Boa noite a
todas.
Boa noite a
quem aqui na sala zoom.
Boa noite a
quem está nos acompanhando on-line através do youtube.
Cumprimento,
também, a quem venha nos assistir noutro momento.
Meu nome é
Valter Pomar.
Sou professor
de relações internacionais na Universidade Federal do ABC.
E faço parte
da equipe de professores voluntários da Escola Latinoamericana de História e
Política, a ELAHP.
Hoje vamos dar
continuidade ao curso de “Leitura dirigida de O Capital”.
Este curso está
planejado para durar 16 aulas, toda sexta-feira, das 19h as 21h.
As duas
primeiras aulas, a da sexta-feira passada, 14 de agosto e a de hoje, 21 de
agosto, são aulas introdutórias.
No dia 14
falamos do “capitalismo, história e teorias: por que estudar O Capital? A história
da elaboração de O Capital”.
Hoje, dia 21 de agosto, falaremos da obra “Contribuição à Crítica da
Economia Política”. E voltaremos a falar um pouco da história da elaboração de
O Capital.
A partir de 28 de agosto e até o dia 27 de novembro, discutiremos o volume I
de O Capital, capítulo por capítulo.
Repito aqui o que já
disse na aula passada sobre o método: eu farei uma descrição do conteúdo do
capítulo. Havendo tempo, responderei perguntas aqui mesmo. Não havendo tempo,
responderei perguntas feitas por email. Recomendo perguntas por escrito.
Como eu sou o único
professor alocado neste curso, caso eu tenha alguma dificuldade, há duas possibilidades:
ou eu gravar a aula (nesse caso não seria online) ou eu pedir a alguém que me
substitua extraordinariamente.
O que vocês devem
fazer? Ler os capítulos antes, acompanhar as aulas e, se possível, ler os capítulos
depois, novamente.
Evidentemente, quem
perder a aula ao vivo, poderá assistir posteriormente. E se houver necessidade
de fazer alguma aula extraordinária, o faremos.
#
Na aula passada, já comentamos que a gestação do
livro O CAPITAL ocorre entre 1850 e 1867.
Ao longo desses 17 anos, Marx leu e glosou centenas
e centenas de livros.
E tomou notas, milhares de páginas de anotações.
E escreveu e reescreveu várias versões, que ele
chamava de monografias.
Algumas dessas versões simplesmente sumiram, outras
talvez não tenham existido.
O mais importante dos manuscritos desse período é conhecido pelo nome Grundrisse.
O nome vem de um trecho escrito pelo próprio Marx,
numa carta a Engels, datada de 8/12/1857: “trabalho como um louco as noites
inteiras coordenando meus estudos econômicos, para esclarecer ao menos os elementos
fundamentais antes do dilúvio”.
GRUNDRISSE DER KRITIK DER POLISTICHEN OKONOMIE (ROHENTWURF).
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CRITICA DA ECONOMIA
POLITICA (BORRADOR).
Os cadernos manuscritos que hoje conhecemos por
Grundrisse foram redigidos entre 1857 e 1858.
Em 1859 Marx publicou um livro chamado Contribuição
à crítica da Economia Politica.
Depois produz um novo manuscrito, que hoje está
também à disposição, desta vez com o título de Manuscritos de 1861-1863.
E, finalmente, vai lapidando o volume I de O Capital,
que virá à luz em 1867.
Portanto, a Contribuição à critica da Economia
Política é o livro que antecede O Capital, EMBORA ENTRE UM E OUTRO
EXISTA MUITO TRABALHO INTERMEDIÁRIO.
Para os especialistas em Marx, é um prato cheio.
Para nós, é mais uma lembrança de que nada caiu do
céu, tudo é produto do trabalho duro.
O conteúdo do livro Contribuição foi reaproveitado
em O Capital.
O capítulo sobre mercadoria da Contribuição
aparecerá basicamente no capítulo sobre mercadoria do Capital, naturalmente
reelaborado.
E o capítulo sobre dinheiro da Contribuição
aparecerá no capítulo sobre dinheiro de O Capital, e também em outras passagens.
Naturalmente, há novidades: a principal delas,
segundo os marxólogos, é a distinção clara entre valor e valor de troca.
#
O índice da Contribuição é o seguinte:
ÍNDICE
Prólogo ...
Libro primero.
ACERCA DEL CAPITAL
Sección
primera. EL CAPITAL EN GENERAL.
Capítulo primero.
LA MERCANCÍA . . .
A.
CONSIDERACIONES HISTÓRICAS SOBRE EL ANÁLISIS DE LA MERCANCÍA
Capítulo
segundo. EL DINERO O LA CIRCULACIÓN SIMPLE
1. Medida de
los valores
B. TEORÍAS DE
LA UNIDAD DE MEDIDA DEL DINERO
2. Medio de
circulación
a)
Metamorfosis de las mercancías
b) La circulación
del dinero
c) El
numerario. Signo de valor
3. El dinero
a)
Atesoramiento
b) Medio de
pago
c) Dinero
mundial
4. Los metales
preciosos
TEORÍAS DE LOS
MEDIOS DE CIRCULACIÓN Y DEL DINERO
#
Notem que, hipoteticamente,
a Contribuição era para ser o capitulo 1 e 2 da primeira seção do primeiro
livro.
Em alguns
momentos, Marx e Engels chegam a referir-se a Contribuição como um fascículo.
Aliás, naquela
época isso era muito comum, publicar obras em fascículos.
Mas não houve segunda
seção, não houve primeiro livro.
Houve outro
livro, a saber: O Capital.
#
Como nosso objetivo
neste curso é estudar O Capital, não vou aqui tratar destes capítulos da
Contribuição que são reaproveitados em O Capital e, portanto,
estudaremos os assuntos tratados neles, com base no que Marx escreverá
posteriormente em O Capital.
#
Na aula de
hoje, portanto, vou me dedicar ao que foi abordado no Prólogo (ou prefácio) à Contribuição,
que foi publicado junto com o livro de mesmo nome.
Noutro momento
do curso, abordarei o que é dito em dois outros textos, que remetem à Contribuição:
- uma resenha
escrita por Engels, em 1859
-a chamada Introdução,
que foi um texto escrito em 1857, que Marx não incluiu na Contribuição,
que ficou em formato manuscrito, que foi descoberto depois e publicado por
Kautsky em 1903.
(A maioria das
edições modernas da Contribuição publicam a tal Introdução como
anexo, gerando algo divertido: um Prefácio no início e uma Introdução no
final... )
Comecemos,
então, com o Prólogo ou Prefácio. Citarei trechos e, em seguida, farei breves
comentários.
#
“Examino el
sistema de la economía burguesa en el orden siguiente: capital,
propiedad agraria, trabajo asalariado, Estado, comercio exterior, mercado
mundial.”
“Bajo las tres
primeras rúbricas estudio las condiciones económicas de vida de las tres
grandes clases en que se divide la sociedad burguesa moderna; la interconexión
de las tres restantes salta a la vista”.
-estes seis temas
citados (capital, propiedad agraria, trabajo asalariado, Estado, comercio
exterior, mercado mundial) faziam parte do plano original de O Capital.
-o plano foi
modificado posteriormente e o que conhecemos hoje é o livro 1 sobre a produção,
o livro 2 sobre a circulação e o livro 3 sobre o processo visto em seu
conjunto.
-sobre as
alterações no plano da obra, recomendo a leitura do Roman Rosdolski, Gênese
e estrutura de O Capital de Marx (estudos sobre os Grundisse).
-notem, por
outro lado, a importância da propriedade agrária no roteiro original. A terra,
a questão agrária etc. não é e nunca foi um tema secundário para Marx, como
podem pensar alguns.
#
“La primera
sección del libro primero, que trata del capital, se compone de los capítulos
siguientes: 1) la mercancía; 2) el dinero o la circulación simple; 3) el
capital en general. Los dos primeros capítulos forman el contenido del presente
fascículo”.
-ou seja,
reiterando o que já foi dito antes, o livro Contribuição à crítica da economia
política (QUE ELE CHAMA DE “PRESENTE FASCICULO”) CONTEM DOIS CAPITULOS DOS
TRES CAPITULOS QUE FARIAM PARTE DA PRIMEIRA SEÇÃO DO PRIMEIRO LIVRO, AQUELE
SOBRE O CAPITAL.
-como sabemos,
ao invés de publicar outros fascículos, ele fica entre 1859 e 1867 burilando e
acaba publicando o primeiro tomo de O Capital, deixando outros dois
volumes pré-prontos.
#
Ainda na Contribuição,
ele dirá o seguinte:
“Tengo ante mis
ojos todos los materiales en forma de monografías escritas con largos
intervalos para mi propio esclarecimiento y no para su publicación; la
elaboración sistemática de las mismas conforme al plan indicado dependerá de
circunstancias externas”.
-como sabemos,
reiterando, não foi isso o que aconteceu. Entre 1859 e 1867 Marx:
-MUDA O PLANO
-REDIGE E PUBLICA
EM 1867 O VOLUME 1
-DEIXA OS OUTROS
SEMI PRONTOS
-E MORRE em
1883
-para nossa sorte,
existia o Engels
#
“Prescindo de
una introducción general que había esbozado, porque, bien pensada la cosa,
me parece que el anticipar los resultados que todavía han de demostrarse podría
ser un estorbo, y el lector que quiera realmente seguirme deberá estar
dispuesto a remontarse de lo singular a lo general”.
-ESTA “INTRODUÇÃO
GERAL”, ONDE ELE SUPOSTAMENTE ANTECIPARIA OS RESULTADOS, E POR ISSO DECIDIU NÃO
INCLUIR NO CONTRIBUIÇÃO A CRITICA DA ECONOMIA POLITICA, É a tal
introdução sobre a qual já falamos.
#
“Sin embargo,
me parece oportuno dar aquí algunas indicaciones sobre la trayectoria de mis
propios estudios de Economía política.”
“Aunque el
objeto de mis estudios especializados fue la jurisprudencia, la consideraba
sólo como una disciplina subordinada al lado de la filosofía y la historia. En
1842-1843, siendo director de la Rheinische Zeitung, me vi por primera vez en la
embarazosa obligación de pronunciarme sobre lo que se llama intereses materiales.
Las deliberaciones del Landtag renano sobre la tala furtiva y
el fraccionamiento de la propiedad agraria, la polémica oficial sostenida entre
el señor von Schaper, entonces gobernador de la provincia renana, y la Rheinische
Zeitung acerca de la situación de los campesinos de la Mosela, y,
finalmente, los debates sobre el librecambio y las tarifas proteccionistas me
dieron los primeros impulsos para ocuparme de cuestiones económicas”.
-OU SEJA, ELE RECONHECE
QUE NÃO ENTENDIA MUITO DO ASSUNTO...
“Por otra
parte, en esa época, cuando las buenas intenciones de "adelantarse"
superaban con mucho el conocimiento de la materia, la Rheinische
Zeitung dejaba traslucir un eco, ligeramente teñido de filosofía, del
socialismo y el comunismo franceses. Me pronuncié contra ese diletantismo, pero
al propio tiempo confesé francamente, en una controversia con la Allgemeine
Augsbürger Zeitung, que mis estudios hasta entonces no me permitían
arriesgarme a expresar juicio alguno sobre el tenor mismo de las tendencias
francesas”.
...OU
SEJA, NOVAMENTE ELE RECONHECE QUE NÃO
ENTENDIA DO ASSUNTO
“Aproveché con apresuramiento la ilusión de
los dirigentes de la Rheinische Zeitung, quienes esperaban que
suavizando la posición del periódico iban a conseguir la anulación de la
sentencia de muerte pronunciada contra él, para abandonar el escenario público
y retirarme a mi cuarto de estúdio”.
“El primer trabajo
que emprendí para resolver las dudas que me asaltaban fue una revisión crítica
de la filosofía hegeliana del Derecho, trabajo cuya introducción apareció en
1844 en los Deutsch-Französische Jahrbücher, publicados en
París”.
-ESSE ACIMA -- Crítica
da filosofia do direito de Hegel -- É O PRIMEIRO TEXTO
ESPECÍFICO QUE ELE CITA, ALÉM DOS IMPLICITOS TEXTOS JORNALISTICOS.
-VEJAMOS A
SEGUIR O QUE ELE DESTACA COMO CONCLUSÃO OU TESE FUNDAMENTAL:
“Mis
indagaciones me hicieron concluir que tanto las relaciones jurídicas como las
formas de Estado no pueden ser comprendidas por sí mismas ni por la pretendida
evolución general del espíritu humano, sino que, al contrario, tienen sus
raíces en las condiciones materiales de vida, cuyo conjunto Hegel, siguiendo el
ejemplo de los ingleses y franceses del siglo XVIII, abarca con el nombre de
"sociedad civil", y que la anatomía de la sociedad civil debe
buscarse en la Economía política”.
-OU SEJA, AS
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO CENTRAIS;
-RELAÇÕES DE
PRODUÇÃO SÃO AS RELAÇÕES QUE OS SERES HUMANOS ESTABALECEM ENTRE SI PARA PRODUZIR
E REPRODUZIR AS SUAS CONDIÇÕES DE VIDA, A SUA VIDA EM SOCIEDADE, PORTANTO A SOCIEDADE
COMO UM TODO;
-A MESMA IDEIA
É DESENVOLVIDA EM A IDEOLOGIA ALEMÃ.
“Comencé el estudio de esta última en París y
lo proseguí en Bruselas, adonde me trasladé en virtud de una orden de expulsión
dictada por el señor Guizot. El resultado general a que llegué y que, una vez
obtenido, sirvió de guía a mis estudios puede formularse brevemente como sigue:”
VEJAMOS ITEM A
ITEM O QUE ELE DIZ E CHAMEMOS A ATENÇÃO PARA ALGUMAS CATEGORIAS E ENFASES:
“En la
producción social de su vida, los hombres entran en determinadas relaciones
necesarias e independientes de su voluntad, relaciones de producción, que
corresponden a un determinado grado de desarrollo de sus fuerzas productivas
materiales”.
...RELAÇÕES DE
PRODUÇÃO...
...CORRESPONDEM...
...A UM
DETERMINADO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS MATERIAIS...
-QUE RELAÇÕES?
-QUE GRAU DE
DESENVOLVIMENTO?
-COMO SE CORRESPONDEM?
-ISTO TUDO DEVE
SER ESTUDADO E RESPONDIDO CONCRETAMENTE
“Estas
relaciones de producción en su conjunto constituyen la estructura económica de
la sociedad, la base real sobre la cual se erige la superestructura jurídica y
política y a la que corresponden determinadas formas de conciencia social”.
-NOTEM QUE O
TERMO RELAÇÕES DE PRODUÇÃO PODE SER COMPREENDIDO EM DOIS SENTIDOS DIFERENTES
-COMO RELAÇÕES
DE PRODUÇÃO AMPLO SENSO, NESTE CASO UMA CATEGORIA QUE INCLUI NO SEU INTERIOR AS
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ESTRITO SENSO E AS FORÇAS PRODUTIVAS, PORTANTO NESTE CASO
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO É UMA UNIDADE DIALÉTICA
-COMO RELAÇÕES
DE PRODUÇÃO ESTRITO SENSO
-NO SENTIDO
AMPLO, ELE DIZ QUE “AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO EM SEU CONJUNTO CONSTITUEM A
ESTRUTURA ECONOMICA DA SOCIEDADE”, OU SEJA, TUDO AQUILO QUE DIZ RESPEITO A
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA VIDA EM SOCIEDADE, SEM O QUE NÃO HAVERÁ SOCIEDADE
-MARX DIZ QUE
É “A PARTIR DESTA BASE” QUE SE ERIGE A “SUPERESTRUTURA JURIDICA E POLITICA” E A
QUAL “CORRESPONDEM DETERMINADAS FORMAS DE CONSCIENCIA SOCIAL”
-MUITO SE ESCREVEU
SOBRE BASE E SUPERESTRUTURA, E EM GERAL A POLEMICA A RESPEITO DESTES TERMOS DIZ
RESPEITO A RELAÇÃO ENTRE UMA E OUTRA, AS INTERAÇÕES MUTUAS, AS DETERMINAÇÕES
RECIPROCAS
-HÁ OS QUE
ACHAM QUE EXISTIRIA UMA DETERMINAÇÃO UNILATERAL (A BASE DETERMINA A SUPERESTRUTURA)
-HÁ OS QUE ACHAM
QUE EXISTIRIA UMA RELAÇÃO BILATERAL (BASE E SUPERESTRUTURA SE DETERMINARIAM
MUTUAMENTE)
-HÁ OS QUE ACHAM
QUE É BILATERAL MAS QUE EXISTIRIA UMA
DETERMINAÇÃO EM ULTIMA INSTANCIA
-E ASSIM POR
DIANTE
NOTEM QUE PARA
MARX ESTES CONCEITOS FLUEM NATURALMENTE, NÃO TEM O SIGNIFICADO estático, doutrinário,
religioso, QUE ALGUNS VÃO DAR POSTERIORMENTE
#
“El modo de producción
de la vida material condiciona el proceso de vida social, político y espiritual
en general”.
-A CATEGORIA MODO
DE PRODUÇÃO assume, na frase acima, o mesmo sentido das RELAÇÃO DE PRODUÇÃO NO
SENTIDO AMPLO DA PALAVRA, PORTANTO UNIDADE ENTRE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ESTRITO
SENSO E FORÇAS PRODUTIVAS;
-e é o modo de
produção da vida material que CONDICIONA a vida social como um todo, inclusive a vida política e
espiritual;
#
“No es la conciencia
de los hombres la que determina su ser, sino, por el contrario, el ser social
es lo que determina su conciencia”.
#
Neste ponto,
Marx introduz o que é o núcleo duro de sua concepção de transformação, de
revolução, de desenvolvimento histórico, de progresso:
“En cierta
fase de su desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran
en contradicción con las relaciones de producción existentes, o bien, lo que no
es más que la expresión jurídica de esto, con las relaciones de propiedad en el
seno de las cuales se han desenvuelto hasta entonces”.
A SEGUNDA PARTE
DO RACIOCINIO ACIMA É AUTOEVIDENTE: “las relaciones de producción existentes, o
bien, lo que no es más que la expresión jurídica de esto, con las relaciones de
propiedad en el seno de las cuales se han desenvuelto hasta entonces”.
ASSIM, VAMOS
NOS CONCENTRAR NA PRIMEIRA PARTE DO RACIOCINIO: “En cierta fase de su
desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran en contradicción
con las relaciones de producción existentes”
-HÁ MUITAS
POLEMICAS A RESPEITO DO ACIMA, E PARTE DAS POLEMICAS SE RELACIONA A MANEIRAS
DIFERENTES DE ENTENDER AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E AS FORÇAS PRODUTIVAS
-PRIMEIRO, QUERO
LEMBRAR QUE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS SÃO CATEGORIAS QUE DIZEM
RESPEITO A SERES HUMANOS, CLASSES SOCIAIS, A SUA RELAÇÃO (ENTRE SI), SUA
RELAÇÃO INCLUSIVE COM OS PRODUTOS DO TRABALHO HUMANO, SUA RELAÇÃO COM A
NATUREZA, OU SEJA, COM TUDO QUE NÃO É HUMANO E QUE NÃO É PRODUTO DO TRABALHO HUMANO;
-SEGUNDO,
QUERO LEMBRAR QUE ESTAS CATEGORIAS SÃO HISTORICAMENTE DETERMINADAS;
-NÃO EXISTE
SOCIEDADE HUMANA SEM TRABALHO HUMANO AGINDO SOBRE A NATUREZA, MAS QUANDO UM
ESCRAVO ESTÁ CARREGANDO ALGO, QUANDO UM SERVO ESTÁ CAREGANDO ALGO, QUANDO UM
PEQUENO PROPRIETÁRIO LIVRE ESTÁ CARREGANDO, QUANDO UM ASSALARIADO ESTÁ
CARREGANDO ALGO, POR MAIS QUE AS OPERAÇÕES FÍSICAS POSSAM “SER” AS “MESMAS”, AS
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO SÃO DISTINTAS;
-TERCEIRO, É PRECISO
LEMBRAR QUE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS SÃO DIFERENTES MANIFESTAÇÕES
DA MESMA, DIGAMOS, MATÉRIA PRIMA: SERES HUMANOS EM PROCESSO...
-AS RELAÇÕES
DE PRODUÇÃO SÃO AS RELAÇÕES QUE OS SERES HUMANOS MANTÉM ENTRE SI, NA PRODUÇÃO E
REPRODUÇÃO DE SUA VIDA MATERIAL, PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO QUE dependem no limite
do METABOLISMO MANTIDO COM A NATUREZA;
-ESTE
METABOLISMO OCORRE DE MANEIRAS DIFERENTES, A DEPENDER DO “grado de desarrollo
de sus fuerzas productivas materiales”;
-PORTANTO, QUANDO
Marx FALA DA CONTRADIÇÃO ENTRE RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E FORÇAS PRODUTIVAS, ELE
ESTÁ SE REFERINDO A UMA CONTRADIÇÃO DIALÉTICA QUE OCORRE DENTRO DE UMA TOTALIDADE
ORGANICA;
-a saber: a contradição
entre as relações entre os seres humanos (hxh) e a relação da humanidade (H) com
a natureza (N)(HxN) (ou meio circundante) ou mais precisamente a contradição entre
as relações de produção e a produtividade/forças produtivas.
#
“En cierta
fase de su desarrollo, las fuerzas productivas materiales de la sociedad entran
en contradicción con las relaciones de producción existentes”...
-INICIALMENTE OS
SERES HUMANOS SÃO PARTE DA NATUREZA “COMO QUALQUER” OUTRA ESPECIE;
-POUCO A POUCO
SUA AÇÃO COLETIVA (ação coletiva = relações de produção e forças produtivas AO
MESMO TEMPO) SOBRE A NATUREZA FAZ COM QUE ESTA ESPECIE HUMANA VÁ AUMENTANDO SUA
CAPACIDADE DE ALTERAR A PROPRIA NATUREZA;
-ESTE AUMENTO da
produtividade DECORRE DE TRANSFORMAÇÕES QUE VÃO ocorrendo tanto NAS RELAÇÕES DE
PRODUÇÃO E NAS FORÇAS PRODUTIVAS (aliás, é no curso deste processo que SURGEM
as relações de produção e as forças produtivas, enquanto unidade dialética e
enquanto variáveis particulares);
-Algumas destas
transformações:
1/a criação de
ferramentas (extensão da mão, considerar a famosa “transformação do macaco em
homem pelo trabalho”);
2/o desenvolvimento
da capacidade de projetar cerebralmente os processos;
3/a capacidade
de usar força-motriz não humana;
4/o
desenvolvimento de máquinas;
5/o desenvolvimento
de uma divisão técnica do trabalho e de
uma divisão social do trabalho, que vão assumindo diferentes formas ao
longo de milhares de anos...
...por
exemplo, transformação do TRABALHO VOLUNTÁRIO presente no COMUNISMO
PRIMITIVO, em TRABALHO SUBORDINADO, explorado e oprimido, como
ocorre no que chamamos de ESCRAVIDÃO E SERVIDÃO...
...TRANSFORMAÇÃO
DO TRABALHO SUBORDINADO NA FORMA DE ESCRAVIDÃO OU SERVIDÃO em TRABALHO assalariado
e APARENTEMENTE LIVRE...
...(E, QUEM
SABE, SE TUDO DER CERTO, A FUTURA transformação do trabalho assalariado em
trabalho completamente livre, isto quando a sociedade atingir alto nível de desenvolvimento tecnológico e
de produtividade, podendo atender a todas as necessidade sociais e contar com o
trabalho voluntário de seus membros nas áreas de desenvolvimento cientifico,
tecnológico e cultural);
-ESTE PROCESSO
histórico, com séculos e milênios de duração, VAI CRIANDO UMA DUPLA DISTINÇÃO:
-NA SOCIEDADE,
ENTRE CLASSES, UMA UNIDADE CONTRADITÓRIA;
-E TAMBÉM A
DISTINÇÃO ENTRE HUMANIDADE E NATUREZA, OUTRA UNIDADE CONTRATIDÓRIA.
-ESTA UNIDADE
CONTRADITÓRIA é portanto permanentemente antagônica, MAS ISSO NÃO IMPEDE O
FUNCIONAMENTO, melhor dizendo, a reprodução da sociedade, através da relação
entre os homens e destes em relação com a natureza;
-a equação: [(hxh)xN]
-MAS EM DETERMINADO
MOMENTO O ANTAGONISMO SE TORNA TAL QUE O CONJUNTO ENTRA EM CRISE, a reprodução
enfrenta dificuldades crescentes.
#
“De formas de desarrollo
de las fuerzas productivas, estas relaciones se convierten en trabas suyas. Y
se abre así una época de revolución social.”
-a relação
entre relações de produção e forças produtivas é claramente, nesta formulação,
a de uma “unidade de contrários”
-A IMAGEM DA CRISALIDA
-AS RELAÇÕES
DE PRODUÇÃO CAPITALISTAS (ENTRE PROPRIETÁRIOS DE CAPITAL E ASSALARIADOS) ENTRAM
EM CONTRADIÇÃO COM AS FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS (PROCESSO DE PRODUÇÃO COLETIVA REALIZADO COM CADA VEZ MAIS
TRABALHO MORTO E CADA VEZ MENOS TRABALHO
VIVO).
-ONDE ESTÁ A
CONTRADIÇÃO?
-O PROCESSO DE
ACUMULAÇÃO DE CAPITAL ALIMENTA-SE DO TRABALHO VIVO E DO TRABALHO MORTO, TRANSFORMADOS
EM MERCADORIAS A SEREM CONSUMIDAS PELO CONJUNTO DA SOCIEDADE PARA PERMITIR SUA
REPRODUÇÃO AMPLIADA (a reprodução da sociedade e a reprodução do capital);
-o PROCESSO DE
PRODUÇÃO CAPITALISTA REDUZ CADA VEZ MAIS O TRABALHO VIVO, INCIDINDO
NEGATIVAMENTE SOBRE SOBRE A CAPACIDADE DE CONSUMO DA SOCIEDADE, sobre A
PRODUÇÃO DO VALOR A MAIS, SOBRE A TAXA DE LUCRO, E, PORTANTO, SOBRE A
REPRODUÇÃO AMPLIADA DO CAPITAL (a dinâmica de reprodução da sociedade vai num
sentido, a dinâmica de reprodução do capital vai noutro sentido);
-os aspectos produtivos-técnicos
deste processo não constituiriam um problema em uma sociedade organizada de
outra forma (reduzir o tempo de trabalho necessário, ampliar o trabalho livre, ao
mesmo tempo em que amplia a abundância social não seria um problema para uma sociedade
organizada em torno da produção de valores de uso);
-mas em uma sociedade
organizada em torno da reprodução ampliada do Capital, isso que resumimos acima
vira um problema.
SIGAMOS COM A
LEITURA
#
“Al cambiar la
base económica, se transforma más o menos rápidamente toda la superestructura
inmensa”.
-A FRASE ACIMA
PODE SER ENTENDIDA EM DOIS SENTIDOS:
-COMO FENOMENO
GERAL e mais ou menos permanente;
-COMO FENOMENO
ESPECIFICO DAS EPOCAS DE REVOLUÇÃO SOCIAL;
-NESTE SEGUNDO
CASO, nos parece que MARX PROJETA PARA TODA A HISTÓRIA O FENOMENO QUE SE
VERIFICOU DE FORMA TIPICA NA TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO;
-projeta para
trás e projeta para frente (o que faz sentido, se lembrarmos que ele considera
que a partir da anatomia do ser humano é que se pode compreender melhor a anatomia
do macaco);
-nesta fórmula
sintética, parece pressuposto que VÁ OCORRER O MESMO OU ALGO SIMILAR, na transição
do capitalismo em direção ao comunismo, que havia ocorrido na transição do feudalismo
ao capitalismo;
-fica anotado
que esta, digamos, simetria é em certo sentido um problema. Muitos anos mais
tarde, na correspondência com Vera Zassulich, Marx deixará claro que suas
reflexões em O Capital não se aplicam a quaisquer processos históricos;
-mas a maneira
de expor o problema em 1859 e, antes disso, também em 1847 (Manifesto do Partido
Comunista) pode gerar uma interpretação “universalista” que, aceita sem certos cuidados,
pode gerar muitos problemas teóricos e práticos.
SIGAMOS A
LEITURA
#
“Cuando se
examinan tales transformaciones, es preciso siempre distinguir entre la
transformación material —que se puede hacer constar con la exactitud propia de
las ciencias naturales de las condiciones de producción económicas y las formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas o filosóficas, en breve, las
formas ideológicas bajo las cuales los hombres toman conciencia de este
conflicto y luchan por resolverlo”.
-AQUI FICA
CLARO QUE MARX COMPREENDE PERFEITAMENTE A DIFERENÇA QUE EXISTE ENTRE AS
CHAMADAS CIENCIAS NATURAIS E AS CHAMADAS CIENCIAS SOCIAIS
-INFELIZMENTE,
MUITOS “cientistas naturais” não percebem isso, assim como muitos CIENTISTAS
SOCIAIS NÃO PERCEBEM A RELAÇÃO QUE EXISTE ENTRE NATUREZA E SOCIEDDE E, POR ISSO,
NÃO PERCEBEM QUE ESTA RELAÇÃO TEM TAMBÉM SUA CORRESPONDENCIA NO PLANO DAS
IDEIAS E QUE PORTANTO deve existir UMA RELAÇÃO entre o método nas CIENCIAS
SOCIAIS E nas CIENCIAS NATURAIS;
SIGAMOS A
LEITURA
#
“Del mismo
modo que no se puede juzgar a un individuo por lo que piensa de sí mismo,
tampoco se puede juzgar a semejante época de transformación por su conciencia; es
preciso, al contrario, explicar esta conciencia por las contradicciones de la
vida material, por el conflicto existente entre las fuerzas productivas
sociales y las relaciones de producción”.
-TRES EXEMPLOS
INTERESSANTES, da relação entre a consciência e as ÉPOCAS HISTÓRICAS
-O RACISMO “CIENTÍFICO”,
que VAI EMERGIR com muita força EXATAMENTE QUANTO A ESCRAVIDÃO ESTÁ SENDO SUPERADA;
-O FEMINISMO: AS
MULHERES SEMPRE FORAM MAIS OU MENOS METADE DA HUMANIDADE, mas é relativamente
recente que ESTA METADE GANHE VISIBILIDADE no plano das ideias;
-O SOCIALISMO:
quem ler Utopia ficará envergonhado, pois fica claro que a “utopia” de 1516 e o
socialismo moderno são MUITO diferentes.
SIGAMOS A
LEITURA
#
“Una formación
social no desaparece nunca antes de que se desarrollen todas las fuerzas
productivas que caben dentro de ella...”
-notem que o
termo FORMAÇÃO SOCIAL as vezes é utilizado no mesmo sentido que “modo de
produção”, as vezes assume outro significado;
-a noção do “desaparecimento”
de uma formação --neste caso, modo de produção – precisa ser compreendida NÃO
como desaparecimento completo de determinadas relações, mas de desaparecimento enquanto
modo de produção e reprodução da vida social como um todo: não há mais nenhuma
sociedade escravista ou sociedade feudal no mundo, mas continua existindo trabalho
escravo e trabalho servil, nos porões da sociedade capitalista, assim como o
próprio capitalismo tende a submeter os trabalhadores a condições pré-capitalistas
de exploração;
-mas atenção: quando
uma formação social desaparece, dando lugar a outra formação social, isto
ocorre NO CURSO DE UMA TRANSIÇÃO;
-quando
pensamos na possibilidade do capitalismo “desaparecer” e, no seu lugar, surgir
uma sociedade comunista, há duas possibilidades lógicas (segundo o raciocínio
acima de Marx): 1/que “se desarrollen todas las fuerzas productivas que caben
dentro” do capitalismo e DEPOIS comece uma transição socialista e/ou a
construção do comunismo; 2/que se “desarrollen todas las fuerzas productivas
que caben dentro” do capitalismo, já nos marcos de uma transição socialista ao
comunista;
-esta segunda
hipótese é a adotada, hoje, pelos comunistas chineses, que acreditam em
concluir o desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, nos marcos de
uma transição socialista em direção ao comunismo;
-uma questão
que se coloca, também, é saber qual o nível de ou quantas forças produtivas de
determinado tipo “CABEM” dentro de uma formação social?
-dito de outra
forma, há LIMITES? Quantas forças produtivas podem ser desenvolvidas ANTES que o
capitalismo chegue na condição de desaparecimento?
-Marx, noutro
momento, falará que o limite do Capital é o próprio Capital;
-a resposta,
neste caso, é dada pela capacidade de reprodução desta determinada formação
social;
-vejamos o caso
da escravidão antiga: se o número de escravos for muito grande, os custos
sociais implícitos na reprodução da escravidão (alimentar os escravos + alimentar
quem controla os escravos + mais alimentar a classe dominante) pode superar a capacidade
produtiva da própria escravidão, criando debilidades que provocam a crise na
escravidão;
#
SIGAMOS O
TEXTO...
... “y jamás aparecen
relaciones de producción nuevas y superiores antes de que hayan madurado, en el
seno de la propia sociedad antigua, las condiciones materiales para su existência”.
-notem que
este é o “lado B” da discussão anterior. Lembrando: quando pensamos na
possibilidade do capitalismo “desaparecer” e, no seu lugar, surgir uma
sociedade comunista, há duas possibilidades lógicas:
1/que “se
desarrollen todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo e
DEPOIS comece uma transição socialista e/ou a construção do comunismo;
2/que se “desarrollen
todas las fuerzas productivas que caben dentro” do capitalismo, já nos marcos
de uma transição socialista ao comunista;
-para que uma
formação social desapareça e dê lugar a outra, é preciso que ocorram dois
fenômenos: o desaparecimento de uma e o surgimento de outra;
-se nosso foco
for a Europa (e não o que ocorrerá no processo de colonização que hoje chamamos
de América), fica claro o que se quer dizer: as novas relações de produção
amadureceram “en el seno de la propia sociedad antigua”, dependendo para isto de
determinadas “condiciones materiales”;
-todo este
raciocínio deve ser levado em conta, frente aos que falam de sociedades “comunistas”
ou “socialistas” que prescindam do desenvolvimento do capitalismo, ou que de
maneira mais geral prescindam do desenvolvimento das forças produtivas materiais;
#
“Por eso la
humanidad se plantea siempre únicamente los problemas que puede resolver, pues
un examen más detenido muestra siempre que el propio problema no surge sino
cuando las condiciones materiales para resolverlo ya existen o, por lo menos,
están en vías de formación”.
-a frase ESTAN EM VIAS
DE FORMAÇÃO salva o
raciocínio como um todo, pois hoje podemos ter a certeza de que em 1859 (ano em
que foi escrito o Prefácio que estamos analisando) não estavam dadas as condições
para a superação do capitalismo, pelo contrário ele estava apenas começando a
se expandir mundo afora.
#
“A grandes
rasgos, el modo de producción asiático, el antiguo, el feudal y el burgués moderno
pueden designarse como épocas de progreso en la formación social económica”.
-O QUE ELE CHAMA
DE “ANTIGO” É O ESCRAVISTA;
-ELE INTRODUZ ENTRE
OS “MODOS DE PRODUÇÃO” O “ASIÁTICO”;
-HÁ TODO UM
DEBATE A RESPEITO, HAVENDO QUEM DIGA QUE O FEUDALISMO EUROPEU OCIDENTAL É, NA
VERDADE, UMA VARIANTE DO MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO, UM “ASIATICO DEBIL”;
-HÁ, TAMBÉM,
QUEM ENTENDA “EPOCAS DE PROGRESSO” COMO A UMA SUCESSÃO LINEAR;
-A ESSE RESPEITO
RECOMENDAMOS A LEITURA DE: 1/MAURICE GODELIER 2/ FORMEN E O COMENTÁRIO A
RESPEITO DO ERIC HOBSBAWN;
-NO PARÁGRAFO
CITADO ACIMA, E NA ANALISE FEITA POR HOBSBAWN ACERCA DO TEXTO CITADO, FICA
CLARA A CENTRALIDADE DA NOÇÃO DE PROGRESSO E O SIGNIFICADO MAIS PROFUNDO DISTO
PARA MARX: PROGRESSO COMO A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA HUMANIDADE, ENQUANTO ALGO AO
MESMO TEMPO DISTINTO E INTEGRADO A NATUREZA.
#
“Las
relaciones de producción burguesas son la última forma antagónica del proceso
social de producción, antagónica, no en el sentido de un antagonismo
individual, sino de un antagonismo que emana de las condiciones sociales de vida
de los indivíduos”.
-neste parágrafo
está expresso o profundo otimismo de Marx (os críticos diriam: o profundo
mileranismo);
-por qual
motivo o capitalismo seria a “ULTIMA FORMA ANTAGONICA” do processo social de
produção?
-voltemos a
equação fundamental: [(hxh)xN]
-durante muito
tempo hxh foram relações ANTAGONICAS, RELAÇÕES DE CLASSE, DE EXPLORAÇÃO E
OPRESSÃO
-MAIS DO QUE
ISSO, durante muito tempo hxh foram RELAÇÕES QUE EVOLUIRAM PERIODICAMENTE PARA
SITUAÇÕES DE CRISE E REVOLUÇÃO (ou destruição das classes em luta);
-mas, por
outro lado, durante muito tempo as relações hxh, mesmo antagônicas, foram OBJETIVAMENTE
um fator de progresso da humanidade, no sentido acima explicado;
-mas o
desenvolvimento das relações de produção e das forças produtivas no capitalismo
estão produzindo uma situação limite, uma vez que vão eliminando cada vez mais
trabalho vivo (barbárie) e vão impondo um custo ambiental cada vez mais alto;
-qual a
solução?
#
“Pero las
fuerzas productivas que se desarrollan en el seno de la sociedad burguesa
brindan, al mismo tiempo, las condiciones materiales para resolver dicho
antagonismo”.
-notem que
Marx fala que as forças produtivas criam as condições MATERIAIS para resolver o
“antagonismo que emana de las condiciones sociales de vida de los indivíduos”;
-forças
produtivas pode e deve ser entendido, aqui, como desenvolvimento científico,
tecnológico, ferramentas, máquinas, processos produtivos...
-mas também
deve ser entendido no sentido de produtivade global da humanidade, que se
corporifica numa massa de pessoas que, agindo coletivamente, tem a capacidade
de produzir e reproduzir a sociedade humana;
-neste sentido,
as forças produtivas não são apenas o “trabalho morto”, mas também o “trabalho
vivo”, o proletariado global, a classe
trabalhadora como um todo;
-por isso, aliás,
falamos do conflito entre relações de produção e forças produtivas, do conflito
entre Capital e Trabalho, do conflito
entre trabalho morto e trabalho vivo, como diferentes formas de expressar o
mesmo fenômeno de fundo;
-mas por qual
motivo, precisamente, as FORÇAS PRODUTIVAS CRIAM AS CONDIÇÕES MATERIAIS PARA
RESOLVER O ANTAGONISMO?
-PRIMEIRO,
PORQUE AS FORÇAS PRODUTIVAS EXIGEM CADA VEZ MENOS TEMPO PARA PRODUZIR CADA VEZ
MAIS RIQUEZA, COM cada vez menor PARTICIPAÇÃO da força de trabalho NO PROCESSO
PRODUTIVO E, AO MESMO TEMPO, CRIANDO AS CONDIÇÕES PARA ATENDER A TODAS AS
NECESSIDADES SOCIAIS;
-OU SEJA, O
CAPITALISMO, AO DESENVOLVER CIENTÍFICA E TECNOLOGICAMENTE AS FORÇAS PRODUTIVAS E
CRIAR AS CONDIÇÕES DE ATENDER A TODAS AS NECESSIDADES SOCIAIS, TORNA cada vez menos
necessária a presença do TRABALHO HUMANO NO PROCESSO PRODUTIVO, mas ao fazer isso
torna cada vez mais anacrônica a EXPLORAÇÃO DESSE TRABALHO;
-o
capitalismo, de um fator de desenvolvimento das forças produtivas, torna-se um crescente
peso, um crescente obstáculo (pensar no custo social das guerras, da segurança
pública para defender a propriedade, dos desastre ambientais, da miséria social
etc.;
-chegando
neste ponto, há uma disjuntiva:
1/ou se mantém
e se aprofunda a constituição da humanidade, eliminando a propriedade privada
dos meios de produção, do controle sobre as forças produtivas, reconhecendo que
A EXPLORAÇÃO tornou-se historicamente ANACRONICA;
2/ou se coloca
em crescente risco a sobrevivência da sociedade humana, mantendo a propriedade
privada das forças produtivas e empurrando a sociedade para a barbária e para a
crise permanente.
VEJAMO ISTO NO
DETALHE:
1/EXPLORAR
SIGNIFICA SE APROPRIAR DO VALOR A MAIS DO PRODUTO CRIADO PELOS PRODUTORES
DIRETOS;
2/ESSA APROPRIAÇÃO
DE PARTE DO VALOR CRIADO NA PRODUÇAO TEM UM CUSTO QUE OS EXPROPRIADORES
PRECISAM COBRIR, SEJA SOB A FORMA DE CUSTOS NECESSÁRIOS PARA REPRODUZIR A FORÇA
PRODUTIVA, SEJA SOB A FORMA DE CUSTOS NECESSÁRIOS PARA MANTER ESTA FORÇA
PRODUTIVA SOB CONTROLE, SEJA OS CUSTOS IMPOSTOS PELOS EFEITOS COLATERAIS DO
PROCESSO;
3/ALÉM DISSO, HÁ
UM PROBLEMA CRESCENTE DE REALIZAÇÃO, UMA CONTRADIÇÃO ENTRE A CAPACIDADE DE
PRODUÇÃO E CAPACIDADE DE ABSORÇÃO (que, como explicamos, não existiria numa
sociedade produtora de valores de uso, planificada, mas existe no capitalismo);
4/O QUE FAZ O
CAPITALISMO?
-PRODUÇÃO CADA
VEZ MAIS COLETIVA
-PRODUTIVIDADE
CADA VEZ MAIOR PARA ELEVAR A MAIS VALIA RELATIVA E REDUZIR PREÇOS, PARA DISPUTAR
COM VANTAGEM O MERCADO EM QUE A DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS SE REALIZA
5/ A
CONTRADIÇÃO ENTRE A ELEVAÇÃO DA CAPACIDADE PRODUTIVA E A CRESCENTE REDUÇÃO DA
FORÇA DE TRABALHO CRIA UMA SITUAÇÃO DE crescente crise HUMANITÁRIA;
6/VISTA DE CONJUNTO,
A SITUAÇÃO PODE SER RESOLVIDA RESOLVENDO O ANTAGONISMO (hxh) ATRAVÉS DA PROPRIEDADE
COLETIVA DOS MEIOS DE PRODUÇÃO, CUJO PRESSUPOSTO MATERIAL FOI CRIADO PELO
PRÓPRIO CAPITALISMO, A SABER, A PRODUÇÃO COLETIVA;
7/SE ISTO
OCORER, ESTARIAM RESOLVIDOS OS CONFLITOS QUE MARCARAM A PRÉHISTORIA DA
HUMANIDADE...
“Con esta
formación social se cierra, pues, la prehistoria de la sociedad humana”.
Evidente que
isto é uma das possibilidades. Outra, por exemplo, é a “destruição das classes
em luta”.
Evidente, também, que o fim da pré-história da humanidade NÃO é o surgimento de
uma sociedade sem antagonismos de nenhum tipo. Que antagonismos surgirão?
Assunto para as gerações futuras.
#
VEJAMOS A
SEGUIR O QUE MARX FALA DE ENGELS NO “PREFÁCIO” DA CONTRIBUIÇÃO:
“Federico
Engels, con quien mantuve un constante intercambio escrito de ideas desde la
publicación de su genial esbozo sobre la crítica de las categorías económicas (en
los Deutsch-Französische Jahrbücher), había llegado por una
vía distinta (cf. su libro La situación de la clase obrera en
Inglaterra) al mismo resultado que yo, y cuando, en la primavera de
1845, se instaló asimismo en Bruselas, acordamos formular nuestra concepción
como antítesis de la concepción ideológica de la filosofía alemana, en realidad
saldar las cuentas con nuestra conciencia filosófica anterior. Este propósito
se realizó bajo la forma de una crítica de la filosofía posthegeliana”.
Marx está se
referindo, como é óbvio, ao livro A IDEOLOGIA ALEMÃ, que será publicado pelos
soviéticos, nos anos 1930.
“El
manuscrito, dos gruesos volúmenes en octavo, se encontraba hacía ya mucho tiempo en
manos del editor en Westfalia, cuando nos enteramos de que algunas
circunstancias nuevas impedían su publicación. Abandonamos el manuscrito a la
crítica roedora de los ratones con tanto mayor gusto por cuanto habíamos alcanzado
nuestra meta principal: dilucidar nuestras propias ideas”.
OUTROS 4 TEXTOS
QUE ELE CITA A SEGUIR E QUE DEVEM SER LIDOS:
“De los
trabajos sueltos en que presentamos por aquel entonces al público uno u otro aspecto
de nuestros puntos de vista, mencionaré solamente el Manifiesto del
Partido Comunista, que Engels y yo escribimos en común, y el Discurso
sobre el librecambio, publicado por mí. Los puntos decisivos de
nuestra concepción fueron delineados por primera vez científicamente, si bien
bajo una forma polémica, en mi trabajo Miseria de la filosofía, publicado
en 1847 y dirigido contra Proudhon. La revolución de febrero y, como
consecuencia, mi traslado forzoso de Bélgica interrumpieron la publicación de
un ensayo sobre el Trabajo asalariado, en el que recogía las
conferencias que había dado sobre este particular en la Asociación Obrera
Alemana de Bruselas”.
Vale repisar
que ele retoma os estudos em 1850, em primeiro lugar, devido a circunstâncias
políticas: a derrota da revolução e o exílio
Os estudos
constituam, neste contexto, uma tentativa de compreender as causas de fundo da
derrota; e uma tentativa de compreender quando e como se produziriam novas revoluções.
A expectativa
é que isso ocorreria logo. Esta expectativa – que se demonstraria demasiado
otimista, para dizer o mínimo - ajuda a entender a intensidade com que ele se
jogou ao trabalho, contra quase tudo e contra quase todos, contando com pouca
ajuda (Engels, principalmente) e sofrendo todo tipo de restrições materiais (pobreza,
morte de filhos etc.).
Por outro
lado, a medida que o tempo passa, ocorre um duplo processo que retarda a
conclusão do trabalho teórico:
-por um lado,
quanto mais se estuda, mais se descobre quão pouco se conhece. Para uma mente
como a de Marx, isso levava a estudar cada vez
mais e a ser cada vez mais criterioso na publicação de suas descobertas.
Exemplo: cerca de 9 anos se passaram entre 1850 e a publicação da Contribuição;
depois cerca de oito anos, entre a Contribuição e a publicação de O Capital;
e depois cerca de 16 anos entre a publicação do volume I de O Capital e
o falecimento de Marx, sem que nesse intervalo
fossem concluídos os demais tomos...
-por outro
lado, o passar do tempo foi desfazendo o otimismo acerca da eclosão breve de
uma nova revolução, o que reduziu o acicate, a pressão no sentido de concluir
rapidamente as pesquisas teóricas;
-aos fatores
acima, agregue-se o desgaste físico e emocional.
SIGAMOS A LEITURA:
“La
publicación de la Neue Rheinische ZeitunG, (1848-1849) y los
sucesos posteriores interrumpieron mis estudios económicos, que sólo pude
reanudar en 1850 en Londres. La prodigiosa documentación sobre la historia de la
Economía política acumulada en el Museo Británico, el puesto tan cómodo que
Londres ofrece para la observación de la sociedad burguesa y, por último, la
nueva fase de desarrollo en que parecía entrar ésta con el descubrimiento del
oro de California y Australia, me indujeron a volver a empezar desde el
principio, estudiando a fondo, con un espíritu crítico, los nuevos materiales”.
-sobre o
trecho acima, vale refletir sobre o impacto que teve na obra de Marx, o fato de
tomar a Grã Bretanha como ponto de observação (e não os Estados Unidos). Especificamente
vale a pena refletir sobre a questão da terra e sua relação com o
desenvolvimento do capitalismo, em ambos países;
-por outro
lado, lembremos que O Capital não é uma obra histórica no sentido VULGAR da palavra
(a esse respeito, ler a resenha escrita por Engels, acerca da Contribuição)
SIGAMOS A
LEITURA:
“Esos estudios
me condujeron, en parte por sí mismos, a cuestiones aparentemente alejadas de
mi tema y en las que debí detenerme durante un tiempo más o menos prolongado.
Pero lo que sobre todo mermaba el tiempo de que disponía era la imperiosa
necesidad de ganar mi sustento.”
“Mi
colaboración desde hace ya ocho años en el primer periódico angloamericano,
el New York Daily Tribune, implicó una fragmentación extraordinaria
de mis estudios, ya que me dedico a escribir para la prensa correspondencias
propiamente dichas sólo a título de excepción. Sin embargo, los artículos sobre
los acontecimientos económicos descollantes en Inglaterra y el continente formaban
una parte tan considerable de mi colaboración que me veía constreñido a
familiarizarme con detalles prácticos no pertenecientes al dominio de la propia
ciencia de la Economía política”.
“Este bosquejo
sobre el curso de mis estudios en el terreno de la Economía política sólo
tiende a mostrar que mis puntos de vista, júzguese de ellos como se juzgue y
por poco que sean conformes a los prejuicios interesados de las clases
dominantes, son el fruto de largos años y de concienzuda investigación. Y en el
umbral de la ciencia, como en la entrada del infierno, debiera exponerse esta
consigna:
"Qui si
convien lasciare ogni sospetto;
Ogni viltá
convien che qui sia morta".
Carlos Marx
Londres, enero
de 1859
Comentários
finais:
1/pretensão
científica, no ótimo sentido desta palavra;
2/as obras do
Marx, O Capital em particular, é uma obra culta de uma pessoa culta, que fazia questão
de escrever de forma “literária” e repleta de referências;
3/uma obra
escrita em outra época histórica, diferente da nossa em vários aspectos, motivo
pelo qual é preciso o tempo todo evitar o anacronismo;
4/uma obra
escrita em alemão e que vamos estudar em português, portanto há que saber que
existe a “traição da tradução”.
Na próxima
aula, começamos com o capitulo 1, sobre a mercadoria.
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