O texto abaixo foi escrito no dia 31 de julho de 2020. Desde então, já ocorreram duas reuniões do Diretório Nacional do PT e a proposta nele contida ainda não foi submetida a votação. Espero que o seja, na próxima reunião, dia 17 de agosto.
Ao Diretório Nacional do PT
Na reunião passada,
informei que responderia por escrito a mensagem da companheira Sonia Braga,
acerca do recurso apresentado por um grupo de filiados ao PT de São Paulo
capital.
Resumidamente,
estes filiados tinham direito a votar na escolha de quem seria nosso candidato
a prefeito de São Paulo. Não exerceram este direito, porque não estavam de
acordo com o método adotado e porque queriam fazer um recurso à direção nacional
do Partido. Não se trata de um recurso formal, mas sim de um recurso político. Entretanto,
a companheira Sonia Braga descartou o recurso, argumentando razões formais.
Para não
gastarmos tempo com questões de método, vou direto ao mérito: o Diretório
Nacional do PT chamou para si a decisão final sobre a tática do Partido nas
eleições. Por exemplo, decidimos quem seria a candidata do PT em Recife, contra
a posição majoritária das instâncias naquela cidade. O que vale para Recife, pode
valer para São Paulo. Portanto, estou propondo que o Diretório Nacional do Partido
convoque o companheiro Fernando Haddad para ser nosso candidato a prefeito de São
Paulo.
Faço esta
proposta ao Diretório Nacional, reconhecendo -- como é óbvio -- que já temos um
candidato. O método adotado – um colégio eleitoral com algumas centenas de
pessoas – foi legalizado pela direção nacional. E, também do ponto de vista
formal, do ponto de vista da legalidade interna e externa, é irrelevante que o
vitorioso tenha vencido por minúscula diferença; fosse por 1 voto de diferença,
ainda assim ele seria o candidato. Também do ponto de vista formal, é irrelevante
que logo depois um partido concorrente tenha demonstrado ser possível fazer uma
prévia aberta a todos os filiados e filiadas, respeitando as determinações
sanitárias. Como já foi dito anteriormente, mesmo equivocada, mesmo reduzindo a
legitimidade da escolha, a decisão de adotar um colégio eleitoral restrito foi
legalizada pela direção nacional do Partido.
Entretanto,
como já expliquei, meu questionamento não é formal. Aliás, sou signatário de um
manifesto público apoiando a candidatura do PT à prefeitura de São Paulo. Portanto,
não tenho nenhuma dúvida acerca de quem é nosso candidato.
Todavia, se
a última palavra é do Diretório Nacional, é meu direito como dirigente nacional
deste partido apresentar este recurso político, cabendo ao Diretório acatar ou
recusar.
Evidente que
a campanha eleitoral está apenas começando. O PT tem muita força e pode,
falando em tese, levar sua candidatura ao segundo turno e pode inclusive vencer
as eleições, qualquer que seja nosso candidato. Portanto, embora eu seja
pessimista em relação ao que vai ocorrer, não considero impossível que ocorra o
oposto e entendo que devamos fazer todo o esforço para ir ao segundo turno e
vencer. Minha posição, como é público, é que não existe nenhuma possibilidade
de retirarmos nossa candidatura, em favor de um nome de outro partido, não
importa o que digam as pesquisas.
Entretanto,
as chances de irmos ao segundo turno e as chances de vencer serão muito maiores
se nosso candidato for o companheiro Fernando Haddad.
Acredito que
todos concordam com isso. Aliás, os argumentos contra a candidatura de Haddad à
prefeitura de São Paulo consideram que ele não deve ser candidato a prefeito,
exatamente porque seu papel seria o de ajudar na campanha em todo o país, ou
seja, o de ajudar a ampliar o desempenho das candidaturas petistas em todo o
Brasil. Portanto, ninguém coloca em dúvida seu potencial eleitoral.
Respeito o
argumento e espero que, caso Haddad não seja candidato a prefeito de São Paulo,
ele se dedique prioritariamente à campanha nacional, contribuindo com nossas
candidaturas em todo o país.
Entretanto, acho
que não podemos desconsiderar as características que a pandemia confere à
campanha de 2020, características que permitem combinar a campanha em São Paulo
com apoiar a campanha nas demais cidades do país.
Acho, também,
que não podemos subestimar o impacto político nacional de uma derrota política
(não apenas eleitoral) na cidade de São Paulo. Nem podemos subestimar o efeito
positivo que terá, nas campanhas de todo o país, uma campanha politicamente
forte em São Paulo.
Outro
argumento utilizado contra a candidatura do companheiro Haddad à prefeito de São
Paulo é o de que, ganhando ou perdendo em 2020, isto dificultaria sua
candidatura em 2022.
Na minha
opinião, a/não sabemos ao certo como será 2022, planos a respeito são
necessariamente suposições; b/ter um bom desempenho em 2020 é essencial para o
que vai acontecer depois, seja em 2022, seja antes; 3/não está dado que Haddad
venha a ser o nosso candidato em 2022, seja porque Lula pode recuperar seus
direitos, seja por que outra candidatura petista pode vir a se colocar;
4/Haddad perdeu as eleições municipais em 2016 e foi candidato a presidente em
2018; 5/se vitorioso em 2020, a decisão sobre o que fazer a seguir é um bom
problema, não um mal problema.
Enfim,
proponho que o Diretório Nacional convoque o companheiro Haddad para a tarefa. Não
sendo esta a decisão, cabe buscar o melhor resultado e fazer o balanço depois. Neste
caso, se mantida a atual candidatura, espero que o engajamento do conjunto do
partido, assim como o engajamento pessoal de Lula e de Haddad, consigam nos
levar ao segundo turno e à vitória.
Concluo afirmando
que espero que esta reunião do Diretório Nacional faça um balanço cuidadoso da
situação política e eleitoral. A situação do país é muito grave e precisamos
adotar uma tática adequada, sob pena da eleição de 2020 não resultar naquilo
que todos pretendemos.
Saudações
petistas
Valter Pomar
31 de julho
de 2020
Será que há líquidos entre meandros e ordens.
ResponderExcluirHaddad está entre a cruz e a espada, se é que os grupos antagonistas(sic) podem dizer isso.
Quem sobreviver, talvez possa ser o último a contar ...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCompanheiro Valter, o PT já tem candidato e está em pré-campanha.
ResponderExcluirHá quem não gosta do candidato por suas origens na periferia, seu compromisso com o partido e sua disposição de radicalizar o programa como nunca vi na história do PT. Único candidato que eu vi em 26 anos de militância ouvir a militância em cada bairro.
Não sou pela disciplina burocrática. Há no Psol e na campanha do Guilherme uma ala que pouco se importa com as eleições: quer usar o processo como uma sanguessuga para minar o PT. Faz parte.
Há também aqueles que são seduzidos pela cantilena que tem ganhado espaço na Folha contra o PT: foi assim com Heloísa, Marina e outros.
A adesão do ex-Chanceler que tanto apoiou a ocupação do Haiti (aquela dos massacres nas comunidades) com casco azul da ONU pagando em dólar para a futura cúpula do governo Bolsonaro (generais) se articular com os americanos não é nenhum prejuízo.
Outros ex-ministros, secretários e outros intelectuais não gostam dos militantes que seguram nas costas a vida do partido. Que enfrentaram todos os ataques e adversidades. Aqueles que assumem as tarefas de partido. Chamam de "burocracia" quem carrega a estrela no peito e enfrenta a luta com pé no barro nas comunidades, favelas e das lutas populares e sindicais. Quem defendeu o PT quando muitos queriam virar a página (lembra da AP 470?). Faz parte da crise.
É hora de trazer o Lula para campanha do Jilmar e ir para a batalha frente.
Caro amigo
ExcluirConcordo com sua opinião.
O partido já escolheu o seu candidato, Jilmar Tatto, recuar agora é a possibilidade de perder duas vezes.
Já vencemos 3 vezes em cenários sempre improvável.
Agora é fazer a disputa de projetos e conquistar o espaço que só o PT ocupada no eleitorado paulistano.
Acho tudo muito estranho e incompreensível! Haddad já desistira de ser candidato lá atrás, antes da Plenária. Sete candidatos se dispuseram, a maioria deles desistiu de suas candidaturas e restaram Tatto e Padilha. este último foi derrotado e permaneceu Tatto. O Processo foi irregular ou ilegal? Foi antidemocrático dentro das circunstâncias possíveis?
ResponderExcluirNão consigo ver qual é o problema. Tatto é o candidato escolhido e toda este misto de celeuma com choramingos é que poderá enfraquecer a candidatura escolhida, pois são destes fatos que se alimentam os inimigos. Tatto tem experiência, apesar de ainda ser pouco conhecido e, principalmente, da classe média. E daí? Vamos divulgá-lo com a campanha e vamos dar espaço para o que ele já está fazendo, rompendo com esta má vontade que existe nas esquerdas e seus blogs de lhe dar o devido espaço.
O PT que conheço de nascença e que ajudei a criar nunca encontrou facilidades. E neste momento encontrará muito menos. Pelo acompanho, tendo que garimpar sobre, Tatto está comprometido e fazendo o que deve ser feito e que sabe fazer muito bem: arregaçar as mangas e sair à luta.