quinta-feira, 7 de março de 2013

France-Presse


Entrevista concedida a Hector Velasco, da AFP

1)      Como era a esquerda latino-americana antes de Chávez y como mudou ela sob sua influência?

Embora só em 2002, com a eleição de Lula, se tenha consolidado uma tendência, foi com a eleição de Chavez, em 1998, que se inaugurou a onda de governos de esquerda e progressistas na América Latina. Todos estes governos, os partidos e lideranças que os encabeçam, fazem parte de um único processo, dentro do qual cada um aporta suas próprias características. Na minha opinião, Chavez aportou quatro diferenciais: primeiro, a busca de constituir um pensamento que vinculasse o futuro ("socialismo do século XXI"), o presente (integração) e o passado (bolivarianismo); segundo, uma solidariedade internacionalista muito intensa, que ajudou e ajuda a reforçar materialmente outros povos, países e movimentos amigos; terceiro, uma doutrina militar, baseada na idéia de que uma revolução para ser pacífica, não pode ser desarmada; e, em quarto lugar, uma forte aposta na democracia, sob todas as suas formas, inclusive a eleitoral. Embora todos estes quatro elementos estivessem e estejam presentes em outros processos, partidos e lideranças, acredito que a atuação prática de Chavez lhes deu um destaque diferencial.

2)      Qual foi  a contribuição de Chávez ao PT e os movimentos de esquerda de América do Sul, ao Foro de São Paulo?   

Basicamente, o que já citei. O governo Chavez demonstrou que é possível fazer mudanças profundas em uma sociedade, ter uma postura internacionalista e anti-imperialista, defender o socialismo como objetivo e, ao mesmo tempo, manter o apoio popular e o controle do aparato de Estado. Claro que o processo bolivariano tem suas contradições, insuficiências e debilidades, mas o saldo global é positivo e estimula a esquerda continental, que tem o desafio de aprender sem copiar, pois a realidade venezuelana tem especifidades e o que vale ali, geralmente não vale noutros lugares. Neste sentido, seu apoio e participação no Foro de São Paulo revela que Chávez era adepto da mesma opinião que temos: a esquerda é forte, na América Latina, entre outras coisas porque aprendemos que é possível extrair força da unidade na diversidade.
 

3)      Como o senhor lembra ao Chávez, quando o conheceu a primeira vez,  por exemplo, ou lembra algum episódio sobre ele que possa mostrar o interesse do Chávez na esquerda latino-americana?

Eu destaco o discurso que ele fez, no encerramento do XVIII Encontro do Foro de São Paulo, em Caracas. E sua alegria ao assistir, pouco antes de discursar, um vídeo em que Lula dizia: "sua vitória será nossa vitória". Ele ainda não havia visto o vídeo e ficou mais que contente, emocionado.
  
4)      O que perde a esquerda d continente com la partida do líder venezuelano? Como o senhor vê o futuro sem ele (integração, lideranças, etc.)?

Como disse a Dilma, referindo-se ao Brasil, mas isto vale para todos os povos da região, perdemos em primeiro lugar um amigo e um camarada. Isto não tem jeito, não tem conserto. Quanto ao futuro, a luta continua. Particularmente na Venezuela, o processo bolivariano é muito forte e vai seguir, mais que nunca sob direção coletiva, tendo Nicolás Maduro como protagonista principal. Aliás, esta também devemos a Chavez: ele se jogou de corpo e alma na eleição presidencial de 2012 e, depois da vitória, ao constatar a recidiva da doença, equacionou sua própria sucessão, evitando conflitos e perda de tempo. A direita reclama disto, mas convenhamos: bem que eles gostariam de ter líderes com este nível de entrega pessoal e responsabilidade histórica.

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