quinta-feira, 20 de junho de 2024

A greve deve continuar?

 Hoje, 20 de junho de 2024, foi divulgado um documento propondo a continuidade da greve dos docentes das universidades federais.

O documento é assinado por 6 grupos, conforme está disponível na imagem que acompanha esta postagem.

O título do documento é o seguinte: “COM ZERO% EM 2024 E REAJUSTE BEM ABAIXO DA INFLAÇÃO, A GREVE PRECISA CONTINUAR”.

Boa parte do texto é uma denúncia do que os signatários chamam de “caráter reacionário do Governo Lula-Alckmin”.

Supondo que a denúncia feita pelo documento fosse 100% verdadeira – e não é - ainda assim isto não explicaria por qual motivo a greve “precisa continuar”.

É verdade que há perda salarial, é verdade que a suplementação orçamentária é insuficiente, é verdade que o “novo marco fiscal” é uma política monetária que no fundamental interessa ao capital financeiro, é verdade que a atitude dos negociadores do governo foi péssima, isto para usar um termo gentil e suave. 

Tudo isso e outras coisas são verdades, mesmo que (obviamente) não concordemos com a caracterização global que o documento faz. 

Entretanto, como já dissemos, isto não explica por qual motivo a greve “precisa continuar”.

É verdade que toda greve tem uma dimensão pedagógica, serve para educar a classe trabalhadora acerca dos interesses em jogo. É verdade,  também, que toda greve tem uma dimensão política, maior ou menor. Mas greve é, principalmente, um instrumento para obter conquistas. Portanto, quando se lança mão da greve, é preciso ter alguma possibilidade de vitória.

Fazer a greve para dizer “NÃO” a um “tratamento humilhante” as vezes pode ser necessário, mesmo sem perspectiva de vitória. Mas nesse caso, a greve se tornará a cada dia menos massiva. E greve de minoria não é uma boa opção, muito menos nos tempos bicudos em que vivemos.

O que precisa ser respondido, portanto, é se a manutenção da greve nesse momento, pode levar a algum avanço nas conquistas. Dito de outro jeito: o movimento pode crescer, ao ponto de forçar o governo a ceder algo mais?

Os signatários do documento acreditam que sim, tanto é que propõem “adensar o apoio”, “mobilizar os que impulsionaram a greve e os que ainda se encontram fora dela”, “ampliar a unidade com outros setores em luta”, “refazer nossos panfletos, abrir faixas e afixar cartazes, fazer piquetes, barricadas, fechar estradas, ocupar Reitorias– enfim, reforçar a greve com os métodos da nossa classe”.

Logo, os signatários reconhecem que, do jeito que está, a greve não obterá vitórias. A questão é: será possível fazer isso? Ou estamos apenas diante de uma manifestação de vontade, mas que não tem como virar força real?

Os signatários parecem reduzir o problema a uma questão de coragem & necessidade: “esta é a coragem que precisamos ter. A greve precisa continuar – porque nossas necessidades continuam”.

Nestes termos, a análise de conjuntura some e sobra só a análise estrutural. 

Convenhamos: enquanto houver capitalismo, nossas necessidades vão continuar. Isso não significa que devamos ou possamos estar em estado de greve permanente. A greve é um dos instrumentos possíveis para travar a nossa luta. Não é o único. É um instrumento muito importante e, por isso mesmo, não pode ser utilizado quando não há alguma chance de vitória.

Neste momento, avaliando a situação de mobilização nas universidades, não consideramos possível ampliar o movimento para além do que já ampliamos. Vale dizer que ampliamos muito e isso contribuiu para algumas conquistas. Mas entendemos que, neste momento, chegamos no limite da ampliação. E sem nova ampliação, não será possível obter avanços.

Por isto – não por uma questão de coragem ou de falta dela – a posição correta é parar a greve, recompor as forças e discutir como seguir adiante.

Os signatários do documento no fundo, bem no fundo, sabem disso. Sua posição não deriva de uma análise da correlação de forças, mas somente da necessidade de demarcar – com o governo, com a diretoria do Andes, com a oposição à diretoria do Andes, com todo mundo que não tem coragem etc. Demarcar é um direito que lhes assiste. Mas há maneiras e maneiras de demarcar.

Quem tem a responsabilidade de conduzir o movimento está obrigado a ter outras preocupações, digamos assim. Entre essas preocupações, a principal é manter as condições para que, nas próximas batalhas, consigamos outras vitórias. Insistir na greve, neste momento, é fazer o jogo de quem trabalhou o tempo todo para derrotar o movimento.


3 comentários:

  1. Infelizmente saio dessa greve com um sentimento terrível de derrota. Por mais que os sindicatos e o partido tentem gritar nos últimos dias que nós tivemos conquistas, isso não é totalmente verdade. Além recebermos o menor reajuste linear entre todo o funcionarismo federal (9% em 2025 e 3,5% em 2026), a pauta não salarial foi uma piada, ao menos para os docentes das universidade ativos e com doutorado.
    Sinto que perdi um mês nessa greve, já que praticamente não houve mudanças desde a assinatura do acordo pelos pelegos. Será muito desestimulante voltar pra sala de aula e ver que quase nada mudou...
    O grande problema, penso eu, é que o próprio professor não se valoriza, e por isso aceita encerrar um movimento após receber migalhas. Sim, para um governo eleito com a bandeira de valorização dos profissionais da educação, foram apenas migalhas.

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  2. É bem possível que uma parte substancial da categoria docente se recorde dessa greve em outubro de 2026 e dê ao lulismo a mesma consideração e o mesmo tratamento dado hoje às nossas reinvindicações. Quem sabe já se lembrem em outubro de 2024 e já tomem essa decisão para aqueles que se omitiram e se calaram no apoio à greve. O lulismo trata os trabalhadores docentes das IFES e IFs como inimigos. Os salários em 2026 estarão menores em poder de compra que em 2024.Novas greves virão, ainda nesse governo. Não se humilha uma categoria de trabalhadores como o governo lulista fez conosco. Ah! A tendência Renova-Andes não deve se apresentar na próxima eleição como tendo apoio do petismo e apoiando o governo. Por sinal, sempre que leio o nome de alguma corrente política como Renova-X, Renovação ou algo do tipo lembro da ARENA e da aliança renovadora nacional.

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  3. A classe docente não precisa assinar o acordo proposto pelo governo. Assinar significa perder a chance de uma nova discussão e de um novo pleito em 2025, uma vez que só poderíamos retornar às negociações em 2027. Afinal, por que assinar em 2024, se em 2024 não teremos qualquer reajuste? Por outro lado, ao não assinar, mostramos dignidade e consciência de que a educação continua a não receber a atenção devida também por este governo.

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