“Lula sabe o que faz”: este tem sido um (des)argumento muito comum no debate sobre a vice.
Este (des)argumento baseia-se em quatro premissas falsas: 1/a de que Lula tenha tomado sua decisão final a respeito da vice, 2/a de que Lula seria infalível, 3/a de que é proibido apresentar provas em contrário e, finalmente, 4/a de que ao Partido cabe apenas homologar a decisão pessoal do candidato.
Na contramão, pode-se argumentar o seguinte: o melhor momento para decidir a vice não é agora, ninguém é infalível, existindo divergência haverá votação e nosso partido se construiu com base no debate.
Faltam 11 meses para a eleição e um pouco menos para o registro das candidaturas. O quadro eleitoral ainda não está definido.
Há na classe dominante entre três posições: 1/apoiar a reeleição de Bolsonaro, 2/alavancar uma terceira candidatura capaz de suplantar Bolsonaro e derrotar Lula e 3/buscar um “acordo” com a candidatura Lula. Esta terceira posição é minoritária.
Os petistas que defendem decidir agora a candidatura a vice, indicando para o lugar um nome de direita, golpista e neoliberal, acham que isso esvaziaria a tal terceira candidatura.
O raciocínio acima é geralmente acompanhado de três pressupostos: 1/achar que Alckmin é mais forte do que ele realmente é (fato: a votação do chuchu em 2018 foi de 5%, ficou em quarto lugar, o pior desempenho da história do PSDB), 2/achar que é mais fácil derrotar Bolsonaro do que a “terceira candidatura” (esvaziando esta, sobraria o adversário supostamente mais fácil de derrotar) e 3/achar que é possível concluir a disputa no primeiro turno (algo que não conseguimos nem quando estávamos na presidência).
Aliás, um grande risco desta tentativa de fazer no
primeiro turno alianças típicas de segundo turno é, em caso de segundo turno,
não ter muito mais para onde crescer.
Para além destes problemas de natureza eleitoral, escolher um vice de direita (Alckmin ou coisa parecida) traz outros problemas. A lista de problemas inclui: 1/se acontecer algo com Lula; 2/facilitar a conspiração; 3/dar indevido espaço no governo; 4/transmitir uma má sinalização programática.
Os que acham que Lula é infalível, provavelmente também acreditam que nunca farão nada acontecer contra ele, assim como acreditam que nunca aconteceria – contra Lula – algo parecido com o que fizeram com Dilma.
E é provável que acreditem que, por mais espaços Alckmin ocupe no governo, seus indicados não causariam mais dano do que os provocados pela dupla Palocci e Meirelles (talvez tenham razão nesse ponto, mas sempre é bom lembrar que o execrável Ricardo Salles, o defensor de “passar a boiada”, foi secretário particular e Secretário do Meio Ambiente de Alckmin).
E aí entramos no problema de fundo: a escolha de um vice da direita, golpista e
neoliberal, tem implicações programáticas. A pergunta é: quais? Incrivelmente,
os que defendem Alckmin não respondem a esta pergunta.
E sinalização programática não se faz apenas com programa de governo, embora este seja muitissimo importante.
Concordemos ou não, a escolha da chapa Lula e José Alencar tinha uma simbologia positiva, na contramão da lógica tucana neoliberal. Já uma chapa Lula-picolé de chuchu teria qual simbologia positiva?
Para quem já foi totalmente ganho para votar contra Bolsonaro, talvez seja a de “unidos com uma parte da direita, certamente venceremos a outra parte da direita”.
Mas para quem não foi totalmente ganho para esta posição (e há muitas dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras nesta situação), está chapa mandaria qual sinal?
Uma das respostas possíveis aparece na
especulação de que Armínio Fraga poderia virar ministro...
Aliás, um dos problemas dos que defendem Alckmin ou equivalente é não perceberem que nosso foco principal é disputar as camadas populares, não “dividir a centro direita”.
A divisão no lado de lá certamente é útil para nós e devemos incentivar, mas se o preço pago para dividir o lado de lá for perder nossa capacidade de disputar o povo, então é péssimo negócio.
O problema é que os mesmos que acham Lula infalível, inatingível e indestrutível, também acham que Lula – com qualquer programa, com qualquer aliança, com qualquer linha de campanha e com qualquer vice – será sempre capaz de disputar e ganhar o povo para o nosso lado.
Talvez por isso, ou seja, talvez por colocarem todo o serviço nas costas de Lula, há alguns que não se preocupam tanto com a eleição presidencial, mas sim com outras coisas, por exemplo: 1/a eleição para governo de São Paulo e 2/a governabilidade.
Exemplo típico desse raciocínio, tirado de uma dessas listas de debate entre dirigentes petistas: “na Centro direita, o melhor vice é o Geraldo Alckmin. Porquê? O Alckmin está em primeiro lugar para Governador de São Paulo nas pesquisas eleitorais. Em segundo lugar está o Haddad. Quando tiram o Alckmin como Candidato a Governador de São Paulo, o Haddad assume a liderança. E, com relação a ser um bom vice, sem dúvidas, pois é o que apresenta, entre os possíveis vices, a melhor performance eleitoral. Ou seja, com Geraldo Alckmin na vice do Lula, aumentamos as possibilidades de vencermos no primeiro turno, e aumentamos as possibilidades de conquistarmos o governo de São Paulo. Portanto, nada de sectarismo inconsequente”.
Não é maravilhoso? De uma só cartada, vamos ganhar o Brasil e São Paulo. Tudo graças ao picolé de chuchu.
Por isso, nada de "sectarismo inconsequente", ou seja, nada de falar sobre o "sectarismo consequente" daquele tipo registrado na manchete abaixo.
Perfeito seu raciocínio. Não podemos desistir de fazer esse debate. Dentro do PT e nas redes. É preciso fazer pelo menos alguns pensarem.
ResponderExcluirParece torcida de futebol e não uma preocupação com o país...
ResponderExcluirConcordo com seu raciocínio, Valter.
Valter sempre muito esclarecedor com sua fala, que clareza! Concordo plenamente, o picolé de chuchu só enfraquece o PT do Lula! N podemos aceitar essa chapa com o neoliberal como o PSDB de FHC, que pra mim tem o dedo dele, a Globo golpista está alucinada com essa chapa, o picolé de chuchu não ajuda em nada o nosso Lula ao contrário sim e muito.
ResponderExcluirO PSB quer que Lula aceita ficar fora das candidaturas nas principais capitais em troca do apoio, de jeito nenhum Lula não pode concordar com isso
ResponderExcluirComo seria bom se tivéssemos uma bola de cristal para visualizar o futuro. Por exemplo, Lula vai desprivatizar a bandalheira realizada pelo governo ilegítimo e pirata de Bolsonaro. Alckmin e contra. Lula vai desfazer as medidas antitrabalhador e antissocial desde Renner golpista. Alckmin é contra. Lula irá demarcar terras indígenas e fazer a Reorma Agrária. Alckmin é contra. Lula irá teconstruir toda a estrutura de defesa do meio ambiente destruída por Bolsonaro e devolver as terras usurpadas pelos grileiros e fazendeiros do agronegócio, assim como proibir o garimpo ilegal. Alckmin e contra. Lula pretende taxar grandes fortunas para financiar o bolsa família e a educação popular. Alckmin et contra. E por assim vai.o que vocês pensam que irá acontecer com o inimigo morando em nossa casa?
ResponderExcluirCom o inimigo em nossa casa só vai acontecer o pior! Não sei onde o Lula está com a cabeça! 👊✊🤝❤
ExcluirEu me chamo Paulo. E desculpem-me o trocar de letras.😁
ResponderExcluirO que vocês pensam sobre isso? Alckimin será sempre um entrave fincado no meio de campo atrasando a passagem da bola para impedir os gols que queremos.
ResponderExcluirAcho que por enquanto esse debate é interessante porque está colocando Lula em evidência e reduzindo a importância da terceira via. Ainda se tem 4 meses para a decisão de quem vai ser o vice. Lula está sendo assunto na mídia nas duas últimas semanas, seja por conta da entrevista no podpah, seja em razão da discussão se o picolé de chuchu deveria ser seu vice. E isso é bom para a candidatura Lula, mesmo que depois seja escolhido outro vice.
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ResponderExcluirQual setor da classe dominante quer ou demonstra o desejo de um “acordo” com a candidatura Lula? Sinceramente não as conheço.
ResponderExcluirNão tenho nada contra o pragmatismo desde que ele entregue o que promete. Mas infelizmente o pragmatismo (ou o realismo) falha justo naquilo que mais lhe é caro: obter resultados. A vantagem do pragmatismo é que ele nunca tem que render contas das promessa não cumpridas, nem para os outros nem para si próprio. Basta se apresentar sempre de novo, com aquele ar ligeiro, sem aqueles pesados trajes dos convictos, vendendo a mesma promessa. Me parece que o PT avançou mais pelos fundamentos e compromissos fundacionais do que pelos cálculos apressados. Contra tudo e contra todos não ingressou na grande aliança da Nova República, contra tudo e contra todos lutou contra os planos de estabilização econômica dos anos 80 e 90 que jogavam nas costas dos assalariados o custo dos ajustes, contra tudo e contra todos apoiou os principais movimentos sociais do Brasil, contra tudo e contra todos rejeitou as lições da sabedoria convencional neoliberal desde sempre, contra tudo e contra todos conseguiu construir o maior partido político de esquerda numa época de retração da esquerda em todo o mundo. Prefiro essa colunas estruturais do que um belo telhado de vidro.
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