Texto para coluna da
TD, 12 de março de 2013
Os Estados Unidos, seus
aliados europeus e latino-americanos pensam que a morte de Hugo Chávez abre uma
brecha, através da qual eles poderão desestabilizar o governo venezuelano e
afetar o conjunto da esquerda regional, especialmente naqueles países que
recebem mais apoio material da Venezuela (Cuba e Nicarágua, entre outros).
Não devemos subestimar
este plano. Mas ao menos no curto prazo, está ocorrendo o contrário: um
mobilizar e cerrar fileiras dos setores populares liderados por Chávez,
indicando a vitória de Nicolas Maduro nas eleições presidenciais de 14 de abril
próximo.
A partir desta eleição,
pesarão os desafios de médio prazo, que são basicamente quatro: estabelecer uma
direção coletiva, tanto pública quanto interna, para o processo de
transformações em curso na Venezuela; enfrentar as debilidades do processo,
especialmente as econômicas de longo prazo, tais como segurança alimentar e
industrialização; ajudar a superar certa “crise de direção” presente no
processo de integração regional; e enfrentar o debate sobre a herança ideológica,
teórica, programática e cultural do “chavismo”.
Este último desafio será
continental. A direita tomou a iniciativa de aproveitar as exéquias para desqualificar
o conjunto da obra. As recentes edições de Veja e Época, com capas e matérias
dedicadas a pintar Chávez como autoritário, são exemplos disto.
Cabe ao PT e ao
conjunto das forças de esquerda defender a experiência do governo Chávez
(1999-2013), que ampliou o bem estar social, a democracia e a soberania
venezuelanas, além de ter ajudado a impulsionar a integração regional e de ter
sido, como bem disse a presidenta Dilma, um grande amigo do Brasil.
Além de fazer esta
defesa, é importante que o PT e o conjunto da esquerda debatam os ensinamentos que
a experiência venezuelana proporciona, acerca dos problemas e das
possibilidades de uma estratégia de transição ao socialismo, a partir da
conquista eleitoral de governos, nas atuais condições latinoamericanas e
caribenhas.
O chamado chavismo tem pelo
menos cinco características que merecem ser destacadas e analisadas no detalhe:
a preocupação em construir uma doutrina de massas, vinculando o passado
(Bolívar), o presente (integração) e o futuro (“socialismo do século XXI”); uma
linha militar, segundo a qual a revolução bolivariana é pacífica, mas não é
desarmada; um internacionalismo hiperativo, com um forte componente de
solidariedade material; o destaque para a participação democrática, inclusive
mas não apenas eleitoral; a compreensão de que a polarização
politico-ideológica é, no fundamental, positiva.
Portanto, a experiência
de Chávez deve ser analisada em conjunto com a experiência de Allende
(1970-1973); e não pode ser reduzida ou confundida com a experiência de governos
militares nacionalistas, como os existentes no Peru e na Bolívia.
Devemos, em especial,
evitar que o debate acerca da experiência venezuelana ressuscite a “teoria” das
“duas esquerdas”, a “carnívora” e a “vegetariana”. Como já ficou amplamente
demonstrado, há várias esquerdas na região e seu êxito depende da unidade na
diversidade, ou seja, da convivência de diferentes estratégias nacionais, nos
marcos de uma estratégia continental compartilhada.
Sobre este aspecto do
problema, considerando a situação venezuelana, sabendo como está a Argentina, e
lembrando que o Brasil já entrou em período eleitoral, podemos prever que o
processo de integração regional seguirá sofrendo uma certa “crise de direção”.
Numa conjuntura
internacional como a que vivemos, que exige mais velocidade e intensidade na
integração, devemos tomar medidas urgentes para superar esta situação.
Será um ano importante,
também, para ajudar no êxito da negociação FARC-Santos; ampliar as relações com
a esquerda peruana e com o governo Humala; colaborar na vitória da centro-esquerda
nas eleições chilenas, com base num programa de maior colaboração com Unasul e
Mercosul; e prestar solidariedade à esquerda nas eleições do Paraguai (21 de
abril), Honduras e El Salvador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário