A revista Focus Brasil acaba de publicar um artigo do companheiro Elvino Bohn Gass intitulado “Federação partidária: unidade para mudar o Brasil”.
Gass, similar ao que fizeram Raul Pont e Miguel Rosseto noutro artigo (a esse respeito sugiro ler: http://valterpomar.blogspot.com/2021/12/raul-miguel-e-federacao.html), fala da “federação” como algo lindo, perfeito, luminoso, anunciador de bons tempos, tudo de bom.
Vou citar alguns
dos elogios feitos por Bohn Gass a respeito das federações: “vitória da democracia”,
“ajudam a superar algumas das principais distorções do nosso sistema eleitoral”,
fortalecem os “projetos de país”, “uma luta antiga”, “bem diferente das coligações
tradicionais”, “asseguram o pluralismo político”, “garantem um caráter mais
nacional às legendas”, “valorizam as identidades entre os partidos”, “inibem o
fisiologismo”, “mudança estrutural da política brasileira”, “extremamente relevante
para os interesses coletivos”, “aperfeiçoamento da democracia brasileira”, “importante
novidade política”.
Será que isso é mesmo verdade?
Ou estaríamos diante de um unicórnio: lindo, mas mitológico?
Na minha opinião, para usar termos compatíveis com o espírito de um domingo, Bohn Gass exagera excessivamente as supostas
virtudes da federação e omite completamente os problemas contidos na proposta concreta de federação que será debatida pelo Diretório Nacional do PT dia 16 de
dezembro.
Para começo
de conversa: o PT tinha como objetivo acabar com as coligações. O fim das coligações
traz dificuldades para alguns partidos de esquerda. Para ajudar a contornar estes
problemas, apoiamos a proposta de federação. Daí a acreditar que as federações vão “superar
algumas das principais distorções do nosso sistema eleitoral” vai uma longa
distância.
Gass afirma que
no atual sistema, uma “plêiade de partidos funciona, na maioria dos casos, com
base em fisiologismo. Com a federação, as agremiações devem seguir uma decisão coletiva
e unitária, fortalecendo-as com projetos de país”.
Ou seja: se Bohn
Gass estivesse certo, federando dois ou mais partidos fisiológicos surgiria uma...
federação não fisiológica.
É óbvio que
isto é uma fábula. A unidade entre partidos corruptos resultará num partidão
corrupto.
Gass afirma –
evitando algumas imprecisões contidas no artigo já citado de Rosseto e Pont – que
as federações seriam algo “bem diferente” do sistema de coligação.
Mas Gass
omite que o tamanho da diferença dependerá primeiro
da regulamentação que está sendo elaborada pelo TSE sob comando do afamado Barroso
e dependerá, em segundo lugar, dos estatutos comuns que venham a ser aprovados
pelos partidos federados e dependerá, em terceiro lugar, da prática.
Portanto,
dizer que as federações “asseguram o pluralismo político, garantem um caráter
mais nacional às legendas, valorizam as identidades entre os partidos e inibem
o fisiologismo” é o desejo de Bohs Gass, mas não há absolutamente nada que garanta
isto, especialmente em se tratando de federações entre partidos de bandidos.
Gass diz que
as federações seriam uma “mudança estrutural na política brasileira”, “extremamente
relevante para os interesses coletivos e o aperfeiçoamento da democracia
brasileira”.
Na boa: uma mudança
estrutural na política brasileira ocorrerá - para citar um exemplo de muitos - se e quando o Congresso Nacional não
for mais um clube majoritariamente controlado por empresários ricos brancos de
direita.
A federação
pode jogar um papel “extremamente relevante” nisso?
Os partidos
de empresários ricos de direita, ao se federar, vão mudar de classe, etnia e
orientação política??
Gass
considera que a “dispersão partidária” é um “grave problema democrático”, que
favorece os “setores mais clientelistas da política brasileira, que buscam
manter sua liberdade para fazer negócios escusos e alimentar a troca de favores
que os sustenta”.
Segundo
Gass, “a proposta de federação partidária mudou radicalmente este cenário”.
Notem que o
entusiasmo de Gass é tão fora de si que a simples possibilidade de existirem federações
já “mudou” o cenário, num passe de taumaturgia legislativa instantânea!
Na boa:
ninguém é obrigado a fazer federações. Se a esquerda criar uma federação e o resto
ficar igual, nada “mudou”. E mesmo se todos aderirem à moda, federar
clientelistas com fisiológicos não vai gerar uma federação de probos. E, mais
importante, o simples fato de termos uma federação de esquerda não implica na eleição
de uma maioria de esquerda no Congresso.
Gass poderia
defender a importância de criar uma federação da esquerda, sem difundir mitos
acerca do instituto da federação em tese. Infelizmente, seu texto me passa a
impressão de que ele foi ganho para certa tese liberal que atribui parte excessiva
dos males da política brasileira à dispersão partidária, confundindo sintomas e
causas.
O mais grave,
entretanto, é que Bohn Gass não fala uma palavra sobre os problemas da proposta
de federação que será debatida no dia 16 de dezembro de 2021 pelo Diretório
Nacional do PT.
Bohn Gass
fala que o PT terá a “oportunidade de se unir a legendas com atuação e
objetivos comuns. Uma união em torno de um programa único, que não pode ser desfeito
após as eleições”, devendo durar por um “período mínimo de quatro anos”.
Como isto
funcionaria? Como seriam compostas as direções? Como seriam indicadas as lideranças
das bancadas? Como seriam tomadas as deliberações? Como seriam administrados os
recursos? Como isto impactará nossa situação nas eleições municipais de 2024?
E, mais importante,
quem seriam nossos aliados nessa empreitada? E com qual base programática?
Gass não
fala, mas o que está em discussão no Diretório Nacional do PT é uma federação
com o PSB, partido que apoiou Aécio Neves no segundo turno de 2014, partido
cuja bancada votou majoritariamente a favor do golpe de 2016 e que – na atual
legislatura – tem um grande setor alinhado com o Centrão e com Bolsonaro,
votando contra os interesses da classe trabalhadora.
Ou seja:
Gass diz que a federação é algo ótimo em tese, diz que a federação é algo ótimo
para a esquerda, mas omite com quem ele defende federar e não enfrenta os
problemas práticos decorrentes, problemas que poderão ser maiores ou menores a
depender da regulamentação a ser feito por Barroso – pessoa conhecida por seu “apreço” aos
partidos e ao PT em particular.
Não me
refiro apenas aos efeitos eleitorais, embora esteja seguro de que vamos sofrer
problemas muito parecidos aos que o PT sofria com as coligações proporcionais.
Ou seja: a
federação nos trará prejuízos nas eleições de 2022 e prejuízos ainda maiores nas
eleições de 2024.
O slogan de
Gass - “juntos somos maiores do que as partes” - é bonitinho, mas esconde um
detalhe: a federação pode eleger mais parlamentares, mas não está dado que o crescimento
será igual para todos.
Por fim, mas
na minha opinião o mais importante: por quais motivos o PT precisa federar? E
por quais motivos temos que decidir isto na correria?
O PT não faz
parte dos “partidos problema” criticados por Gass. Não fazemos parte da relação
de partidos ameaçados pela clausula de desempenho. Somos críticos das coligações
proporcionais. Podemos fazer coligações majoritárias, sem precisar federar.
Assim como podemos construir uma unidade da esquerda, sem federar. E uma federação,
especialmente a que está em debate, pode causar prejuízos variados ao PT:
eleitorais, programáticos e na condução da vida interna.
Considerando
tudo isto, a única razão que eu consigo enxergar é a seguinte: tem gente disposta
a trocar o PT por um unicórnio.
Até certo ponto é compreensível: nosso Partido, depois de 40 anos de batalhas, é cheio de cicatrizes. Já os unicórnios são perfeitos, lindos, brilham e voam. Tem um detalhe: não existem.
URGENTE !
ResponderExcluirTEMER ADMITE QUE CHUCHU É O CANDIDATO DO GOVERNO GOLPISTA
Ilegítimo ainda ressaltou que os partidos que aprovaram reformas contra o povo irão continuar no governo se tucano for eleito
O golpista Michel Temer já falou publicamente que o candidato do governo ilegítimo é Geraldo Alckmin (PSDB), e ainda reforçou que a base aliada que ajudou a aprovar as reformas anti-povo, como a PEC do teto de gastos e a destruição da CLT, estará com o tucano caso eleito.
https://pt.org.br/temer-admite-que-alckmin-e-o-candidato-do-governo-golpista/
(esquerda precisa pôr o bloco na rua)
Federação é golpe.
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