista Drumond já tinha morrido no DOI da rua Tutóia, enquanto Wladimir Pomar e Aldo Arantes se encontravam presos lá, desde a noite anterior. Haroldo Lima foi preso em sua própria casa, após ser seguido, também na noite anterior, sem notar.

Os noticiários e os jornais dos dias 16 e 17 de dezembro deram ampla cobertura ao "estouro" do "aparelho comunista" da Lapa, à morte, "em tiroteio" e "por atropelamento", dos três dirigentes do PCdoB, e à prisão de outros seis integrantes "daquela organização subversiva".

Em fevereiro de 1983, durante o seu 6º congresso, mais de seis anos após a queda da Lapa, o PCdoB aprovou um relatório responsabilizando Jover Telles pelos acontecimentos de então. Considerou-o traidor, e o expulsou do partido.

O partido, a quem Pomar dedicou grande parte dos seus melhores esforços e de sua experiência, não parece haver chegado a qualquer conclusão, pelo menos pública, quanto à responsabilidade sobre o ponto entregue por Sérgio Miranda a Jover Telles.

Foi esse ato, que causou irritação em Pomar, que possibilitou a Jover não só comparecer à reunião da Lapa, em dezembro de 1976, como ajudar os órgãos repressivos do regime militar a elaborarem um minucioso plano de assassinato seletivo de alguns dos principais dirigentes daquele partido. E, com isso, truncar todo seu processo de avaliação histórica, que tinha como fulcro a experiência de luta no Araguaia. 

Durante as duas décadas finais do século 20, para todos os efeitos historiográficos, os órgãos de imprensa e muitas das forças que lutaram contra a ditadura passaram a considerar os assassinatos de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho como os últimos do período ditatorial, ignorando totalmente o massacre da Lapa.

Felipe Cossio Pomar sobreviveu ao filho, morrendo em Lima, Peru, apenas em 1981, com 92 anos, após voltar do México e radicar-se novamente em Piura, sua terra natal. Catharina também sobreviveu 9 anos ao massacre da Lapa. Os restos de ambos estão no cemitério de Santa Isabel, em Belém, para onde foram trasladados.

Para os comunistas brasileiros, aonde quer que estejam, espalhados pelo Partido dos Trabalhadores ou nos partidos comunistas ainda existentes, muitas das idéias esposadas por Pomar talvez continuem vivas.

Que esta pequena biografia lhes seja útil. Pois, como dizia Goethe, a quem Pomar tanto apreciava, "é muito mais fácil reconhecer o erro do que encontrar a verdade. O erro está na superfície e por isso é fácil erradicá-lo. A verdade repousa no fundo e não é qualquer um que pode investigá-la."

O texto acima corresponde às últimas quatro páginas do livro Pedro Pomar, um comunista militante, publicado em 2007 pela Expressão Popular, versão reduzida da biografia Pedro Pomar, uma vida em vermelho, escrita por Wladimir Pomar e publicada pela Editora Xamã em 2003. Especificamente sobre a Chacina, recomenda-se a leitura de Massacre da Lapa, de Pedro Estevam Pomar, editado em 1987 pela Busca Vida e reeditado no presente século pela Fundação Perseu Abramo. O resumo publicado pela Expressão Popular foi feito por Valter Pomar. 




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