terça-feira, 2 de outubro de 2018

Entrevista para La Correo

Entrevista concedida a Javier Larraín Parada, diretor editorial da revista La Correo.

En los próximos días hay elecciones presidenciales en Brasil y uno de los favoritos es el candidato del PT Fernando Haddad ¿quién es Haddad? ¿Cuáles son sus atributos para ser apoyado abiertamente por Lula?

Fernando Haddad é militante do Partido dos Trabalhadores desde os anos 1980, quando atuava no movimento estudantil. A partir de 2003, passou a integrar o governo Lula, inicialmente como assessor de um ministro e ao fim como ministro da educação. Em 2012 foi eleito prefeito da cidade de São Paulo, cargo que exerceu até 2016. É formado em direito e trabalha como professor universitário. Foi convidado por Lula para coordenar a elaboração de seu programa de governo para as eleições de 2016. No dia 5 de agosto foi escolhido por Lula como seu candidato a vice-presidência da República. No dia 31 de agosto, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu retirar Lula da disputa eleitoral, em mais um dos muitos atos de arbítrio perpetrados pelo sistema judiciário brasileiro contra Lula, o PT e a classe trabalhadora. O TSE deu até o dia 17 de setembro para que o PT substituísse Lula. O próprio Lula optou por indicar Haddad como seu substituto. Publicamente, Lula tem dito que isto se deve ao desempenho de Haddad como seu ministro da Educação. Isto posto, é importante explicar o seguinte: se conseguirmos vencer as eleições presidenciais de 2018, será graças a Lula. O nome escolhido por Lula, Haddad ou qualquer outro, não é o fator decisivo nas eleições. A variável decisiva é o apoio popular a Lula e ao PT, que hoje recuperou a popularidade que tinha em 2002! Isto apesar de anos e anos de massacre midiático.

¿Cuáles serían los desafíos o tareas urgentes que pudiera afrontar Haddad y las fuerzas que le apoyan, en caso de salir electo, para reencausar al país en el sendero progresista por el que se conducía hasta antes del Gobierno de Temer?

Primeiro, embora possa parecer óbvio, temos que vencer as eleições. E, se vencermos, temos que tomar posse. Há setores da direita, inclusive militares, que já estão dizendo publicamente que não aceitam que o PT possa ganhar e, se ganhar, não aceitam que possa tomar posse. Portanto, para que tudo corra bem e para que possamos começar a governar no dia 1 de janeiro de 2019, teremos que matar um leão por dia.
Uma vez no governo, teremos três desafios fundamentais: aplicar um programa de emergência, revogar as medidas golpistas e criar as condições para a instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Dada a situação econômica do país, um programa de emergência que gere empregos e recupere as políticas sociais, dependerá no curto prazo de utilizarmos parte das reservas internacionais do país.
Revogar as medidas golpistas (com destaque para a contrarreforma trabalhista) depende de construirmos maioria parlamentar, seja na eleição (o que é muito difícil e pouco provável), seja através de pressão social.
O mesmo vale para a criação das condições necessárias para a convocação, eleição e instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Se passarmos para estes desafios todos, estarão criadas as condições para que possamos não apenas governar, mas também conduzir reformas estruturais no país. Algumas destas reformas -- como a da comunicação de massas -- precisam começar a ser feitas já no dia da posse, uma vez que são imprescindíveis para a governabilidade.

¿Qué ha pasado con la institucionalidad brasileña en los últimos años como para que se de curso a un impeachment contra una presidenta electa democráticamente como Dilma Rousseff, y seguidamente se condene sin pruebas a Inácio Lula da Silva?

Nada. Não passou nada. Este é o problema. Nós assumimos o governo em 2003 e não tentamos fazer, não fizemos ou não conseguimos fazer uma reforma do Estado, uma reforma política, uma democratização da comunicação de massas. Nem tentamos fazer uma reforma do judiciário, uma reforma do aparato de segurança e militar. Nem conseguimos mudar as políticas de financiamento privado da cultura, o conteúdo conservador dos currículos educacionais. Eu poderia prosseguir com os exemplos, mas o caso já está claro: a institucionalidade que a classe dominante brasileira sempre usou para governar, foi deixada intacta por nós. E quando esta classe dominante decidiu por fim ao nosso governo, ela utilizou esta institucionalidade com muito êxito. Com um agravante: alguns de nós se renderam a esta institucionalidade, como se ela tivesse direitos de fazer o que fez. Basta lembrar que a primeira condução coercitiva do presidente Lula foi feita quando a presidenta Dilma ainda estava no governo, quando o ministro da Justiça ainda era um petista, portanto quando a Polícia Federal supostamente devia obediência ao governo. Mas prevaleceu a ideia cretina segundo a qual "instituições de Estado" não devem prestar contas ao "governo de plantão". Ou seja, devem prestar conta aos poderes reais, leia-se, à classe dominante.

¿Cuán determinante, en términos electorales, ha sido el injusto encarcelamiento de Lula para sensibilizar a la población local de los mañidos actos de la derecha?

A prisão em si não é o principal. O principal é: prenderam Lula, em cujo governo os pobres melhoraram de vida; e não prenderam nenhum outro político de importância equivalente. Ou seja: o que sensibilizou parcela importante do povo é a perseguição, a aplicação seletiva da "justiça". As pessoas foram se dando conta que o problema da elite não contra Lula apenas, é contra o que ele representa, é contra o povo.

¿Qué errores pudo haber cometido el PT y sus aliados para, luego de más de una decena de años en el poder, pudieran ser despojados del mismo en actos tan grotescos como los antes mencionados?

O erro principal foi achar que a classe dominante brasileira é democrática. Que se nós fossemos moderados, eles também seriam. Que se nós rebaixássemos nosso programa, se nós respeitássemos as instituições, se nós estimulássemos o desenvolvimento capitalista, os capitalistas aceitariam que nós, devagar, gradualmente, lentamente, elevássemos o nível de vida do povo brasileiro. Noutros termos, o erro principal foi achar que a oligarquia brasileira aceitaria conviver com um estado de bem estar social.
O segundo erro decorre desse: não nos preparamos para o que, inevitavelmente, iria ocorrer. Aliás, até há pouco tempo atrás, havia muita gente na esquerda brasileira que acreditava que não ia ter golpe, que não iam prender o Lula, que não iam impedir a sua candidatura. E, óbvio, que não acha que vai acontecer, não se prepara para impedir.

¿Qué coyuntura le permite a la derecha brasileña arremeter con éxito contra Dilma y Lula y cuál es su proyecto político y social, hoy encarnado en Jair Bolsonaro?

A crise internacional de 2008 foi o fator decisivo. A piora das condições internacionais deixava duas alternativas para um governo popular: ou desistia de melhorar a vida dos pobres; ou ampliava os impostos sobre os ricos. Ou desistia de ter crescimento econômico; ou ampliava a presença do Estado na economia. E assim por diante.
Infelizmente, em 2010, quando debatemos o programa de governo que defenderíamos na eleição de Dilma, prevaleceu na comissão de programa a ideia incorreta segundo a qual o cenário do primeiro governo Dilma (2011-2014) seria similar ao cenário do segundo mandato de Lula (2007-2010). E não foi. A situação mudou muito, e para pior. Mas não tínhamos nos preparado para isto.
Já a classe dominante se preparou. Em 2011 cobrou do governo que mudasse totalmente de política. E como nosso governo, apesar de erros e vacilações, não aceitou mudar totalmente de política, a classe dominante se organizou para nos derrotar. E como não conseguiram fazer isso eleitoralmente, em 2014, fizeram isto através de um golpe, em 2016.
E o que a classe dominante quer fazer é legitimar o golpe, nas eleições presidenciais de 2018. Mas apareceram dois "imprevistos". O primeiro é a nossa resistência e resiliência. O segundo é que o monstro de extrema-direita que eles usaram contra nós em 2014-2016 cresceu demais e superou os candidatos da direita tradicional.
Bolsonaro é isso: um filhote da ditadura, mas adubado pelo Partido da Social Democracia e pal Rede Globo de Televisão.

¿Cuáles fueron las medidas más importantes del Gobierno de Temer para desmantelar el proyecto social que venía dándose desde comienzos de siglo en Brasil y cómo se pueden revertir?

O governo Temer é um bom exemplo de como a direita é audaciosa. No curto espaço de 2 anos, eles destruíram a maior parte do que fizemos desde 2003, tanto no terreno da integração e soberania nacional, quanto no terreno da democracia e dos direitos sociais. E vem destruindo, também, conquistas mais antigas: os aspectos positivos da Constituição de 1988, a Petrobrás criada em 1953, a Consolidação das Leis do Trabalho que vem da década de 1930.
Dentre as medidas, eu citaria: a alteração do modelo de exploração do Pré-Sal, que seria a fonte de financiamento de parte das políticas sociais; a aprovação de uma emenda constitucional que congela por 20 anos boa parte do orçamento social, não importando que a população e a riqueza venham a crescer neste período; a reforma trabalhista e a terceirização, que destroem as conquistas que a classe trabalhadora acumulou ao longo de três quarteis do século passado. A reversão dessas medidas depende, neste momento, da instalação de um novo governo, que tenha maioria parlamentar e/ou que tenha força para convocar uma Constituinte.

¿Cuán estratégico es para la izquierda y progresismos de América Latina un triunfo electoral de Haddad?

A possibilidade de retomar o impulso de integração regional, depende do Brasil voltar a ter um governo de esquerda e progressista. E sem integração, o que restará a cada governo e nação da região é a subordinação ou o isolamento. Agora, é importante dizer: não basta um triunfo eleitoral. É preciso que o governo queira e seja capaz de implementar um programa transformador. Pois haverão imensas pressões, que já estão em curso, para tentar nos derrotar e também para tentar nos domesticar.

¿Cuáles son los aprendizajes del PT y sus allegados tras ser despojados del poder y qué errores no se deben repetir en caso de triunfar electoralmente el 7 de octubre?

A lista de aprendizados é grande. Mas a fundamental, creio eu, é não ter ilusão nenhuma no lado de lá. A integração, a soberania, o bem estar e as liberdades democráticas só tem uma garantia segura: o nível de consciência, a capacidade de organização, de mobilização e de luta da classe trabalhadora. Mesmo que o programa seja "apenas" democrático e popular, precisamos ter uma disposição socialista e revolucionária. Pois para o lado de lá, qualquer melhoria na vida do povo será atacada como se fosse a instalação do comunismo.

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