Parte
dos que defendem Alckmin na vice de Lula tem na cabeça o roteiro da “transição democrática”.
Para quem
não lembra, um resumo: derrotada a campanha das diretas, a maior parte da
oposição decidiu participar do Colégio Eleitoral.
O PDS
- partido da ditadura, sucessor da ARENA - rachou na escolha do seu candidato a
presidente na eleição indireta. O nome preferido do general Figueiredo (o coronel
Mario Andreazza) foi derrotado por Paulo Maluf. O racha produziu um novo
partido (o Partido da Frente Liberal), que debutou fazendo uma aliança com o PMDB.
E a cereja do bolo foi a chapa presidencial: Tancredo Neves presidente, tendo
como vice o manjado José Sarney, que até a véspera era presidente do PDS.
A
operação foi um sucesso?
Depende
do critério. No Colégio Eleitoral, a chapa Tancredo-Sarney conseguiu derrotar
Maluf. Acontece que Tancredo morreu antes da posse. Ao invés de convocar novas eleições,
as “instituições” dobraram-se às forças armadas, que impuseram a posse de
Sarney, num episódio bizarro em que o vice virou presidente sem que o titular
da chapa tivesse tomado posse.
E não
parou por aí: o governo da “transição democrática” foi tutelado do início ao
fim pelas forças armadas. O que ajuda a entender não apenas Bolsonaro, mas a prolongada
hegemonia do “autoritarismo” (bolsonarista ou não) entre os militares
brasileiros.
A história
do governo Sarney tem várias nuances, mas o desfecho foi o seguinte: os candidatos
presidenciais vinculados ao PMDB e ao PFL foram esmagados nas eleições presidenciais
diretas de 1989, as primeiras desde 1960. E os dois candidatos que foram ao segundo
turno faziam oposição explícita ao governo Sarney.
O que
teria ocorrido se as Diretas tivessem sido aprovadas? O que teria ocorrido se toda
a oposição tivesse boicotado o Colégio Eleitoral? O que teria ocorrido se
Tancredo não tivesse morrido? O que teria ocorrido se, ao invés da posse de
Sarney, eleições diretas tivessem sido convocadas?
Nunca
saberemos. O que sabemos com certeza é o seguinte: a maior parte da oposição
não quis arriscar. Preferiu fazer um mal acordo a esticar a corda.
Os problemas
que o Brasil arrasta, não apenas há décadas, mas há séculos, estão ligados exatamente
ao tipo de solução política adotada na “transição democrática”. A saber: o acordo
de elites, a transição pelo alto, sem ajuste de contas com o passado, com os donos
do dinheiro e do poder.
Naquela
época, o PT defendeu outro caminho. Não aceitou ir ao Colégio Eleitoral e fez ferrenha
oposição ao governo Sarney. Como resultado disto e de otras cositas más,
conseguirmos colocar Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 1989.
Naquele
momento, tanto o PMDB quanto o recém criado PSDB se dividiram. Aliás, uma parte
do alto tucanato não apenas resistiu a apoiar Lula, como quase embarcou no governo
Collor.
O
caçador de marajás não chegou ao final do seu mandato, sendo afastado por
impeachment. Curiosamente, os crimes favoreceram a chapa encabeçada por Collor,
mas novamente não aconteceram novas eleições, preferindo-se dar posse ao vice
Itamar Franco (ojo nos vices!). E por dentro do governo Itamar
armou-se a candidatura de Fernando Henrique Cardoso (PSDB e ex-PMDB), tendo
como vice Marco Maciel (PFL, ex-PDS), um daqueles que preferiam Andreazza e não
Maluf.
Portanto,
repetiu-se em 1994 e 1998 o esquema do Colégio Eleitoral de 1985: um vice proveniente
da ditadura, um presidente oriundo da oposição. Em parte devido a influência do
desastroso governo Sarney e do mito de que “com Tancredo tudo seria diferente”,
era comum ouvir que o problema do governo FHC não era o PSDB, mas o vice do
PFL. Uma óbvia injustiça com a social-democracia brasileira, que sempre esteve
na vanguarda das políticas neoliberais.
Mesmo
assim, nunca deixou de existir dentro do PT quem propusesse uma aliança entre o
PT e o PSDB. Esta aliança nunca vingou, por uma razão óbvia: incompatibilidade programática.
Mas os defensores da operação seguiram tentando e parecem enxergar sua grande oportunidade na defesa de Alckmin como vice de Lula.
Os argumentos são variados. Alckmin contribuiria para uma vitória no primeiro turno, ajudaria a viabilizar a futura governabilidade e ainda contribuiria com a candidatura petista a governador nas eleições paulistas. Um verdadeiro prodígio!
Havendo quem diga
mais ou menos o seguinte: da mesma forma como no passado teria sido necessária
uma frente ampla para superar a ditadura, agora será necessária uma frente
ampla para derrotar o bolsonarismo. E da mesma forma como no passado a oposição teria
tido que se aliar a ex-apoiadores da ditadura, agora a oposição terá que se
aliar a ex-golpistas.
Deixarei
para outro momento rememorar o currículo vitae do chuchu opus dei, inclusive
sua postura sobre Pinheirinho em 2012 e sobre a interdição de Lula em 2018. Me
limito por enquanto a fazer três perguntas.
Primeiro:
quem propõe que Lula se fantasie de Tancredo e que o PT se fantasie de PMDB, propõe
fazer o quê para evitar que terceiros venham a ocupar o espaço deixado aberto?
Segundo:
quem propõe uma aliança com defensores do neoliberalismo e do golpismo, propõe fazer
o quê para impedir que nosso futuro governo seja contaminado pelo golpismo e pelo
neoliberalismo?
Terceiro:
quem defende que Alckmin ocupe o lugar que já foi de Alencar, propõe fazer o quê para evitar que o picolé de chuchu tente emular Sarney, Itamar e Temer?
Espero que a resposta a estas questões não seja a de José de Abreu (“quem decide o que é melhor para ganhar a própria eleição é o Lula. O que o Lula decidir o PT vai assumir como seu”). Afinal, apesar do André Mendonça, seguimos defendendo o Estado laico e, por isso, infalibilidade nem a papal.
"Desde os primórdios até hoje em dia o homem ainda faz o que o macaco fazia..." (Titãs - Homem Primata)
ResponderExcluirA questão Alkimim vice é simples: você militante convence alguém não militante em votar no Lula tendo Alckmin como vice? Claro que não. Por tanto, colocar Alkimim como vice de Lula é um erro e pode custar a eleição da terceira via ou bozó novamente.
ResponderExcluirInsisto. Não desisto. É possível outro vice, outra escalação de chapa presidencial.
ResponderExcluirLula quer e a torcida do Corinthians também quer vencer.
Mas o técnico não percebe o erro. A torcida então precisa gritar e vaiar o jogador Chuchu. Mas vaiar não tá adiantando. É isso.
Precisamos começar a pedir, clamar por aquele vice que está no banco, e que confiamos dará tudo pela vitõria.
O tempo passa.
Que tal Requiao?
ExcluirQue tal Requiao?
ResponderExcluirOlá Marcio.
ResponderExcluirRequião é do Sul. Tá no bloco né.
https://www.youtube.com/watch?v=MkObxs8yruA
Quem não pode estar é o Geraldo.
Eu sugiro (mesmo sem conhecer muito mais o personagem e seu histórico de alinhamento político antes e durante a era PT, do que conhecem vários aqui no blog do Pomar) o almirante Luiz Othon. E não seria um nome pra apaziguar os gorilas pitbulls dis porões de 64. Seria um nome (se eu não estiver escrevendo merda) pra lançar a extrema direita militar em modo caos e de quebra ainda dar uma mordida (pequena?) Na classe média monarquista e anticomunista mas que odeia o Bozo
ResponderExcluir