O resultado das recentes eleições na Argentina e a movimentação golpista da oposição na Bolívia, sem falar no crescimento da extrema-direita pinochetista no Chile e na força do trumpismo nos EUA, confirmam que há momentos da luta de classe em que moderação não gera moderação.
Há situações
em que por razões objetivas e subjetivas, os conflitos escalam mesmo que
um dos lados esteja disposto a dar dois passos atrás. O caso clássico é o do acordo
de Munique entre Daladier, Chamberlaim, Hitler e Mussolini. Os dirigentes da França
e da Inglaterra - para lembrar das
palavras proféticas de Churchil - “entre a desonra e a guerra, escolheram a desonra e
terão a guerra”.
Mas não é preciso
ir até a Europa de 1938 para buscar exemplos de moderação contraproducente. Os
últimos vinte anos estão cheios de exemplos, entre os quais a nomeação de
Joaquim Levy para ministro da Fazenda. O objetivo era deter a movimentação golpista,
acelerada desde o final do segundo turno de 2014. Mas a nomeação de Levy teve o
efeito oposto: dividiu a esquerda, causou efeito negativos no povo, mandou para
a direita um sinal de fraqueza e acentuou a escalada golpista.
Hoje muito
gente percebe isso. Mas não era assim naquela época: é bom lembrar que no ano de 2015, cerca de 55% do
congresso nacional do PT reunido em Salvador (Bahia) votou contra uma
resolução que exigia uma mudança imediata na política econômica. Entre os que
votaram contra, havia de tudo: os que concordavam com a política de Levy, os que
achavam que havia tempo para corrigir o rumo, os que minimizavam o problema e
até os que temiam contrariar a presidenta (argumento bizarro, mas que serviu de "desculpa" para muita gente boa não cumprir um dever básico).
O tempo
passou, veio o golpe e hoje muitos padrinhos e cúmplices ativos ou passivos daquela política econômica tiram o
seu da reta e criam teorias surreais sobre o golpe de 2016, como se ele tivesse
sido um ex abrupto que supostamente poderia ter sido evitado caso a
presidenta fosse mais afeita a fazer “DR” com a classe dominante e seus representantes
no parlamento.
Quem pensa
assim está, como é óbvio, entusiasmado com a receita “lula com chuchu”. Acham que
fazer uma aliança assim – ou simplesmente considerar a hipótese, já que a aliança mesmo são outros quinhentos - seria a
garantia de vitória eleitoral e o passaporte da governabilidade, não se importando
com o “detalhe” de que isto pressuporia um acordo programático entre o PT e a tucanagem (esteja ela dentro ou fora do PSDB).
Acordo parecido
foi costurado por Palocci e implementado entre 2003 e 2005. Até hoje há quem
considere que aquele teria sido um “preço a pagar”, assim como hoje há quem acredite que
uma aliança com a direita gourmet seria o preço a pagar para sairmos do pesadelo
bolsonarista.
Infelizmente,
tudo isto é wishful thinking, baseado em várias premissas falsas, algumas
das quais foram abordadas em um artigo de Jorge Branco, publicado no Brasil de
Fato no dia 15 de novembro. O artigo em questão intitula-se “Nixon goes to
China” e pode ser lido aqui: https://www.brasildefators.com.br/2021/11/15/nixon-goes-to-china
No artigo se
diz que estaria em curso um “relevante deslocamento de setores do grande
capital internacionalizado, em busca de uma alternativa política progressista,
a fim de travar a caminhada do bolsonarismo”. Jorge Branco ressalva que “o cavalo
de pau da grande burguesia internacionalizada tende a não ser acompanhada pela ‘massa
de empresários’ ideologicamente aderente ao bolsonarismo”. Mas considera que o
movimento existe e estaria por detrás da “transmutação de Alckmin de neoliberal
à social-liberal”.
Qual a
diferença entre um “neoliberal” e um “social-liberal”? Quais seriam os sinais
de que Alckmin antes era um e agora é outro? Alckmin seria um representante do “grande
capital internacionalizado” que supostamente estaria em busca de uma “alternativa
política progressista”? Bolsonaro e Guedes seriam representantes da “massa de
empresários”? Dória e Leite seriam expressões de que setor?
Não sei que
respostas Jorge Branco dá para estas e outras questões correlatas. Talvez a
resposta esteja em algum outro artigo que eu ainda não tive a oportunidade de
ler. Entretanto, sou de opinião que ele está se iludindo. Explico.
O grande
capital apoiou o tríplice golpe e lucrou bastante com isto. Sua preocupação atual não
é “travar a caminhada do bolsonarismo”. A maior preocupação do grande capital é
preservar as conquistas obtidas desde o impeachment. E o que ameaça
estas conquistas? A crescente possibilidade de uma vitória de Lula que conduza a uma guinada programática. Como superar esta ameaça? Há três
possibilidades: reeleger Bolsonaro, eleger uma “terceira via” e
domesticar a esquerda.
Não importa
quem ou quantos a apoiem, esta terceira possibilidade não é, portanto, um
cavalo de pau programático. Melhor dizendo: não seria um cavalo de pau
programático para o grande capital. Para a esquerda, seria!
Isto posto,
algumas dúvidas: caso continue até o fim a polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro,
o grande capital vai preferir apostar em domesticar a esquerda? Uma esquerda
domesticada teria mais chances eleitorais? Caso ganhe, uma esquerda domesticada
teria mais governabilidade?
Os que respondem “sim” para as três dúvidas acima raciocinam como se a situação nacional e mundial de 2022-2023 possa vir a ser parecida com a de 2002-2003.
Já os que respondem que não” reconhecem que o cenário de 2022-2023 será muito diferente daquele que existiu há 20 anos, motivo pelo qual o espaço para “caminhos de centro”, acordos e conciliações é hoje ainda menor do que era naquela época. Aliás, mesmo naquela época o “grande capital internacionalizado” e a “massa de empresários” nunca foram com a nossa cara: preferiam os tucanos, que começaram a implementar o neoliberalismo quando Bolsonaro era apenas mais um “viúvo” da ditadura.
É, digamos, "compreensível" que - por medo de um segundo mandato do cavernícola - haja gente de esquerda disposta a cometer uma "desonra" (concessões inaceitáveis ao inimigo neoliberal). É bem menos "compreensível" a tranquilidade com que alguns consideram a hipótese sadomasoquista de um neoTemer na vice. O que não é compreensível é achar que nesse caso a "transmutação" em social-liberal seria de Alckmin.
Acredito que o próprio Lula tende à aceitar a tal "desonra", a não ser que tenha aprendido que com inimigos não se brinca, pois nomearam os inimigos para comporem o aparelho repressivo e deu no que deu.
ResponderExcluirProfessora Bebel é barrada ao tentar falar com secretário da Educação
ResponderExcluirhttps://revistaforum.com.br/noticias/video-professora-bebel-e-barrada-secretaria-da-educacao/
Presidenta da APEOESP: aliança com Alckmin não será tolerada
https://www.causaoperaria.org.br/rede/dco/politica/politica-geral/presidenta-da-apeoesp-alianca-com-alckmin-nao-sera-tolerada/
A água tá esquentando...
Mais pressão