No dia 29 de setembro, quinta-feira, aconteceu mais um debate entre presidenciáveis.
Não participaram todas as candidaturas.
Ficaram de fora, por exemplo, aquelas cujos partidos não têm pelo menos cinco parlamentares no Congresso.
Este foi o motivo pelo qual ficaram de fora Leonardo Péricles (UP), Vera Lúcia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB).
Participaram do debate Lula (PT); o cavernícola (PL); Simone Tebet (MDB); o coronel Gomes (PDT); Soraya Thronicke (União Brasil); o Padre de festa junina (PTB); e Luiz Felipe Dávila (do Novo-Velho).
Foi um debate longo (cerca de 3 horas de duração), num horário impossível para a maioria das pessoas.
Terminou o debate, começou o debate acerca do debate.
Do nosso ponto de vista, a questão mais importante é saber se este debate contribuiu ou não para que a eleição presidencial seja resolvida já no primeiro turno.
Na nossa opinião, o debate contribuiu para que ocorra um segundo turno.
Isto pelo seguinte: a diferença entre resolver a eleição no primeiro e segundo turno depende – ao menos se as pesquisas estiverem certas – de uma pequena diferença de votos.
Portanto, qualquer perda de Lula e qualquer ganho dos outros contribui para levar a disputa para o segundo turno.
E o fato é que o debate foi 6 contra 1, além de dar palanque generoso para 5 candidaturas tentarem conseguir uns votos a mais.
Isto quer dizer que, por causa do debate, haverá segundo turno?
Não, não quer dizer isto.
Quer dizer apenas que este debate não “selou” o resultado de domingo.
O resultado de domingo segue em aberto e depende do comparecimento e da mobilização.
Por isso, se queremos “paz”, vamos à “guerra” pelos votos, voto a voto, até o último segundo.
Além da incidência sobre ter ou não segundo turno, outras coisas podem ser ditas acerca do debate.
Muita gente questiona, por exemplo, se este tipo de debate contribui ou não para a discussão a sério dos grandes temas. O questionamento é válido, mas para além dele há outro: a naturalização da Globo como palco, reforçando a hegemonia de um monopólio privado que se pretende árbitro da democracia, mais um dos “poderes”.
Um dos retratos deste debate é Bonner posando de bedel passando sermão em alunos indisciplinados. Este retrato esconde a verdade: a Globo é protagonista na construção do tipo de sociedade e no tipo de política que temos no Brasil. Bonner exige o cumprimento das regras do debate, depois de ter contribuído para destruir as “regras” constitucionais.
O debate também confirmou que temos uma extrema direita assumida e sem vergonha na cara. É o caso explícito do cavernícola e do padre de festa junina, ambos a bradar em defesa de “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, slogans recorrentes do fascismo e do neofascismo.
Mas o “liberal” e o “trabalhista” não são os únicos. De um jeito gourmet, o Novo-Velho e a Soraya também compõem o campo, com sua (deles) defesa de teses neoliberais e no ataque ideológico contra a esquerda.
Aliás, é importante perceber que a extrema direita faz disputa ideológica explícita o tempo todo, cabendo perguntar se reagimos a isso da forma adequada. Ou não.
O debate também nos leva a perguntar onde diachos foram parar os partidos herdeiros do trabalhismo (PDT e PTB). O padre de festa junina é um legítimo substituto do Roberto Jefferson, ambos porta-vozes da extrema-direita. Quanto ao coronel Gomes, este segue trabalhando para herdar (agora, em 2026 ou quando der) o eleitorado de extrema-direita, o eleitorado antipetista, anti-Lula.
A fala final do coronel Gomes, fazendo referência ao “sistema” e pedindo que “Deus ilumine” suas palavras é um de muitos exemplos das afinidades eletivas propositais entre o coronel e o capitão. Mas, como disse Lula, o coronel estava nervoso demais neste debate e não se deu bem no confronto direto, tropeçando diversas vezes nas palavras, nos números e no seu próprio ego.
Outra questão que o debate confirmou é que o Estado laico segue sob ameaça. Não se trata apenas do padre de festa junina e do cavernícola, ambos fundamentalistas. O fato é que muitas candidaturas sentem uma aparentemente incontrolável necessidade de a toda hora citar Deus e apresentar sua crença. O Estado é laico, não é ateu. E os presidentes e candidaturas podem professar a crença que quiserem. Mas se é assim, então por que esta necessidade de falar o tempo todo acerca da fé? A resposta é: porque isto virou um atributo distintivo que é eleitoralmente útil. Mas se é assim, se a crença religiosa pesa na escolha dos governantes, então o Estado laico segue em questão.
Uma quinta questão: o debate confirmou que a eleição presidencial pode acabar, mas o “pesadelo” não acabará domingo. Se Lula ganhar no primeiro turno, a turma do cavernícola vai questionar os resultados e algo vai acontecer. O que, não sabemos, mas devemos nos preparar para o que der e vier. E se Lula ganhar no segundo turno, idem idem.
E além do cavernícola, temos os neoliberais -tanto aqueles que se converteram em eleitores ocasionais de Lula quanto os demais - pressionando por concessões programáticas. Portanto, em qualquer cenário, o “pesadelo” não acabará domingo. Os que lutam pela transformação do Brasil devem se preparar para uma grande maratona.
Por fim: aconteceram vários momentos hilários neste debate. Mas nada superou a cena da fala final do cavernícola: ao encerrar com o bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, a mão do cavernícola exibiu um “L”. Para quem acredita, foi a justiça divina.
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