terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coréia do Norte

Nos dias 20 a 22 de maio de 2009, uma delegação do Partido dos Trabalhadores visitou a República Popular Democrática da Coreia, onde manteve contatos com o Partido do Trabalho da Coréia. A delegação foi composta pelo então secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, e por Joaquim Soriano.

Pyongyang é uma cidade de mais de 2 milhões de habitantes (calcula-se que o país tenha pouco mais de 20 milhões). Foi completamente destruída na guerra de 1950-1953. Tem pouquíssimas casas e muitos prédios habitacionais, públicos e de empresas.

A cidade é muito limpa e tem um trânsito tranqüilo para uma capital, sendo servida por metrô, ônibus, bonde e um bom número de carros particulares.

A partir das 6 horas da manhã, começa um fluxo intenso de pedestres, principalmente crianças indo para a escola, quase todas utilizando uniformes de pioneiros, com um lenço vermelho no pescoço.

O trajar adulto é variado: uniformes de diversos tipos e cores, “túnicas Mao” de diferentes talhes, terno e gravata ocidentais, as mulheres usando mil e uma combinações de tailleurs, além de muitas utilizando o traje típico local. Poucas roupas esporte, numa formalidade que lembra os anos 50.

Todos os coreanos que avistamos usam na lapela um broche de Kim Il Sung, fundador em 1926 da União anti-imperialista contra a ocupação japonesa (1910-1945), base para a criação, em 10 de outubro de 1945, do Partido do Trabalho da Coréia.
 
O culto à personalidade de Kim Il Sung o apresenta como o “pai da pátria”, por seu papel na guerra contra a ocupação japonesa, na guerra de 1950-53 e na edificação econômico-social do país.

Depois de sua morte, em 1994, Kim Il Sung foi transformado constitucionalmente em “presidente imortal e eterno”. Seu corpo foi embalsamado e o antigo palácio presidencial foi transformado em mausoléu.

Depois da morte de Kim Il Sung, seu filho Kim Jong Il assumiu a condução do Partido e o comando militar do país. Duas outras autoridades importantes são o premiê e o chefe do Parlamento.

Nas entrevistas que mantiveram conosco, as autoridades coreanas enfatizaram duas questões: a) querem a reunificação das Coreias; b) sua política militar é defensiva.

Tendo em vista os processos ocorridos no Vietnã e na Alemanha, um sob hegemonia socialista, outro sobre hegemonia capitalista, perguntamos como eles imaginavam a unificação coreana. A resposta foi que defendem a unificação da pátria através de um “método independente e pacífico”, levando a um “Estado confederado” que “deixe intactos os regimes do Norte e do Sul”.

Reclamaram que as atuais autoridades sul-coreanas fomentam a confrontação entre as duas Coréias; e que existe um claro intento de derrubar o regime norte-coreano, sendo que o governo Bush teria ameaçado com um ataque preventivo nuclear. Segundo eles, sem o “dissuasivo nuclear”, “teríamos virado um Iraque ou um Afeganistão”.

Disseram defender a desnuclearização da península coreana, mas consideram que para isso os americanos devem abandonar a política de hostilidade e dar garantias de não-fornecimento de equipamento militar e nuclear para a Coreia do Sul. Além disso, exigem um tratamento baseado no “respeito mútuo, soberania e igualdade”.

Eles reclamaram duramente do que chamam de “dupla moral”, segundo a qual só alguns países têm direito à tecnologia e armamento nuclear: “os que apóiam os EUA não têm problemas, os que não seguem os EUA são maltratados”.

Acham que existe uma “hostilidade estereotipada” contra a Coreia e consideram que a censura aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU é uma “negação clara e flagrante do princípio da igualdade, da soberania, da imparcialidade, que estão na carta da ONU”: “todas as nações têm o direito a usar pacificamente o cosmos”; “nós não podemos lançar, mas os outros podem?”. E concluem dizendo que “vamos fortalecer a todo vapor o poder nuclear defensivo” e “jamais voltaremos à mesa de negociações”. Fica claro, de toda forma, que a política de “priorização militar” é muito mais do que uma política de segurança. Nas palavras de uma autoridade local: “o argumento segundo o qual a classe operária é a classe revolucionária está ultrapassado, ao menos em nosso caso. Aqui o setor mais revolucionário, a vanguarda do processo, são os militares”.

Uma das maneiras de tratar esta “mentalidade de fortaleza sitiada” é estimulando relações com países que não estão diretamente envolvidos no conflito. Neste sentido, as autoridades com quem nos entrevistamos manifestaram muita expectativa em relação às possibilidades de cooperação econômica, tecnológica e cultural entre o Brasil e a República Popular Democrática da Coreia, que possui uma legislação específica para investimentos estrangeiros. Reclamaram, aliás, que a “instabilidade” prejudica a “confiança dos investidores”, pois “coloca as empresas em dúvida sobre o retorno de seus investimentos”.

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