Não recomendo a leitura de um texto intitulado O insuportável maniqueísmo da esquerda “anti-imperialista”.
Escrito por William I. Robinson, o texto critica uma esquerda
auto-declarada “anti-imperialista” que condena a exploração e a repressão
capitalista em todo o mundo quando praticada pelos EUA e outras potências
ocidentais ou pelos governos que eles apoiam mas fecha os olhos ou até mesmo
defende Estados repressivos, autoritários e ditatoriais simplesmente porque
esses Estados enfrentam a hostilidade de Washington.
Quem teve a oportunidade de ver ou estudar o que ocorre com os Estados
que enfrentam a hostilidade de Washington sabe que “simplesmente” é uma palavra
que simplesmente não se aplica ao caso. Iraque, Libia, Síria, Afeganistão, Irã
e Cuba que o digam.
E quem teve a oportunidade de acompanhar a retórica dos EUA contra seus
inimigos sabe que ela, a retórica, é organizada em torno da luta contra o
totalitarismo.
Levando isto em consideração, é um desafio e tanto construir uma posição
crítica aos inimigos dos EUA, sem converter-se em aliado dos EUA. Robinson não
teve êxito nesta tarefa.
Seu primeiro alvo é a China. Lá, segundo Robinson, teria sido “o
desenvolvimento capitalista” quem “tirou milhões da pobreza extrema e trouxe
uma rápida industrialização, progresso tecnológico e infraestrutura avançada”.
Segundo Robinson, esses progressos teriam ocorrido, também “nos países
centrais da América do Norte e da Europa Ocidental”, entre o “final do século
XIX até meados do século XX”. Confesso que não consigo entender esta periodização.
E menos ainda consigo entender uma comparação “plana”, sem mediações, entre
o desenvolvimento nas metrópoles imperialistas e o desenvolvimento na periferia
colonial ou semicolonial.
Robinson diz que a “esquerda nunca viu esse desenvolvimento capitalista
no Ocidente como uma vitória para a classe trabalhadora nem perdeu de vista o
vínculo entre esse desenvolvimento e a lei da acumulação combinada e desigual
no sistema capitalista mundial”. Isto não é exatamente verdade.
O que se pode dizer é que um setor da esquerda sempre apontou a natureza
contraditória do desenvolvimento capitalista. E, especialmente nos
países submetidos a dominação colonial e exploração imperialista, muitos setores
da esquerda se apoiavam nesta natureza contraditória, para defender que o
desenvolvimento (mesmo capitalista) seria um avanço em relação ao passado
feudal, colonial e semicolonial de vários países.
Robinson, crítico do maniqueísmo dos outros, não dá muita atenção para
estas nuances, digamos assim. Para ele, a China “pode ser um modelo de
desenvolvimento capitalista distinto da variante neoliberal ocidental, mas
obedece ainda às leis da acumulação de capital”. Isto em parte é verdade, mas
não é toda a verdade. Que há capitalismo na China, nem os comunistas chineses
duvidam. Mas é difícil enquadrar como “capitalista” uma sociedade produto de
uma revolução, onde a propriedade da terra não é privada, onde o setor
financeiro está sob controle estatal, onde há um planejamento global
extremamente exitoso, onde a burguesia foi primeiro expropriada e depois
recriada de cima para baixo. Sem falar do sistema político.
Robinson tem razão quando aponta, com outras palavras, que o
desenvolvimento chinês chegou ao ponto da exportação de capitais – exatamente aquilo
que caracteriza o imperialismo, segundo Lenin e outros autores que o PC chinês
tanto elogia. O curioso é que ele reclama do “surto de investimento direto”
chinês, num tom muito parecido com as reclamações vindas de parte do establishment
gringo.
Sem dúvida que o capital chinês, quando chega em qualquer lugar do
mundo, seja no centro, seja na periferia, age como capital. Motivo pelo qual os
governos progressistas e de esquerda, os partidos e movimentos democráticos e
populares, precisam criticar e impor limites. Mas o que seria melhor? Os
capitalistas de outras nacionalidades? Ou capitalista nenhum?
Robinson diz que “a questão não é que o capital chinês seja pior ou
melhor do que o capital originário de outros países. O capital é capital
independentemente da identidade nacional ou etnia dos seus portadores”.
Sua reclamação é a seguinte: quando um Estado capitalista
ocidental e um Estado capitalista no Sul Global cooperam, isso é condenado como
exploração pelo imperialismo e pelas classes dominantes locais. Já quando dois
Estados capitalistas do Sul Global cooperam para os mesmos mega-projetos e
exploração corporativa, isso é elogiado como “cooperação Sul-Sul” progressista
e anti-imperialista e que “traz desenvolvimento”.
Certamente deve haver quem trate os chineses da mesma forma como outros
tratavam, no passado, os soviéticos. Mas se os gatos são todos capitalistas,
melhor caçar com os que são inimigos de nossos inimigos. Ou isso não faz diferença?
Robinson reconhece que “a ascensão pacífica do socialismo com
características chinesas” oferece “uma alternativa ao imperialismo ocidental”.
Sua reclamação é que a ascensão dos chineses não “oferece uma
alternativa à expropriação e exploração capitalista. O desenvolvimento
capitalista não é um processo neutro em termos de classes. É por definição um
projeto de classe da burguesia.”
A primeira parte do argumento é verdadeira, mas isto é óbvio, salvo para
quem acredite que a libertação do capitalismo será obra e graça de alguma
potência estrangeira.
A segunda parte do argumento não é verdadeira. O desenvolvimento
capitalista em curso na China não é apenas um “projeto de classe
da burguesia”. A velha burguesia chinesa foi expropriada e a nova está - pelo
menos até agora - submetida a imperativos externos, vindos do Estado-Partido
chinês.
Do que foi dito antes decorre o seguinte: os países periféricos, se
quiserem se libertar do imperialismo e do capitalismo, terão que em alguma
medida ampliar seu desenvolvimento e isso exigirá algum nível de capitalismo,
em confronto com o imperialismo neoliberal comandado pelos Estados Unidos (e não
pelos chineses, sempre é bom lembrar). Deste ponto de vista, a relação com os
chineses é – nas condições dadas – progressiva, quando contrastada com a
relação com os Estados Unidos.
Por outro lado, se o caminho chinês (desenvolvimento capitalista sob
controle de um Estado socialista) for impugnado, então não existe caminho
alternativo e a conclusão será “fukuyamica”.
#
Sobre a Nicarágua, Robinson omite dois detalhes importantes: a disputa acerca
do canal transoceânico e a ruptura da aliança entre a FSLN e uma parte da
oligarquia local. Sem estes dois detalhes, não dá para entender o que está
ocorrendo naquele país.
Mas Robinson não parece muito interessado nos detalhes do que está
ocorrendo agora, pois na verdade ele impugna tudo o que ocorreu desde 2007,
além de minimizar as pressões que os EUA fazem contra a Nicarágua (seria apenas
“retórica de Washington”).
O que Robinson argumenta acerca da Nicarágua me lembra o que certas
figuras da esquerda disseram sobre os governos Kadafi, Sadam Hussein e quetais.
Aqueles governos eram pintados com as cores mais terríveis – e uma parte do que
se dizia era mesmo verdade. E assim se criou o ambiente para a derrubada
daqueles governos. E o que veio em seguida?
Robinson critica a “conceção de soberania” dos que ele chama de “esquerda
antiimperialista”. Segundo Robinson, esta concepção não levaria em conta o “povo”
ou “as classes trabalhadoras”, mas sim os “governantes dos países que defendem”.
E agrega o seguinte: “As lutas anticoloniais e anti-imperialistas do século XX
defendiam a soberania nacional – e não estatal – face à interferência das
potências imperiais”.
Isso não é exatamente verdade. Basta pensar na relação entre a URSS e
vários governos que estavam em choque com o imperialismo. Há situações em que a
defesa da soberania nacional é inseparável da defesa de um governo que, do
ponto de vista da luta social, não é dos mais defensáveis. É uma questão
contraditória, que não admite solução simplista, mesmo que essa solução seja
baseada na defesa do “internacionalismo proletário”.
Acontece que Robinson tem outro ponto de vista. Segundo ele, “nós,
na esquerda, não temos escrúpulos em “violar a soberania nacional” para
condenar os abusos dos direitos humanos cometidos por regimes pró-ocidentais e
nem os devemos ter na defesa dos direitos humanos naqueles regimes não
favorecidos por Washington”.
Notem o detalhe sutil: tem os regimes “pró-ocidentais” e tem os outros. Pois
bem: a questão é que Washington manipula o tema dos “direitos humanos” para
encobrir algumas de suas intervenções. A questão é: a falta de escrúpulos desta
“esquerda pró-direitos humanos em toda parte” muitas vezes está à serviço – e algumas
vezes bem paga – da legitimação destas intervenções.
Dizendo de outro jeito: calar diante de um abuso não é uma opção, nunca.
Mas a ingenuidade – do tipo que condena como simétricas a violência do opressor
e a violência do oprimido - tampouco é uma opção. Vide o que ocorreu em Gaza.
Não foram poucos os integrantes da esquerda-sem-escrúpulos que não deram a mínima
bola para diferenciar a violência praticada pelos colonizados. Com isso,
ajudaram objetivamente a campanha de violência terrorista praticada pelos
colonizadores.
O internacionalismo proletário proclamado por Robinson é, nesse sentido,
uma declaração de princípios, não uma política.
A saber: “O internacionalismo proletário convoca as classes
trabalhadoras e oprimidas de um país a estender a solidariedade não aos Estados
mas às lutas das classes trabalhadoras e oprimidas de outros países. Os Estados
merecem o apoio da esquerda na medida – e apenas na medida – em que avancem nas
lutas emancipatórias das classes populares e trabalhadoras, que façam avançar
ou sejam forçados a fazer avançar políticas que favoreçam estas classes”.
Acontece que na vida real, os Estados expressam as relações
contraditórias existentes na sociedade. E, portanto, não existe um Estado que
sempre faça avançar, que sempre favoreça, que sempre esteja do lado certo e
nunca cometa nada errado, do ponto de vista das classes populares e trabalhadoras.
Aliás, se fosse tão perfeito, Estado não seria.
O melhor exemplo de que a postura de Robinson é, na prática, uma linha
auxiliar do discurso do departamento de Estado, é sua crítica aos BRICS.
Segundo ele, os “anti-imperialistas” aplaudem(link is external) os
BRICS como um desafio do Sul ao capitalismo global, uma opção progressista ou
até anti-imperialista para a humanidade. Só podem fazer tal afirmação reduzindo
o capitalismo e o imperialismo à supremacia ocidental no sistema internacional.
O problema é que hoje, aliás desde o final do século 19, o imperialismo
e o capitalismo global estão vinculados a que Robinson chama de “supremacia
ocidental”. Frente a isso, os BRICS são sim um ponto de apoio importante.
Aplaudir iniciativas como a dos BRICS não implica em trocar uma
perspectiva socialista por uma nacionalista. Mas não estimular iniciativas como
as dos BRICS significa, na prática, dar uma mãozinha (esquerda) ao
imperialismo.
Há riscos no antiimperialismo? Corre-se o risco de “obscurecer! as
contradições internas de classe? Sim, certamente.
Mas muito mais perigoso é não perceber o pântano aonde nos conduz a
postura de lamentar a perda de espaço por parte dos capitalistas
metropolitanos. Exemplo deste pântano: “não está claro o que seria
anti-imperialista, muito menos anti-capitalista, nos safaris corporativos
africanos de Lula e, por extensão, na agenda de “cooperação Sul-Sul” que
simboliza, ou por que a esquerda devesse aplaudir a expansão do capital baseado
no Brasil para África, do capital baseado na China para a América Latina, do
capital baseado na Rússia para a Ásia Central ou capital baseado na Índia para
o Reino Unido”.
Digo que é um pântano, porque é óbvio que a expansão capitalista não é
anticapitalista. E também está óbvio que a expansão de capitais vindos da
periferia é expansão de capitais. Mas a pergunta é: para nós, é indiferente se
o capital veio da gringolândia ou da China? Da Rússia ou da Alemanha?
Na cabeça de Robinson, o imperialismo parece uma abstração, um capital
sem pátria a rondar o mundo. Mas, na vida real, o imperialismo tem Estados por
detrás. Neste sentido, é importante Robinson reconhecer que os BRICS “efetivamente
sinalizam uma mudança para um sistema interestatal mais multipolar e
equilibrado dentro da ordem capitalista global”. Mas ele em seguida diz que “este
sistema interestatal multipolar continua a ser parte de um mundo capitalista
global brutal e explorador, no qual os capitalistas e os Estados do BRICS estão
tão comprometidos com o controlo e a exploração das classes populares e
trabalhadoras globais quanto as suas contrapartes do Norte”.
Ou seja: é importante, mas não faz diferença. Temo pelo passo seguinte,
que se bobear será algo do tipo: melhor o mal conhecido (os EUA) do que o
mal desconhecido (o perigoso Oriente).
Aliás, é nestas bases que Robinson apresenta o mundo que vem por aí.
Cito: “Na China, o hiper-nacionalismo combina-se com a obediência
confuciana à autoridade, a supremacia étnica Han e uma nova Longa Marcha para
recuperar o estatuto de grande potência. Para Putin, são os dias de glória de
um império “grão-russo” ancorado na Eurásia, politicamente sustentado pelo
conservadorismo patriarcal extremo que Putin chama(link is external) de
“valores espirituais e morais tradicionais” que incorporam a “essência
espiritual da nação russa sobre o Ocidente decadente”.
Segundo ele, de um lado e de outro, teríamos movimentos simétricos: “Tornemos
a América grande outra vez! Tornemos a China grande outra vez! Tornemos a
Rússia grande outra vez!”
Mesmo reconhecendo que “os Estados Unidos podem ser o criminoso mais
perigoso”, Robinson diz que afirmar que existe um “único inimigo”, os EUA e os
seus aliados, seria a “história maniqueísta de “o Ocidente e o resto".
O problema é o seguinte: mesmo que não fossem o "único inimigo", os Estados Unidos e seus aliados são inimigos diferenciados. Desconhecer isso é, na prática, contribuir para desorganizar o bloco de forças que pode derrotar a hegemonia estadounidense.
Segue o texto comentado
O insuportável maniqueísmo da esquerda “anti-imperialista” | Esquerda
O insuportável maniqueísmo da esquerda “anti-imperialista”
William I.
Robinson examina criticamente a “lógica retorcida” e a “política regressiva” de
alguma esquerda dita “anti-imperialista” contemporânea que “se opõe à
exploração capitalista pelo Ocidente, mas fecha os olhos à repressão dos
Estados não ocidentais que se opõem a Washington”.
13 de Agosto, 2023 - 11:55h
O socialista alemão August Bebel comentou em
dado momento que o anti-semitismo é o “socialismo dos tolos” porque os
anti-semitas reconheciam a exploração capitalista apenas se o explorador fosse
judeu mas que fechavam os olhos à exploração que emanava de outros quadrantes.
Mais de um século depois, esse socialismo dos tolos foi ressuscitado por uma
esquerda auto-declarada “anti-imperialista” que condena a exploração e a
repressão capitalista em todo o mundo quando praticada pelos EUA e outras
potências ocidentais ou pelos governos que eles apoiam mas fecha os olhos ou
até mesmo defende Estados repressivos, autoritários e ditatoriais simplesmente
porque esses Estados enfrentam a hostilidade de Washington. Discutirei os casos
da China, da Nicarágua, dos BRICS e da multipolaridade, pois eles trazem à tona
a lógica complicada e a política retrógrada desta esquerda “anti-imperialista”.
As políticas de exploração capitalista e do
controlo social em todo o mundo são fundamentalmente moldadas pela contradição
entre uma economia globalmente integrada e um sistema de dominação política
baseado no Estado-nação. A globalização económica e a integração transnacional
dos capitais fornecem um impulso centrípeto ao capitalismo global, enquanto a
fragmentação política fornece um poderoso contra-impulso centrípeto que está a
redundar numa escalada do conflito geopolítico. Está a aumentar rapidamente a
brecha entre a unidade económica do capital global e a competição política
entre grupos dominantes que têm de procurar legitimar-se e evitar que a ordem
social interna de suas respetivas nações se fratures face à crise crescente do
capitalismo global. Esta conjuntura global é o pano de fundo do “socialismo dos
tolos” contemporâneo. Discutirei aqui os casos da China, da Nicarágua, sos
BRICS e da multipolaridade, pois eles trazem à tona a lógica retorcida e a
política retrógrada da esquerda “anti-imperialista”.
A China e o desenvolvimento
capitalista
O capitalismo com características chinesas
envolveu a ascensão de poderosos capitalistas transnacionais chineses fundidos
com uma elite partidária do Estado dependente da reprodução do capital e do
alto consumo das camadas médias, alimentado por uma onda devastadora de
acumulação primitiva no campo e pela exploração(link is
external) de centenas de milhões de trabalhadores chineses. A
China é hoje um dos países mais desiguais do mundo(link is
external). Greves e sindicatos independentes não são legais na
China. O Partido Comunista Chinês há muito abandonou qualquer conversa sobre
luta de classes ou poder dos trabalhadores. À medida que as lutas laborais
continuam a escalar no país também aumenta a repressão estatal(link is
external) contra elas. É verdade que o desenvolvimento
capitalista tirou milhões da pobreza extrema e trouxe uma rápida industrialização,
progresso tecnológico e infraestrutura avançada. É igualmente verdade que os
países centrais da América do Norte e da Europa Ocidental experienciaram esses
feitos durante os seus períodos de rápido desenvolvimento capitalista do final
do século XIX até meados do século XX. A esquerda nunca viu esse
desenvolvimento capitalista no Ocidente como uma vitória para a classe
trabalhadora nem perdeu de vista o vínculo entre esse desenvolvimento e a lei
da acumulação combinada e desigual no sistema capitalista mundial. A China está
agora a “recuperar o atraso”.
O modelo chinês assenta num complexo de
empresas estatais-privadas em que o capital privado responde(link is
external) por três quintos da produção e quatro quintos do
emprego urbano. A China não seguiu o caminho neoliberal para a integração
capitalista transnacional. O Estado desempenha um papel chave no sistema
financeiro, na regulação do capital privado, nos maciços gastos públicos,
especialmente em infraestrutura, e no planeamento. Este pode ser um modelo de
desenvolvimento capitalista distinto da variante neoliberal ocidental mas
obedece ainda às leis da acumulação de capital. Após a abertura ao capitalismo
global na década de 1980, a China tornou-se um mercado para corporações
transnacionais e um vazadouro para o capital excedente acumulado capaz de tirar
proveito de uma vasta oferta de mão-de-obra barata controlada por um Estado de
vigilância repressivo e omnipresente. Mas, na viragem do século, estavam a
aumentar as pressões para encontrar saídas no exterior para o excedente de
capital chinês acumulado durante anos de desenvolvimento capitalista de estufa.
A manutenção deste desenvolvimento passou a
depender da exportação de capitais para o estrangeiro. Nas duas primeiras
décadas do século XXI, a China conduziu o mundo a um surto de investimento
direto estrangeiro em países do Sul e do Norte Global, aprofundando a
integração transnacional de capitais e acelerando a transformação capitalista
nos países em que investe. Entre 1991 e 2003, o investimento direto estrangeiro
da China aumentou(link is
external) 10 vezes, e depois aumentou 13,7 vezes entre 2004 e
2013, de 45 mil milhões de dólares para 613 mil milhões de dólares. Em 2015, a
China tinha-se tornado o terceiro maior(link is
external) investidor estrangeiro do mundo. O seu Investimento
Direto Exterior de saída começou a exceder o IDE de entrada e o país tornou-se
um credor líquido. O que acontece quando este IDE chinês chega ao antigo
Terceiro Mundo?
Deslocamento e Extração tornam-se “cooperação
Sul-Sul”
As comunidades indígenas da província peruana
de Apurímac travaram lutas sangrentas(link is external) nos
últimos anos contra a mina de cobre a céu aberto Las Bambas, de propriedade e
operação chinesa, uma das maiores do mundo, que deixou dezenas de mortos e
feridos. De facto, o estado peruano vende legalmente serviços de policiamento
às empresas mineiras, permitindo que a MMG da China compre força física da
polícia para promover a extração de cobre por meios violentos. Enquanto este
espaço extrativo sino-peruano e outros semelhantes são anunciados pelos
“anti-imperialistas” como um modelo de cooperação Sul-Sul e modernização
pós-ocidental, observadores atentos reconhecerão imediatamente a estrutura
clássica da extração imperialista, segundo a qual o capital transnacional
desloca comunidades e se apropria de recursos sob a proteção política e militar
de Estados locais encarregados da repressão violenta da resistência à expulsão
e exploração.
O padrão é o mesmo em toda a América Latina. Os
bancos chineses concederam mais de 137 mil milhões de dólares em empréstimos
para financiar projetos de infraestrutura, energia e mineração. Um estudo de
uma coligação de grupos ambientais e de direitos humanos examinou 26 projetos
na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e
Venezuela. Encontrou violações generalizadas dos direitos humanos, deslocamento
de comunidades locais, devastação ambiental e conflitos violentos onde quer que
ocorressem investimentos chineses em minas e mega-projetos. Os defensores das
práticas de empréstimo da China afirmam que estes empréstimos são diferentes
daqueles vindos do Ocidente porque não impõem condicionalidades da mesma forma
que os credores ocidentais. Isso não é inteiramente verdade(link is
external). Mas mesmo que fosse, que diferença isso faria para os
trabalhadores, camponeses e comunidades indígenas que resistem à exploração,
repressão e destruição ambiental associada ao capital chinês em colaboração com
investidores transnacionais de outros lugares e dos Estados capitalistas
locais?
A questão não é que o capital chinês seja pior
ou melhor do que o capital originário de outros países. O capital é capital
independentemente da identidade nacional ou etnia dos seus portadores. No
entanto, quando um Estado capitalista ocidental e um Estado capitalista no Sul
Global cooperam para impor mega-projetos às comunidades locais ou para
facilitar a pilhagem corporativa transnacional na extração ou na indústria,
isso é condenado como exploração pelo imperialismo e pelas classes dominantes
locais. Quando dois Estados capitalistas do Sul Global cooperam para os mesmos
mega-projetos e exploração corporativa, isso é elogiado como “cooperação
Sul-Sul” progressista e anti-imperialista e que “traz desenvolvimento”.
Grupos como a “Tricontinental”, liderada por
Vijay Prashad, elogiam(link is
external) esse papel chinês no antigo Terceiro Mundo como
“mutuamente benéfico”, “ajudando o desenvolvimento” e um sistema “ganha-ganha(link is
external)” para a China e para os países em que as suas corporações
investem. Devemos realmente acreditar que os investidores chineses estão a
expandir as zonas de processamento de exportação e a realocar a produção
industrial de trabalho intensivo da China para zonas de salários mais baixos na
Etiópia, Vietname e outros lugares, não para obter lucro, mas para “ajudar
esses países a desenvolverem-se”? Não é o mesmo discurso legitimador do Banco
Mundial? Papagueando o discurso legitimador da elite partidária chinesa, a
Tricontinental também insistiu(link is
external) que “a ascensão pacífica do socialismo com
características chinesas” oferece uma alternativa ao imperialismo ocidental.
Bem, oferece. Mas não oferece uma alternativa à expropriação e exploração
capitalista. O desenvolvimento capitalista não é um processo neutro em termos
de classes. É por definição um projeto de classe da burguesia. No
desenvolvimento capitalista, seja do Ocidente ou do Oriente, trata-se de
expandir as fronteiras da acumulação.
O mau uso da soberania e da solidariedade
Esta esquerda “anti-imperialista” condena
legitimamente a propaganda ocidental, mas parece incapaz de denunciar ou mesmo
reconhecer a propaganda não-ocidental em todo o mundo, ou pior ainda, repetem
essa mesma propaganda. A Nicarágua fornece-nos um caso (link is
external)de manual(link is
external). O regime de Ortega provou ser hábil em usar uma linguagem
que soa radical e uma retórica anti-imperialista para obter um coro automático
de apoio entre a esquerda internacional. Ortega voltou ao poder em 2007 através
de um pacto com a oligarquia tradicional de direita do país, os ex-membros da
contra-revolução armada, a hierarquia conservadora da Igreja Católica e as
seitas evangélicas. Prometendo respeito absoluto pela propriedade privada e
liberdade irrestrita para o capital, passou a co-governar até 2018 com a classe
capitalista, concedendo ao capital transnacional dez anos de isenção de
impostos, desregulamentação, liberdade irrestrita para repatriar lucros e
repressão dos trabalhadores grevista. Noventa e seis por cento das propriedades
do país permanecem nas mãos do setor privado. A ditadura reprimiu todos os
dissidentes e fechou mais de 3.500 organizações da sociedade civil desde 2018 –
isso num país de apenas seis milhões de habitantes – porque considera qualquer
vida cívica fora de si uma ameaça.
Muitos progressistas podem estar
verdadeiramente confusos devido ao apoio bem merecido que a revolução
sandinista de 1979-1990 congregou em todo o mundo e à história da intervenção
brutal dos EUA contra o país. Essa revolução morreu em 1990 e o que chegou ao
poder em 2007 com Ortega foi tudo menos uma revolução. No entanto, a esquerda
“anti-imperialista” optou por abraçar calorosamente a ditadura, justificada
pelas alegadas tentativas dos EUA de desestabilizar o regime e em nome da
“soberania”. Mas as provas não apoiam a afirmação feita por estes detratores de
que os Estados Unidos estão a promover uma “mudança de regime
contra-revolucionária” contra Ortega, apesar da retórica de Washington. A
Nicarágua não está sujeita a sanções comerciais ou de investimento. Os Estados
Unidos são o principal parceiro comercial do país – o comércio bilateral(link is external) ultrapassou
os 8,3 mil milhões de dólares em 2022 – e o investimento das empresas
transnacionais continua a afluir, tal como os empréstimos multilaterais ao
Banco Central. Não há intervenção militar ou paramilitar dos EUA. No entanto,
nenhum destes factos impediu a organização norte-americana Code Pink, entre
outras, de alegar(link is external) que o governo de
Ortega é um “governo socialista” sob pressão de “sanções devastadoras” e que
enfrenta “violentas tentativas de golpe de Estado”.
Washington realiza campanhas de
desestabilização de larga escala, não contra Ortega, mas contra o Irão, a
Venezuela e outros países. Tais crimes devem ser veementemente condenados por
qualquer pessoa de esquerda digna desse nome. Mas isso não exime a esquerda do
compromisso com o internacionalismo e a solidariedade com os oprimidos só
porque resistimos às pretensões imperiais dos EUA em todo o mundo. A esquerda
“anti-imperialista”, porém, dir-vos-á o contrário. Prestem atenção ao alerta da
jornalista Caitlin Johnstone(link is external):
se morares num país ocidental “simplesmente não é possível dares sua voz à
causa dos manifestantes em nações visadas pelo império sem facilitar as
campanhas de propaganda do império sobre esses protestos. Ou tens uma relação
responsável com essa realidade ou uma relação irresponsável”. Tão simples
quanto isto. Proletários de apenas alguns países, uni-vos!
Os “anti-imperialistas” voltam-se para uma
conceção de soberania, não do povo ou das classes trabalhadoras, mas dos
governantes dos países que defendem. As lutas anticoloniais e
anti-imperialistas do século XX defendiam a soberania nacional –
e não estatal – face à interferência das potências imperiais.
Os Estados capitalistas usam essa reivindicação de soberania como um “direito”
de explorar e oprimir dentro das fronteiras nacionais livres de interferência
externa. Nós, na esquerda, não temos escrúpulos em “violar a soberania
nacional” para condenar os abusos dos direitos humanos cometidos por regimes
pró-ocidentais e nem os devemos ter na defesa dos direitos humanos naqueles
regimes não favorecidos por Washington.
O internacionalismo proletário convoca as
classes trabalhadoras e oprimidas de um país a estender a solidariedade não aos
Estados mas às lutas das classes trabalhadoras e oprimidas de outros países. Os
Estados merecem o apoio da esquerda na medida – e apenas na medida – em que
avancem nas lutas emancipatórias das classes populares e trabalhadoras, que
façam avançar ou sejam forçados a fazer avançar políticas que favoreçam estas
classes. Os “anti-imperialistas” confundem Estado com nação, país e povo,
geralmente sem qualquer conceção teórica destas categorias e preferindo uma
orientação populista a uma orientação política de classe. Nós, da esquerda,
condenámos a invasão e ocupação do Iraque pelos Estados Unidos no início deste
século. Não o fizemos porque apoiavamos o regime de Saddam Hussein – só um tolo
o poderia apoiar – mas porque nos solidarizámos com o povo iraquiano e porque
todo o projeto imperial para o Médio Oriente equivalia a um ataque aos pobres e
oprimidos de todo o mundo.
BRICS: Substituir a Contradição
Capital-Trabalho por uma Contradição Norte-Sul
Os “anti-imperialistas” aplaudem(link is
external) os BRICS como um desafio do Sul ao capitalismo
global, uma opção progressista ou até anti-imperialista para a humanidade. Só
podem fazer tal afirmação reduzindo o capitalismo e o imperialismo à supremacia
ocidental no sistema internacional. No auge do colonialismo e no período
subsequente as classes dominantes locais eram, na melhor das hipóteses,
anti-imperialistas, mas não anti-capitalistas. O seu nacionalismo obliterou a
classe ao proclamar uma identidade de interesses entre os cidadãos de um
determinado país. Este nacionalismo tinha uma vantagem progressista e às vezes
até radical, na medida em que todos os membros do país em questão eram
oprimidos pela dominação colonial, pelos sistemas de castas que ela impunha e pela
supressão do capital indígena. Os “anti-imperialistas” de hoje entusiasmam-se
com os BRICS como um renascido “projeto do Terceiro Mundo”, nas palavras de
Prashad, uma nostalgia antiquada por aquele momento anticolonial de meados do
século XX que obscurece as contradições internas de classe junto com a rede de
relações de classe transnacionais nas quais estão enredados. Duas referências
serão suficientes para ilustrar como tal pensamento está desfasado da realidade
do século XXI.
Há vários anos atrás, tive a oportunidade de
dar uma palestra em Manila para um grupo de ativistas revolucionários
filipinos. Uma mulher presente, originária da Índia, opôs-se à minha análise da
ascensão de uma classe capitalista transnacional que incorpora contingentes
poderosos do antigo Terceiro Mundo. Ela disse-se que na Índia “lutamos contra o
imperialismo e pela libertação nacional”. Eu perguntei-lhe o que ela queria
dizer com isso. Os capitalistas do centro estavam a explorar os trabalhadores
indianos e a transferir o excedente de volta para os países imperialistas em
linha com o que Lenine analisara, respondeu-me. Foi por pura coincidência que
na mesma semana de minha palestra, o conglomerado corporativo global com sede
na Índia, Tata Group, que opera em mais de 100 países em seis continentes,
tinha adquirido uma série de empresas icónicas do seu ex-mestre colonial
britânico, entre elas a Land Rover, Jaguar, Tetley Tea, British Steel e os
supermercados Tesco, tornando a Tata o maior empregador individual dentro do
Reino Unido. Assim, os capitalistas baseados na Índia tinham-se tornado o maior
explorador individual dos trabalhadores britânicos. De acordo com a lógica
ultrapassada dela, o Reino Unido seria agora vítima do imperialismo indiano!
Logo após a sua primeira tomada de posse, em
2003, e novamente em 2010, durante o seu segundo mandato presidencial, o
presidente brasileiro Lula encheu um avião do governo com executivos de
empresas brasileiras e partiu para a África. A comitiva presidencial-empresarial
foi fazer lóbi em Moçambique e noutros países africanos para se abrirem ao
investimento nos abundantes recursos minerais do continente pela mineradora
transnacional sediada no Brasil Vale, que também opera nos seis continentes,
sob a retórica da “solidariedade Sul-Sul .” Não está claro o que seria
anti-imperialista, muito menos anti-capitalista, nos safaris corporativos
africanos de Lula e, por extensão, na agenda de “cooperação Sul-Sul” que
simboliza, ou por que a esquerda devesse aplaudir a expansão do capital baseado
no Brasil para África, do capital baseado na China para a América Latina, do
capital baseado na Rússia para a Ásia Central ou capital baseado na Índia para
o Reino Unido.
Podemos apoiar as políticas (moderadamente)
redistributivas domésticas e a política externa dinâmica de governos como o de
Lula. Nem todos os Estados capitalistas são iguais e importa muito quem está no
governo. Mas um governo “progressista” não é um governo socialista e nem
necessariamente um governo anti-imperialista. Para o míope, a expansão externa
do capital chinês, indiano ou brasileiro é vista como uma espécie de libertação
do imperialismo. O que fazer com a afirmação bizarra(link is
external) do Geopolitical Economy Research Group,
com sede no Canadá, e do International Manifesto Group que ele
patrocina, para quem o compromisso ideológico supera os factos, de que os BRICS
estão “entre os sucessos mais conhecidos” nos esforços para promover
“desenvolvimento nacional autónomo e igualitário e industrialização para
quebrar os grilhões imperialistas”?
Se os BRICS não representam uma alternativa ao
capitalismo global e à dominação do capital transnacional, eles efetivamente sinalizam
uma mudança para um sistema interestatal mais multipolar e equilibrado dentro
da ordem capitalista global. Mas este sistema interestatal multipolar continua
a ser parte de um mundo capitalista global brutal e explorador, no qual os
capitalistas e os Estados do BRICS estão tão comprometidos com o controlo e a
exploração das classes populares e trabalhadoras globais quanto as suas
contrapartes do Norte. À medida que os membros dos BRICS se expandem, novos
candidatos em 2023 para ingressar no bloco incluem estados magnificamente
“autónomos e igualitários” que lutam contra os “grilhões imperialistas” como a
Arábia Saudita, o Egito, o Bahrein, o Afeganistão, a Nigéria e o Cazaquistão.
Multipolaridade: o Novo Albatroz
A invasão russa da Ucrânia em 2022 e a resposta
política, militar e económica radical do Ocidente a ela podem sinalizar o golpe
de misericórdia de uma decadente ordem interestatal pós-Segunda Guerra Mundial.
Um capitalismo global cada vez mais integrado é inconsistente com uma ordem
política internacional e uma arquitetura financeira controladas pelos Estados
Unidos e pelo Ocidente e com uma economia global exclusivamente denominada em
dólares. Estamos no início de uma reconfiguração radical dos alinhamentos
geopolíticos globais seguindo o ritmo da crescente turbulência económica e do
caos político. No entanto, a crise de hegemonia na ordem internacional ocorre
dentro dessa economia global única e integrada. O emergente pluralismo
capitalista global pode oferecer maior espaço de manobra para lutas populares
em todo o mundo mas um mundo politicamente multipolar não significa que os
polos emergentes do capitalismo global sejam menos exploradores ou opressivos
do que os centros estabelecidos.
Pelo contrário, o Ocidente estabelecido e os
centros emergentes neste mundo policêntrico estão a convergir à volta de tropos
notavelmente semelhantes da “Grande Potência”, especialmente o nacionalismo
chauvinista – muitas vezes étnico – e da nostalgia de uma “civilização
gloriosa” mitificada que agora deve ser recuperada. As narrativas spenglerianas
diferem de um país para outro de acordo com as histórias e culturas
particulares. Na China, o hiper-nacionalismo combina-se com a obediência
confuciana à autoridade, a supremacia étnica Han e uma nova Longa Marcha para
recuperar o estatuto de grande potência. Para Putin, são os dias de glória de
um império “grão-russo” ancorado na Eurásia, politicamente sustentado pelo
conservadorismo patriarcal extremo que Putin chama(link is external) de “valores
espirituais e morais tradicionais” que incorporam a “essência espiritual da
nação russa sobre o Ocidente decadente”. Nos EUA, é a bravata hiper-imperial de
uma Pax Americana em declínio, legitimada pela doutrina do “excecionalismo dos
EUA” e a bombástica “democracia e liberdade” nas margens da qual sempre esteve
a supremacia branca, agora encarnada num movimento fascista em ascensão como
“teoria da substituição”. A isso poderíamos acrescentar o pan-turquismo, o
nacionalismo hindu e outras ideologias quase-fascistas neste mundo policêntrico
em ascensão. Tornemos a América grande outra vez! Tornemos a China grande outra
vez! Tornemos a Rússia grande outra vez!
Os Estados Unidos podem ser o cão de fila e o
criminoso mais perigoso entre os cartéis concorrentes de Estados criminosos.
Temos de condenar Washington por instigar uma nova Guerra Fria e por incitar a
Rússia, através da expansão agressiva da NATO, a invadir a Ucrânia. No entanto,
a esquerda “anti-imperialista” insiste que existe um único inimigo, os EUA e os
seus aliados. Esta é a história maniqueísta de “o Ocidente e o resto".
Esta narrativa metafísica da Guerra das Estrelas sobre a luta virtuosa contra o
singular Império do Mal acaba por legitimar a invasão russa da Ucrânia. E, tal
como na Guerra das Estrelas, torna-se difícil distinguir a tagarelice
fantasiosa de um mundo de fantasia da tagarelice da esquerda
“anti-imperialista”.
William I.
Robinson é professor de Sociologia, Estudos Globais e Estudos Latino Americanos
na Universidade da Califórnia. Entre os seus livros estão: Into the Tempest:
Essays on the New Global Capitalism (2018); The Global Police State (2020)
eGlobal Civil War: Capitalism Post-Pandemic (2022).
Texto publicado
no Philosophical Salon(link is
external) e republicado
na página da Anticapitalist Resistance(link is
external). Traduzido por Carlos Carujo para o Esquerda.net.
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