sábado, 1 de novembro de 2025

O criptofascismo e o "apoio popular" à chacina

A edição da Folha de S. Paulo na véspera do dia dos mortos afirma que “mais da metade dos moradores do RJ” considera que a “operação” (leia-se: a chacina) foi “um sucesso”. 

Deixemos aos especialistas discutir os problemas técnicos que a pesquisa possa ter, entre o quais o fator “medo”, e admitamos que o retrato esteja correto. Pergunto: qual a surpresa?

Afinal, todos sabemos que as posições da extrema-direita são muito influentes e por vezes majoritárias, no mundo e no Brasil. 

Vide as eleições recentes na Bolívia e na Argentina. Vide as eleições presidenciais, estaduais e parlamentares de 2022, assim como as eleições municipais de 2024. 

Em todos esses e em muitos outros casos, a maioria numérica do eleitorado válido votou em pessoas e partidos cujas políticas prejudicam, objetivamente, a maioria do povo.

Cabe perguntar: por que tantas pessoas que são e serão prejudicadas pela extrema-direita, ainda assim votam nessa gente?

Os motivos são muitos e entre eles não estão correção, eficácia nem eficiência. Noutras palavras, a política de insegurança pública da direita não entrega, nem entregará nunca o que promete. Portanto, a parcela do povo que apoia a política de insegurança pública não o faz por causa dos resultados, pois aquela política não produz paz, nem mesmo a paz dos cemitérios.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o governador Castro tem lado na guerra de facções; e o desfecho da recente chacina é que outros “subsenhores da guerra” vão substituir os que tenham sido mortos e presos. Já os verdadeiros chefes e donos da coisa toda seguirão intocados.

Assim, o que explica o apoio popular não é o resultado objetivo, mas sim o convencimento resultante da luta política-ideológica, a saber, a capacidade que a extrema-direita construiu, ao longo de décadas e usando todos os meios (redes e púlpitos inclusive), de convencer a população de que não existiria outro jeito, que este seria o jeito certo.

Isto coloca um desafio ainda maior para a esquerda, especialmente para o PT. Trata-se de simultaneamente combater o crime de outra e verdadeira forma & de combater a política criminosa dos neofascistas

O desafio é tão difícil que alguns setores do PT e alguns setores do mal denominado "progressismo" acham mais fácil “unir-se a eles”, ou seja, adotar discurso e prática parecidas com as da direita.

É o caso, por exemplo, de um certo criptofascista abrigado na cúpula do PT, personagem meio caricato que demonstra um prazer quase sexual quando fala em pau, porrada e bomba

O resultado dessa conduta não foi, não é nem será o fortalecimento da esquerda. Passar o pano nas políticas da extrema-direita contribui para legitimar e fortalecer a extrema-direita. Prova suplementar disto é que, na cidade atualmente governada pelo citado criptofascista, a direita geralmente vence as eleições majoritárias, inclusive presidenciais.

Se a esquerda quer mesmo vencer a extrema-direita no debate sobre segurança pública, não tem caminho fácil: é preciso construir uma política diferente, aplicar uma política diferente e defender uma política diferente. Dá trabalho, mas é o único jeito de impedir que a barbárie prevaleça.

Quem quiser seguir outro caminho, precisa "pedir para sair". Ou precisa ser saído por quem realmente quer "combater o fascismo". Afinal de contas, quinta-coluna inimigo é.